Levantamento mostra que mais de 40 mil pessoas foram internadas por doenças relacionadas à falta de coleta de esgoto e água tratada no Brasil; marco do saneamento será votado nesta quarta, 24, no Senado
Mais de 100 milhões de brasileiros vivem hoje sem água tratada ou coleta de esgoto no país. Somente no primeiro trimestre deste ano, mais de 40 mil pessoas foram internadas por doenças relacionadas à falta de saneamento básico, segundo levantamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).
De acordo com a pesquisa, em tempos de pandemia de coronavírus, a universalização do saneamento básico seria capaz de liberar 13.712 leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) por mês.
Para contabilizar as internações, o estudo considera as Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) de transmissão feco-oral. São elas: cólera, febres tifoide e paratifoide, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível, entre outras enfermidades infecciosas intestinais.
As internações desse tipo costumam, em média, ocupar 4,2% dos leitos do Sistema Único de Saúde. Além disso, essas internações custaram mais de R$ 16,1 milhões aos cofres públicos.
“Se a gente tivesse mais saneamento, teria menos doenças e, consequentemente, teria mais leitos disponíveis. Então, se tivéssemos avançado mais no saneamento nos últimos anos, com certeza teríamos diminuído o número de mortes por covid no Brasil, pois esses leitos seriam ocupados para salvar essas vidas”, defende Roberval Tavares de Souza, presidente da Abes.
Norte e Nordeste
Outro levantamento, feito pela Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o alto número de casos e mortes por covid-19 atinge, principalmente, as regiões com menos acesso ao saneamento básico. No Brasil, esse fator impactou as regiões Norte e Nordeste, sobretudo o Amazonas e o Ceará. Ambas possuem saneamento deficitário.
Segundo a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da USP, a hipótese se baseia em artigos internacionais que atestam a presença do novo coronavírus nos excrementos humanos. Portanto, o alto número de casos de covid-19 no Amazonas e Ceará pode ter relação com a precariedade do saneamento básico, propiciando a contaminação via oral-fecal das populações que convivem com esgoto ou sem água tratada.
“O vírus continua sendo expelido nas fezes mesmo após a pessoa ter sido curada e mesmo em pessoas que estão assintomáticas. Isso representa um risco enorme para um país em que o saneamento básico é precário, porque pode sim acontecer algo que é chamado de contaminação feco-oral, ou seja, as pessoas ingerirem o vírus por meio das fezes”, comentou.
O Estado do Ceará (94 mil) e o do Amazonas (63 mil) ocupam a terceira e a quinta colocação em número de casos da covid-19 no Brasil, respectivamente.
Marco do Saneamento
Defendido pelo governo federal, o novo marco do saneamento básico está pautado para amanhã, quarta-feira, 24, pelo Senado. O Projeto de Lei 4.162/2019, já aprovado pela Câmara dos Deputados, cria mecanismos que permitem a entrada de empresas privadas no setor do saneamento básico.
Entre outros pontos, o projeto estabelece metas a ser cumpridas nos próximos anos, como:
- Fornecimento de água potável a 99% da população até 2033;
- Coleta e tratamento de esgoto de 90% da população até 2033;
- Concessão de serviços de saneamento só por licitação;
- Extensão dos prazos da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro destacou a importância da aprovação do texto pelo Congresso. “Temos quase 100 milhões de pessoas que não têm água encanada e não têm esgoto. Ao conseguir melhorar essas questões, tem um alívio no tocante à saúde, porque muitas pessoas se acometem das mais variadas doenças por causa disso. Daí pressiona o sistema de saúde nosso”, disse Bolsonaro.
Gostaria que, ao final desta pandemia do Coronavírus, o mundo continuasse tão atento e ativo no combate às outras doenças infecciosas, que matam MUITO MAIS. Por exemplo, Tuberculose, que mata mais de 100.000 pessoas por mês no mundo, mormente os mais pobres (por falta de saneamento básico e sistema de saúde eficiente, ou seja, por falta de dinheiro). Mas isso não é dito pela grande mídia, pois não afeta os mais ricos
Parabéns e obrigado por levantar essa lebre esquecida e, muitas vezes, subterrânea. Bom ler também que o projeto de Lei nascido no Ministério da Economia tenha a merecida relevância e que mostra, de forma inequívoca, que a Saúde é um grande problema, antes de tudo, econômico.