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Paris, França | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 121

Os ecoterroristas

O ESG se tornou uma cultura corporativa dos EUA altamente crítica em relação à América, o que sem dúvida está minando o sistema de livre mercado por dentro

Ana Paula Henkel
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A pandemia de coronavírus deixou muitas lições. Durante dois anos, cidadãos de todo o mundo viram não apenas um vírus dar um nó na comunidade médica, mas testemunhamos também a instauração do controle social e de medidas draconianas através do pânico. A lição deixada para governantes e burocratas tirânicos foi que é possível implementar qualquer agenda usando modos jacobinos de cancelamento e patrulha como poucas vezes na história.

Com a pandemia arrefecendo e a vida voltando ao normal, é preciso outra “ameaça global”. Embora há décadas estejamos ouvindo as promessas de que o mundo vai acabar nos “próximos dez anos”, parece que agora os ecoterroristas que amam suas guilhotinas estão mais do que nunca de mãos dadas com os jacobinos bilionários globalistas. Não basta apenas apontar o dedo e tentar o já velho cancelamento virtual, é preciso mais. E esse “mais” chega com a sigla ESG (Environmental, Social, and Governance), movimento que se refere a investimentos realizados seguindo critérios supostamente mais benéficos para o meio ambiente. O ESG é um novo mantra corporativo que está mudando o capitalismo dos acionistas (shareholders) para o capitalismo dos stakeholders, aqueles que têm interesse no desempenho de uma empresa por outros motivos que não o desempenho ou a valorização das ações.

Nos últimos anos, vimos grandes corporações virarem manchetes por seu ativismo político. Aqui nos Estados Unidos, por exemplo, o PayPal boicotou a Carolina do Norte por causa de um projeto de banheiro transgênero, a Coca-Cola denunciou um projeto de lei eleitoral na Geórgia e, claro, a Disney, que, recentemente, se opôs a uma lei da Flórida que proibia as escolas públicas de instruírem sobre sexualidade e identidade de gênero crianças do jardim de infância até a 3ª série. A explicação que ouvimos com frequência é que funcionários ativistas, os típicos millenials, estão comandando o show. Mas isso não é a história completa. Ativistas e empresas de investimentos também estão impulsionando a tendência ESG nos bastidores.

Historicamente, muitos investidores adicionaram a sobreposição de “valores” às suas preferências de investimento. As duas principais abordagens baseadas em valores são o Socially Responsible Investing (SRI) e o Impact Investing (IR). A estes foi adicionado um novo acrônimo, Environmental, Social, and Governance (ESG), e, embora esses termos sejam frequentemente usados de forma intercambiável, é importante entender algumas diferenças críticas para ver por que o ESG é tão problemático. Muitas pessoas ainda não entendem o ESG, até porque, embora haja um gigantesco pedágio ideológico a ser pago, muitas ações são desenhadas estrategicamente com discrição.

Como alguém pode alegar estar lidando com as “mudanças climáticas” e a “a salvação do planeta” investindo na China, o pior emissor de gases de efeito estufa?

Nos Estados Unidos, as igrejas, por exemplo, usam o SRI. A estratégia de RI já é investir em empresas com potenciais soluções para problemas importantes para um investidor. Tanto o SRI quanto o IR são estratégias legítimas de investimento baseadas em valores que operam dentro dos parâmetros do capitalismo de livre mercado. Eles representam formas construtivas para os investidores expressarem suas opiniões, encontrarem soluções para problemas significativos e participarem do mercado de capitais sem comprometer seus valores.

O famigerado ESG é essencialmente uma pontuação de crédito (credit score) para negócios. Por exemplo, uma empresa pode melhorar sua pontuação ESG comprometendo-se a reduzir as emissões de carbono, contratando um “gerente de diversidade” ou doando para uma causa política. E essa pontuação tem implicações financeiras. A primeira coisa a perceber é que esse movimento é incrivelmente perverso e perturbadoramente incorporado ao sistema financeiro. Já há livros sendo escritos sobre como esse movimento está revolucionando o mundo corporativo. Basicamente, o ESG é uma métrica que pontua as empresas com base em suas posições políticas e suas atividades. Mas esta é a chave do cofre: as chamadas “posições corretas” são quase exclusivamente de esquerda.

E quem emite a pontuação? No momento, isso não é totalmente centralizado. Existem algumas empresas de gestão de fundos muito grandes, como a Black Rock, a maior gestora de ativos do mundo, que têm seus próprios departamentos internos que definem suas prioridades. Mas também existem algumas empresas de analistas financeiros que fornecem pontuações com base em suas próprias prioridades. A maior dessas empresas é a Institutional Shareholder Services (ISS) — algo como “Instituição de serviços aos acionistas”. Mas aqui está o problema: o ISS também é conhecido como um serviço de proxy. Isso significa que qualquer um desses investidores que possuem ações de várias empresas paga a ISS não apenas para fornecer essas pontuações, mas também para votar nas assembleias de acionistas. O que especialistas alertam, no entanto, é que há uma tonelada de conflitos de interesse inerentes. Basicamente, esses scorekeepers de terceiros, aqueles que manipulam as pontuações, que são geralmente inclinados à esquerda, estão decidindo quais prioridades são importantes. Em seguida, votam em nome de seus acionistas. O absurdo é que as pontuações não vêm de um órgão oficial regulamentado, tudo isso está acontecendo fora do processo democrático. E, como eles estão votando no lugar dos investidores, as empresas são colocadas em uma posição em que elas têm de fazer o que essas empresas dizem. Esse movimento está afetando profundamente os rumos da sociedade, e tudo está acontecendo fora de qualquer processo legislativo.

O mais perigoso de tudo, assim como vimos na pandemia, é que as prioridades estão sendo estabelecidas por um pequeno grupo de pessoas agrupadas em um punhado de organizações de elite. Com o ESG, os três maiores gestores de ativos, Black Rock, Vanguard Group e State Street Global, estão usando o movimento para manipular empresas. Nos últimos 20 anos, os três gigantes compraram ações de 20% de quase todas as empresas do S&P 500 (Standard and Poor’s 500, índice do mercado de ações que acompanha o desempenho das ações de 500 grandes empresas listadas em bolsas nos Estados Unidos). E o que eles afirmam é que eles são os acionistas: “Nós diremos à sua empresa o que você precisa fazer”. E isso é falso. Na verdade, o capital não é deles, mas dos acionistas, e está sendo usado para impulsionar a agenda ESG. Muitos desses cidadãos, os reais donos do dinheiro, discordam das posições e das decisões do conselho.

Poluição em Pequim, China | Foto: Shutterstock

Só para acrescentar alguma perspectiva, a Black Rock sozinha agrupa quase US$ 10 trilhões em ativos de investidores. Isso é mais do que o PIB de todos os países do mundo, exceto os EUA e a China. O retrato está tirado e colocado em prática: serviços como ISS ou empresas de investimento como Black Rock podem, por exemplo, votar para que uma instituição bancária não empreste dinheiro a empresas de combustíveis fósseis, como parte de suas prioridades da agenda de “mudança climática”. Para dar um exemplo específico, em junho passado, Black Rock, Vanguard Group e State Street Global uniram forças para expulsar um quarto do conselho da Exxon Mobil. O grupo estava no caminho de suas prioridades “para salvar o planeta” e substituí-los por ativistas ambientais não foi difícil. Da mesma forma, a Black Rock pressionou empresas como a Home Depot a não doarem para políticos e organizações políticas antiaborto.

Em nome da salvação da Amazônia, “o pulmão do mundo”, novos tiranos emergirão nos próximos anos

A hipocrisia da falsa agenda ESG é ainda maior quando o assunto é a China, um país comandado pelo Partido Comunista Chinês e recheado de bondades, não é mesmo? A Black Rock tem sido extremamente otimista com a China. No ano passado, recomendou que os investidores triplicassem sua exposição aos ativos chineses, uma medida que provavelmente está direcionando enormes somas de dinheiro para a economia do país. Também lançou recentemente fundos mútuos baseados na China, o primeiro dos quais levantou rapidamente mais de US$ 1 bilhão. E a Black Rock não está sozinha, muitas outras empresas de investimento norte-americanas estão se agrupando na China comunista. Da mesma forma, as empresas norte-americanas que professam fidelidade aos ideais ESG, como Nike e Apple, dependem de fábricas — que em muitos lugares usam mão de obra escrava ou infantil — e cadeias de suprimentos chinesas em um grau perigoso.

E como alguém, em sã consciência, pode alegar estar lidando com as “mudanças climáticas” e a “a salvação do planeta” investindo no pior emissor — de longe — de gases de efeito estufa? Como um país que explora regiões inteiras em busca de metais raros recebe um fluxo maciço de dinheiro de investidores preocupados com o meio ambiente? A China comunista tem sido chamada de “uma catástrofe ambiental” por uma razão — dada a ênfase do regime no crescimento econômico sem fim e sem freios. Como uma empresa pode alegar apoiar o progresso social quando essas são as circunstâncias?

Tamanha hipocrisia é estarrecedora, mas também ajuda a apontar para as profundas deficiências do atual sistema ESG. Apesar de todas as suas tentativas de incentivar a ação moral por parte das empresas, o movimento não faz as distinções morais mais importantes de todas: a diferença entre liberdade e tirania, entre uma empresa operando em um mercado livre e uma sujeita a alto grau de controle político e econômico.

Floresta Amazônica | Foto: Shutterstock

Em grande medida, o ESG opera de uma forma que ou assume uma equivalência moral entre países livres e não livres ou que, de fato, aplica padrões diferentes. O nefasto movimento se tornou uma cultura corporativa dos EUA altamente crítica em relação à América, o que sem dúvida está minando o sistema de livre mercado por dentro. Enquanto isso, ao não reconhecer a natureza da China comunista, incentiva empresas e fundos a investirem em um regime que se opõe profundamente ao livre mercado e ao Ocidente. É impossível progredir em questões ambientais, sociais e de governança corporativa quando a liberdade econômica — e a liberdade humana, em geral — é inexistente.

A pandemia talvez tenha apenas mostrado com todas as cores do que o ser humano é capaz pelo poder. Tudo será autorizado para “salvar o planeta”, e, em nome da salvação da Amazônia, “o pulmão do mundo”, novos tiranos emergirão nos próximos anos. Orai e vigiai.

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14 comentários
  1. Marcelino Teodoro de Assiz
    Marcelino Teodoro de Assiz

    Análise perfeita! Parabéns Ana Paula que nos brindou com essa excelente matéria.

  2. Marcelo DANTON Silva
    Marcelo DANTON Silva

    ORAS!!
    O congresso americano TEM de fazer a MESMA coisa que fizeram no caso AT&T
    INTERVENHAM, pois isso é fascismo, nazismo e comunismo tudo junto e misturado, um OVO da SERPENTE MUTANTE.
    Vai dar merd@ ..CLARO!
    Isso que fazem é coação, falsidade ideológica
    É GOLPISMO/TERRORISMO e promovedores de insurreições e revoluções.
    ESSA GUERRA DA UCRANIA TEM DEDO UNHA E PÊLO desses 3 fundos.
    GOGOGO PUTIN!
    Vc é a nossa única salvação atualmente..

  3. CÉSAR AUGUSTO MOREIRA
    CÉSAR AUGUSTO MOREIRA

    Preclara Ana Paula, parabéns pelo texto. Ao fim e ao cabo, a lição que fica é a de que não existe almoço grátis, alguém sempre está pagando a conta, e este alguém somos os que aderimos ao propalado bom mocismo que vai salvar o planeta. Nós, brasileiros, precisamos acordar, parar de fazer festa para tudo e todos, estudar e desenvolver a capacidade de descobrir a maldade no coração dos bons e a bondade no coração dos maus.

  4. Claudemir Oribe
    Claudemir Oribe

    Uma “agenda” comandada de maneira confusa, obscura e institucionalmente comprometida é uma ótima forma de valorizar ações de certas empresas e desvalorizar de outras. Esses gestores de ativos como Black Rock, Vanguard Group e State Street Global ganham de qualquer forma, comprando e vendendo no momento certo.
    E muita gente e instituições estão aderindo como se fosse apenas uma iniciativa nobre e, portanto, positiva.

  5. Luiz Mattua
    Luiz Mattua

    A organização de agendas globalistas que visam exclusivamente o poder é algo que está se expondo recentemente, mas que vem sendo preparado em silêncio há anos. Obviamente, vento que venta lá, venta cá. Embora estejamos vendo uma onda de discursos totalitários, de controle e engenharia social para a criação de uma sociedade amorfa e obediente, pois é só disso que se trata, ainda é possível reverter a situação com ações de firme oposição. Uma delas é não entrar, não repetir, não propalar e, principalmente, não obedecer a esse discurso. Não tenhamos medo, cada um que faça a sua parte, mesmo que pequena, aos poucos e em silêncio. Não vamos deixar os verdadeiros destruidores da liberdade prosperar.

  6. jose angelo baracho pires
    jose angelo baracho pires

    Saúde e paz, com 🗽 e muitos aces como esse texto esclarecedor, e muito!

  7. Maria Cristina da F Elia
    Maria Cristina da F Elia

    ANA PAULA, eu gostaria muito de conhecer mais de perto o Movimento Conservador, com vistas a dele participar se for o caso. Moro no Rio de Janeiro. Você poderia me dar as coordenadas? Sou professora aposentada, mas apesar de meus 72 anos anos tenho muito ainda a contribuir para meu país, e estou com saúde e disposição para tal. Tenho dificuldades de usar redes sociais, mas posso aprender. Como sou assinante da Oeste, você poderia solicitar meu email para me responder? Obrigada desde já. Sucesso no seu trabalho.

  8. José Antonio Neves
    José Antonio Neves

    Ana Paula, perfeita leitura e desenvolvimento textual que ensina de forma simples a mim que ignorava os bastidores perversos da nova economia baseada em ESG’s! Grato!

  9. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Essas empresas que não seguem o ecoterrorismo estão fadadas a perecer. Isso é a forma mais sofisticada de comunismo, de deixar China e Rússia com complexo de inferioridade

    1. Gabriel Miranda
      Gabriel Miranda

      Que comentário perfeito, Sr Erasmo.

  10. LAERTE GRANEIRO RUSSINI
    LAERTE GRANEIRO RUSSINI

    Cansei de natureba, politicamente correto (político não é correto) “fobias diversas”. eu tenho quase 71 anos, vivi minha vida dignamente, com dificuldades de um brasileiro filho de operário, me formei estudando a noite e trabalhando durante o dia desde os 13 anos de idade. Cada um que viva sua vida, a opção sexual, religiosa, politica, é livre. Mas não me obriguem a nada! Aos 71 não vou mudar minha cabeça. Tenho direito de respirar e expressar meus pensamentos, pelo menos aqui em casa. Parabéns Ana!

  11. Antonio Almeida
    Antonio Almeida

    “Follow the money”. É só ver onde Black Rock e Vanguard têm posições.

    1. Gabriel Miranda
      Gabriel Miranda

      Exatamente! Está tudo muito sinistro. Não sei como o mundo sairá dessa enrascada de ESG. Excelente artigo.

  12. Roberto tinoco
    Roberto tinoco

    Ana mais uma vez obrigado por sua eloquente defesa da liberdade fazendo um diagnóstico preciso da hipocrisia embiental que se propõe a controlar a vida dos cidadãos. Deus nos ajude.

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