O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, encaminhou à Mesa Diretora da Câmara um pedido de cassação do mandato do deputado André Janones (Avante-MG), acusado por servidores do gabinete de rachadinha, ou seja, obrigar os assessores a lhe entregarem parte do salário.
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A prática consiste em crime de desvio de dinheiro público ou peculato, segundo entendimento do Ministério Público. No âmbito da improbidade administrativa, a rachadinha se configura como enriquecimento ilícito.
O pedido do PL, maior bancada da Câmara, será encaminhado ao presidente Arthur Lira (PP-AL) e, em seguida, ao Conselho de Ética. Se for acatada, a representação será transformada em processo contra Janones, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que desempenhou papel central nas redes sociais durante a campanha de 2022.
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O esquema de rachadinha de Janones foi denunciado nesta semana pelo Metrópoles, que publicou áudios em que o próprio deputado faz a exigência de parte dos salários dos servidores. De acordo com assessores e ex-assessores do deputado, o esquema no gabinete começou a partir de 2019, quando Janones assumiu o primeiro mandato na Câmara.
Em outro áudio, pede colaboração para juntar R$ 200 mil para a campanha de 2020, quando pretendia disputar a Prefeitura de Belo Horizonte, mas seu partido decidiu apoiar outro candidato.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam o caso. Janones negou as irregularidades. “Usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi. Aproveito para solicitar que o conteúdo criminosamente gravado seja disponibilizado na íntegra e não edições manipuladas, postada quase simultaneamente por todas as lideranças de extrema-direita”, disse Janones em uma publicação no Twitter.
Como foi o pedido de Janones de parte do salário dos assessores
O áudio divulgado pelo Metrópoles foi gravado durante uma reunião em fevereiro de 2019 no gabinete de Janones, logo depois que o deputado assumiu a liderança do Avante na Câmara.
Ao mesmo tempo em que fala que não irá se corromper, Janones faz o pedido de parte do salário dos assessores. O motivo seria recompor seu patrimônio “dilapidado” na eleição de 2016, quando disputou a prefeitura de Ituiutaba.
Leia trechos do discurso de Janones aos assessores:
“Não me corromper significa não ceder à corrupção. Tem algumas pessoas aqui, que vou conversar em particular depois, que vão receber um pouco de salário a mais e elas vão me ajudar a pagar as contas que ficou da minha campanha de prefeito, porque eu perdi R$ 675 mil na campanha. Elas vão ganhar a mais para isso. ‘Ah, isso é devolver salário, e você está chamando de outro nome.’ Não é, porque o devolver salário você manda na minha conta, e eu faço o que eu quiser. Isso são simplesmente pessoas que eu confio e que participaram comigo em 2016, que eu acho que elas entendem que realmente meu patrimônio foi todo dilapidado.”
“Por exemplo: o Mário vai ganhar R$ 10 mil. Eu vou ganhar R$ 25 mil, líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas [de campanha] de 2016. Não é justo, entendeu?”.
“Eu não acho que isso seja corrupção, e não tem problema ninguém saber”, frisou, em reunião que ocorria dentro da Câmara dos Deputados. “E se eu tiver que ser colocado contra a parede, eu não estou fazendo nenhuma questão desse mandato.”
“Se cada um der R$ 200 na minha conta, vai ter mais ou menos R$ 200 mil para a gente gastar nessa campanha.”