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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 122

O PC chinês quer controlar sua mente

A ditadura comunista se infiltra no cérebro dos seus súditos

Dagomir Marquezi
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Pesquisadores chineses anunciaram com orgulho que já têm tecnologia suficiente para ler a mente dos membros do Partido Comunista. O objetivo é torná-los mais receptivos à “educação do pensamento”.

A notícia do jornal britânico The Times cita o Centro Nacional de Ciência Abrangente de Hefei como criador de um sistema capaz de “ler expressões faciais e ondas cerebrais, analisando quão atento um membro está para a educação política e do pensamento”. 

O objetivo, segundo o Centro Hefei, é “solidificar ainda mais a confiança e a determinação de ser grato ao partido, de ouvir o partido e de seguir o partido”. Atingir 100% de foco nos ensinamentos políticos e na doutrinação ideológica. A tecnologia de leitura de ondas cerebrais já é capaz de detectar se alguém, numa sala de estudos, está acessando um site de pornografia ou se está cansado.

Exercícios esportivos numa escola em Xingtai | Foto: Shutterstock

Na sua busca pelo controle absoluto da população, o regime comunista chinês já espalhou 170 milhões de câmeras de vigilância por lugares públicos e é capaz de monitorar de uma maneira ou outra os atos de seu 1,4 bilhão de habitantes. A tecnologia de inteligência artificial é capaz de apontar um punhado de “suspeitos” em aglomerações com milhares de pessoas. O processo de identificação dura menos de um segundo.

Câmeras de identificação facial em Chongqing | Foto: Shutterstock

Mas controlar a liberdade dos cidadãos é pouco. O PCC quer controlar sua mente. Ainda segundo o Times, o Partido espalhou um aplicativo chamado “Estude Xi para tornar a China Mais Forte” aos seus quase 97 milhões de membros. Xi, claro, é o todo-poderoso Xi Jinping, o presidente da China, o autoproclamado novo Mao Tsé-tung.

O partido já havia transformado outro aplicativo, o “Estude a Grande Nação”, num grande sucesso. Mais de 100 milhões de chineses haviam baixado o aplicativo, segundo reportagem do New York Times. Estudantes que decoram as mínimas regras do socialismo de estilo chinês ganham notas melhores na escola. Empregados são obrigados a mandar suas avaliações para seus chefes, provando que aprenderam direitinho as lições. 

A imprensa oficial (e qual não é oficial na China?) conta histórias edificantes sobre cidadãos que abrem o aplicativo assim que acordam, antes de tomar água ou fazer xixi. Solteiros são incentivados a se casar com quem também usa o “Estude a Grande Nação”. “Você não pode se distrair”, declarou o professor Haiqing Yu, da universidade australiana RMIT. “É um tipo de vigilância digital. Leva a ditadura digital a um novo nível.” A China de Xi Jinping está cada vez mais parecida com uma versão high-tech da Coreia do Norte.

Os humanos não são iguais

Cada membro do partido é obrigado todos os dias a ler no aplicativo quatro artigos aprovados pelo grande líder, a assistir a três vídeos de nove minutos e responder a três perguntas. Se acertar as respostas, ganha 40 pontos. Acumulando esses pontos, como num programa de milhagem, vai ter mais chance de subir na burocracia do partido.

O professor James Leibold, da Universidade La Trobe, em Melbourne, Austrália, escreveu um artigo, em 2018, para o New York Times sobre essa obsessão chinesa de controle sobre o indivíduo. Revelou que não é uma novidade imposta pelo Partido Comunista quando tomou o poder, em 1949.

A China de Xi Jinping está cada vez mais parecida com uma versão high-tech da Coreia do Norte

Segundo o professor Leibold, já no século 3 a.C., o filósofo Xunzi definia a humanidade como “madeira torta” que precisava ser retificada em nome da “harmonia social”. O confucionismo (que exerce grande influência no regime comunista chinês) determinava que o mais importante não eram os direitos individuais, mas a aceitação da hierarquia social. Segundo essa linha de pensamento, os humanos não são iguais, mas variam em “suzhi”, ou qualidade. Confúcio falava em “pessoas superiores”. Os comunistas falam em “quadros de liderança”.

Estátua de Confúcio, na China | Foto: Shutterstock

Pessoas “inferiores” podem se aperfeiçoar? Sim, desde que sigam as regras do partido. Se um chinês é condenado à prisão, por exemplo, é imediatamente isolado e incentivado a obedecer às regras. Recebe, conforme seu comportamento, mais comida e horas de sono ou mais tortura e isolamento. Faz parte do processo a “autocrítica”, o reconhecimento de que estava errado. Segundo o filósofo contemporâneo Tu Weiming, é a jornada de “dor e sofrimento” na busca de aperfeiçoamento e aceitação.

“Paralisar e controlar o oponente”

O Partido Comunista chinês sempre deu atenção ao processo que ficou conhecido como “lavagem cerebral”. A expressão vem da união de duas palavras em mandarim, “xi” (lavagem) e “nao” (cérebro). O sistema tornou-se tristemente conhecido durante a Guerra da Coreia (1950-1953), quando militares norte-americanos aprisionados pelos chineses confessavam crimes inexistentes e decidiam abandonar o próprio país e viver com seus carrascos. 

O doutor Robert Jay Lifton, que trabalhou com veteranos da Guerra da Coreia, identificou alguns métodos para quebrar a vontade dos prisioneiros norte-americanos — o controle absoluto de seu ambiente, a confissão de crimes não cometidos, a obrigação de permanecer em posições dolorosas, a privação de comida e sono, o confinamento solitário e a exposição permanente à propaganda comunista. A individualidade é quebrada, e o prisioneiro se torna uma “nova pessoa”, dócil aos seus captores, renegando seus próprios princípios.

Fotografia tirada durante a Guerra da Coreia | Foto: Reprodução

A China não esconde uma outra possibilidade: a de inventar armas destinadas a desorientar tropas inimigas, criando confusão mental em massa. Segundo o jornal Washington Times, os chineses estão investindo em biotecnologia destinada a “paralisar e controlar o oponente” e “atacar o desejo do inimigo de resistir”. 

Escravos voluntários

Toda essa tecnologia de dominação mental, que parece sair de uma história em quadrinho barata, é real e presente. Por enquanto, está sendo testada na China, mas amanhã poderá estar no Irã ou em Cuba. A obsessão controladora de Xi Jinping está dando um impulso definitivo para esses métodos e tecnologias. Mas a questão não diz respeito só à China. E muito menos à tecnologia em si.

A questão de certa forma é mais simples — escravidão x liberdade. Ser prisioneiro ou ser livre. O próprio ditador da China sabe que não existe controle perfeito numa realidade que tende ao caos. Seu gigantesco aparelho repressivo pode quebrar um dia, e a situação fugir ao seu controle. Por isso se esforça tanto em criar escravos mentais, zumbis sem vontade própria recitando as ordens do partido em busca de 40 pontos no aplicativo e um carguinho melhor na estatal.

Reunião do Comitê Central do Partido Comunista da China | Foto: Shutterstock

Todos os ditadores do mundo sabem também que existem espíritos indomáveis, mentes que permanecem livres mesmo fechadas nas mais sombrias prisões. A própria China é uma panela de pressão soltando fumaça pela tampa. Não há tecnologia ou sistema judiciário capazes de controlar 1,4 bilhão de cérebros, é impossível.

Por outro lado, existem pessoas que, mesmo sem ser obrigadas, se entregam à mais abjeta escravidão mental. Esses prestativos escravos voluntários não precisam de leitores de mentes, armas atordoantes nem aplicativos de doutrinação para obedecer aos senhores de suas vontades. O Brasil, você sabe, está cheio desses vassalos.

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15 comentários
  1. LEILA FONSECA
    LEILA FONSECA

    Fazem mais de 35 anos eu li um livro do J.M.SIMMEL que abordava questões energéticas na Alemanha, clonagem e guerra biológica… entre EUA E URSS
    UM TEMA QUE ASSUSTA QUANDO VEMOS QUE ESTA DEIXANDO DE SER FICÇÃO PRA SER UMA HORRIVEL REALIDADE!
    ..Infelizmente não tenha certeza do titulo
    tenho procurado para fazer uma releitura.. Por quantos ainda vamos chorar … talvez seja este o titulo se alguém souber por favor me informe, pois as vezes os livros antigos não tem os resumos nas livrarias on line

  2. Dinarte Francisco Pereira Nunes de Andrade
    Dinarte Francisco Pereira Nunes de Andrade

    Assustador! E mais assustador ainda é haver gente que não crê ou, pior, que se conforma com esta possibilidade. É não veem que só ganha a cúpula do Partido. O gado segue comendo capim…

  3. Luciano Pereira Rosa
    Luciano Pereira Rosa

    O caos só termina quando há reação. Mas hj temos a reação atômica, lokinha pra voar, e não teremos tempo pra discutir pq será rápida e sem dor!

  4. Raul José De Abreu Sturari
    Raul José De Abreu Sturari

    Excelente artigo.
    Hoje isso acontece com os chineses. Mas amanhã poderá acontecer com vários países acidentais, inclusive o Brasil.
    A tirania está virando moda.

  5. Georgs Rozenfelds
    Georgs Rozenfelds

    Que horror! 1984 de George Orwell é fichinha perto deste absurdo!

  6. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente artigo. Parabéns. Depois que eu ouvi da boca de um médico com o qual me consulto há muito tempo, no auge da peste chinesa, que ele preferia menos liberdade e mais “segurança”, nada mais me espanta. Como tem gente idiota e imbecil nesse mundo.

    1. Roberto J. Lima
      Roberto J. Lima

      Estamos vendo os resultados.

  7. Ayrton Pisco
    Ayrton Pisco

    Excelente texto.
    Na verdade a China criou um novo paradigma do socialismo: o socialismo que leva ao sucesso econômico e crescimento do país. O contraponto é o sacrifício da liberdade de pensar e ser.
    Resta ao chamado mundo livre mostrar, como fez com a antiga URSS, que o sistema que permite liberdade de discordar aos seus cidadãos, é o melhor também para o crescimento econômico.
    Neste contexto que emerge hoje no mundo, turbinado pela pandemia, emerge Bolsonaro, que tem pela frente um desafio super humano.

  8. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    A tecnologia é maravilhosa, mas está servindo a desumanidade, metade dos cientistas são a favor da ciência para o bem da humanidade, isso é uma realidade, o povo tá nessa direção

  9. Eduardo Levin
    Eduardo Levin

    Preocupante!

  10. Agnelo A. Borghi
    Agnelo A. Borghi

    Se isso não é “1984” não sei mais o que é. Terrível.

  11. Paulo Fernando Vogel
    Paulo Fernando Vogel

    O processo de involução civilizatória que se agiganta a cada dia graças aos avanços tecnológicos criados pelo mundo livre, nos fará retroceder a um tempo em que haviam os poderosos sanguinários, a casta de bajuladores-protetores, a maior parte da população tornada escrava e um exército para garantir que não haveriam dissidências.

  12. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Mais um objetivo do luladrão. O canalha solto pelo fachin, o canalha FDP do stf.

  13. Gustavo Bottene
    Gustavo Bottene

    Assustador!

    1. Valesca Frois Nassif
      Valesca Frois Nassif

      Muito preocupante, como nas mais sombrias ficções científicas! Obrigada pelo excelente texto, sempre à altura do q se espera de um talentoso articulista.

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