Aos 46 anos, o ator e empresário Malvino Salvador é um rosto conhecido nacionalmente e, ao mesmo tempo, um caso raro no meio artístico brasileiro. Durante 16 anos, foi um dos principais nomes do elenco da Globo. Começou como o protagonista Tobias, numa releitura de Cabocla, novela de Benedito Ruy Barbosa, e seguiu emendando um trabalho atrás do outro na emissora. Natural de Manaus, no Amazonas, Salvador trabalhou como contador, vendedor de loja e foi estagiário do Banco do Brasil. Essa vivência o fez ter uma visão de mundo radicalmente oposta à da massa dos artistas nacionais. “Tenho uma cabeça diferente”, diz. “O artista não enxerga o ambiente fora dele. Tudo o que entra de fora, ele não consegue absorver e entender. É uma bolha.”
Sem contrato fixo com a Globo desde janeiro de 2020, ele vai estrear uma série no Amazon Prime Video neste ano e seguir no ramo empresarial. Pai de quatro filhos, é sócio da mulher em academias de jiu-jítsu, a Gracie Kore, e das clínicas Mais Cabelo, focada em tratamento capilar, com 29 unidades no país. Em entrevista a Oeste, Salvador afirmou que votou em Bolsonaro pela formação da equipe econômica e pelo legado na área deixado pelo governo, como os lucros recordes das estatais e as privatizações. Sempre direto, ele explica o que pensa sobre a política, o jornalismo brasileiro (completamente partidário) e a falta de paridade entre os Poderes nacionais.
Como é trabalhar e conviver num meio em que a massa pensa radicalmente o oposto do senhor?
Tenho muitos amigos pessoais na Globo, de esquerda, e me dou muito bem. Mas, de uns tempos para cá, vejo que há um medo, um receio de artistas que pensam diferente. Não existe um pensamento único no meio, mas aqueles que estão mais ligados à direita não têm mais o costume de falar o que pensam. Acredito que seja pelo receio de sofrer boicote. Nos últimos anos, quem pensa parecido comigo se calou. Não consigo deixar minhas posições de lado. Exerço meu papel e tenho a minha liberdade. Não posso viver prisioneiro, porque penso de uma forma e não posso falar aquilo que acredito.
No que o senhor acredita?
Sou a favor da liberdade de expressão, da liberdade de ir e vir, da livre-iniciativa, da desburocratização do Estado. A esquerda quer que o Estado seja realizador de tudo. Sou a favor do enxugamento da máquina pública, porque as estatais existem para manter partidos no poder. Sou a favor de diminuir os impostos, porque assim você fomenta o comércio e os serviços e gera emprego. Só olhar os países que seguiram isso e deram certo. Já os que não seguiram… Veja o caso da Venezuela: a petrolífera PDVSA chegou a ser uma das maiores do mundo, gerou riqueza para a nação. Quando Hugo Chávez assumiu, tudo mudou. A cartilha que ele seguiu foi a de usar o petróleo para financiar o socialismo. Colocaram na petrolífera uma responsabilidade que não deve ser dela. Foi a derrocada do país: empresários passaram a fugir de lá, a liberdade foi sucateada. Tudo o que a gente começa a ver no Brasil atual. Tem de tomar cuidado. O processo para virar uma Venezuela é rápido. Nossa classe política, o Congresso Nacional, precisa ficar atenta para ser um contraponto. Nossas liberdades estão sendo tolhidas, isso é péssimo. Como cidadão brasileiro, estou preocupado.
O que o senhor achou dos primeiros dias do novo governo?
Eles não estão fazendo nada do que não falaram. Quem acompanhou a campanha do PT, os discursos do Lula em comícios, sabe que ele já dizia que ia fazer tudo isso. Está agora só colocando em prática. Ou alguém acreditou que ele não ia fazer o que falava nos comícios? Eu sou empresário. Eles querem colocar as estatais, por exemplo, num papel que a gente sabe no que vai dar. A construção do país, a riqueza dele, advém da livre-iniciativa, do empresariado, de como ele empreende e emprega.
Já perdeu trabalho por pensar fora da manada?
Que eu saiba, não, mas a verdade é que a gente não sabe o que rola nos bastidores. Eu espero que não, eu convivo bem com qualquer pessoa. O diálogo consciente, o contraponto de ideias, a divergência de opinião são muito saudáveis para a sociedade. Com a divergência, você evolui. Já mudei de ideia muitas vezes na vida, porque eu não sou radical. O radicalismo é muito ruim, tanto da esquerda quanto da direita.
Por que os artistas são praticamente todos de esquerda?
Porque o movimento de esquerda, especialmente nas atividades ligadas a humanas, vem sendo construído desde a faculdade. A classe artística sempre foi ligada à esquerda. A gente trabalha com dramaturgia, fala do drama. A gente não fala muito do sucesso. O ator se comove com a dor, com os mais necessitados. Pensadores da dramaturgia sempre foram de esquerda. Eu, sinceramente, nunca fui de esquerda.
Por quê?
Sou contador. Fui vendedor de loja, depois trabalhei na área de contabilidade da Secretaria do Estado do Amazonas, fui estagiário do Banco do Brasil e depois do Bradesco. E só depois mudei para São Paulo. Por isso, tenho uma cabeça diferente. Quando entrei no meio artístico, não sabia nada. Tive de aprender. Acontece que o artista não enxerga o ambiente fora dele. Tem a ver com a formação do cara e com quem ele convive. O artista vive naquele meio 24 horas. Tudo o que vem de fora, ele não consegue absorver e entender. É uma bolha.
O senhor declarou voto na campanha?
Falei que não votaria no Lula. Vi o que eles fizeram e não poderia votar depois de tudo o que aconteceu. Votei no Jair Bolsonaro.
Qual o legado de Jair Bolsonaro?
Ele errou em muitas coisas, como na pandemia. Não impediu a vacina de chegar, mas o discurso dele era muito errado. Ele falava sobre a liberdade de não se vacinar. Ok. Concordo que a pessoa tem de ter livre-arbítrio para se vacinar ou não. Mas o jeito de se comunicar era errado, era tudo na porrada. A agressividade dele era ruim. Eu acredito no diálogo, inclusive com a imprensa. Mesmo que o pessoal da cultura não tenha votado nele, Bolsonaro simplesmente não quis ouvir e deixou o setor de lado. Todo setor é importante para o país. O legado principal de Bolsonaro vai ser na economia e na liberdade que ele deu para a equipe econômica, que sempre será a principal questão de um país. Se a economia não funcionar, não tem saúde, nem educação, não tem nada. Os números positivos do Brasil são reais, mesmo com pandemia e guerra. Basta ver o lucro das estatais, teve o programa de privatização, a balança comercial do Brasil é espetacular, o país voltou a crescer fortemente, bem mais que outras nações desenvolvidas. Ele foi muito assertivo com a equipe que escolheu. E tem mais: embora Bolsonaro seja colérico, ele é verdadeiro. Por isso votei nele, desde 2018. Porque tem muito cara que fala muita coisa bonita e, por trás, articula. Fora que acredito que houve uma campanha de desinformação contra ele.
Essa campanha de desinformação foi feita pela imprensa?
A grande imprensa escolheu um lado. Acho que a função do jornalismo é a isenção. A imparcialidade tem de estar ali. Pode até ter lado, mas tem de dizer o lado que segue. Não tenho visto isso. Antes existiam jornais impressos, com pluralidade de ideias, um ou outro com viés mais à esquerda. Hoje, não. É uma unicidade de pensamento à esquerda, e o jornal continua dizendo que é imparcial.
O senhor encerrou o contrato com a Globo depois de 16 anos de trabalho. Ficou surpreso?
Meu contrato era de três em três anos e sempre foi renovado. Já vinha percebendo uma mudança. Sou antenado. Imaginava que iam encerrar muitos contratos. É um novo momento que o mundo da mídia e da TV enfrenta por conta da internet. Mas confesso que foi uma surpresa. Era bom ter um salário e contrato fixo, com estabilidade. Ao mesmo tempo, é bom sair da zona de conforto, porque há um leque enorme de possibilidades ao redor. Eu, por exemplo, recusei dois trabalhos no streaming recentemente. Consegui me estabilizar financeiramente. Vou continuar atuando, mas não dependo mais do meio artístico.
O senhor se considera rico?
Não. Estou construindo. Quero ser rico, quero ser milionário. Consegui equilibrar minha vida financeira, minhas empresas estão crescendo. A gente sabe a fórmula de crescimento e agora é trabalhar daqui para a frente e pensar no país.
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Eu já era fã do Malvino, agora muito mais, pela sua coerência. Ótimo ator.
Já admirava Malvino, e depois dessa entrevista, ele sobe ainda mais emmeu conceito,
Malvino não é “caso raro”, coisa nenhuma!
Em 2018, nas manifestações aqui no Rio, pró Bolsonaro, os artistas Globais íam em grupos de ônibus fretado. Ninguém fala por causa da perseguição da esquerda e da própria empresa que aderiu ao ‘descondenado’! Infelizmente. Mas isso aí acabar.
É tão claro e lógico que assusta ver o numero de pessoas que não entende, ou não quer entender. Não tem nada a ver com direita ou esquerda, tem a ver com a realidade. Existem coisa que funcionam, e coisas que não funcionam. Se você olhar em volta, com um olhar despido de pré julgamentos, enxerga claramente. Não existem verdades absolutas.
Parabéns Malvino! Já era sua fã, agora sou mais ainda!
Boa ! Cara sincero, tem coragem de se posicionar e assertivo.
Malvino ótima entrevista e sua performance direta mostra o quão antenado esta no cenario do País – discordo de quem mencionou algo como ”certo tempero de contaminação” ?? De forma veemente Malvino foi tão verdadeiro que chegou mencionar que ganhariamos a eleição se nosso Presidente tivesse mais trava na língua – Isso é uma verdade cristalina o Presidente foi ótimo e ruim como qualquer ser humano e você Malvino excelente em suas considerações – Saúde e sorte.
Alfredo Conde / Santos – sp.
Fomos garfados, irmão!
O ser humano é surpreendente. Esse Malvino é uma dessas gratas surpresas : lúcido, eloquente e absolutamente racionais. Aprendi uma com ele e agtpradeco: os artistas são de esquerda, pois vivem dos dramas e não do êxito.
Jorge
Os artistas, em sua maioria, não são de esquerda. São empresários, pessoas independentes, almas e mentes livres. Os que aparecem são minoria televisiva começando e alguns amedrontados. No teatro pobre é natural o pensamento de esquerda. Mas quem começa vencer na carreira não adere. Se esconde.
Que cara legal esse Malvino. Super do bem e com uma cabeça maravilhosa. Sucesso garantido em qualquer área que atuar.
Bela entrevista Bruno, o Malvino é um artista diferenciado, talvez por não depender exclusivamente de trabalhos na TV.
Pô velho, simplesmente sensacional, tudo que penso do Bolsonaro ele disse, poderíamos ganhar a eleição se o capitão Bolsonaro tivesse mais trava na língua 👏👏👏👏
Ele não ganhou porque as urnas eletrônicas invioláveis não deixaram!
Muito lúcido o Malvino. A maioria das suas ideias vai ao encontro do que penso. Parabéns pela coragem de expô-las, mesmo sabendo ser passível de patrulhamento dos colegas de trabalho e do consórcio da imprensa.
É uma pena que outros artistas não tenham nenhuma postura para sair do mesmo.O Malvino está de parabéns
Sabia que era um grande ator mas não sabia o quanto é bem informado. Teve que ralar para chegar onde chegou, não teve ajuda de governo e por isso sabe o real valor das coisas. Excelente reportagem.
Perfeito!!!
Se ele tem 16 anos de emissora,o rodapé da foto da novela Cabocla não está correto pois 2014 com 16 anos seria 2030.
Parabéns Malvino por ter bom senso, não se deixou contaminar pela bolha a qual vive a turma da globo.
Se ele trabalhou na Globo por 16 anos e encerrou em 2020 ele comecou em 2004 e nao em 2014 como diz na foto.
Pode não ser de esquerda mas tem um certo tempero de contaminação aí, talvez para não ficar mal com a sua turma do meio artístico.
Parabéns Malvino. Não pôr ser da Direita, mas pôr ser Consciente. Não podemos ter Político e nem Partido de Estimação. Temos que ter a Consciência de fazermos tudo para termos um Brasil cada vez mais Forte e Respeitado pôr todas as Nações e Principalmente pôr nós Brasileiros. Forte abraço.