Há um ano, a gaúcha 3tentos Agroindustrial, que vende insumos agrícolas e transforma grãos de soja em farelo e biodiesel, levantou R$ 1,3 bilhão no IPO (oferta pública inicial de ações). Agora, a empresa injeta R$ 450 milhões na construção de uma fábrica em Mato Grosso, que, já neste mês, passa a contar com capacidade de armazenamento, além de começar a realizar a originação de milho. A escolha de Vera, cidade mato-grossense de 10 mil habitantes, foi estratégica. “Faz 20 anos que nós temos produção de soja e milho no Estado, como produtores rurais”, diz Luiz Osório Dumoncel, CEO da 3tentos. “Conhecemos muito bem o ambiente em que vamos trabalhar.”
Mato Grosso desbravado
Fundada há 27 anos no coração agrícola do Rio Grande do Sul, a 3tentos terá sua primeira unidade fora do Estado de origem. “A cultura do produtor mato-grossense é a mesma do produtor que saiu de Estados como Minas Gerais e, principalmente, dos três Estados do Sul do país para desbravar a região de Mato Grosso desde 1970.” O gaúcho André Maggi, morto em 2001, é um dos exemplos citados por Dumoncel nesse movimento de migração. Casada com Maggi, Lúcia se tornou hoje a mulher mais rica do Brasil, com patrimônio de US$ 6,9 bilhões. A unidade em Vera gera atualmente 600 postos de trabalho. A finalização da nova fábrica e a abertura de oito lojas — próximas à BR-163 — no Estado para produtores rurais prometem injetar R$ 700 milhões de investimento até 2025.
A Faria Lima…
A 3tentos teve de lidar com uma discrepância que envolve o poderoso agronegócio brasileiro: enquanto o setor representa 26% do PIB nacional, apenas 3% estão na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Mas, para usar a mesma expressão das lideranças do agro, a Faria Lima tem se aproximado do campo. Para Dumoncel, o mercado de capitais tinha receio com o setor pelos riscos — climático, cambial e logístico — embutidos na cabeça dos investidores. “O agro é uma indústria a céu aberto”, diz. Essa visão, no entanto, tem ficado cada vez mais para trás.
…e o campo
Nos road shows e em visitas presenciais, da Faria Lima para o Rio Grande do Sul e vice-versa, 25 empresas — sobretudo fundos de investimentos — participaram das apresentações. E todas entraram na abertura do capital da empresa. “Eles enxergaram o agro acontecendo. Daqui sai o suíno, o frango, o leite, o biscoito, tudo, e para o mundo”, diz Dumoncel, direto de sua sala, em Santa Bárbara, cidade de 10 mil habitantes a 400 quilômetros de Porto Alegre, com vista para uma lavoura de trigo sendo plantada. “Daqui a 100 anos, vamos ter essa indústria? Claro. Seremos 9,5 bilhões de pessoas em 2050, e a demanda de alimentos de qualidade só cresce.”
Chicago e o agro
Filho de um pecuarista que se tornou agricultor na década de 1950, Dumoncel acompanhou a evolução do agronegócio nas últimas três décadas. O estilo mais simples da família, com “jeito de agricultor”, o transformou em um importante empresário do campo. “O agricultor, seja com 50 ou com 50 mil hectares, está se tornando cada vez mais empresário”, diz. “O campo está mais conectado com o urbano. Não era assim 20 anos atrás. Essa foi só uma das visões que compartilhamos com a Faria Lima e eles entenderam.” Curiosidade: na sala de Dumoncel, há três telas de computador que acompanham desde a bolsa de valores até a cotação do dólar, passando pelo preço de insumos em Chicago, nos Estados Unidos.
A guerra no campo
A invasão russa à Ucrânia abate os mais variados setores da indústria — e também o nosso agronegócio. Rússia, Ucrânia e Belarus produzem cerca de 25% de todo o potássio que o Brasil consome. Para Dumoncel, a maior parte dos agricultores brasileiros tem lidado bem com o que ele chama de “agricultura de precisão”. “O produtor usa menos potássio onde pode usar menos e vai se adequando à realidade”, afirma.
É a demanda, estúpido!
Nos três primeiros meses de 2022, a 3tentos reportou um lucro de mais de R$ 84 milhões, alta de quase 39%, na comparação com o mesmo período de 2021. O segundo trimestre ainda é uma incógnita. “Não posso falar, estamos em período de silêncio, mas adianto que o ano caminha bem para a empresa e o agro”, diz. Mesmo em ano de guerra, o CEO vê uma perspectiva firme para o agronegócio brasileiro em 2022. “O produtor consegue, dependendo da gestão, mitigar os efeitos cambiais, por exemplo”, conta. “Temos defensivos e fertilizantes comprados e, do outro lado, estamos vendidos em soja, milho e trigo”. Mas o maior argumento para crer numa perspectiva positiva do setor é outro: “A demanda não vai diminuir. Não diminuiu na pandemia, pelo contrário. Imagina agora”.
Streaming do Itaú
Maior banco do Brasil, o Itaú está à caça de um gestor para cuidar de toda a área de streaming. Streaming do Itaú? Não exatamente. A instituição quer um profissional para gerir e fazer a curadoria do IC Play, o canal de streaming do Itaú Cultural, presidido por Eduardo Saron, que reúne séries e filmes clássicos.
Entrega elétrica
O iFood tem uma meta ambiciosa entre seus executivos: até 2025, fazer com que 50% das entregas sejam realizadas no país por veículos que não utilizem combustíveis fósseis. Na última semana, o maior aplicativo de delivery do Brasil anunciou uma linha de financiamento de motos elétricas para seu exército de 200 mil entregadores. O valor de cada moto é de R$ 9,9 mil, e os parceiros para o projeto são o banco BV e a montadora Voltz.
R$ 1 bilhão em 24 horas
Depois de muitas retiradas em boa parte de maio, o investidor estrangeiro ingressou com mais de R$ 1 bilhão em apenas 24 horas no penúltimo dia do mês na B3. O saldo no ano é positivo em mais de R$ 49 bilhões.
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MORO EM SANTOS E ACOMPANHO O CRESCIMENTO DO AGRO NEGOCIO
PARABENS PELA REPORTAGEM
Obrigado, Carlos
Vamos explorar tudo do solo brasileiro pra ir pro topo e melhorar nossa população. Prosperidade só com riqueza