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Foto: Montagem Revista Oeste/Redes Sociais/Shutterstock
Edição 168

A lacração não deu certo

Empresas que deram guinada à esquerda sofrem com boicotes, vendas baixas e queda nos lucros

Cristyan Costa
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Atentas ao fervor pueril de uma juventude doutrinada por professores universitários de esquerda, cada vez mais empresas se rendem à cultura woke. Entrincheiradas nas fileiras de movimentos que lutam por “justiça, inclusão e tolerância”, essas companhias tentam garantir um lugar de destaque na disputada arena das redes sociais e atender às demandas do consumidor “progressista”, capitalizando a popularidade desses grupos sociais. A estratégia mercadológica, contudo, não tem dado muito certo, fortalecendo a tese segundo a qual “quem lacra não lucra”.

A varejista norte-americana Target, equivalente às Lojas Americanas no Brasil, é um exemplo disso. No fim do mês passado, a empresa teve prejuízo de cerca de US$ 10 bilhões (pouco mais de R$ 50 bilhões), depois de engajar-se em uma campanha polêmica: o lançamento da coleção Pride, com roupas LGBT+ e “ocultistas”, com imagens satânicas, voltadas para o público infantil. A campanha publicitária gerou uma onda de revolta que terminou com uma enorme campanha de boicote à empresa. A indignação levou consumidores a vandalizar lojas da rede. Emparedada, a empresa se viu forçada a recuar da decisão.

Em poucos dias, a Target tirou das gôndolas todos os produtos que haviam incomodado seus clientes e repaginou a linha de artigos LGBT+. Entre os itens removidos pela empresa havia peças como maiôs femininos “amigáveis”, que permitem às “mulheres trans” que ainda não passaram por cirurgias ocultar as partes íntimas. A ideia da varejista era celebrar o “Mês do Orgulho Gay”.

Araras com roupas infantis da coleção LGBT+ da Target | Foto: Reprodução

A cerveja Bud Light, versão suave da Budweiser e a mais consumida nos Estados Unidos, sentiu no bolso quanto custa lacrar. A dona da marca, Anheuser-Busch, perdeu US$ 5 bilhões na bolsa (R$ 25 bilhões) no início de maio por causa do fracasso da ação com Dylan Mulvaney, digital influencer trans. Consumidores se revoltaram com a peça publicitária divulgada na internet, exibindo Dylan segurando latinhas com seu rosto. Para reverter o prejuízo, a empresa colocou em circulação novas cervejas estampadas com camuflagem militar, além de imagens do programa social Folds of Honor, que oferece bolsas de estudo para filhos e cônjuges de militares e socorristas mortos ou com invalidez.

Dois meses antes, fora a vez da Hershey’s render-se ao politicamente correto. O gigante dos chocolates escalou Fae Johnstone, também trans, para a campanha do Dia Internacional da Mulher. “Podemos criar um mundo em que todos tenham condições de viver em espaços públicos”, diz Fae, no vídeo da empresa, ao exibir uma barra da companhia. Nas redes sociais, internautas criticaram a escolha de Fae para o 8 de Março. Isso porque, segundo essas críticas, a Hershey’s deveria escolher uma pessoa nascida mulher, em vez de um homem biológico.

Embora não tenha perdido tanto dinheiro como se imaginava com o boicote digital, a Hershey’s pariu uma concorrente de peso voltada para o público conservador, Jeremy’s Chocolate. Em uma semana, a nova marca vendeu 500 mil unidades do produto. “Apresentando Jeremy’s Chocolate”, diz o anúncio que viralizou nas redes sociais. “Sim, é real. Temos dois tipos: HeHim e SheHer. Um deles tem nozes. Se você precisar que eu diga qual, continue comprando Hershey’s. Mas, se você sabe o que é uma mulher e adora chocolate, acesse o site ihatehersheys.com.” A palavra em inglês para “nozes” é “nuts”, que também é usada como gíria para se referir aos testículos.

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Lição ignorada

Se tivessem visto o que ocorreu com a Balenciaga, em novembro do ano passado, talvez a Target, a Bud Light e a Hershey’s não avançassem o sinal. Naquele mês, a marca espanhola de acessórios femininos usados por celebridades de Hollywood divulgou uma campanha de Natal para lá de polêmica: crianças segurando ursos de pelúcia e apetrechos sadomasoquistas (coleiras, chaves, cadeados e algemas). Ao redor dos pequenos, havia produtos vendidos pela grife. A foto que mais chamou a atenção mostra uma bolsa sobre uma pilha de papéis. Ao dar zoom em um dos documentos, é possível ler trechos do caso “Ashcroft contra a Coalizão de Liberdade de Expressão”. Trata-se de uma decisão, de 2002, da Suprema Corte dos Estados Unidos, segundo a qual nem todas as imagens sexualizadas de crianças devem ser consideradas ilegais.

Fotos da campanha da Balenciaga consideradas apologia à pedofilia | Foto: Reprodução/Balenciaga

O boicote à marca veio com tudo, unindo pessoas comuns e artistas. Vídeos na internet mostraram famosos destruindo objetos da empresa. Algumas unidades da Balenciaga também sofreram atos de vandalismo. “Pedimos sinceras desculpas por qualquer ofensa que nossa campanha de férias possa ter causado”, informou a Balenciaga, em nota, ao mencionar que a campanha tinha a intenção de celebrar a infância de uma maneira mais “descolada”. “Nossas pelúcias não deveriam ter sido apresentadas com crianças. Removemos, imediatamente, a campanha de todas as plataformas. Estamos tomando medidas legais contra as partes responsáveis por criar o conjunto e incluir itens não aprovados para nossa sessão de fotos da campanha.”

Como resultado, o diretor criativo da empresa e responsável pelo escândalo, Demna Gvasalia, perdeu um prêmio que ganhara semanas antes, e o próprio emprego. A campanha afetou também as contas da marca. A Kering, holding que controla a Balenciaga e outras grifes, já esperava queda de mais ou menos 2% nas vendas, em virtude da situação econômica da China, mas registrou 7%. Internautas compartilharam imagens de liquidações com descontos de até 70% em produtos da marca, na tentativa de recuperar o dinheiro perdido com a campanha infantil.

Imagem mostra liquidação de acessórios em loja da Balenciaga, depois de campanha malsucedida com crianças | Foto: Reprodução/TikTok

Além da Balenciaga, outro exemplo notório a não ser seguido vem da Disney. Desde 2016, a “lacração” parte das produções da empresa, com remakes de filmes antigos e o lançamento de novas produções em uma roupagem mais “progressista”. O apelo ideológico ganhou musculatura por influência de Abigail Disney, uma das herdeiras do império. Neta do cofundador Roy O. Disney, irmão de Walt, ela defendeu abertamente a guinada da empresa à esquerda.

O gesto da Disney teve consequências. A primeira delas veio do mundo político. O parque da empresa fica em Orlando, na Flórida. Conservador, o Estado é governado pelo republicano Ron DeSantis, que tem maioria nas duas Casas legislativas. DeSantis conseguiu aprovar o fim do “status especial” do parque. Esse benefício dava à Disney poderes para cobrar impostos, construir estradas e controlar serviços públicos no território de seu parque temático. Conhecido como Reedy Creek Improvement District, o distrito foi criado em um acordo de 1967, entre o Estado e a direção da Disney. Agora a empresa vai ter de pagar impostos ao governo estadual, como qualquer outra.

Combustível para a lacração

Essas estratégias mercadológicas estão longe de ser uma onda de altruísmo de empresários bonzinhos. O woke capitalism (“capitalismo acordado”) é um conceito que nasceu da necessidade de reestruturar o “capitalismo selvagem”. Ele é patrocinado, sobretudo, por metacapitalistas que controlam fundos de investimentos bilionários, como o BlackRock (BR), patrono das pautas de enfrentamento às mudanças climáticas. O BR distribui dinheiro para companhias que se adequam a práticas politicamente corretas, e com o apoio de governos.

Para além das perdas financeiras, o lado cruel do “capitalismo woke” torna as empresas reféns do escrutínio investigativo e do julgamento ininterrupto no tribunal ilusório da perfeição capitaneado pela esquerda

“Muitos governos se veem obrigados a aceitar toda essa agenda, porque, caso contrário, as empresas e os fundos de investimentos deixam de trabalhar em determinados países, afetando a economia local”, constatou o analista político Paulo Henrique Araujo, autor do livro As Bases Revolucionárias da Política Moderna. “Não há indícios de que o investimento em diversidade provoque o aumento da produtividade ou criatividade da empresa”, acrescentou Eduardo Matos, pesquisador e corroteirista do filme Nem Tudo se Desfaz, ao mencionar que não vê um futuro muito alvissareiro para empresas nesse caminho.

Em entrevista ao programa Linhas Cruzadas, da TV Cultura, veiculado em 2021, o cientista político conservador João Pereira Coutinho afirmou que há um enorme esforço por parte das grandes empresas para embarcarem no vagão do “consumo ético, sustentável e politicamente correto”. Hoje, as companhias não competem apenas umas com as outras por uma fatia maior do mercado — também competem para a exposição de suas “credenciais ativistas”.Trata-se de uma via de mão dupla. Para além das perdas financeiras, o lado cruel do “capitalismo woke” torna as empresas reféns do escrutínio investigativo e do julgamento ininterrupto no tribunal ilusório da perfeição capitaneado pela esquerda. Ciente de seu poder de mobilização, com o palco das redes sociais sob seu domínio, a patrulha dos valores éticos e morais comanda o espetáculo entre “o bem e o mal” e dita as regras do jogo, conforme seus próprios interesses. Como preconiza o poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”.

Leia também “Por que a OMS está sexualizando as crianças?”

15 comentários
  1. Sebastiao Márcio Monteiro
    Sebastiao Márcio Monteiro

    Parabéns, Cristyan! Excelente matéria.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Fosse pelo papel social, estas empresas também homenageariam o policial em seu dia,

  3. Eduardo Henrique De Lima
    Eduardo Henrique De Lima

    É a velha ciência exata em prática: Quem lacra, não lucra!

  4. Ernani
    Ernani

    essa turma é tão besta que acham que para atrair meia duzia de adeptos não irão perder espaço com a classe conservadora, isso ai é a mesma coisa que a friboi querer fazer propaganda de picanha pra vegano, mas o que mais me decepcionou até agora foi o da disney por ser uma empresa voltada ao publico infantil, pois milhares de pais heteros levam seus filhos lá, será que se eles afastarem esse publico conseguirão sobreviver somente com a sopinha de letras e a turma da esquerda que na maioria vivem da bolsa miséria.

  5. Jarbas Paranhos
    Jarbas Paranhos

    A estratégia woke de venda casada, colocando feminismo, ecologia, capitalismo ético e o lobby LGBT, coisas completamente diferentes e sem nenhuma relação em um mesmo pacote é uma perfídia política e de marketing que dificulta as críticas das loucuras e perversões subjacentes. Se vc critica alguma das pautas vc é contra todas! Então se vc é contra a castração de crianças vc também é contra a pauta ecológica! O que é um absurdo lógico!

  6. Valdy Fernandes da Silva
    Valdy Fernandes da Silva

    Podemos completar o verso de Augusto dos Anjos…” a boca que escarra e a mesma que beija…”

  7. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Na minha época de adolescência e juventude nos anos 70 era bonito fumar e feio dar a B… Hoje é o contrário.
    Tenho amigos LGBTQY%#@&*+ sendo que até hoje não descobri o que é o + e convivo fraternamente com todos.
    Como o artigo preconiza, o futuro destas empresas da turma da lacração é incerto. E por uma razão muito simples. Consumidores compram e consomem produtos e serviços e não ideologias.
    Não compro e não apoio empresas com produtos e serviços que utilizam a máscara de gay, negro, Greta, minorias, influencers, youtubers e seja lá o que mais inventarem.
    Apoio e defendo aquelas que lutam por uma melhor harmonia humana com respeito a todas as diferenças que a sociedade convive, sejam políticas, religiosas, sexuais, origens, etnias, etc.

  8. Paulo Antonio Neder
    Paulo Antonio Neder

    O que impressiona é constatar um movimento orquestrado principalmente em todo o Ocidente. Tenho procurado boicotar empresas que a ele aderiram.

    1. Ernani
      Ernani

      somos 2 então, pois eu desde janeiro já não compro em empresas de apoiadores de esquerda, inclusive fechando minhas contas em bancos que apoiaram o molusco.

  9. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Eu nunca vi tanta idiotice na cabeça de seres humanos, não sei porquê que cargas d’água, acharem que a minoria vai sair na frente. Não tem condição nenhuma de uma minoria vencer a maioria. O convívio social é de respeito e boas relações com as minorias

  10. Daniel BG
    Daniel BG

    O que sinto, sinceramente, é que o fato “ser homossexual” vem sendo, cada vez mais, manipulado pela briga entre o que seja “Planificação Estatal” e “livre mercado”. Há décadas atrás a manipulação tinha mais uma conotação moral: de um lado, os marginais, objeto de repúdio, toda a maldade no mundo, os homossexuais. De outro, a redenção, os não homossexuais. Os mesmos valores morais que queimaram milhares nas fogueiras da Idade Média, a igreja, “formadora de opinião” (se é que tal Planificação possa ser chamada como tal), continuam sendo os detentores da “verdade”.
    É como num experimento realizado por antropólogos em um povoado na polinésia (estória extraída do livro “Caminhos Cruzados”). Por lá existia uma pedra sagrada chamada de “pedra do fogo”. Diziam que, se enrolassem fio de nylon na tal pedra e a jogassem na fogueira, depois de retirada o fio poderia ser desenrolado intacto. Perguntaram os antropólogos se algum deles havia realizado o feito. NINGUÉM. Mas a verdade mágica da pedra não podia ser contestada.
    Ainda prefiro acreditar que o futuro esteja reservado às revelações.

  11. Anísio Silva Horta
    Anísio Silva Horta

    TOMARA QUE VÃO À FALENCIA !!!

  12. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Aqui no Brasil a empresa “Magalu “,.também lacrou e perdeu muito. A proprietária da empresa aparece na TV pedindo aos clientes voltarem as lojas.Vexame público. Não adianta reinventar ou querer impor doutrinação nos produtos que vendem.

  13. MNJM
    MNJM

    Excelente matéria. A turma da lacração nem sempre se dá bem. Cansativo o tal “politicamente correto”.

  14. Neder Gregol Marques
    Neder Gregol Marques

    O velho ditado: “Quem lacra, não lucra”.

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