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Bandeiras do grupo Hezbollah | Foto: Shutterstock
Edição 187

A seita dos assassinos

Fanáticos não costumam reagir aos argumentos da razão. Os seguidores de Bin Laden, os malucos do Isis e os bárbaros do Hamas não entendem a linguagem diplomática

Rodrigo Constantino
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Ao contrário dos nazistas, que tentaram ocultar do mundo as atrocidades de seus campos de extermínio de judeus, os terroristas do Hamas ostentaram com orgulho o massacre que realizaram em Israel, postando nas redes sociais vídeos e imagens de suas vítimas. Eles querem que todos saibam o que fizeram. Quanto mais judeus matam, mais comemoram, gritando e cantando “Alá é grande”. 

O narcisismo da elite ocidental, que projeta no mundo sua própria imagem refletida no espelho, impede uma compreensão mais acurada do fenômeno. Mas fingir que há uma disposição racional desses terroristas ao diálogo, que é possível utilizar diplomacia e fazer concessões para obter a paz, significa o caminho certo para a barbárie. Basta olhar como tem gente no próprio Ocidente apoiando essa selvageria toda. Como entender isso?

“A maior parte dos muçulmanos não é composta de fundamentalistas, e a maior parte destes não é terrorista, mas a maior parte dos terroristas atuais é muçulmana e tem orgulho de se identificar como tal”, explica Bernard Lewis, estudioso do Islã. E isso não vem de hoje. Na Idade Média, uma seita de fanáticos assassinos surgiu no Irã e se espalhou pelas montanhas sírias e libanesas. A fama do grupo se alastrou até o mundo cristão, que ficou surpreso com a fidelidade de seus membros, mais até que com sua ferocidade. 

Seu líder, conhecido como o Velho da Montanha, possuía cerca de 60 mil seguidores, segundo alguns relatos da época especulavam. Para Bernard Lewis, autor de Os Assassinos, os paralelos dessa época com a atualidade são incríveis, e podemos extrair importantes lições analisando a seita medieval. De todas as lições, segundo o autor, “talvez a mais importante seja a do seu fracasso final e completo”.

Capa do livro Os Assassinos, de Bernard Lewis | Foto: Reprodução

A maioria dos alvos da seita era formada pelos próprios muçulmanos, muitas vezes autoridades estabelecidas. Quando o Velho tinha que matar algum príncipe, escolhia um dos jovens seguidores e dizia: “Vai tu e mata Fulano; e, quando retornares, meus anjos te levarão para o paraíso. E, se acaso morreres, não obstante, ainda assim enviarei meus anjos para carregar-te de volta para o paraíso”. Conta-se que o Velho oferecia haxixe como entorpecente para seus jovens seguidores. Ele os fazia acreditar no seu poder de lhes oferecer o paraíso, e isso possibilitava que os assassinos enfrentassem qualquer perigo. 

Não é possível saber ao certo o que é fato e o que é fantasia nisso tudo. Alguns querem acreditar que o nome “assassino” deriva dessa droga supostamente consumida pelos seguidores da seita. Para Lewis, “muito provavelmente, foi o nome que deu origem à história, e não o contrário”. Mas isso não é importante.

A Al-Qaeda liderada por Osama bin Laden se assemelhava em vários aspectos à seita de Hasã, assim como o Estado Islâmico, o Hezbollah e o Hamas, os dois últimos apoiados pelos aiatolás xiitas do Irã

Durante o longo reinado do oitavo califa al-Mustansir (1036-1094), o império fatímida alcançou o apogeu e caiu em rápido declínio. No século 11, a debilidade interna do mundo islâmico foi revelada por uma série de invasões. Houve importantes mudanças culturais, sociais e econômicas, mudando a história do Islã. A antiga pregação do ismaelismo fracassara, e o império fatímida estava agonizando. Como coloca Lewis, “faziam-se necessários ‘nova pregação’ e novo método”. 

O revolucionário que projetaria as mudanças seria Hasã-i Sabá. Para os povos belicosos e descontentes das montanhas de Dailã e Mazandarã, seu credo militante possuía atrativo poderoso. Hasã estabeleceu-se como senhor de Alamut. A vizinhança foi conquistada por seus ardis e propaganda, e, quando isso falhava, pelo morticínio, pilhagem, derramamento de sangue e guerra. Era fundada a seita dos assassinos.

Hasã-i Sabá, líder religioso e militar, fundador da seita Ordem dos Assassinos | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Para suas vítimas, eles eram criminosos fanáticos, mas para os ismaelitas eles eram “um corpo de elite na guerra contra os inimigos do imame”. Abatendo os usurpadores e opressores, davam prova suprema de sua fé e lealdade. A guerra santa era o caminho para Alá. Não havia espaço para a flexibilidade na fé. Um dos filhos da Hasã teria sido executado por beber vinho. A seita era temida por todos, e o caráter suicida de seus membros gerava pânico em muitos. Até mesmo Saladino foi vítima de atentados da seita.

Na opinião de Lewis, os Assassinos não têm precedentes no uso sistemático, planejado e a longo prazo do terror como arma política. Assassínios anteriores, normalmente, eram obra de indivíduos ou pequenos grupos de conspiradores. Por esse motivo, Lewis considera que os Assassinos “podem ser os primeiros terroristas”. Havia as condições óbvias presentes: organização e ideologia. A organização permitia planejar os ataques e sobreviver ao contra-ataque. A crença, através do fanatismo religioso, inspirava os atacantes até o momento da morte. 

Lewis explica: “Sua religião, cada vez mais, adquire as características mágicas e emocionais, as esperanças milenares e de redenção, associada aos cultos dos desapossados, dos destituídos de privilégios e dos instáveis”. Como podemos ver, os fundamentalistas islâmicos modernos são os herdeiros desses Assassinos. A Al-Qaeda liderada por Osama bin Laden se assemelhava em vários aspectos à seita de Hasã, assim como o Estado Islâmico, o Hezbollah e o Hamas, os dois últimos apoiados pelos aiatolás xiitas do Irã. 

Foto: Shutterstock

Claro que a culpa em si reside no fanatismo, mas não é possível negar que a religião islâmica fornece os pretextos adequados. O próprio Lewis escreve em A Crise do Islã: “Segundo a lei islâmica, está de acordo com as escrituras fazer guerra contra quatro tipos de inimigos: infiéis, apóstatas, rebeldes e bandidos”. A jihad é uma obrigação religiosa para muito muçulmano. 

Diante desse breve resumo, fica mais fácil compreender algumas atitudes do Hamas, e o apoio que esses terroristas recebem de muçulmanos espalhados pelo mundo. Também fica claro que não há qualquer possibilidade de diálogo ou diplomacia com gente assim, cuja única missão é “exterminar os infiéis”. 

Um ativista palestino admite o óbvio, que a elite “progressista” ocidental ignora: “O desastre da Palestina não é um desastre de perda de terras ou derrota militar. É um desastre de ausência de liderança que possa articular a alternativa árabe à guerra e à morte. Pedimos ao mundo que pare a guerra israelita contra o Hamas, mas o que oferecemos como alternativa para parar a guerra? Deixar apenas os bandidos do Hamas, que massacraram 1,3 mil israelitas, escaparem impunes dos seus crimes?”

A seita dos Assassinos encontrou seu fim na força mongol. Apenas a violência foi capaz de barrar a violência. Fanáticos não costumam reagir aos argumentos da razão. Os seguidores de Bin Laden, os malucos do Isis e os bárbaros do Hamas não entendem a linguagem diplomática. E o fanatismo é alimentado desde muito cedo, tal como era na seita de Hasã. Crianças indefesas sofrem verdadeiras lavagens cerebrais. Quando jovens, já devidamente devotos, alienados diante do mundo global moderno e materialista, enfrentando dificuldades e tendo um livro sagrado de regras duras impostas pela sua religião intransigente, que exige total submissão, o terrorismo é para muitos uma fuga. Convidar alguém com esse perfil para um chá das cinco no afã de convencê-lo a deixar seus inimigos em paz é suicídio.

Terroristas do Hamas | Foto: Anas Mohammed/Shutterstock

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18 comentários
  1. Daniel Fernandes Paticcié
    Daniel Fernandes Paticcié

    “A escuridão não pode expulsar a escuridão, apenas a luz pode fazer isso.” Martin Luter King. Se todas as luzes se apagam diante do terror, todas as luzes são trevas e devem aceitar a proposta do terrorismo. É adoecedor o silêncio de muitos aqui no Brasil diante dos acontecimentos bárbaros contra os hebreus. Precisamos unir forças, partilhar conhecimentos, unificar o entendimento. Não podemos ficar em silêncio. O que vemos hoje é uma.nova nódua contra um mesmo povo e o pior é perceber a frieza de muitos diante do cenário de horrores.

  2. SERGIO RODRIGUES MARTINS
    SERGIO RODRIGUES MARTINS

    Excelente!Q
    Com fanáticos não há conversa! Tem de usar a lei deles: olho por olho, dente por dente!

  3. Jarlan Barroso Botelho
    Jarlan Barroso Botelho

    Excelente texto Constantino. Os ataques terroristas praticados contra Israel e sua população civil, não só nos deixam chocados pela selvageria e barbárie praticada pelos terroristas do Hamas. O apoio recebido por esse grupo de monstros, por parte de ocidentais, inclusive por políticos e professores universitários, mostram que o nível de imbecilidade do mundo ocidental chegou a tal ponto, que eles apoiam os grupos que pregam a destruição do ocidente.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Com o Hamas não tem conversa, só resolve o eliminando do mapa.

  5. Jaime Moreira Filho
    Jaime Moreira Filho

    “ALÁ É GRANDE”. Que grande idéía é essa de acreditar que DEUS = ALÁ é o deus deles – que fica feliz com a matança perpetrada pelos seus “adoradores”, é um acontecimento a ser comemorado. Fica muito difícil aceitar esta tese, a não ser que ALÁ não seja um deus como o deus considerado cristão. ALÀ então seria um deus que aprecia, apóia e defende atos terroristas – matança de bebes, estupros e mortes de meninas e mulheres, tortura e mortes de homens – só por serem judeus. Aqui, nestes aspectos todos já estamos voltando à Idade Médidas, aos tempos do Velho – stf já liberando traficantes, suas preciosas cargas e, consequentemente, o tráfico de drogas, que poderá arruinar muitas cabecinha em nossas universidade públicas. Artigo bem escrito e bem explicativo, mas infelizmente, é difícil ter que ver, analisar estas situações. Obrigado por mais esta aula da Revista Oeste.

  6. Dolor Barbosa Xidieh
    Dolor Barbosa Xidieh

    Caro Rodrigo Constantino, gostei muito do seu artigo, em particular, do resumo contextualizando os fatos.
    Parabéns!
    Dolor

  7. Silas Veloso
    Silas Veloso

    Assim foi, assim é o fundamentalismo islâmico, violento, irracional, nascente treva

  8. PCC
    PCC

    E o pior de tudo é a pregação do antissemitismo nas universades. Esses jovens de hoje também sofreram uma lavagem cerebral pelos seus professores, de forma tal que nutrem um ódio profundo pelo povo judeu, e a maioria, nem sabe porque.

  9. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Que horror!

  10. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    Totalmente de acordo. Chamar as partes para discutir a paz tomando uma cervejinha é pura idiotice demagógica. Mas, o que mais nos preocupa é o que ocorre no Brasil de hoje. Aqui ocorre uma perseguição implacável contra os honestos, brancos de origem europeia, conservadores, leia-se, pessoas que prezam os valores judaicos cristãos de nossa civilização ocidental que está sendo atacada no mundo todo, com a anuência ou cumplicidade de ocidentais que se acham “progressistas”. O que podemos fazer?

  11. Arlete Pacheco
    Arlete Pacheco

    NÃO CREIO QUE ESSES MOVIMENTOS TERRORISTAS QUEIRAM VERDADEIRAMENTE UM ESTADO PALESTINO, BEM COMO NUNCA QUISERAM. USAM A DESCULPA APENAS PARA ANGARIAR SIMPATIAS E RECURSOS DOS CRÉDULOS OU OPORTUNISTAS DE PLANTÃO.

  12. Ed Camargo
    Ed Camargo

    Como diz o texto, a seita dos assassinos encontrou seu fim na força Mongol. “Apenas a violência foi capaz de barrar ou acabar com a violência”. Fanáticos não reagem ou entendem os argumentos da razão.
    Se usarmos este conhecimento para a situação atual na faixa de Gaza, ficamos com somente uma alternativa óbivia, que seria o extermínio por completo dos terroristas do Hamas e do Hezbollah. Qualquer outra forma de apaziguamento oferecida por palhaços trapalhões como Luladrão e seus asseclas vassalos seria um suicídio.

  13. Oldair Dorigon Bianco
    Oldair Dorigon Bianco

    Como já falei antes… tem que zerar

  14. MNJM
    MNJM

    Excelente texto, como sempre muito bem embasado.

  15. Alberto Souza Dutra
    Alberto Souza Dutra

    Cadê os textos do mestre Augusto Nunes! Não consegui achar!

  16. Alberto Souza Dutra
    Alberto Souza Dutra

    Adorei o texto, Consta. Muito elucidativo e uma lição de história. Aprendi muito! Obrigado!

  17. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Muito bom. Excelente, é uma aula sobre as origens de seitas terroristas e fanáticos religiosos. Dizem que a própria divindade vez em quando promove expurgos no planeta para deixa-lo mais respirável. Creio que está na hora de haver mais um…se quiserem os nomes passo com prazer

  18. Jaques Goldstajn
    Jaques Goldstajn

    Não tinha ideia da origem do terrorismo. Mais uma vez grato pela aula

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