O terrorismo é a busca por resultados políticos através da violência, principalmente contra civis. Embora esteja hoje associado a grupos fundamentalistas islâmicos, o terrorismo moderno tem origem no marxismo radical e já representou uma ameaça existencial para as democracias ocidentais.
Entender a ligação entre marxismo e terror é fundamental para compreender o que acontece no Oriente Médio. Essa ligação passa pelo papel da União Soviética e seus antigos satélites no financiamento e proteção de terroristas. Há também lições sobre o enfrentamento ideológico que não podem ser esquecidas pelo Ocidente.
Na década de 1970, o quadro de tranquilidade que predominava na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial chegou subitamente ao fim com uma onda de terror.
Na Espanha, o ETA (abreviatura de Euskadi Ta Askatasuna, que significa “Pátria Basca e Liberdade”) iniciou uma luta contra o regime do ditador Francisco Franco e pela independência do país basco. Sua primeira vítima foi morta em 1968. Em 1973, o grupo assassinou o primeiro-ministro de Franco, marechal Luis Carrero. Nos anos seguintes, muitas pessoas seriam mortas. O impacto das ações do ETA foi limitado, pois a maioria dos bascos não se identificava com seus meios e objetivos.
O Exército Republicano Irlandês (IRA), parecido com o ETA em seus métodos, pretendia unir a Irlanda do Norte (que fazia parte do Reino Unido) com a República da Irlanda. Só em 1972, 146 policiais e soldados e 321 civis foram mortos, e quase 5 mil foram feridos na Irlanda do Norte. A campanha do IRA não uniu a Irlanda nem conseguiu desestabilizar a política britânica.
Como diz Tony Judt em Pós-Guerra, Uma História da Europa Desde 1945, foi especialmente em dois países europeus — Alemanha e Itália — que os “etéreos teoremas de radicalismo” se transformaram em terror. Uma minoria de radicais do movimento estudantil, intoxicada por sua própria adaptação da retórica marxista, chamou para si a missão de revelar a “verdadeira face” das democracias ocidentais. Eles esperavam que o “proletariado”, até então alienado, se levantasse no momento certo para se juntar à “luta revolucionária”.
A Alemanha estava dividida em duas — a República Federal da Alemanha, capitalista e democrática, e a República Democrática da Alemanha, comunista e submetida a um regime ditatorial controlado pela União Soviética.
Na República Federal, o discurso de ódio ao capitalismo se alimentava do descontentamento com a situação do pós-guerra e de um sentimento nostálgico em relação ao passado. Em 1968, os radicais Andreas Baader e Gudrun Ensslin foram presos pelo incêndio de lojas em Frankfurt. Em 1970, Baader foi libertado por um ataque liderado por Ulrike Meinhof, e os dois fundaram a Fração do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion). Nos anos seguintes, o grupo matou e feriu pessoas em tiroteios e atentados a bomba.
Não é possível combater o terrorismo se, ao mesmo tempo, tolera-se que importantes espaços no Estado e nas universidades sejam ocupados por pessoas que fornecem justificativas ideológicas ou intelectuais para terroristas
Em 1972, o governo social-democrata de Willy Brandt aprovou um decreto que determinava a expulsão do funcionalismo público de qualquer indivíduo que se envolvesse em atos políticos considerados prejudiciais à constituição. O ato tinha como objetivo evitar que extremistas ocupassem cargos importantes.
Meinhof foi encontrada morta em sua cela em 1976, e o mesmo aconteceu com Ensslin e Baader em 1977. O terrorismo fracassou na Alemanha.
O segundo país que mais sofreu foi a Itália. A principal organização terrorista, as Brigadas Vermelhas, começou sequestrando e executando gerentes de fábricas e pequenos empresários — “lacaios capitalistas” —, progredindo para assassinatos políticos. Entre 1970 e 1981, não houve nem um ano na Itália no qual as Brigadas Vermelhas não cometessem assassinatos, mutilações, sequestros e assaltos.
Em março de 1978, o grupo sequestrou Aldo Moro, líder do Partido Democrata Cristão e ministro das Relações Exteriores. O então primeiro-ministro democrata cristão Giulio Andreotti, com o apoio de todos os partidos — inclusive o Partido Comunista —, recusou-se a negociar com os sequestradores.
No dia 10 de maio, o corpo de Aldo Moro foi encontrado na mala de um carro em Roma. Menos de duas semanas depois, as Brigadas Vermelhas executaram o chefe do esquadrão antiterrorista de Gênova e, em outubro de 1978, assassinaram um diretor do Ministério da Justiça e um promotor público.
A estratégia italiana de combate ao terror também atacou os focos ideológicos que, de dentro do Estado, justificavam, aplaudiam ou apoiavam o terror.
Em 1979, o professor Antonio Negri, da Universidade de Pádua, e outros líderes do movimento Autonomia Operária foram detidos e acusados de tramar um levante armado contra o Estado. Negri havia tolerado ataques violentos a professores e administradores universitários e difundido temas como “ilegalidade de massa”, “guerra civil permanente” e “necessidade de organizar-se militarmente” contra o Estado. Ele também havia comemorado o sequestro e assassinato de Aldo Moro como “aniquilamento do adversário”.
A Itália foi sitiada por atos de extrema violência cometidos pela esquerda radical e por organizações criminosas, como a Máfia; é notável que a democracia e o Estado de Direito tenham sobrevivido.
Essa sobrevivência traz importantes lições; ela mostra que é possível às democracias vencer o terror. Alemanha e Itália ensinam uma lição a mais: não é possível combater o terrorismo se, ao mesmo tempo, tolera-se que importantes espaços no Estado e nas universidades sejam ocupados por pessoas que fornecem justificativas ideológicas ou intelectuais para terroristas.
Essa é uma lição que as democracias ocidentais não podem esquecer.
Leia também “Por que a esquerda apoia o massacre terrorista?”
Texto que deveria ser lido nas escolas!
Parabéns pelo artigo, estou e vou refletir muito sobre o tema.
Eu penso que ter uma cadeira nas universidades para estudo de economia focado no marxismo é o mesmo que ensinar métodos nazistas em organização politica e social. Esta praga que não deu certo em lugar nenhum e que é culpada por massacres piores que o genocidio de judeus na alemanha nazista deveria ser proibida e banida como foi o nazismo, e não ficar alienando nossos jovens com ideias ultrapassadas e extremistas.
As universidades públicas brasileiras precisam ser reformuladas. O fomento da esquerda a elas, em detrimento das escolas primárias, geraram esta casta de parasitas como ”profissionais do estudo”
Muito bom Motta.
O que me assombra, é a capacidade de não enxergar, não acreditar no que está escancarado, ou até mesmo negar os fatos e isso nos leva a eleição de um “descondenado” mesmo tendo sido preso a mais alta cúpula deste partido e do poder empresarial. Na Argentina, o ministro da economia deixou uma inflação de 130% ao ano, se candidata a presidente e sai em primeiro lugar no primeiro turno das eleições. O que é isso? Uma alienação total de um povo bem educado e considerado culto, diferente do nosso? É contra toda a lógica do povo escolher algo melhor para si e para os seus. Manipulação de massas que dá certo? Um quarto poder de fato, a mídia que consegue manipular as massas? Lamentável, lá e cá!
Ótimo artigo. Parabéns!
Excelentente artigo que alerta o Brasil, ao ver diversas manifestações pro Hamas.
Quem são essas pessoas? Onde trabalham? Onde estudam?
Isso é um trabalho que tem que ser feito para evitar o pior.
O artigo é excelente… Lamentável apenas as limitações de divulgação parcial estabelecidas pela Revista Oeste
Essa foi a melhor de todas as explicações históricas sobre o combate ao terror. É impossível combater o terror se o próprio Estado abriga em seus órgãos ideólogos do terror, que fomentam e promovem o terror de forma escancarada.
Artigo excelente,claro,objetivo e preciso. Estou alarmada de observar na Europa e em alguns países da América Latina e EUA, manifestações a favor do terror . Não tem ideia com o que estão apoiando.
Sensacional a reflexão e reviver fatos esquecidos.
A única sensação e que eles evoluíram, antes do terror compraram e corromperam o judiciário, trocaram a mafia pelos narcodolares. Talvez algum país sul-americano se enquadre nesse cenário…
Como sempre, Roberto Motta é preciso e didático. Mas vejo um ingrediente a mais no terrorismo praticado pelo Hamas: o fundamentalismo religioso no qual se incutem desde a infância a ideia de extermínio dos infiéis, entendidos como tais, todos os não muçulmanos. A inadmissibilidade à existência do estado de Israel soma-se a esse caldo maligno. Portanto, a meu ver, o caso do terror no Oriente Médio não têm origem no marxismo, mas é antes fruto de leituras e interpretações transversas do Corão.
Parabéns pelo breve porém um resumo de importância. Japão tmb teve o seu grupo terrorista Exército Vermelho que esteve ativo com sequestros de aviões, atentados em aeroportos, reféns no exterior na década de 70 que era associando ao PLO. A suposta líder Shigeko Fusanobu esteve presa ao longo destes anos mas foi solta recentemente e ainda tem, se não me engano, 9 membros que estão sendo procurados pela policia japonesa e Interpol.