“Isso aqui é de um futuro que vocês não imaginam”, disse José Corral Martins, quando levou os filhos para conhecerem a propriedade recém-adquirida em Tangará da Serra, no interior de Mato Grosso. O ano era 1973 e a compra lhe custara boa parte das economias que havia guardado trabalhando como corretor de seguros na região de Tupã, interior de São Paulo.
Ao ver o lugar, Normando Corral, então com 16 anos e acostumado à vida no interior paulista, achou que o pai estava louco. “Só tinha mato”, recorda. “Era difícil de chegar e de sair”.
Poucos anos mais tarde, contudo, o filho de José resolveu se mudar para aquela região, logo depois de concluir o curso de engenharia agronômica na Universidade Federal de Lavras. O plano era conseguir um emprego. Mas, quando percebeu, estava apostando na visão do pai, ao dar início à abertura da fazenda.
Este não foi só o caminho de Normando, mas do de milhares de outros produtores rurais que, ao longo das últimas décadas, apostaram no Estado ainda quase inabitado para mudar de vida. Deu certo.
Normando virou uma das grandes lideranças do agronegócio nacional, presidindo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), entre 2017 e 2022. E Mato Grosso se tornou uma das grandes potências agrícolas do planeta. Em março deste ano, o estado ultrapassou a Argentina na quantidade de soja produzida. Graças a isso, em 2023, a produção estadual do grão ficará atrás apenas da safra de todo o Brasil e dos Estados Unidos — primeiro e segundo colocados no ranking mundial de produção de soja, respectivamente.
Em busca da prosperidade
Há algumas décadas, o país registrou — e estimulou — o início um êxodo de famílias de Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná em busca de um possível futuro de riquezas rumo ao Centro-Oeste brasileiro. Mato Grosso era um dos destinos.
Áreas antes inexploradas, com mato alto e grosso, como aquela que José comprou, começaram a ser ocupadas por rebanhos, máquinas agrícolas, plantações e estradas de chão batido, próximas às cidades, que, na época, mais pareciam fazendas esquecidas. Começava uma nova expansão agrícola.
Metade dessa riqueza vem da soja. Milho e algodão somam outros R$ 70 bilhões. Os bovinos geram R$ 22 bilhões
Em pouco mais de quatro décadas, a produção mato-grossense de grãos saltou de 3 milhões de toneladas para cerca de 90 milhões de toneladas. O rebanho bovino também teve uma explosão, passando de pouco menos de 10 milhões de animais para mais de 30 milhões de cabeças.
Um caldeirão cultural
A onda de prosperidade também favoreceu várias outras famílias. A extensa lista inclui também aqueles que moravam na região antes mesmo da chegada dos portugueses. Um desses casos é o dos povos indígenas haliti paresis, que tem Ronaldo Zokezomaiake entre seus membros. Ele é uma das lideranças que veem no agronegócio uma saída para a melhoria de vida dos indígenas.
Atualmente, junto com outras etnias, a tribo de Zokezomaiake faz parte da cooperativa agrícola Copihanama. Graças ao emprego de tecnologia de ponta no cultivo, eles faturaram R$ 140 milhões com a produção do campo em 2021.
Uma nova locomotiva para o Brasil
Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso dividido pelo número de habitantes fechou em R$ 50 mil. Assim, o valor ficou praticamente empatado com a cifra de São Paulo (R$ 51 mil), Estado conhecido como a locomotiva do país.
Para 2023, o Ministério da Agricultura estima que o valor da produção agropecuária mato-grossense feche em R$ 204 bilhões. Caso a quantia se confirme, seriam cerca de R$ 56 mil por habitante.
Metade dessa riqueza vem da soja. Milho e algodão somam outros R$ 70 bilhões. Os bovinos geram R$ 22 bilhões. A lista também inclui cana-de-açúcar, suínos, frangos, feijão, ovos, leite, mandioca e outros.
Ciência, tecnologia e coragem
Tudo isso é produzido sobre uma terra que não era considerada das mais férteis. O cerrado brasileiro, bioma predominante na região, precisou de muita tecnologia para prosperar. “Os solos dos cerrados são ácidos e pobres de nutrientes”, afirma Rodrigo Justus, consultor jurídico e de meio ambiente da Coordenação de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Ele explica que o cultivo nessas áreas não seria possível sem que fosse realizada a correção da terra. Além de técnicas como o plantio direto no solo e a manutenção da palhada — restos das plantas — deixada depois da colheita e a adubação, Justus cita o desenvolvimento de novas sementes e variações de plantas.
“O cerrado não valia nada, porque dava, no máximo, um gado solto, criado de forma extensiva”, lembra. “Hoje, são plantadas ali duas safras por ano.” Os estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na correção do solo do cerrado merecem destaque nesse processo.
Uma terra renascida
Tangará da Serra, por exemplo, não é mais como no passado, relatou Ricardo Arioli Silva, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA. Natural de Passo Fundo (RS), ele se mudou para a região em 1987, junto com o pai, Manuel Bueno Silva, e o irmão, Rogério Arioli Silva — três engenheiros-agrônomos que resolveram desbravar uma propriedade. O agricultor conta que a cidade mudou muito e hoje atrai as principais redes varejistas do país.
“Quando nós chegamos, encontramos uma região que ainda não tinha desenvolvimento”, contou Arioli. “As plantações de soja, aqui, estavam começando. Apenas um lado da Avenida Brasil, a principal de Tangará da Serra, era asfaltada. A cidade tinha cerca de 40 mil habitantes. Era uma fronteira agrícola, na acepção da palavra.”
Atualmente, Tangará da Serra é sede de instituições de ensino superior particulares e públicas, incluindo um campus da Universidade Estadual de Mato Grosso e outro do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Há também hospitais e shopping.
A quantidade de habitantes passa de 100 mil, ou seja, mais que dobrou em cerca de 30 anos. O mesmo aconteceu com a população do Estado, que somava 1,5 milhão de moradores em 1985, e saltou para 3,5 milhões. A capital, Cuiabá, saiu de menos de 300 mil para os 600 mil habitantes de hoje.
Impulsionando o progresso urbano surgiram frigoríficos, processadoras de soja e usinas de cana-de-açúcar e milho, além de outros tipos de fábricas nos municípios mato-grossenses. Em 2019, pouco mais de 15% da economia local veio da indústria.
Investindo em mais futuro
Merece destaque também o AgriHub, que procura fazer a integração entre os produtores rurais e os desenvolvedores de software. A plataforma lista as startups com know-how para criarem soluções para o campo, e, por meio de um algoritmo alimentado por um questionário, o sistema direciona o agricultor ou o pecuarista à empresa de tecnologia mais adequada. Características como tamanho, capacidade de financiamento e absorção de tecnologia são variáveis para a seleção.
José Corral, 36 anos, filho de Normando, por exemplo, vive um presente nem sequer imaginado pelo avô que lhe emprestou o nome. Formado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo, trabalhou alguns anos no mercado financeiro e, junto com o sócio Daniel Latorraca, ex-superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia agropecuária (Imea), decidiu criar uma startup que agiliza a aprovação de crédito para produtores rurais. Com sede em Cuiabá, a empresa liga os proprietários de terra às grandes instituições que emprestam dinheiro para os projetos que impulsionam o agronegócio e trazem ainda mais prosperidade. Desse modo, o progresso dos próximos 50 anos deve ser tão promissor quanto o que ocorrer nos últimos 50 anos.
Leia também “Garimpando verdades”
Ótima reportagem! Precisamos d notícias assim, duma parte meio esquecida e ojerizada pela esquerda, mas pujante e visionária do agronegócio
Muita boa reportagem.
Muito orgulho em fazer parte dos assinantes da Revista Oeste!
Revista Oeste é tudo de bom, traz noticias na integra, ou seja, noticias verdadeiras, que há muito tempo não existiam em nosso País.
quero parabenizar todos os integrantes da Revista Oeste.
Jairo Leal, J.R Guzzo, Augusto Nunes de quem sou fã e admirador da sua inteligência e coragem em falar e explicar o que fala, Branca Nunes Diretora de Redação.
Branca Nunes, você é extraordinária, você é Gênio.
Também quero parabenizar os Colunistas extraordinários da revista Oeste, Guilherme Fiuza, Ana Paula de quem sou fã desde da era do melhor basquete do mundo, todos os colunistas são extraordinários.
OBS- Augusto Nunes, por favor, pode corrigir os erros de concordância. rsrsrs…
Sérgio Tonietti
Lava a alma ler reportagens como esta. Parabéns aos repórteres e à Revista Oeste. Uma pena que essa esquerdalha que hoje governa nosso país não enxergue isto.
E os bandidos querendo acabar com o país
Excelente matéria!!
“O agro é fascista” – Luiz Inácio Luladrão da Silva –
Como é possível (possível sabemos como) um ser que faz uma declaração deste porte ser presidente de um país.
O agro não é apenas terra e sementes. O setor movimenta praticamente todos os setores da economia.
Tenho primos que são pequenos agricultores no interior do Paraná e quando a safra é farta todos ganham. Produtores, comerciantes, munícipio, estado e país.
Esta sim uma boa reportagem. Os redatores, que fizeram a reportagem sobre desmatamento, deveriam receber uma aula do Artur Piva.
A verdade:
é que muitos têm medo desse progresso capitalista, porque instituirá um padrão de muito resultado, mas de muito trabalho e exigências, e ficará difícil pra quem gosta da vidinha fácil. Por isso, combatem.
Mas ninguém tem, de fato, aversão à muito dinheiro no bolso.
Mas querem sem ter que arcar com esse ônus.
É essa a hipocrisia.
Até quando não sabemos, sabemos que o grupo terrorista do mst avança com o aval do estado para a destruição total…
Para se proteger desses criminosos do campo, podemos incluir aí o MSR, FNL e também os urbanos, como o MTST do Boulous, os produtores rurais tem que se organizar como estão fazendo na Bahia e, todo vez que acontecer uma invasão ou ameaça de invasão, se unir e agir com firmeza contra esses terroristas. Os meios são os que eles têm na propriedade.
Excelente matéria. O agro o gde motor do país, investimentos e muito trabalho. Os baderneiros do MST querem mamata, desordem.