A expressão “primeira-dama” — com hífen, alertam os dicionários — nunca deu as caras em nenhum artigo, parágrafo ou inciso da Constituição, tampouco foi vista em qualquer organograma do Poder Executivo, fosse qual fosse o ocupante do gabinete no 3° andar do Palácio do Planalto. Oficialmente, dividir alcovas, palácios, alegrias ou tristezas com o presidente da República não é função legalmente remunerada, seja em espécie, seja em favores. Como ocorre com a first lady dos Estados Unidos, que teria servido de modelo para a versão brasileira, primeira-dama não é cargo; é título. Simples assim, certo? Errado: nada é assim tão simples nestes trêfegos trópicos.
Aqui, o que uma mulher do presidente da República faz ou deixa de fazer depende do temperamento, dos humores e das conveniências do marido. A exceção ficou por conta de Nair de Teffé, com quem Hermes da Fonseca se casou em 1913, logo depois da morte de Orsina da Fonseca. Viúvo de uma típica dona de casa, o sisudo presidente de 55 anos optou pelo avesso. Com apenas 24, a pintora e desenhista Nair invertia o prenome para publicar nos jornais caricaturas em que uma certa Rian zombava dos figurões da República Velha. Até janeiro deste ano, Hermes foi o único presidente a governar o país com duas diferentes primeiras-damas. Agora tem a companhia de Lula, que exerceu dois mandatos casado com Marisa Letícia e começou o terceiro como marido de Rosângela da Silva, a Janja.
O contraste entre a introvertida Orsina da Fonseca e a exuberante Nair de Teffé pode ser reeditado em escala portentosa. Comparada a Marisa Letícia, que em público não fez mais que meia dúzia de declarações, Janja parece tão retraída quanto uma rainha de bateria. Ao longo de 2003, por exemplo, Marisa tentou manter sob controle os movimentos do cônjuge. Instalada numa sala do Palácio do Planalto, entrava no gabinete presidencial assim que o sol se punha para pedir ao marido que chegasse mais cedo em casa. Alojada no Palácio da Alvorada, enfeitou o jardim com uma estrela vermelha feita de sálvias. Foi obrigada a desfazer a homenagem ao PT. Mais tarde, tentou mobiliar um sítio e um apartamento com donativos que o presidente em fim de mandato ganhou de empreiteiros agradecidos. Deu cadeia. Também sugeriu a indicação para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal do filho de uma vizinha chamado Ricardo Lewandowski. A Corte piorou. Perto do que Dilma Rousseff faria, são pecados veniais.
Nos primeiros quatro anos, Marisa não fez feio no campeonato brasileiro de milhagem a bordo do AeroLula. Mas baixou perigosamente a guarda quando, farta de visitas a países mais pobres que o Brasil, fez a opção preferencial por pousos e decolagens em países europeus bem mais charmosos. As rotas que levavam a grotões da África e da Ásia caíram no colo de uma viajante sempre disponível: Rosemary Noronha. Coisa de amadora, deve achar Janja. Aos 56 anos, em seu segundo casamento, a paranaense formada em Sociologia (com mestrado em militância no PT) tem ficado junto com Lula 25 horas por dia. Não quer deixar espaço para outra Rose Noronha.
Ao lado do presidente do Brasil, Janja cumprimentou os governantes estrangeiros com a pose de quem encabeçara uma chapa vitoriosa em que o marido havia figurado como vice
Sem paciência, ela já deixou claro que vai meter-se em tudo. Em vez de esperar a data da coroação, passou a encarnar o papel de primeira-dama um minuto depois de encerrada a apuração do segundo turno. Discursou no comício da vitória na Avenida Paulista, voou com Lula no jatinho que o levou ao Egito para um piquenique ambientalista, não pediu licença ao Gabinete de Transição para pendurar amigos no cabide de empregos do primeiro e segundo escalões, vistoriou minuciosamente o Palácio da Alvorada para saber como estava a célebre criação de Oscar Niemeyer e decidiu que não merecia abrigar o casal real. Precisava de reformas urgentes. Ela nunca se queixou do modesto espaço ocupado por Lula no prédio da Polícia Federal em Curitiba, e noivou na cadeia com a alegria de quem troca alianças numa catedral. Promovida a primeira-dama, parece bem mais exigente.
Janja forneceu uma notável amostra do que é capaz ao nomear-se presidente da comissão organizadora da festa de posse e preparar detalhadamente a espetaculosa aparição inaugural em rede nacional de rádio e televisão. Além do próprio traje, a dona da festa resolveu como seriam o ritual da subida da rampa do Planalto, a escolha das atrações artísticas, a triagem da lista de convidados, a decoração do local da solenidade, a entrega da faixa presidencial, o cardápio e a cesta de bebidas, fora o resto. Ao lado do presidente do Brasil, cumprimentou os governantes estrangeiros com a pose de quem encabeçara uma chapa vitoriosa em que o marido havia figurado como vice. Não é pouca coisa. Mas era só o começo, demonstrariam as semanas seguintes.
Presenteada com um gabinete no palácio, raramente é vista por lá. Para encontrá-la, deve-se descobrir onde Lula está. Janja estará ao lado. Depois da posse, acompanhou o marido nas viagens à Rússia, à Argentina, ao Uruguai e aos Estados Unidos. Em Washington, permaneceu grudada ao parceiro até na hora da clássica foto em que o presidente anfitrião e o visitante trocam um aperto de mãos. Estranhamente, não compareceu ao ato festivo que celebrou o aniversário do PT. Solteiro, Lula derramou-se em elogios e gestos carinhosos endereçados à presidente do partido, Gleisi Hoffmann. No dia seguinte, Janja vingou-se: em vez de acompanhar o marido num jantar de gala da companheirada, fez Lula acompanhá-la numa segunda lua de mel na Bahia.
O namoro no Carnaval em Salvador foi interrompido por algumas horas para que o chefe de governo visitasse por um punhado de horas o Litoral Norte de São Paulo, atingido por temporais devastadores. Janja avisou no Twitter que estava muito triste com o calvário das vítimas. O semblante exibido em dezenas de fotos desmentiu aos gritos o que a primeira-dama escreveu. Mas é compreensível o estado de euforia em que vive a mulher que, por anos a fio, lutou com método e bravura para transformar-se na terceira esposa de Lula, na segunda autorizada a usar o título de primeira-dama e na única poupada — até agora — de dividir o cargo com uma segunda dama. Enquanto o objeto do desejo esteve preso, Janja perdeu a conta das saudações (“Bom dia, presidente”, “Boa noite, presidente”) que berrava diariamente nas imediações da cadeia para animar a celebridade engaiolada. Isso antes de começarem as visitas ao prisioneiro que abreviaram o namoro, o noivado e o casamento.
Lula e Janja trocam frequentes juras de amor, mas é bastante provável que a atual primeira-dama seja assombrada pelo fantasma de Rosemary Noronha. Entre 2004 e 2012, a secretária que José Dirceu apresentou a Lula num bailão do sindicato dos bancários chefiou o escritório da Presidência da República em São Paulo. Nesse período, foi incluída na comitiva chefiada por Lula em 20 viagens internacionais e passeou por mais de 30 países. Rose só viajava quando Marisa avisava que preferia ficar em casa. Como seu nome fica fora da lista de passageiros publicada no Diário Oficial, a segunda dama do Brasil talvez se tenha transformado na clandestina com mais horas de voo desde a invenção ao avião.
O expediente aéreo da penetra de estimação começava quando anoitecia. Risonha, as ancas que exigiam poltronas largas balançavam em direção ao dormitório presidencial — e só depois do café da manhã regressavam ao seu lugar na traseira do AeroLula. Em terra, seguia a programação oficial com a expressão de quem ignora se está no litoral do Caribe ou num deserto africano. Terminado o jantar, o casal rumava para duas suítes sempre contíguas do hotel 5 estrelas. No solo ou nos céus, as missões cumpridas por Rose consistiam, essencialmente, em garantir que Lula acordasse com a expressão de quem passara a noite tripulando flocos de nuvens extraordinariamente azuis.
A farra acabou quando a Polícia Federal descobriu que Rose usava essas relações especiais para conseguir favores — de ingressos para shows de Roberto Carlos à nomeação de amigos vigaristas para a direção de agências reguladoras, passando por outras modalidades de tráfico de influência. Escapou de uma temporada na cadeia graças ao bando de advogados contratados para defendê-la pelo Instituto Lula. Ela conta com voz magoada que nunca mais conversou com o presidente. Sorri quando lembra que a coisa esquentou às vésperas do segundo mandato, quando Lula começou a escoltar com uma bravata qualquer menção à idade e à possível candidatura à reeleição. “Por que não disputar de novo? Tenho 57 anos e tesão de 30.” Ele já anda falando em mais um mandato. Aos 77, jura que a libido segue estacionada nos 30. Como não foi incluído no inquérito das fake news, Janja que se cuide.
Por acreditar em pesquisas, ficou feliz ao saber que uma lojinha de porcentagens jura que 41% dos brasileiros aprovam seu desempenho. Em qual papel? Em que situação? Fazendo o quê? Discursando num palanque? Balbuciando um gracias em Buenos Aires ou um thank you em Washington? Isso ninguém sabe. O que se sabe é que a política não costuma ser gentil com primeiras-damas. E trata com especial crueldade quem entra com mais de 50 anos num mundo que se deve começar a conhecer ainda nos tempos do berçário.
Leia também “Casadas com o poder (Primeira parte)”
Serei redundante, perdão: texto excelente. Lembrei da paródia feita por Gustavo Segré – Janja. Já viu? Rosana Vargas – Porto Seguro / BA.
*O PORÃO*
Não, definitivamente não… não queríamos passar por isso, adiamos o quanto foi possível, até demais, mas quando soa o relógio sagrado do tempo das coisas, não há muito o que fazer. Chegou a hora da *faxina no porão*.
Descendo as escadas, ao se abrir a porta e deixar o primeiro raio de luz entrar, é assustador ver tanta poeira, teias de aranha, ratos e baratas fazendo a festa.
“Luz começando a invadir a sombra”: é exatamente este momento nacional que estamos vivendo. Analisando desta perspectiva constatamos que não teria o menor cabimento a reeleição do Bolsonaro. Também não faria sentido aplicar o Art. 136 ou 142 da CF, para evitar o desastre que a passos largos se aproxima.
Obedecendo à inexorável e perfeita cronologia do Universo e da Vida, teríamos sim que passar por tudo isso e um pouco mais. Precisaríamos descer ao porão da pátria amada, para que *TODOS* constatassem com seus próprios olhos a absoluta sujeira entranhada na turma que está, com afinco e rapidez, se esforçando para destruir a nossa nação.
É óbvio demais, mas todos, como São Tomé, precisaríamos *ver* (incapacidade, corrupção, conchavos, escárnio, censura e abuso) *para crer* que bandidos e criminosos não se regeneram com o passar do tempo, apenas ficam mais velhos… e mais nocivos.
Do ponto de vista de um processo de limpeza, tudo o que está ocorrendo de trágico está absolutamente correto. Provavelmente a imundície terá que ficar ainda mais visível e deverá produzir mais alergias, incômodos, doenças ou até óbitos.
*P.:* Quanto tempo levará essa bagunça?
*R.:* O tempo necessário para a maioria do povo entender que, de bandidos, só podemos esperar mentiras, crimes, roubos e assassinatos.
A visão do porão imundo e pestilento não poderia ficar restrita a alguns. Para evitar controvérsias, para atenuar a discórdia que tem separado familiares, amigos e irmãos, para que o povo possa alcançar a paz, seria imperioso acontecer o que está acontecendo, a sujeira precisaria ser esfregada na cara de *TODOS*.
Por ora, rendamos graças a *DEUS* que, no comando de todas as coisas, está proporcionando ao povo brasileiro a oportunidade abençoada de olhar a verdade nua e crua. É impossível começar uma faxina sem que primeiramente tenhamos a exata noção do que precisa ser limpo.
Desconheço a autoria.
Mais feia que briga de foice no escuro. No interior o povao sempre fala NEM O ACIDO COME. Nunca entendi o sentido dessa expressao. KKKKKKKKK
Parabéns pelo texto que expõe de forma bem humorada e ironia o comportamento da primeira dama narcisista e sem um pingo de empatia com os brasileiros que os sustentam.
Na Rússia os Políticos são referidos pela população como A MÁFIA.
E aqui…
Janja sabe dos esquemas! Afinal de contas, ela já foi a primeira ou a segunda “outra”… Bom eu não sei quem veio primeiro, se foi a Rosemary Noronha ou Rosângela da Silva, como sócia de Marisa Letícia na disputa do “cajado mágico” do excelentíssimo Nine Finger Thief, na cama! Só sabemos é que agora a Janja o acompanha em todas as viagens iniciais para outros países. Mas será que ela vai se cansar também das viagens a países mais pobres que o Brasil? Eu acredito que Lula irá fazer isso de propósito para a Janja se cansar e ficar em casa, para assim ele incluir clandestinamente nas suas viagens internacionais pela FAB (Lula-Móvel), uma Rosemary Noronha ou Rosângela da Silva, na versão 3.0, não inclusa na lista de passageiros da comitiva, para que não haja desconfiança e cheirinho de chifres queimados. Janja sabe! Ela já foi uma das amantes de Lula, não vai dar esse mole!!!
Assinante com prazer.
Você arrasou; se eu tivesse a certeza de q c@nj@ leria esse artigo, até pagaria a assinatura para ela. Completo seu texto dizendo q a minha planta, dama da noite, tem mais classe q essa daí. Nojo.
“Eles” se aproveitam do governo e de suas mazelas.
“Elas” se aproveitam “deles”.
Afinal, trata-se de um país com um pé no precipício (crise econômica) e outro dentro de um prostíbulo (crise moral).
O importante para “eles e elas” é o poder, dinheiro e a diversão.
Para nós, pão velho e cadeia.
Perfeito, Belotti. Magina quanto essa turma “trabalhou” no sindicato. Reuniões, etc… Hoje essas ações são institucionalizadas para a desgraca do Brasil.
Nossa…!!! “Um pé no precipício e outro no prostíbulo”… Mais claro ? Impossível…!!!
Augusto Nunes sempre impecável nos seus textos.
Grande Augusto Nunes. Excelente matéria.
Bom ser esquerdista na burquesia, não é Da. Janja?
Augusto Nunes, brilhante e refinado no seu português, como sempre.
Excelente e cômico artigo!
Impecável e impagável o artigo em torno dessa mulherada do Ladrão. Parabéns ao jornalista Augusto Nunes.
Janja nos remete à deslumbrada Dulce Figueiredo. Felizmente Marly Sarney deu um pouco mais de dignidade a este título. Risoleta Neves recebeu o título com charme, elegância e discrição. Contudo, logo em seguida fomos brindados com a dondoca Rosane Malta. Ruth Cardoso nos deu novo colorido e inteligência. E nova dondoca apareceu por lá, Marcela Temer. E agora essa tribufu.
Viralizam nas redes os vídeos íntimos em que essa mulherzinha aparece. Desnecessários quaisquer comentários adicionais.
Diga-me com quem tu andas e eu te direi quem tu és. O semelhante atrai o semelhante. Em se tratando de Lula: por trás de um homem mau caráter existe uma mulher mau caráter. Esperar o que dessa gente? Eleições roubadas com apoio explícito do TSE, STF e Alexandre de Moraes, tudo a mesma coisa. Tudo vinho da mesma pipa. A diferença de Janja para Michelle Bolsonaro é gritante. Porém, cada povo tem o governo que merece. Mesmo sendo sabedor de ter havido uma eleição fraudada, roubada ou sei lá mais o que, o fato é que Lula, até agora, não apresentou nenhum plano de governo e nem vai apresentar nada. A Esquerda é eternamente uma farsa mal contada. Mesmo assim, tem gente que ainda acredita em farsas. Tudo que Augusto Nunes escreveu é a pura verdade. Eu queria que fosse o contrário, mas o eleitorado não ajuda.
Na mosca, caro Augusto.
Fantástico Augusto.
Parabéns.
Da porta de cadeia para a bajulação explícita.
CAFONICE EM ESTADO PURO!!!
Brilhante matéria Augusto 👏👏👏👏
Augusto Nunes, como sempre, um excelente repórter.
Chamar o JORNALISTA Augusto Nunes de repórter é no mínimo uma indelicadeza.
Uma oportunista que mais parece uma meretriz e adora holofotes não merecia uma linha nessa revista. Só li o artigo porque foi escrito pelo grande Augusto, de resto, tudo o que se refere a essa desqualificada prefiro ignorar.
Excelente artigo do mestre Augusto Nunes
Esse é o retrato fiel da nossa realidade política
Deus tenha compaixão de nós
Gratidão Augusto Nunes por relatar o que se passa nos porões do poder. O glamour mostrado pela imprensa vendida, se desmancha diante da credibilidade de tão perfeito
comunicador. Parabéns!
Augusto sempre excelenteem suas análises reais e com as primeiras damas de nosso país a realidade é perfeita.Para mim a atual Janja ganha de longe como a pior delas.Uma deslumbrada pelo poder,dinheiro fácil e exibicionismo.Em uma fala,disse que tinha saudades de Curitiba,pois se lembrava de noites maravilhosas.Diz ter conhecido o noivo com maior intensidade na prisão .e dentro da cela ficou noiva.Que maravilha,que linda história de amor!!!Muito emocionante,a deslumbrada é o ladrão.
O problema com o comunismo é que um dia o dinheiro dos outros acaba.Margaret Thatcher
Com todo respeito mestre Nunes: prepare-se pro chumbo grosso que virá. Os caras estão com olhos cheios de sangue. Todavia, congratulações por sua honestidade e… coragem.
Idem, li a matéria porque foi o mestre que escreveu. Com esta corja no poder estamos no lodo… mas viverei para ver um presidente que nos dê orgulho de ser sermos brasileiros!
Ladrão e homem-galinha não fazem minha cabeça. As mulheres do artigo também não. Li porque foi você quem escreveu e para me informar sobre a História do meu país.
Presidente pegador. E se ele fosse gay? pobre gov. Eduardo Leite, sendo esculachado diariamente por sua opção sexual. É isso ai Mister Pres. Lula, coma todas as mulheres que cruzarem seu caminho, enquanto a testosterona ainda estiver em alta. rsrs.
Um dragão consegue conquistar algo bem similar. Suas duas últimas , são exageradamente iguais.
Excelente 👍🏻