Mais alguém não se sentindo exatamente seguro com a promessa de Rishi Sunak de que o Brexit está garantido? O primeiro-ministro negou relatos de que sua administração quer colocar a Inglaterra no caminho de um arranjo em estilo suíço com a União Europeia. Isso implicaria estar fora da União Europeia, mas com os pagamentos e um alinhamento com as regras do Mercado Comum e até uma concordância em aceitar certas leis da União Europeia, assim como a Suíça. Em resumo, o Brino (“Brexit In Name Only”, ou Brexit apenas no nome, em tradução livre), a antiga visão de Theresa May de estar basicamente fora da UE, mas um pouco dentro. Ou “Soft Brexit”, como dizem os Remainers — o grupo a favor de que o Reino Unido permaneça na União Europeia.
Sunak diz que não é verdade. Ontem, numa fala para a CBI, a Confederação da Indústria Britânica, ele afirmou que “o Reino Unido não vai buscar nenhuma relação com a Europa que dependa de um alinhamento com as leis da UE”. Ufa? Calma. Se o Brexit está tão garantido quanto diz Sunak, por que seus próprios representantes estão flertando com a ideia de um futuro à moda suíça para a Inglaterra? Esses funcionários públicos acreditam que é “de um esmagador interesse comercial de ambos os lados” permitir que o Reino Unido se torne como a Suíça, noticiou o The Sunday Times. Que membros do governo encarregados de colocar o Brexit em vigor estejam sonhando com a diluição do Brexit é um forte motivo de preocupação. As pessoas votaram na linha Boris Johnson, com seu “Faça o Brexit acontecer”, mas acabaram ficando com políticos em estilo “Maybot” — apelido de Theresa May —, que supostamente querem que a população britânica implore para Bruxelas por concessões em estilo suíço? Não é assim que a democracia funciona, Rishi.
Além disso, o que Jeremy Hunt, chanceler do próprio Sunak, quis dizer quando falou sobre um rompimento do governo com a antiga abordagem irascível de Boris em relação à União Europeia e, nas palavras do The Sunday Times, “removendo a vasta maioria das barreiras comerciais com o bloco”? Hunt era um forte entusiasta de permanecer na UE. Deveríamos fazer uma “conciliação sensata” com a União Europeia, disse ele depois do referendo em 2016, e aceitar as regras de livre circulação em troca de acesso ao Mercado Comum. Estamos certos em nos preocupar quando um homem como esse, o tecnocrata dos tecnocratas, fala de forma misteriosa em facilitar nossa relação com Bruxelas.
A ala mais radical contra o Brexit, aqueles que nunca vão aceitar nosso desejo claramente manifestado de deixar a União Europeia, sem dúvida vê nos relatos de um movimento à la Suíça uma prova de que até mesmo as autoridades estão mudando de ideia. Os comunicados para a imprensa do lobby suíço do Tory, o Partido Conservador, “refletem uma mudança no Zeitgeist”, anunciou um editorial do The Guardian. A paralisação do Orçamento Truss/Kwarteng por parte dos “mercados que não ficaram impressionados” parece ter sido “o ponto final de uma trajetória política que começou com o referendo do Brexit”, continua o texto. E agora temos membros do Tory sonhando com a Suíça, o que confirma, de acordo com o Guardian, que “a maré alta do Brexit passou, e uma lenta viagem de volta à sanidade econômica finalmente parece estar em curso”.
Não estamos mais submetidos a leis criadas por instituições distantes sobre as quais não temos nenhum controle democrático direto. É isso que queremos
Essa visão se espalhou. De que o “Zeitgeist” está mudando. De que a “música ambiente” agora é contra o Brexit. De que o Reino Unido está “começando a repensar o Brexit”. De que tanto o governo quanto os súditos agora estão “encarando a realidade” e reconhecendo que o nosso futuro é como “membro participante da economia comum da Europa”.
Estamos testemunhando algo muito importante: uma mudança de tática das elites do Remainer, daqueles que tornaram sua missão de vida reverter o que consideram uma decisão idiota do público mal-informado de sair da União Europeia. Eles estão se afastando de uma abordagem combativa, de todos aqueles processos judiciais arrogantes e das estranhas manifestações das classes médias deprimidas, nas quais com frequência elas não conseguem esconder o desprezo pelas massas apoiadoras do Brexit, e partindo para um ataque de longo prazo, mais insidioso, contra a vontade democrática. Agora é menos “vamos acabar com o Brexit” e mais “o Brexit está morrendo, de forma natural, nas mãos da sanidade. Finalmente”.
São tempos precários para nós que apoiamos o Brexit e acreditamos na democracia. A nova estratégia anti-Brexit é vencer a vontade do povo pelo cansaço. Explorar nossos temores econômicos para tentar nos convencer de que o Brexit foi um erro. Mobilizar nossas questões energéticas e financeiras para potencializar seu esgotamento. Talvez assim tenha fantasiado um jornalista do Guardian, o arrependimento do Brexit se torne “uma tendência irreversível que não vai parar até chegar a zero: ninguém vai nem admitir ter votado a favor”. Querem fazer uma supressão gradual. Antes, querem nos silenciar, anular nossos votos. E agora partiram para uma estratégia de esvaziamento moral, optando pelo encolhimento de longo prazo do nosso espírito democrático para a súbita invalidação das urnas.
De muitas formas essa nova abordagem de lançar aos poucos um novo Zeitgeist anti-Brexit é pior que o antigo sonho de suspensão. Pelo menos nós sabíamos contra o que estávamos lutando quando as elites estavam tentando combativamente bloquear a efetivação da nossa vontade: a antidemocracia. A nova estratégia é mais sorrateira, mais escorregadia. Ela apresenta o ódio pelo Brexit como bom senso. E nos diz que nossa vida vai melhorar do ponto de vista material se renunciarmos àquele voto equivocado de 2016. A aspiração não é nada menos que uma situação em que não haverá “ninguém que ache que o Brexit era uma boa ideia”. O objetivo desse grupo é o apagamento total do Brexit. A estratégia belicosa de reversão da democracia foi substituída por uma estratégia mais furtiva de medo, criada para debilitar e finalmente apagar essa decisão.
Tragicamente, essas táticas cínicas estão surtindo efeito. Uma nova pesquisa revelou que uma de cada cinco pessoas que votaram a favor do Brexit agora acha que foi a decisão errada. As autoridades não estão imunes a isso. Aliás, é totalmente lógico que figuras do governo obcecadas com a opinião unânime das elites, com dançar conforme a “música ambiente” do establishment cultural, abracem o novo “bom senso” da elite que diz que o Brexit é a causa de todos os males, e apenas sua diluição pode nos colocar naquela “lenta viagem de volta à sanidade econômica”. É por isso que os sussurros de “Suiça” no governo importam: eles revelam uma convicção mais ampla do establishment de que as condições agora estão adequadas e estão economicamente arriscadas o suficiente para que o Brexit por fim seja deslocado e substituído pela Suíça, pela sanidade ou por algo assim.
Mas há esperança. Um em cada cinco defensores do Brexit se arrepende do seu voto? Isso significa que 80% de nós não se arrependem. Milhões de pessoas que ainda rejeitam o alarmismo das elites e que sabem que simplesmente não é verdade que o Brexit seja economicamente desestabilizador apenas: basta olhar para a Zona do Euro, assolada por crises econômicas, algumas piores que outras. E, mais importante ainda, milhões que entendem o objetivo real do Brexit. Não se trata de acordos comerciais nem de impulsionamento econômico. É uma questão de democracia. Votamos pela saída da União Europeia para fortalecer a soberania britânica. Fizemos uma demanda constitucional, não econômica. O Brexit vai bem, obrigado. Não estamos mais submetidos a leis criadas por instituições distantes sobre as quais não temos nenhum controle democrático direto. É isso que queremos. O Brexit é um sucesso, um sucesso brilhante e histórico. Que as elites contrárias não consigam enxergar isso diz infinitamente mais sobre elas do que sobre nós.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show
Ele está no Instagram: @burntoakboy
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O Brexit foi um golpe desferido contra o Globalismo. O Reino Unido quis manter sua soberania. Ao se formarem blocos, como o Mercosul, por exemplo, o país abre mão de parte de sua soberania. A fixação de alíquotas de importação passa a ser aquela definida no bloco e o país não pode, por exemplo, reduzir imposto de importação de um maquinário que iria desenvolver a sua economia local, tem que manter a “tarifa externa comum” (TEC) definida por interesses que possam não ser os seus. Não estou falando de interesse econômico, estou falando de soberania, em tomar as decisões que interessam ao país.
É sempre assim primeiro as decisões emocionais e depois as racionais.