No mês passado, centenas de colaboradores do New York Times expressaram formalmente seu descontentamento com a maneira como o jornal cobre pessoas transgênero, não binárias e em não conformidade de gênero, ao publicar uma carta aberta condenando a reportagem do NYT como uma antagonista desses indivíduos. “Em anos recentes, o New York Times tem tratado a diversidade de gênero com uma mistura sinistra e conhecida de pseudociência e uma linguagem carregada e eufemística, ao publicar reportagens sobre crianças trans que omitem informações relevantes sobre suas fontes.”
A afirmação tem como pano de fundo um debate atual sobre como, e se, as pessoas que se identificam como transgênero — em especial menores de idade — devem poder fazer a transição. Mas, no cerne, a carta trata de outro debate: que perguntas membros da imprensa livre podem fazer?
Um ponto central do argumento dos colaboradores do New York Times é um longo texto escrito por Emily Bazelon, colunista da revista. (Em nome da transparência, vale dizer que Bazelon faz parte do conselho de diretores do projeto Law and Justice Journalism, uma organização de que sou bolsista neste ano.) O artigo, “The battle over gender therapy” (“A batalha da terapia de gênero”, em tradução livre), expõe a evolução da medicina para jovens transgênero e como os médicos de hoje que tratam esses pacientes estão lidando com as mudanças na ciência, bem como na política, em meio a uma demanda cada vez maior por seus serviços.
“O destino natural do mau julgamento editorial são os tribunais”, disseram os colaboradores do NYT, na carta. “No ano passado, a Procuradoria-Geral do Arkansas solicitou uma carta amicus curiae em defesa da Lei de Proteção e Compaixão às Crianças Vulneráveis do Alabama, que criminalizaria, com pena de até dez anos de prisão, qualquer profissional da medicina que administrasse determinados tratamentos de afirmação de gênero para menores (incluindo bloqueadores de puberdade) que promovam uma divergência em relação ao sexo designado ao nascer.” De acordo com a carta, parte da culpa é de pessoas como Bazelon, por revelar uma história e um debate cheios de nuances. Seguindo sua lógica, só é ético que jornalistas falem sobre tópicos polêmicos se estiverem preparados para chegar a uma conclusão precipitada. Ela inverte o mantra de que jornalistas devem “demonstrar, e não dizer”, exigindo que digam, em vez de demonstrar.
Alguns dos principais jornalistas de elite dos Estados Unidos querem tratar esses tópicos como preto e branco, numa profissão que supostamente se dedica a investigar o cinza
Umas das principais falhas do artigo de Bazelon, de acordo com esses colaboradores do jornal, é “fazer uso do termo ‘paciente zero’ de forma acrítica, para se referir a uma criança trans que buscou tratamento de afirmação de gênero, uma expressão que vilaniza a identidade trans como uma doença a ser temida”, afirmaram eles. “É a mesma retórica que políticos transfóbicos reintroduziram recentemente na máquina legislativa norte-americana, ao citar o artigo de Emily Bazelon no NYT.” A pessoa que Bazelon chama de “paciente zero” também é mencionada no artigo como F.G., um homem trans que, quando adolescente, na década de 1980, foi a primeira pessoa a receber um novo protocolo de tratamento em uma influente clínica para questões de gênero em Amsterdã.
No contexto, parece que Bazelon usa o termo de forma benigna. Ele aparece uma única vez, duas palavras em um artigo de 11 mil palavras, como forma de comunicar que F.G. foi a primeira pessoa a receber um tratamento que era — e, até certo ponto, ainda é — emergente e experimental e que se mantém no centro do diálogo, enquanto os médicos discutem qual é a melhor maneira de ajudar a juventude transgênero. Essencialmente, F.G. é apresentado como uma pessoa feliz com sua transição e em sua vida pós-transição.
O fato de que a indignação vai além do “paciente zero” e seja um debate mais amplo sobre o próprio jornalismo fica evidente na reação ao texto de Emily Bazelon depois de sua publicação, em junho. Um artigo no Texas Observer resume essa reação: “Não existe ‘debate’ legítimo sobre serviços de saúde para a afirmação de gênero”, diz a manchete.
A comunidade médica discorda, como fica provado no artigo extensamente pesquisado de Bazelon. O texto descreve de forma meticulosa o debate muito real entre os profissionais da saúde — muito dos quais são, eles mesmo, transgênero — sobre como avançar e se manter fiel ao ethos de “não fazer o mal”. Entre as questões exploradas estão: “Como os médicos podem determinar se uma criança está pronta para a transição?”; “O que está na raiz da profusão de jovens que se identificam como trans”; “Como os médicos estão levando em consideração o que às vezes pode ser pressão social ou um transtorno mental simultâneo, em vez (ou além) da disforia de gênero?”; Como os médicos decidem quando dar início aos inibidores de puberdade, em vez de tratamentos hormonais e cirurgias?”.
Ao ler a carta do New York Times, além das objeções mais amplas ao artigo de Bazelon, os leitores podem presumir que apenas charlatães céticos tiveram espaço. Mas as entrevistas feitas pela jornalista incluíram médicos de destaque na área, que são favoráveis ao tratamento de pacientes transgênero — algo que costuma suscitar furiosas reações negativas dos conservadores. Existem diferenças e nuances entre esses profissionais, como é de esperar na medicina, e Bazelon estabelece um diálogo entre eles, como é de esperar no jornalismo. Ela incluiu, por exemplo, uma longa entrevista com Colt St. Amand, médico na Mayo Clinic, que afirmou: “As pessoas são quem dizem que são, e elas podem se desenvolver e mudar; está tudo bem, isso é normal. Então fico menos preocupado com certezas em relação à identidade, e mais preocupado em ouvir os objetivos de corporificação da pessoa. Você quer ter uma voz grave? Quer ter seios? Você sabe, o que você quer para o seu corpo?”.
Em contraste, Marci Bowers, uma mulher trans que é cirurgiã reconstrutiva, observou que meninas trans que interrompem a puberdade masculina e, assim, impedem o desenvolvimento total do pênis podem ter dificuldade para atingir o orgasmo na vida adulta depois de uma cirurgia de reconstrução genital. “A satisfação sexual é algo muito importante”, ela disse a Bazelon. “Precisamos falar sobre isso.”
No entanto, alguns dos principais jornalistas de elite dos Estados Unidos parecem não querer falar sobre isso. Eles querem tratar esses tópicos como preto e branco, numa profissão que supostamente se dedica a investigar o cinza.
Por sorte, a direção do New York Times concorda, pelo menos nesse caso. “Nosso jornalismo aspira a explorar, interrogar e refletir sobre as experiências, as ideias e os debates na sociedade — e ajudar os leitores a entendê-los. Nossa reportagem fez exatamente isso, e temos orgulho dela”, afirmou Charlie Stadtlander, diretor de comunicação externa da redação do NYT, em uma declaração. E em um memorando enviado para a equipe, Joe Kahn, editor-chefe, condenou a iniciativa da equipe, escrevendo que o jornal “não vai tolerar a participação de jornalistas do New York Times em protestos organizados por grupos de ativistas ou ataques a colegas nas redes sociais e outros fóruns públicos”.
Existe uma frase no texto de Emily Bazelon sobre a repercussão negativa que os profissionais de saúde às vezes enfrentam entre as pessoas de sua própria área. “A reação tem um impacto maior, como as críticas de colegas e aliados costumam ter”, escreveu Bazelon. Imagino que ela deva ter sentido o mesmo ao ler a carta dos colaboradores de seu jornal.
Billy Binion é editor-adjunto da revista Reason.
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Complicado!
Faz o simples, homem e mulher…ponto final. O que passa disso se chama confusão. Aprendi assim, ensino os meus filhos assim e iremos morrer assim. E quem não gostar que morda as costas.
Incrível como tudo começa na inocência de não ligarmos se um adulto decide ser gay. E quando vemos a coisa cresce como um câncer e se torna uma ideologia que vai doutrinar nossas crianças através de livros e professores ativistas, pressionar a sociedade através de uma imprensa também ativista e implantam uma linguagem neutra como se fosse a coisa mais natural e evolutiva. Tudo isso é maligno, demoníaco e destrói os valores cristãos de uma sociedade sadia.
SÓ VEJO SOFISMAS
A REALIDADE É PAI MÃE
HOMEM MULHER
FOI ASSIM QUE TODO MUNDO NASCEU
MELHOR IR TRABALHAR
FAZER ALGUMA COISA PRODUTIVA…