“Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que
precisa ser devidamente registrada.
Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stálin lia os
livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença.
Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução,
estamos saindo de uma situação stalinista
e agora adotando uma postura mais de viés fascista,
que é criticar um livro sem ler.”
Fernando Haddad, ministro da Educação do governo Lula,
em audiência na Comissão de Educação do Senado,
em 30 de maio de 2011
Talvez seja justo — e historicamente correto — dizer que ditadores não seguem nenhuma ideologia. A única ideia que os move é a permanência no poder. Ainda assim, não deixa de ser importante entender as origens das ideologias totalitárias que transformaram vidas humanas em espetáculos de morte, sofrimento e miséria.
Essas ideias ainda enganam muitos tolos, com suas promessas de utopia implantada a ferro e fogo — promessas que sempre terminam nos paredões de fuzilamento ou em campos de concentração.
As ideias totalitárias entram em confronto umas com as outras. É a versão planetária daquilo que, aqui no Brasil, ficou conhecido como o teatro das tesouras: uma falsa disputa entre duas forças políticas muito semelhantes, que competem uma com a outra, em busca dos mesmos objetivos. Elas não são inimigas; elas são concorrentes.
Assim ocorre com o suposto confronto entre fascismo e comunismo. Não existe confronto. Existe competição. O fascismo se originou do comunismo; é uma variante do mesmo vírus autoritário.
Confrontos entre comunistas e fascistas são meras disputas de poder entre monstros totalitários. Para os líderes fascistas e comunistas, as ideias são irrelevantes. Os seres humanos também.
Mas vamos começar do início.
Quem acompanha a mídia — brasileira e internacional — faz logo uma descoberta surpreendente: os partidos e os políticos de esquerda agora são chamados de “centro” ou “centro-esquerda”. E qualquer força política que se oponha a essa “centro-esquerda” agora é automaticamente chamada de extrema direita.
Mas essa não é uma representação correta da realidade.
Na verdade — e ainda que isso desagrade a muita gente —, o mundo é hoje dividido entre duas visões de organização política, econômica, social e moral da sociedade: a visão da esquerda e a visão da direita.
Não existe nenhuma “terceira via”.
Nas democracias modernas, a esquerda é formada por comunistas, socialistas e socialdemocratas. Nessas mesmas democracias, a direita é formada pelas forças que se opõem à esquerda: conservadores, liberais e libertários.
E os extremos?
A extrema esquerda é formada pelos elementos radicais de esquerda, que também são socialistas ou comunistas.
A diferença entre a esquerda e a extrema esquerda não é de natureza, é de intensidade. Dizendo de outra forma: a extrema esquerda quer exatamente as mesmas coisas que a esquerda — partido único, ditadura do proletariado, fim da propriedade privada, coletivização e estatização da economia. A diferença é que, enquanto a esquerda obedece — mais ou menos — às regras do jogo democrático (até chegar ao poder, claro), a extrema esquerda prega e pratica abertamente diversas formas de violência, como ameaças a opositores, distúrbios de rua, “ocupações”, assassinatos, terrorismo e guerrilha (o enfrentamento armado ao Estado).
Mas, na direita, a situação é completamente diferente.
A diferença entre a direita e o que se convencionou chamar de “extrema direita” não é de intensidade, mas de natureza.
O pensamento político e as práticas das correntes políticas de direita nada têm a ver com o que se convencionou chamar de “extrema direita”.
É fácil constatar isso: a direita moderna é formada por conservadores, liberais e libertários. Todas essas correntes de pensamento têm como foco o indivíduo. Todas elas consideram os direitos à vida, à liberdade e à propriedade como direitos naturais sagrados.
Fascismo e comunismo têm o mesmo objetivo: colocar no poder um pequeno grupo que goza de poder absoluto, enquanto a maioria da sociedade é reduzida à servidão e à pobreza mais absoluta
Todas as correntes de pensamento da direita pregam um Estado enxuto, cuja função principal é garantir os direitos do indivíduo — direitos que foram dados pelo Criador, não pelo Estado — e interferir o mínimo possível na vida e na iniciativa privadas. Isso é exatamente o oposto do que pregam as ideologias chamadas de “extrema direita” como fascismo e nazismo.
É justo, então, perguntar como fascismo e nazismo podem ser “de direita” se o seu ideário — totalitário, ultraviolento, coletivista e adorador do Estado — não tem nenhum ponto em comum com o ideário dos conservadores, dos liberais ou dos libertários que formam a direita.
Como uma corrente política pode ser chamada de “extrema direita” se, para começo de conversa, nem de direita ela é?
Isso levou muitos pensadores e autores a questionarem se fascismo e nazismo têm, realmente, algo a ver com a direita, ou se são, na verdade, simples variantes do totalitarismo de esquerda. Por exemplo, no seu livro Sobre Moeda e Inflação, o economista Ludwig von Mises se refere ao “nacional-socialismo” como “a versão alemã do comunismo”.
Essa linha de argumentação encontra sustentação em elementos inquestionáveis: as inúmeras semelhanças entre as doutrinas fascista e comunista; o passado socialista de Mussolini, o líder italiano inspirador do fascismo; e o fato histórico, facilmente comprovável, de que nazismo é uma abreviatura do termo alemão que significa “nacional-socialismo”, ou socialismo nacional. O nome completo do partido nazista alemão era Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. O nome diz tudo. Por que algum partido se denominaria socialista, se não o fosse?
Confirmações dessa tese vêm de locais improváveis, como o livro Regras Para Radicais, do ativista norte-americano de esquerda Saul Alinsky, guru de toda a esquerda moderna. Alinsky admite que “alguns grupos da extrema esquerda foram tão longe no círculo político que se tornaram indistinguíveis da extrema direita”.
O fenômeno descrito por Alinsky acontece porque a “extrema direita” é, na verdade, uma variante da extrema esquerda. De “direita”, mesmo, ela não tem nada.
A filosofia política da direita privilegia o indivíduo e sua liberdade, e limita o Estado ao papel de garantidor dos direitos fundamentais. Uma “extrema direita” levaria esses conceitos ao seu limite, pregando — quem sabe? — a eliminação total do Estado e uma liberdade individual quase ilimitada.
Uma extrema direita verdadeira seria uma versão radical do libertarianismo, jamais uma doutrina totalitária e assassina como o fascismo.
São óbvios os inúmeros pontos em comum entre os regimes comunistas e fascistas: glorificação do Estado, desprezo pelo indivíduo e seus direitos, coletivização forçada, partido único e uso da violência — campos de concentração, tortura, tribunais de exceção, assassinato de opositores — como instrumento de ação política.
A única diferença entre o fascismo e o comunismo é que o fascismo fuzila inocentes em nome da “raça”, enquanto o comunismo fuzila em nome da “classe”.
Para quem é fuzilado, isso não faz diferença alguma.
O confronto entre comunismo e fascismo, longe de representar um conflito entre ideologias opostas, é apenas a disputa monstruosa entre dois regimes totalitários assassinos, competindo pelo monopólio do poder. É um fato histórico a aliança entre comunistas soviéticos e nazistas alemães no início da Segunda Guerra Mundial. Através da assinatura do pacto Ribbentrop-Molotov, comunistas e nazistas dividiram a Europa entre eles. O pacto foi finalmente violado pela Alemanha. Se dependesse dos comunistas, a aliança com os nazistas teria perdurado até hoje.
Fascismo não é o oposto, e muito menos o contrário do comunismo; na verdade, é sua alma gêmea. Fascismo e comunismo são monstros gerados do mesmo ovo de serpente. Ambos têm o mesmo objetivo: colocar no poder um pequeno grupo que goza de poder absoluto, enquanto a maioria da sociedade é reduzida à servidão e à pobreza mais absoluta.
Fascismo e nazismo nada têm a ver com o pensamento da direita moderna — o pensamento liberal de Hayek e Mises, o pensamento conservador de Burke e Kirk ou as ideias libertárias de Walter Block e Hans-Hermann Hope. Ao contrário: os maiores oponentes dos regimes totalitários, nos dias de hoje, são exatamente os liberais e os conservadores (no campo político, principalmente esses últimos).
Repetindo: as pautas principais da direita moderna são a defesa da liberdade, da autonomia e da independência do indivíduo, a defesa dos direitos naturais — principalmente direito à vida, à propriedade e à autodefesa — e a rejeição a todo tipo de tirania e coletivismo. Portanto, diz a lógica mais básica, nenhum movimento político que viole esses princípios pode ser considerado “de direita”.
Por definição, não existe conservador extremista. É impossível a existência de uma “extrema direita conservadora”, pelo simples fato de que, se é extrema, não é conservadora.
Por isso, da próxima vez que um comunista — ou socialista ou “progressista”— tentar usar os crimes do fascismo para atacar a direita, explique isso a ele: fascismo nada tem a ver com direita. Fascismo é um regime totalitário criado por Mussolini, nascido da costela do comunismo, ao qual está ligado por ideias, políticas, líderes e crimes.
Fascismo, nazismo, comunismo e socialismo são ideologias totalitárias, promotoras do extremismo, do atraso e da miséria, nascidas no mesmo berço e que pertencem, todas elas, à lata de lixo da história.
Fascismo é comunismo com o sinal trocado.
Em uma sociedade informada e consciente, nenhuma dessas duas ideologias deveria ser aceita, promovida ou permitida no jogo político.
Leia também “Quem julgará os julgadores?”
Interessante: não teve.
É ruim demais comentar utilizando o smartphone.O campo é extremamente curto e não se pode ver as incorreções antes de submeter. Nesse texto deve ter vários.
É claro que eles apagaram o Giovanni Gentileza. Quem é? O criador do fascismo e de onde todas as ideologias de esquerda jorraram.
Muito bom! Concordo com esse ponto de vista, Mas se tentar falar para esquerdista que fascismo é de esquerda, vou apanhar, como quase ja aconteceu. Eles tem coragem de falar que o Hitler ser do partido dos trabalhadores nao quer dizer nada!
Mostra esse trecho pro Schelp, tenta ensiná-lo alguma coisa
Parabéns grande Roberto Mota. Excelente explanação! Era o que eu precisava, para refutar com mais propriedade, os ataques da classe de professores, da qual faço parte, que em sua grande maioria, são esquerdistas. Só quem é professor e conservador, sabe o que é trabalhar com tais pessoas. É ataque de todos os lados, 24 horas, das formas mais variadas. Dissipou todas as minhas dúvidas. Obrigado!!!!
Excelente artigo e já fiz divulgação em redes sociais e levei para a escola um resumo, no entanto, os professores socialistas e comunistas arrancaram minha divulgação, enquanto os os selos e propagandas do partido deles e do candidato deles estão sendo divulgadas.
É mesmo uma batalha sem fim para mudar o sistema e a educação nas escolas mas temos que fazer nossa parte
Parabéns Motta pelo texto brilhante e como sempre muito bem articulado e explicativo. Mas desculpe-me meu caro por um ponto. A sua proposição para explicar o fascismo a um socialista é missão quase impossível, pois a capacidade de pensar dessa gente foi totalmente suprimida pela sujeira cerebral implantada pelo próprio socialismo.
Inclusive vou lhe mandar um desafio. Tente explicar isso a Anita quando a encontrar pelos bastidores de algum programa ou evento.
Esquerda é mais Estado centralizador.
Direita é menos Estado.
Não tenho culpa se acreditam na Marilena Chauí.
Muito boa a reportagem, fica cada vez mais evidente que onde o estado comanda há corrupção, Israel é um bom exemplo, uma faixa de terra esturricada é primeiro mundo
Gostei e concordo. Mas fiquei pensando: a extrema direita é o anarquismo…
Sim, também chamado de anarcocapitalismo.
Excelente artigo. Parabéns Motta. Pena que os esquerdopatas não têm ou não querem ter acesso a esse tipo de informação. Bem como a velha imprensa, as subcelebridades, os pseudoartistas, os ditos “progressistas” e todo e qualquer simpatizante de ideologia de esquerda.
Parabéns Motta, excelente artigo! Só não entende quem não quer…
Os comunistas são as pessoas que leram Marx e Engels, os anti-comunistas são aqueles que entenderam. – Ronald Reagan
Roberto Motta tem a vocação de apresentar análises muito lúcidas… Parabéns, meu caro! É uma força na equipe de comentaristas da Jovem Pan que acompanho com satisfação!
Finalmente me sinto representado, tanto na imprensa como na presidência!
Deus proteja, ilumine e guarde esta direita que preserva e protege os bons costumes e as LIBERDADE! 🙏🇧🇷🙏
Que artigo maravilhoso
Excelente artigo, que me levou a uma reflexão que nunca tinha me ocorrido: de um ponto de vista conceitual, a extrema-direita (ou seja, a variante deturpada e potencialmente criminosa da direita) seria, na verdade, uma forma de anarquismo?
Abordagem perfeita, como todas feitas pelo colunista!
Fascismo comunismo nazismo lulismo Zé dirceuzismo Zé Cuecão zismo Gleisi Roffman zismo STF zismo TSE zismo esquerdismo aí brasileira zismo é tudo uma Ladroagem só
Excelente artigo Mota! Parabéns! Não sabia que você estava escrevendo para a Oeste, a partir de agora vou acompanhá-lo por aqui também. Se me permite uma crítica construtiva, respeitosamente, entendo que a penúltima frase deste ótimo artigo – “fascismo é comunismo com o sinal trocado” – não corrobora com todo o resto do seu artigo pois a expressão “sinal trocado”, na matemática, nos leva a entender como o que está do lado oposto o que não me parece que foi o que você quis dizer (afinal comunismo e fascismo são almas gêmeas). Abraço!
Afinal, a proposta é a mesma. Estabelecer uma elite que vai proteger os que avaliar como bons e eliminar os que considerar inimigos.
Parabéns Motta! Ótima matéria. Quem quiser entender ainda mais a relação entre facismo, nazismo e principalmente a esquerda americana, recomendo o livro do Dinesh D’Souza chamado: The Big Lie. Grande abraço.
Excelente, temos que publicar livros a respeito desse tema.
Livros:
Fascismo de esquerda, de Jonah Goldberg
A grande mentira, de Dinesh D’Souza
A unicidade da Shoah, de Allain Bensançon
Ufa, até que enfim o óbvio é falado com todas as letras! Obrigado Roberto Motta.
Excelente matéria. No Brasil e sob essa ótica muito bem esclarecida, podemos afirmar que há uma natural convergência de direita entre liberais e conservadores.
Não tenho dúvidas que a maioria da população brasileira é liberal e conservadora, mesmo que não saiba e não se identifique como tal.
Interessantes as citações bibliográficas e históricas, mas o autor não é capaz de entender o que seja o cerne da ideologia de esquerda.
Livro:
Conflito de Visões, de Thomas Sowell
Qual seria ele? Esclareça para o Motta e para nós. Desde já agradeço.
Excelente matéria Motta, bem esclarecedora.
Agora experimente levar essa matéria para os “acadêmicos” de história das universidades federais pra ver o estouro!!!!
Se depois dessa matéria, altamente esclarecedora, ainda houver dúvidas sobre a irmandade do fascismo com o comunismo ou socialismo, sugiro conversar com algum polonês.
Naquele país proibiram apologia ao nazismo e ao comunismo, e nenhum partido político com essas ideologias pode ser aceito. Lá é crime falar sobre comunismo.
Quem provou sabe como é difícil se livrar deles depois que chegam ao poder e tomam as forças armadas.