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Príncipe Harry e Meghan Markle no documentário da Netflix “Harry & Meghan”.
Edição 144

O esnobismo insuportável de Harry e Meghan

O terrível festival de lamúrias da Netflix foi um ato de calúnia contra o povo britânico

Brendan O'Neill, da Spiked
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Que orgia de autocomiseração foi aquela. Que festival interminável de choramingos. Seis horas de duas celebridades ricas, mimadas e contrariadas em uma mansão em Montecito, Califórnia, resmungando para o mundo sobre sua vida difícil. Era tudo de que precisávamos para sobreviver às duras noites do inverno europeu, quando muitas pessoas não podem nem se dar ao luxo de ligar a calefação. Não se preocupem, plebeus, vocês podem sempre esquentar as mãos no brilho incandescente de hipocrisia que emana do duque e da duquesa da Cultura Woke.

A minissérie em seis partes de Harry e Meghan para a Netflix realmente é um espetáculo constrangedor. Até para os padrões do mundo das celebridades — aquela estranha bolha cheia de pessoas que acham que postar um quadrado preto no Instagram vai transformá-las em Rosa Parks — aquilo é ruim. É um abismo enorme de autocrítica. Dois membros da realeza, literalmente, em uma casa que é maior que o quarteirão inteiro da maioria das pessoas reclamando de serem explorados — onde está meu lenço? Mas o que falta aos dois em autocrítica sobra em autoestima. A dupla que nunca conheceu a dificuldade, quanto mais a opressão, de fato se considera herdeira moral de Martin Luther King, com a diferença de que eles marcharam em Montecito, de um palácio a outro, e não em Selma.

O vexame não tem fim. Esses aristocratas descolados reclamam de paparazzi invadindo sua vida, mas convidam a Netflix para filmá-los tendo uma crise emocional na sala de casa. Ninguém invade a privacidade de Harry e Meghan tanto quanto Harry e Meghan. Tudo o que os tabloides fizeram foi tirar fotos de Meg andando por aí em vestidos de £ 5 mil. Ela própria nos oferece os vídeos caseiros, fotos dos filhos, mensagens de texto apaixonadas trocadas com Harry e até uma imagem borrada do príncipe de joelhos pedindo-a em casamento. Quem precisa vasculhar as lixeiras de H&M quando eles mesmos o fazem por você com as câmeras ligadas.

Também temos o complexo de vítima. Sua capacidade de sentir pena de si mesma não conhece limites. É quase paranoia. O palácio declarou uma “guerra contra Meghan”, afirma a advogada dela. E a mídia foi a arma escolhida, emenda Harry. Imagine usar a plataforma global da Netflix para lavar sua roupa suja, dizer ao mundo que seu irmão gritou com você de forma “assustadora”, seu pai mentiu olhando nos seus olhos, e então ter a coragem de acusar os outros de usarem a mídia para atacar você. Depois de nos dar seis horas de sua versão almofadinha do programa sensacionalista The Jeremy Kyle Show, H&M estão proibidos de reclamar das intrigas da imprensa de novo.

A série de Harry e Meghan confirma que o esnobismo muitas vezes usa o disfarce do “antirracismo” hoje em dia

A parte mais feia desse jogo de vitimismo é a afirmação de Harry de que o tabloide Mail on Sunday causou o aborto de Meghan. Ela perdeu o bebê “por causa do que o Mail fez”, ele afirma, fazendo referência ao fato de o jornal ter publicado uma carta que Meghan escreveu para o pai e a subsequente disputa legal dos Sussex. Isso realmente passa dos limites. Abortos espontâneos não são causados por estresse. Se fossem, mulheres cuja vida é infinitamente mais estressante que a de Meghan, mulheres que lutam para sobreviver sofreriam abortos o tempo todo.

Cena da minissérie Harry e Meghan | Foto: Divulgação

Mas, para além do amargo acerto de contas, a coisa mais impressionante sobre a série é seu desprezo por nós. Às vezes parece que o principal alvo da ira de H&M não é o terrível William nem o maligno Mail on Sunday, e, sim, eu e você, a multidão difusa que compra essas publicações, que votou a favor do Brexit e que de vez em quando fala mal de Meghan on-line. A série difama a nação, é um ato de calúnia contra o povo britânico. A ironia: eles posam como os corajosos fugitivos da estranha e sofisticada instituição da monarquia, mas olham com muito mais desdém para as massas, do alto de sua vida de luxos, do que qualquer outro membro da realeza.

É por isso que o Brexit tem tanto peso nos primeiros episódios. Na visão mimada de H&M e dos acadêmicos consagrados por eles para oferecer suas opiniões especializadas, o Brexit é prova de que há algo de podre no Reino Unido. Somos lembrados de que 2016 não foi apenas o ano em que H&M começaram a namorar, também foi o ano em que ocorreu o referendo sobre o Reino Unido permanecer ou não na União Europeia, a convulsão xenofóbica disfarçada de embate democrático, como alguns esnobes na órbita dos Sussex parecem dizer. O Brexit foi um “debate tóxico”, diz David Olusoga, um historiador pró-Meghan. James Holt, diretor-executivo da produtora do casal, a Archewell Foundation, vai além. O referendo criou a “tempestade perfeita” que “deu credibilidade ao jingoísmo e ao nacionalismo e deu a pessoas com opiniões terríveis um pouco mais de força e confiança para dizer o que queriam dizer”, ele desdenha.

E quem sofreu em decorrência desse ato democrático tresloucado? Meghan, ora. O racismo de que ela supostamente foi vítima foi inflamado pelo Brexit, o casal nos informa. Como resume um colunista do Telegraph, o referendo do Brexit foi tão horrível que nossos heroicos aristocratas não tiveram escolha e precisaram “fugir do inferno racista que é a Inglaterra e buscar refúgio no famoso caldeirão cultural harmônico dos Estados Unidos”.

Pôster do filme na Netflix | Foto: Divulgação

Então H&M não apenas são vítimas dos Cambridge e do Mail on Sunday — eles também são vítimas da democracia. Dos idiotas com suas bandeiras que a Netflix mostra toda vez que o Brexit é mencionado na série. Não consigo lembrar a última vez que a realeza demonstrou um desprezo tão escancarado em relação à democracia. Em que século estamos?

Olusoga vai além no esnobismo que dá forma à série. Em um artigo para o Observer, ele afirma que os tabloides colocaram as massas em uma febre anti-Meghan. Bom, você sabe como nossas pequenas mentes são maleáveis. A “campanha de seis anos” dos jornais contra H&M “deixou uma grande quantidade de pessoas que de outra forma seriam razoáveis, obcecadas e desdenhosas do jovem casal que elas nunca conheceram”, diz ele. Na internet, houve uma tempestade primordial de defensividade, racismo, misoginia, jingoímo e falácia”, continua o autor. Primordial — que escolha de termo curiosa. Ela significa primevo. A primordialidade é uma crença de que as atitudes e a identidade étnica de alguém são fixas e imutáveis. Imagine implicar que boa parte dos britânicos é preconceituosa, enquanto se usam palavras sobre “primordial”.

A série de Harry e Meghan confirma que o esnobismo muitas vezes usa o disfarce do “antirracismo” hoje em dia. A elite cultural indica sua superioridade para a multidão por meio da questão da raça. Enquanto eles têm consciência de raça, nós, leitores atrapalhados do Mail on Sunday assolados pela tempestade primordial, somos burros e preconceituosos. Como esses elitistas ousam nos acusar de racismo? Um dos comentaristas da série é Kehinde Andrews, um acadêmico que já chamou Trevor Phillips, um apresentador negro, de “Pai Tomás” que reforçava estereótipos de gênero. Escutem, Harry e Meghan, não conheço ninguém que faça isso. Só vocês. Saiam daqui com suas bobagens hipócritas, condescendentes e antidemocráticas.

Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “As armas estão apontadas para o Brexit — novamente”

12 comentários
  1. Oscar Alves
    Oscar Alves

    ESSE JORNALISTA FOI MUITO INFELIZ EM FAZER ESSAS CRITICAS AO CASAL HARRY E MEGHAN, QUE SOFREU PRESSÃO PRECONCEITUOSA, ASSIM COMO A MÃE DO HARRY, A PRINCESA DAIANE. ESSE JORNALISTA PRECISA ESTUDAR MAIS ANTES DE AFIRMAR QUE STRESS NÃO PROVOCA ABORTO. COMO MÉDICO GINECOLOGISTA LHE INFORMO QUE SUA AFIRMAÇÃO É LEVIANA, EQUIVOCADA. ASSIM COMO, O SEU EXPLÍCITO PRECONCEITO AO CASAL POR SEREM RICOS. OS JORNALISTAS, SEM ÉTICA, PROVOCARAM A MORTE DA PRINCESA DIANE E A FALTA DE RESPEITO À PRIVACIDADE DO CASAL.

  2. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    Cara, isso é notícia?

  3. Carlos José Martins
    Carlos José Martins

    Como diz o Woody Allen : algumas vezes , um clichê é a melhor forma de se explicar um ponto de vista . Portanto , vai um aí : nem tudo que parece é .

  4. Andreia Rodrigues Gomes
    Andreia Rodrigues Gomes

    É sério isso? Alguém ainda acompanha essas bobagens? O quê esse casal sabe da vida real do resto das pessoas do planeta? NADA. E tenho certeza que não querem nem saber.

  5. Francisco Das Chagas Fernandes Guerra
    Francisco Das Chagas Fernandes Guerra

    Antes, criticavam essa tal família real por só servir de fachada para um império decadente, sem produzir nada. Agora, até a fachada estão estragando. Sujou, como se esperava.

  6. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    Ótimo texto !
    Realmente são mais um casal de inúteis !
    Criticam todo um status quo da realeza britânica ,mas não abrem mão de uma gorda mesada anual provisionada pelo pai dele !
    Parabéns ao jornalista por nos trazer um pouco de mundo real !

  7. Paulo César Carrijo
    Paulo César Carrijo

    Eu imagino que o perfil do telespectador que assiste a esse tipo de programa, Harry & Megan, da Netflix deva ser o mesmo que não perde um dia sequer dos reality shows do tipo Fazenda e Big Brother da vida. Embrulha-me o estômago só de ver na imprensa a cara desse bebê chorão. O mundo está de cabeça para baixo com guerra, pandemia, crise econômica e climática para perdermos tempo com lamúrias de uma dondoca deslumbrada e de um infantilizado príncipe de segunda classe de um reino distante.

    1. Vanessa Días da Silva
      Vanessa Días da Silva

      Exatamente o que eu estava pensando. Quem perde tempo assistindo fofocas familiares de burgueses mimados? Pobres britânicos que sustentam esses pendurados improdutivos caríssimos

  8. Alberto Junior
    Alberto Junior

    Parabéns, Brendan, por mais um texto excepcional! Nos oferece um “estudo de caso” que escancara a hipocrisia típica de parte influente da sociedade que apodreceu a cultura ocidental nos últimos 100 anos!

  9. JHONATAN SURDINI
    JHONATAN SURDINI

    Já não ia ver mesmo… agora mais certo de que fiz a escolha certa!

  10. ROBERTO MIGUEL
    ROBERTO MIGUEL

    perfeito.

  11. Gustavo Leme da Silva Nicolau
    Gustavo Leme da Silva Nicolau

    Reportagem ridícula

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