Na semana passada, a Sociedade Britânica de Psicologia solicitou que “classe social” fosse transformada em uma característica legalmente protegida. Nesta semana, os membros do Parlamento querem que a menopausa seja protegida e que os empregadores façam “ajustes razoáveis” para acomodar as necessidades específicas das mulheres na menopausa. Parece não haver nenhuma questão — biológica, cultural ou política — que não seja considerada solucionável por ainda mais leis equalitárias.
Seus defensores destacam o fato de que a gravidez é uma característica legalmente protegida e argumentam que incluir a menopausa no Equality Act 2010 é uma extensão óbvia. Mas existem algumas diferenças importantes. Nem todas as mulheres engravidam, mas as que o fazem sofrem um enorme impacto em sua capacidade de trabalhar — ainda que num período curto antes e depois do parto. A licença-maternidade e o direito de ir a consultas médicas durante a gestação e evitar tarefas de risco foram vitórias legais difíceis e importantes. Mas a menopausa não é a mesma coisa que uma gravidez. Ela costuma durar muito mais que nove meses e afeta as mulheres de diferentes maneiras. Em vez de ser um evento definidor, a menopausa é um estágio de vida mais vago.
As reivindicações dos membros do Parlamento são uma reação a um relatório que sugere que “mulheres altamente qualificadas e experientes” estão abrindo mão do trabalho, o que causa fortes consequências na disparidade de pagamento de acordo com gênero, nas aposentadorias e no número de mulheres em cargos seniores. Eles apontam para estatísticas que afirmam que mulheres com “pelo menos um sintoma problemático de menopausa” têm 43% mais probabilidade de deixar o trabalho aos 55 anos do que as que não têm nenhum sintoma grave. Culpam os empregadores por não oferecerem suporte às mulheres na menopausa e querem uma “embaixadora especial” para corrigir isso.
“Um fim ao sofrimento das mulheres”
Mas esses números só contam metade da história. A covid-19 e os lockdowns causaram uma forte queda no número de homens e mulheres acima de 50 anos na força de trabalho desde que os registros começaram. Pessoas com mais de 50 anos têm mais chances de se tornar “economicamente inativas” do que qualquer outra faixa etária. Um estudo recente do Escritório de Estatísticas Nacionais Britânico, “Over 50s Lifestyle Study” (“Estudo sobre o Estilo de Vida de Pessoas com Mais de 50”, em tradução livre, ou OLS), revelou que 82% das pessoas que perderam ou deixaram o emprego durante a pandemia não voltaram ao trabalho, sendo que os homens entre 50 e 70 anos estão muito mais propensos a se tornar economicamente inativos do que as mulheres (67 mil homens contra 20 mil mulheres).
É o retrato das mulheres na menopausa como figuras chorosas, trêmulas e lamuriosas que faz um desserviço às mulheres no local de trabalho e fora dele
Isso também não é uma notícia totalmente ruim. A maioria das pessoas com mais 50 anos deixa a força de trabalho para se aposentar. E são os profissionais de classe média que têm mais chance de abandonar o mercado de trabalho, um grupo que o OLS sugere ter feito mais economias do que qualquer outro.
Mas o Parlamento claramente não está deixando esses fatos atrapalharem a oportunidade de fazer uma campanha sobre a menopausa — uma questão que já foi muito discutida na casa neste ano. Carolyn Harris, do Partido dos Trabalhadores, formou um novo “Grupo parlamentar suprapartidário sobre a menopausa” e declarou: “A revolução da menopausa colocará um fim ao sofrimento das mulheres”. Quando o governo anunciou que os custos de terapia de reposição hormonal seriam reduzidos, a decisão foi recebida com animação pelas celebridades militantes da causa.
E agora os membros do Parlamento estão explorando ainda mais essa causa da moda. Eles querem usar a lei para enfrentar o suposto estigma e a discriminação em torno desse tema. Para isso, exigem que o governo “abra uma consulta imediata para introduzir a menopausa como uma característica protegida”, bem como uma campanha de saúde pública sobre os sintomas da menopausa e uma política piloto de “licença-menopausa” no setor público.
Salas para gritar
Mas onde exatamente está o estigma? Raramente uma semana se passa sem que a menopausa seja um tópico no debate nacional. Tivemos de aturar figuras públicas, de Nicola Sturgeon a Davina McCall, nos contando sua “história de menopausa”. Assim que algumas mulheres famosas chegam à meia-idade, parece obrigatório que elas lancem um livro, um livro de receitas ou programa de televisão compartilhando palavras de sabedoria sobre como sobreviver à menopausa. Estigma? Às vezes parece que não falamos de outra coisa que não seja a menopausa.
Está na hora de nos perguntarmos como isso de fato beneficia as mulheres. Quanto é útil que a menopausa seja vista como um período instransponível de “sofrimento”, quando se trata de algo por que todas as mulheres passam, algumas sem nenhum sintoma? A vasta maioria das mulheres enfrenta algum desconforto que pode ser administrado com relativa facilidade, especialmente com reposição hormonal. Quando muito, uma em cada dez mulheres enfrenta sintomas tão debilitantes que a fazem cogitar em parar de trabalhar. Mas, pelas campanhas, não é a impressão que se tem.
Claro, as mulheres que precisam de medicamentos devem ter acesso a eles. Mas “salas para gritar”, lenços de papel, treinamentos para empregadores, ventiladores, licença-menopausa e “embaixadores especiais”? Parem com isso, por favor. As mulheres que chegaram à meia-idade, administrando o trabalho e a família, são maduras o suficiente para conseguir diminuir a temperatura do termostato ou propor uma conversa com seu chefe.
Em se tratando de estigma, é o retrato das mulheres na menopausa como figuras chorosas, trêmulas e lamuriosas que faz um desserviço às mulheres no local de trabalho e fora dele. Mas hoje em dia é muito mais provável que essa imagem seja privilegiada por membros do Parlamento e celebridades do que por chefes homens desconectados da realidade. A obsessão atual com a menopausa parece ser movida por um desejo de retratar mulheres privilegiadas e de destaque como vítimas da biologia, da sociedade, ou de ambas. Tornar a menopausa uma característica protegida legalmente só vai exacerbar mais isso — e não fará nenhum bem às outras mulheres.
Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won
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Geração da frescurice
Texto muito esclarecedor. Parabéns. Mostra que não é só no Brasil que ideias absurdas brotam do parlamento. Sinceramente, não sei onde iremos parar com tudo isso que está acontecendo no mundo ocidental.
O povo brasileiro entrou em menor-pausa desde 2002
Proteção de mais desprotege. Veja o caso estúpido da CLT. Tenta tanto proteger o trabalhador, mas consegue extamente o contrário. Protege é o emprego. Este é tão protegido que fica inacessível ao trabalhador e caro para o empregador.
É sério isso?