Uma candidata a vereadora no interior da Bahia é acusada de compra de votos nas eleições de 2024. Áudios atribuídos à mulher, amplamente compartilhados na cidade de Oliveira dos Brejinhos, a 600 km de Salvador, sugerem não apenas as transações antes do pleito. Agora, a ex-candidata estaria pedindo um Pix daqueles que não cumpriram o acordo nas urnas.
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Nos áudios, a mulher, identificada como Geni do Carvão (PSD), faz apelos para que os eleitores devolvam o dinheiro. No município com pouco mais de 20 mil habitantes, ela teria comprado 1.009 votos, mas recebido apenas 27.
“Gente, usa de bom senso, dói na consciência de vocês”, apela. “Vocês pegaram o meu dinheiro e não votaram em mim. Devolvam o meu dinheiro, por favor, vou passar meu Pix aqui. Quem tiver Deus no coração que devolva meu dinheiro”, diz ela em uma das gravações, supostamente enviadas para um grupo de WhatsApp.
Ouça os áudios supostamente enviados pela candidata baiana Geni do Carvão:
Em outro trecho, ela expressa indignação: “Ajudei com óculos, dentadura, cesta básica, de todas as formas, para no final acontecer isso. O culpado não é o povo, é quem pegou meu dinheiro e não votou.”
A candidata também faz ameaças religiosas: “Quem for de Deus que devolva meu dinheiro. Quem for diabólico, vai pagar no fogo do inferno.”
Respostas do partido da candidata a vereadora
Geni do Carvão não se manifestou sobre as acusações de compra de votos. O PSD municipal também não se pronunciou. Já o senador Otto Alencar, presidente estadual do partido, afirmou que a Comissão de Ética abriu um processo administrativo que pode levar à desfiliação da candidata.
“Se comprovada a situação, tomaremos as medidas cabíveis, garantindo o direito ao contraditório”, disse Alencar.
Segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Geni declarou ter recebido R$ 10 mil do fundo eleitoral, recursos repassados pelo deputado federal Sérgio Brito (PSD-BA). A candidata informou ter gasto metade do valor com aluguel de veículo e a outra metade com cabo eleitoral.
Brito declarou à Folha de S.Paulo não ter conhecimento do caso. Ele ressaltou que os recursos foram distribuídos de forma padrão para várias candidatas, conforme a lei eleitoral.
Supostos números e confissões
Em um áudio adicional, Geni afirma ter comprado 1.090 votos, mas recebido apenas 27. “Gastei cento e poucos mil reais, calculei que teria pelo menos 900 votos”, conta ela. “Você acredita que só tive 27 votos? Pensa num lugar de gente bandida, ladrão, chama-se Oliveira dos Brejinhos”.
A candidata também mencionou um incêndio na casa de uma suposta eleitora que não votou nela. “Graças a Deus, já começou o castigo. Quem mexer comigo, mexeu com Jesus, porque eu sou 100% Jesus.”
Implicações legais da compra de votos
A compra de votos é considerada crime eleitoral, previsto no artigo 299 do Código Eleitoral, que descreve como ilegal “dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem para obter ou dar voto”. A pena é de até 4 anos de prisão, além de multa.
Dos 11 vereadores eleitos em Oliveira dos Brejinhos, os votos variaram de 481 a 965, muito acima dos 27 votos que Geni obteve. O caso segue em apuração.
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