Londres parece uma cidade ocupada. Enquanto andava de bicicleta, vi uma bandeira estrangeira flutuando em cada edifício importante. Lá estava ela no alto do Drummonds, na Charing Cross Road, o banco mais sofisticado desta terra. Ela estava hasteada no prédio mais alto da Trafalgar Square também. A estrutura, que se avultava sobre a pobre Coluna de Nelson, tinha cinco bandeiras no total: quatro bandeiras do Reino Unido e, entre elas, orgulhosa de sua posição, parecendo afirmar sua primazia política sobre as Union Jacks, havia uma bandeira nova. Parei na livraria Foyles para dar uma olhada na seção de novidades e lá estava ela de novo, um display enorme na entrada, fazendo todos os que entravam lembrarem de que havia um novo poder na cidade. Sem contar a Regent Street. Honestamente, nunca vi nada assim. O bulevar todo estava enfeitado com uma nova estampa. Havia muitas delas penduradas na rua, de um prédio ao outro, em perfeita formação militarista, até onde a vista alcançava. Senti um arrepio.
Claro, estamos falando da bandeira do Orgulho LGBTQIA+. Ou a bandeira Progress Pride, como ela passou a ser conhecida, depois do acréscimo de novas faixas de cor para representarem pessoas queer (que não se identificam com nenhum sexo) negras e indígenas, pessoas trans e intersexo. Sim, o 0,02% da população com genitais indeterminados agora tem uma bandeira. Exatamente por que preciso ser lembrado a cada esquina que alguns poucos bebês desafortunados nascem todo ano com testículos ou ovários malformados é um mistério. A bandeira do Orgulho LGBTQIA+ se tornou algo feio. Não só por causa do acréscimo de ainda mais tons extravagantes e agora um triângulo e um círculo também — é um milagre que eu não tenha caído da bicicleta enquanto olhava para essa monstruosidade caleidoscópica —, mas também porque é tão evidente que se trata de um símbolo ideológico. Pode não ser a bandeira da conquista de um exército estrangeiro, mas é a bandeira da conquista de uma elite. É a bandeira de um novo establishment identitário que pretende deixar claro para a população quais ideias vão reger o século 21.
Eles nos chamam de ufanistas se hasteamos a bandeira nacional, porque a seus olhos a única bandeira que importa é a que enfatiza nossas diferenças
Sou velho o suficiente para me lembrar da época em que a bandeira do Orgulho LGBT era apenas um símbolo gay que você veria em eventos e estabelecimentos gays. Bares gays tinham a bandeira na entrada. Homossexuais protestavam envoltos na bandeira enquanto gritavam palavras de ordem. Além de alguns tradicionalistas e conservadores, ninguém tinha problema com o emblema do arco-íris naquela época. A tolerância à homossexualidade havia disparado no Reino Unido nas últimas décadas. Uma pesquisa do Instituto Pew de 2019 revelou que 86% dos britânicos acreditam que a homossexualidade deve ser aceita pela sociedade. Alguns anos atrás, a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo deu ao Reino Unido a nota mais alta de todos os países da Europa por conquistas em questões de igualdade. Isso é ótimo. A Inglaterra é um lugar muito seguro e muito bom para os homossexuais viverem. E em grande parte isso se deve aos incansáveis militantes que marcharam com a bandeira do Orgulho LGBT. Muito bem! Mas agora essa bandeira significa algo totalmente diferente.
A estampa do arco-íris não é mais a bandeira eleita por um movimento voluntarista por igualdade. Em vez disso, ela se tornou o emblema dos nossos governantes descolados e intolerantes. Existe uma compulsão palpável por hastear a bandeira. Pobre do comércio, banco ou prédio oficial que não exibirem esse símbolo, especialmente no mês do Orgulho LGBTQIA+. Aliás, a junta paroquial de Ockbrook and Borrowash, em Derbyshire, ganhou um problema quando se recusou a hastear a bandeira. “Conselho de Derbyshire esnoba a bandeira do Orgulho LGBTQIA+ e gera revolta”, noticiou uma reportagem da BBC ano passado. Isso mesmo: hoje em dia, você vai parar no noticiário se não se render ao arco-íris. Um observador comentou que a ausência da bandeira em Ockbrook and Borrowash signficava que algumas pessoas não “se sentiriam seguras de ir até lá”. Em resumo, cidades sem essa bandeira são suspeitas. São território pagão. Entre por sua conta e risco.
A afirmação da virtude
Claramente, a bandeira do Orgulho LGBT significa algo mais que “eu defendo a igualdade para pessoas gays”. Ela se tornou o meio pelo qual indivíduos e instituições afirmam sua virtude. E o mais importante, ela demonstra sua devoção à política identititária, à visão woke. Fundamentalmente, adotar a bandeira do Orgulho LGBT é um voto de lealdade às novas ideologias da classe dominante. Hastear a bandeira no local de trabalho, na escola, no banco ou estabelecimento comercial informa ao mundo que você não alimenta pensamentos heréticos. Que você aceita, fiel e totalmente, o credo neoliberal do identitarismo, da fluidez e do reconhecimento de gênero, e que você também aceita o cancelamento de qualquer um que ofereça um sussurro de dúvida sobre essas ideias. Desesperados para evitar o mesmo destino que Ockbrook and Borrowash — não ser considerado um local “seguro”, adequado e moralmente asseado se você não adotar a bandeira do Orgulho LGBT —, toda instituição política e capitalista agora se enfeita com a parafernália do Orgulho LGBT. Estão basicamente gritando: “Vejam, sou correto! Eu também acredito! Não me cancelem”.
No entanto, não é só uma questão de verniz, não basta usar a bandeira como escudo para se defender das críticas às suas práticas. O “verniz LGBTQIA+” é a explicação-padrão oferecida por algumas figuras da esquerda para explicar por que até organizações, como o banco Coutts, agora pintam a fachada inteira das agências com as cores da bandeira, por que até Exércitos ocidentais fazem uma pausa nas invasões a territórios estrangeiros para hastear o arco-íris todo mês do Orgulho LGBTQIA+. Claramente empolgada que “sua” bandeira tenha sido adotada de forma tão fervorosa pela classe dominante e pelo complexo industrial militar, a esquerda woke diz: “Só estão fazendo isso para nos distrair do fato de que eles são péssimos!”. Não, não é isso. Na verdade, a bandeira do Orgulho LGBT se tornou um símbolo de luta para as novas elites. Essa bandeira fragmentária e globalista de fato representa seu sistema de crenças pós-nacionalista, hiperindividualizado. É a bandeira deles agora, quer você goste ou não.
Sexo x gênero
O elemento ideológico e intimidante da bandeira fica ainda mais evidente no mês do Orgulho LGBTQIA+. Agora, as cores trans foram acrescentadas. E a ideologia trans é algo com que muitas pessoas ficam desconfortáveis. Muitas mulheres não aceitam a ideia de que um homem pode se tornar uma mulher, ou que esses homens “que se identificam como mulheres” deveriam ter acesso a espaços e esportes femininos. Muitos homossexuais também desdenham a substituição da realidade biológica do sexo pela sensação subjetiva e confusa do “gênero” e se preocupam com o impacto que tudo isso vai ter nos direitos de pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo ou na própria ideia de atração pelo mesmo sexo. Afinal, se alguém com um pênis pode afirmar ser lésbica — ou seja, se um homem hétero pode afirmar ser uma mulher homossexual —, isso não torna o lesbianismo quase obsoleto? Talvez faça sentido que as cores trans na nova bandeira Progress Pride pareçam atacar furiosamente as cores gays da antiga bandeira.
No entanto, o desconforto das pessoas com a ideologia trans — ou com a ideologia identitária, em termos mais amplos — não tem valor aos olhos das novas elites. E, nesse sentido, a bandeira do Orgulho LGBTQIA+ realmente se tornou algo hostil. Ela se tornou uma bandeira criada pela elite que é hostil a nós e à nossa preferência aparentemente antiquada do sexo em detrimento do gênero, da ciência em relação ao sentimento e da solidariedade em detrimento da dinâmica balcanizante da política identitária. É por isso que atravessar Londres sob o olhar atento desse novo padrão arrogante parece tão desconcertante: porque sei, assim como tantos outros sabem, que essa bandeira onipresente na verdade representa a nova classe dominante jogando pesado e reprimindo as hordas ignorantes. Eles nos chamam de ufanistas se hasteamos a bandeira nacional ou a bandeira inglesa, porque a seus olhos a única bandeira que importa hoje em dia é a que enfatiza nossas diferenças e que eleva a identidade pessoal sobre a identidade nacional. Ela se tornou uma bandeira arrogante, divisionista e fundamentalmente alheia.
Brendan O’Neill é o repórter-chefe de política de Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Ele também está no Instagram: @burntoakboy
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Não adianta eles tentarem , esse mundo não existe.
Excelente artigo.
Ótimo artigo. Parabéns. Extinção da humanidade já. O negócio está feio.
O supra-sumo do divisionismo! Inimaginável tudo isso não faz muito tempo! Vão partir pro auto-extermínio.
Eu acho tudo isso uma “onda”, na qual, mais cedo ou mais tarde, eles mesmos vão se engalfinhar. São identitários, mas cada um EXIGE que os outros respeitem tão somente a “sua identidade”. Os tradicionais gays e lésbicas serão considerados ultraconservadores – que precisarão ser cancelados !!!
Que 0,002 potente hein? A biologia não significa nada?
Aqui no Brasil colocaram o mês do orgulho gay em.junho de forma proposital, para afrontar nossa devoção aos santos católicos, cuja vida de sacrifícios e do bem ao próximo lembramos em nossas divertidas festas juninas.
Façam o que quiserem, jamais irão oferecer o mesmo conforto espiritual proporcionado pelas palavras do messias.
Não há como nos vencer, pois a.maioria de nós foi educada por uma família tradicional, com pai e mãe e valores cristãos e hoje conhecemos todas as artimanhas dos neuróticos desviados do caminho do bem.