O atual sucesso da Netflix é um homem sinistro que atraía jovens homossexuais para sua casa com promessa de pagar US$ 50 por uma noite de sexo e fotos. Oferecia a eles uma cerveja, que misturava com uma pílula para dormir. Assim que os rapazes apagavam, Jeffrey os matava, geralmente por asfixia.
E aí é que começava sua festa. Dahmer se excitava tocando o corpo inerte da vítima. Às vezes praticava sexo oral no cadáver. Geralmente colocava o corpo em posições que o excitavam, e se masturbava vendo seu “brinquedo”. Depois levava o cadáver para sua banheira, e passava a separar os órgãos, os músculos e os ossos. Em pelo menos uma das ocasiões ele cortou a cabeça de sua vítima e, enquanto desmembrava seu corpo, conversava e beijava seu crânio sem vida.
Dependendo do caso, Jeffrey Dahmer enterrava secretamente os corpos picotados de seus “namorados” no quintal da casa de sua avó. Acumulava pedaços dos corpos em tonéis cheios de ácido, o que provocava um cheiro insuportável na vizinhança. Em alguns casos preservava alguns de seus órgãos na geladeira. Eventualmente ele separava um músculo ou um coração, temperava a carne e preparava um jantar especial para suas noites de solidão.
Ele costumava cozinhar as cabeças até que só restasse o osso. Jeffrey planejava montar um altar de crânios de suas vítimas para que ele se sentisse inspirado para meditar sentado numa cadeira de couro negro.
Não teve tempo para construir seu altar. Foi preso no dia 22 de julho de 1991 no apartamento 213 do condomínio onde morava, na cidade de Milwaukee, no Estado de Wisconsin, EUA. A avaliação psicológica o diagnosticou com transtorno de personalidade limítrofe, transtorno de personalidade esquizotípica e transtorno psicótico. Mesmo assim foi considerado são o suficiente para ser condenado a uma pena que somava 941 anos de prisão pela morte de 17 vítimas. Morreu aos 34 anos de idade, em 1994, espancado por outro preso.
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Charles Manson: o superstar dos serial killers
Dahmer ganhou sua cota de admiradores. Mas a grande estrela entre os assassinos seriais continua sendo Charles Manson. Ele é tão original quem nem matava suas vítimas. Mandava seu bando de hippies degenerados fazer o serviço sujo em seu nome.
Manson nasceu em 1934 em Cincinnatti, estado de Ohio, EUA. Nunca conheceu o pai e a mãe era uma mulher que pulava de homem em homem. O menino Charlie passou um tempo com um casal de tios fanáticos religiosos, que encheram sua cabeça de imagens apocalípticas da Bíblia. Essa mistura de promiscuidade com fanatismo forjou sua personalidade.
Manson passou a juventude sendo preso por pequenos crimes. Na cadeia aprendeu a tocar violão e decidiu que seria “maior que os Beatles”. Em 1967 acabou sua pena, e ele foi para San Francisco, onde encontrou a onda hippie no berço. O bandidinho se transformou em guru e, com seu violão, formou um séquito de garotas fugitivas do “sistema”. E assim nasceu a “Família”, que vagou pela Califórnia e se estabeleceu num rancho decadente na vizinhança de Los Angeles.
Charles Manson queria ser uma estrela do rock. Produzia seus shows usando suas meninas como isca para atrair produtores musicais. Um desses produtores, Terry Melcher (filho da atriz Doris Day) se interessou pelas músicas de Manson. Quando Melcher percebeu que estava lidando com um maluco, abandonou o projeto.
Em 1969, Charles Manson entrou em parafuso com essa rejeição. Ele decidiu que os Beatles tinham gravado o famoso Álbum Branco como um recado pessoal para ele. Declarou-se o líder de uma revolução que acabaria com os negros e o nomearia grande líder mundial.
Ressentido, Manson reuniu na noite de 9 de agosto alguns de seus seguidores e mandou matar – aleatoriamente – quem quer que encontrassem na casa de Terry Melcher. Melcher não estava em sua propriedade no número 10.050 da Cielo Drive. Na casa estava Sharon Tate, uma atriz em ascensão, casada com o celebrado diretor Roman Polanski.
Sharon estava indo para o nono mês de gravidez e implorou que seu filho fosse poupado. As hippies assassinas a serviço de Charlie não tiveram piedade e a esfaquearam no ventre, assim como os quatro amigos e amigas da atriz que passavam a noite na casa. No dia seguinte, Manson ainda chefiou a morte do casal La Bianca, escolhido aleatoriamente.
Manson e sua gangue foram presos acidentalmente e se tornaram celebridades globais. Seu julgamento foi um espetáculo de mídia, e Manson ganhou um enorme fã clube. Muita gente defendeu a ideia de que ele era a vítima de uma conspiração da CIA e um verdadeiro líder da contracultura. Sua história rendeu um total de 21 filmes, livros, séries, animações e até uma peça da Broadway. Charlie morreu na prisão em 2017 aos 83 anos.
Nosso lado sombrio
Sujeitos como Jeffrey Dahmer e Charles Manson teoricamente deveriam ser desprezados e esquecidos. Mas se tornam celebridades cujas histórias são repetidas muitas e muitas vezes para novas gerações. O que nos leva a duas dúvidas fundamentais. A primeira: o que leva alguém a cometer esses atos?
Serial killers como Dahmer e Manson carregam pela vida uma mala de disfunções psiquiátricas. São, de uma maneira geral, psicopatas. Não sentem compaixão ou empatia por outros seres. Muitos foram abusados na infância. São obviamente sádicos e muitas vezes ensaiam seus futuros crimes com a tortura e morte de animais.
Geralmente são pessoas medíocres, que não se destacam em nada e possuem QI baixo. Envolvem-se em pequenos crimes e sentem a necessidade de serem punidos. Outra necessidade é de controle absoluto, o que os leva a prender, amarrar e matar suas vítimas.
Temos uma segunda questão, bem mais complicada. Alguns serial killers possuem verdadeiros fã-clubes. Recebem farta correspondência na prisão e até pedidos de casamento. O que nos fascina nessa gente e nos leva a assistir a sórdida história de cada um dele?
Sigmund Freud dividia a personalidade humana em três partes, o ego, o superego e o id. O id seria o mais antigo desses “reinos” (segundo definição da Enciclopédia Britânica), contendo “o conteúdo psíquico relacionado aos instintos primitivos do corpo, notadamente o sexo e a agressão, bem como todo o material psíquico que é herdado e presente no nascimento (…) Ele funciona inteiramente de acordo com o princípio prazer-dor, e seus impulsos buscam a realização imediata”.
Nos serial killers o id não foi domado pelo superego, o componente ético da personalidade. Provavelmente eles nos fascinam porque refletem nosso lado sombrio, selvagem, que aprendemos a controlar com a idade. Através desses criminosos, projetamos nossa fera interior, descontrolada em sua ferocidade.
Lista de monstros
Prepare seu estômago que aqui vai uma pequena amostra dos mais notórios serial killers do mundo:
Jack, o Estripador — Matou cinco prostitutas na região de Whitechapel, Londres, em 1888. Os corpos foram mutilados, o que fez a polícia desconfiar que o assassino era um cirurgião ou um açougueiro. Mas ele nunca foi identificado.
Harold Shipman — Conhecido como “Doutor Morte”, atuava também em Londres como médico. Ele matou pelo menos 218 de seus pacientes. Mas o total pode chegar a 250.
John Wayne Gacy — Chegou a entrar na política pelo Partido Democrata e tirou uma foto com a ex-primeira-dama Rosalynn Carter. Mas ficou mais conhecido como o palhaço Pogo. Ele capturou, torturou e matou 33 jovens, e enterrou a maioria deles no quintal de sua casa, próxima a Chicago. Foi executado em 1994.
Son of Sam — Nome verdadeiro: David Berkowitz. Nasceu em 1953 e teve uma infância complicada e violenta. Segundo ele mesmo, provocou 1,5 mil incêndios em Nova Iorque durante a década de 1970. Berkowitz atacava casais e mandava cartas para os jornais, ameaçando mais mortes e provocando pânico na cidade. Son of Sam, segundo Berkowitz, era o demônio que vivia dentro de um cão negro do vizinho e que o ordenava matar.
Zodíaco — Matou pelo menos cinco pessoas no norte da Califórnia, entre 1968 e 1969, e nunca foi identificado. Também mandava cartas enigmáticas para os jornais de San Francisco com a introdução: “Este é o Zodíaco falando”. Um grupo de funcionários do jornal San Francisco Chronicle conseguiu decifrar suas mensagens, inclusive a que dizia: “Eu gosto de matar pessoas porque é tão divertido”.
Marc Doutroux — O belga nascido em 1956 não só matava e estuprava meninas em série como vendia crianças como escravas para outros países. Suas vítimas incluíam meninas de 8 anos de idade. Em 1997, 250 mil pessoas ocuparam as ruas de Bruxelas para protestar contra a leniência da polícia belga em manter Doutroux preso.
Peter Kürten — Também conhecido como o Vampiro de Düsseldorf, o alemão começou a matar antes dos 10 anos de idade. O auge de sua atividade aconteceu em 1929, quando Kürten deixou um rastro de assassinatos com requinte de crueldade. Sua atuação gerou dois clássicos: o livro O Sádico, escrito pelo célebre psicólogo Karl Berg; e o filme M, o Vampiro de Düsseldorf, filmado por Fritz Lang, em 1931, e estrelado por Peter Lorre.
O Monstro de Florença — Atacava jovens casais na região de Florença, Itália, entre 1974 e 1985. Agia nas noites de lua nova e mutilava a região genital do corpo das mulheres. Um camponês chamado Pietro Pacciani foi acusado de ser o autor dos crimes, e depois a polícia descobriu que ele agia com dois cúmplices.
Javed Iqbal — Este paquistanês confessou ter estuprado, matado e derretido em ácido cem garotos entre 6 e 16 anos durante seis meses. Suas presas favoritas eram mendigos e moradores de rua da cidade de Lahore. Iqbal declarou que poderia ter matado 500 crianças, e que parar nos cem foi uma decisão sua. Sua mãe morreu quando ele estava preso. Como vingança, prometeu fazer “cem mães chorarem”. Ele foi julgado e condenado pela lei islâmica a morrer como suas vítimas: estrangulado com uma corrente, cortado em cem pedaços (um corte para cada criança) e dissolvido em ácido na frente dos pais das vítimas. Mas Javed se matou antes da execução, no dia 8 de outubro de 2001, junto com um cúmplice.
Aileen Wuornos — São raros os casos de serial killers mulheres. Wuornos atuava como prostituta de rua e estradas da Flórida e matou sete dos seus clientes. Ela alegou que todos tentaram estuprá-la e que agiu em defesa própria. Wuornos era abusada pelo avô e desde os 11 anos oferecia sexo em troca de cigarros, drogas e comida. Foi executada com injeção letal, em outubro de 2002.
Ángel Leoncio Reyes Reséndiz — Esse mexicano viajava de trem cruzando as fronteiras dos EUA e do Canadá ilegalmente. Ele geralmente entrava nas casas perto da ferrovia, matava os moradores, cobria seus corpos com um cobertor e fazia uma refeição. Foi acusado de 15 assassinatos e executado em junho de 2006.
Leonard Lake e Charles Ng — Lake era um veterano de guerra que morava sozinho no interior da Califórnia. Decidiu criar uma prisão particular na sua cabana. Uniu-se ao amigo Charles Ng, e os dois passaram a sequestrar pessoas indiscriminadamente. Os homens e as crianças eles matavam imediatamente. As mulheres passavam por um período de escravidão, estupro e tortura em suas celas. Mataram entre 11 e 25 pessoas, entre 1983 e 1985, e tinham o hábito de gravar os crimes que cometiam. Algumas dessas gravações estão disponíveis na internet.
Theodore Robert Bundy (Ted Bundy) — Nascido em Burlington, EUA, em 1946, aproveitava seu carisma e boa aparência para atrair mulheres jovens. Confessou 30 assassinatos, mas o número deve ser bem maior. Levava as vítimas para um lugar isolado, onde as estuprava e as estrangulava. Guardava os cadáveres e os visitava de vez em quando para praticar atos sexuais, até que estivessem decompostos. Foi executado na cadeira elétrica, em 1989.
Andrei Chikatilo — Conhecido como o “serial killer soviético”. Matou pelo menos 50 pessoas, entre 1978 e 1990. Caçava vítimas ao acaso ao redor de estações de trem e ônibus. Sua captura foi complicada, porque o regime soviético afirmava que a existência de um assassino serial seria impossível numa sociedade comunista. Foi capturado, acusado de 52 assassinatos e executado numa prisão de Moscou.
Daniel Camargo Barbosa — Colombiano conhecido como El Sádico de Charquito, foi preso e fugiu para o Equador, onde passou a capturar e matar meninas. Preso em 1986, confessou com toda calma que havia assassinado 72 garotas. Afirmou que preferia as virgens, “porque elas choravam”, o que aumentava seu prazer. Morreu em 1994, esfaqueado na prisão pelo sobrinho de uma de suas vítimas.
A contribuição do Brasil
Pedrinho Matador — O mineiro Pedro Rodrigues Filho, nascido em 1954, é considerado o maior serial killer brasileiro de todos os tempos. Pegou 400 anos de cadeia por ter matado 71 pessoas, mas ele se vangloria de ter assassinado mais de cem. Começou sua carreira aos 14 anos, matando o vice-prefeito de Alfenas, Minas Gerais. Fugiu para Mogi das Cruzes, em São Paulo, onde virou chefe de tráfico. Só na prisão matou 48 pessoas. A frase “Mato por prazer” está tatuada no seu braço. Assassinou o próprio pai com 22 facadas, já que ele tinha matado sua mãe com 21. Está solto desde 2018 e criou um canal no YouTube. Seu novo apelido: “Pedrinho Ex-Matador”.
Maníaco do Trianon — O paulistano Fortunato Botton Neto agia como garoto de programa no Parque do Trianon, em plena Avenida Paulista. De 1986 a 1989 assassinou 13 homossexuais entre 30 e 60 anos, que procuravam seus serviços. Combinava o preço, ia para a residência do cliente e o embebedava. Em seguida, amarrava-o e geralmente o matava estrangulado. Podia usar também uma faca ou chave de fenda. Foi preso e morreu, aos 34 anos, em consequência da broncopneumonia ligada à aids.
Maníaco do Parque — Francisco de Assis Pereira usava sua lábia para atacar mulheres jovens. Fingia que trabalhava numa revista e que estava procurando novos talentos. Convidava as moças para tirar fotos na natureza, no caso o Parque do Estado, na cidade de São Paulo. Matou 11 mulheres, recebeu 208 anos de cadeia. Mas deve ser libertado em 2028. Na prisão conta com um forte fã-clube e se casou com uma de suas admiradoras.
Francisco das Chagas Rodrigues de Brito — O mecânico, sempre sujo e desgrenhado, capturava crianças pobres, especialmente em São Luís, Maranhão, e em Altamira, Pará. Francisco capturava os meninos e abusava sexualmente deles. Depois os matava, e em alguns casos cortava suas orelhas e seus dedos. Emasculou todas suas 42 vítimas. Foi condenado a 580 anos de prisão e segue cumprindo pena.
Maníaco da Bicicleta — Nome real, Laerte Patrocínio Orpinelli. Atuou principalmente na cidade de Rio Claro, onde atraía crianças ao redor dos 10 anos com balas e doces. Atacava com brutalidade, estuprava e estrangulava suas vítimas. Admitiu ter cometido mais de cem homicídios, entre os anos 1970 e o fim dos anos 1990. “Gosto de ver o corpinho (das crianças)”, declarou, numa entrevista. “Gosto da beleza que elas têm. Quando bebo incorporo o Satã, fico nervoso e sinto esse desejo. Sinto prazer em vê-las aterrorizadas”. Morreu na prisão, de causas naturais, em 2013.
Serial killers como estrelas
O Silêncio dos Inocentes (1991)
O filme que iniciou o culto a Hannibal Lecter. O personagem, criado por Thomas Harris e interpretado por Anthony Hopkins, revelou um serial killer gourmet, refinado e culto, que se banhava em sangue ouvindo Johann Sebastian Bach. Além disso, Lecter costumava matar gente pior que ele, o que o transformava num herói. Gerou outros filmes e uma série (Hannibal) estrelada por Mads Mikkelsen.
Dexter (2006-2013)
Mais um serial killer “do bem”. Dexter Morgan (Michael C Hall) trabalha na polícia durante o dia, quando descobre quais são os bandidos que não conseguem ser capturados. À noite, Dexter mata o vilão. A série teve oito temporadas e gerou um spin off, New Blood.
Monstro: Desejo Assassino (2003)
Charlize Theron se enfeou para se transformar em Aileen Wuornos, a mais famosa serial killer feminina conhecida. Ganhou um Oscar de melhor atriz e teve plena colaboração da personagem real para que o filme ficasse mais próximo da realidade.
Se7en (1995)
Um dos mais repugnantes e assustadores filmes de todos os tempos, dirigido com muito estilo por David Fincher, o filme não é baseado em fatos reais. Morgan Freeman e Brad Pitt perseguem um serial killer (Kevin Spacey) que comete sete crimes pavorosos, cada um baseado num dos pecados capitais.
Zodíaco (2007)
Outro filme de David Fincher. Mostra o esforço de dois funcionários do jornal San Francisco Chronicle (Robert Downey Jr. e Jake Gyllenhaal) em resolver os enigmas lançados pelo serial killer conhecido como Zodíaco. Fincher e o roteirista James Vanderbilt fizeram um filme tão comprometido com a realidade que o caso Zodíaco foi reaberto depois do lançamento.
Leia também “O poder da narrativa”
Como de hábito, adorei seu artigo. À sua coleção bizarra, acrescento “O Bar Luva Dourada”, do Fatih Akin, que conta a história real de um serial killer chamado Fritz Honka e seus crimes, cometidos nos anos 70, em Hamburgo, Alemanha Oriental na época. Uma coisa grotesca.
Embora náo seja um serial killer, Lula exerce esse mesmo fascínio sobre uma gama imensa de brasileiros. Depois de todo o mal que ele causou ao Brasil, ainda ter 57 milhóes de eleitores ou mais, é exercer um fascínio imensurável, infelizmente, incluisve de pessoas instruídas.