(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 13 de novembro de 2022)
O governo Lula ainda nem começou, mas tem tudo para começar mal. Não há nenhuma pista sobre o que possa vir a acontecer de bom; em compensação, ele próprio já fez questão de desenhar o que pode acontecer de ruim, a começar por uma área essencial — a economia. O novo presidente, duas semanas após a eleição, ainda não disse quem vai ser o seu ministro da Economia e, enquanto não diz, o Brasil fica sem saber se vai para um lado ou se vai para o lado oposto; os nomes postos em circulação, tanto quanto se saiba, querem coisas que se excluem entre si — como é que fica, então? Além disso, as primeiras pregações econômicas de Lula compõem um temporal em formação. Ele se referiu à estabilidade fiscal como “essa tal de estabilidade”, uma exibição pública de que despreza a ideia de ordem nas contas do governo. Ele quer a instabilidade, então? Não está claro o que pode resultar de bom de uma declaração como essa.
O resto do que Lula tem dito não é melhor. Ele afirmou, como se ainda estivesse caçando voto, que “as pessoas podem sofrer” para se obter o equilíbrio entre entrada e saída de dinheiro no caixa do governo. E por acaso as pessoas vão ganhar se houver desequilíbrio? O futuro presidente considerou estranho, também, um país ter metas de inflação e não ter metas de crescimento. Pode soar bonito, mas não adianta nada, nem muda as realidades. O que ele propõe? O mundo inteiro é assim: os governos se propõem metas de inflação, mas não podem baixar decretos-leis mandando a economia crescer tantos por cento no ano. Quando se tenta fazer diferente dá em Argentina, que está com 80% de inflação em 2022, ou em Venezuela, onde já nem se faz mais a conta — pela última estimativa do FMI, a alta no índice deve estar nos 500% anuais. Não há vantagem absolutamente nenhuma para “as pessoas” nesse tipo de delírio. É o exato contrário: só o pobre perde com os preços subindo todo dia, pois jamais, em toda a história, foi possível compensar inflação com aumento de salário, ou colocando zeros a mais na moeda. Quem ganha, sempre, é o rico, que vai aplicar dinheiro a juro na ciranda financeira.
Lula também diz que gasto público não é despesa, é “investimento”. Ele pode chamar do nome que quiser, mas despesa continua sendo despesa, e tem de ser paga em dinheiro. Fala em combater a “fome”, quando o Banco Mundial acaba de anunciar que a pobreza extrema no Brasil é a menor desde 1980 — e por aí vai. O mercado não gostou, é claro. O dólar subiu, a Bolsa caiu. Deveria não ter gostado antes. Até a véspera da eleição, dizia que Lula já tinha sido “precificado” e que estava tudo bem. Não estava e não está.
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