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Ligação entre marxismo e terror | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 188

Terror e democracia: a lição importante

Entender a ligação entre marxismo e terrorismo é fundamental para compreender o que acontece no Oriente Médio

Roberto Motta
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O terrorismo é a busca por resultados políticos através da violência, principalmente contra civis. Embora esteja hoje associado a grupos fundamentalistas islâmicos, o terrorismo moderno tem origem no marxismo radical e já representou uma ameaça existencial para as democracias ocidentais.

Entender a ligação entre marxismo e terror é fundamental para compreender o que acontece no Oriente Médio. Essa ligação passa pelo papel da União Soviética e seus antigos satélites no financiamento e proteção de terroristas. Há também lições sobre o enfrentamento ideológico que não podem ser esquecidas pelo Ocidente.

Na década de 1970, o quadro de tranquilidade que predominava na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial chegou subitamente ao fim com uma onda de terror.

Emblema do grupo terrorista espanhol ETA | Foto: Wikimedia Commons

Na Espanha, o ETA (abreviatura de Euskadi Ta Askatasuna, que significa “Pátria Basca e Liberdade”) iniciou uma luta contra o regime do ditador Francisco Franco e pela independência do país basco. Sua primeira vítima foi morta em 1968. Em 1973, o grupo assassinou o primeiro-ministro de Franco, marechal Luis Carrero. Nos anos seguintes, muitas pessoas seriam mortas. O impacto das ações do ETA foi limitado, pois a maioria dos bascos não se identificava com seus meios e objetivos.

Retrato do ditador espanhol Francisco Franco | Foto: Wikimedia Commons

O Exército Republicano Irlandês (IRA), parecido com o ETA em seus métodos, pretendia unir a Irlanda do Norte (que fazia parte do Reino Unido) com a República da Irlanda. Só em 1972, 146 policiais e soldados e 321 civis foram mortos, e quase 5 mil foram feridos na Irlanda do Norte. A campanha do IRA não uniu a Irlanda nem conseguiu desestabilizar a política britânica.

Como diz Tony Judt em Pós-Guerra, Uma História da Europa Desde 1945, foi especialmente em dois países europeus — Alemanha e Itália — que os “etéreos teoremas de radicalismo” se transformaram em terror. Uma minoria de radicais do movimento estudantil, intoxicada por sua própria adaptação da retórica marxista, chamou para si a missão de revelar a “verdadeira face” das democracias ocidentais. Eles esperavam que o “proletariado”, até então alienado, se levantasse no momento certo para se juntar à “luta revolucionária”.

Livro Pós-Guerra, Uma História da Europa Desde 1945, de Tony Judt | Foto: Reprodução

A Alemanha estava dividida em duas — a República Federal da Alemanha, capitalista e democrática, e a República Democrática da Alemanha, comunista e submetida a um regime ditatorial controlado pela União Soviética.

Na República Federal, o discurso de ódio ao capitalismo se alimentava do descontentamento com a situação do pós-guerra e de um sentimento nostálgico em relação ao passado. Em 1968, os radicais Andreas Baader e Gudrun Ensslin foram presos pelo incêndio de lojas em Frankfurt. Em 1970, Baader foi libertado por um ataque liderado por Ulrike Meinhof, e os dois fundaram a Fração do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion). Nos anos seguintes, o grupo matou e feriu pessoas em tiroteios e atentados a bomba.

Não é possível combater o terrorismo se, ao mesmo tempo, tolera-se que importantes espaços no Estado e nas universidades sejam ocupados por pessoas que fornecem justificativas ideológicas ou intelectuais para terroristas

Em 1972, o governo social-democrata de Willy Brandt aprovou um decreto que determinava a expulsão do funcionalismo público de qualquer indivíduo que se envolvesse em atos políticos considerados prejudiciais à constituição. O ato tinha como objetivo evitar que extremistas ocupassem cargos importantes. 

Meinhof foi encontrada morta em sua cela em 1976, e o mesmo aconteceu com Ensslin e Baader em 1977. O terrorismo fracassou na Alemanha.

Ex-chanceler da Alemanha Willy Brandt, em Ostseehalle, na Alemanha | Foto: Wikimedia Commons

O segundo país que mais sofreu foi a Itália. A principal organização terrorista, as Brigadas Vermelhas, começou sequestrando e executando gerentes de fábricas e pequenos empresários — “lacaios capitalistas” —, progredindo para assassinatos políticos. Entre 1970 e 1981, não houve nem um ano na Itália no qual as Brigadas Vermelhas não cometessem assassinatos, mutilações, sequestros e assaltos. 

Em março de 1978, o grupo sequestrou Aldo Moro, líder do Partido Democrata Cristão e ministro das Relações Exteriores. O então primeiro-ministro democrata cristão Giulio Andreotti, com o apoio de todos os partidos — inclusive o Partido Comunista —, recusou-se a negociar com os sequestradores. 

No dia 10 de maio, o corpo de Aldo Moro foi encontrado na mala de um carro em Roma. Menos de duas semanas depois, as Brigadas Vermelhas executaram o chefe do esquadrão antiterrorista de Gênova e, em outubro de 1978, assassinaram um diretor do Ministério da Justiça e um promotor público.

Aldo Moro, líder do Partido Democrata Cristão e ministro das Relações Exteriores, em 1973 [à direita] | Foto: Wikimedia Commons

A estratégia italiana de combate ao terror também atacou os focos ideológicos que, de dentro do Estado, justificavam, aplaudiam ou apoiavam o terror. 

Em 1979, o professor Antonio Negri, da Universidade de Pádua, e outros líderes do movimento Autonomia Operária foram detidos e acusados de tramar um levante armado contra o Estado. Negri havia tolerado ataques violentos a professores e administradores universitários e difundido temas como “ilegalidade de massa”, “guerra civil permanente” e “necessidade de organizar-se militarmente” contra o Estado. Ele também havia comemorado o sequestro e assassinato de Aldo Moro como “aniquilamento do adversário”. 

A Itália foi sitiada por atos de extrema violência cometidos pela esquerda radical e por organizações criminosas, como a Máfia; é notável que a democracia e o Estado de Direito tenham sobrevivido. 

Essa sobrevivência traz importantes lições; ela mostra que é possível às democracias vencer o terror. Alemanha e Itália ensinam uma lição a mais: não é possível combater o terrorismo se, ao mesmo tempo, tolera-se que importantes espaços no Estado e nas universidades sejam ocupados por pessoas que fornecem justificativas ideológicas ou intelectuais para terroristas.

Essa é uma lição que as democracias ocidentais não podem esquecer.

Leia também “Por que a esquerda apoia o massacre terrorista?”

14 comentários
  1. Danilo Amaral
    Danilo Amaral

    Texto que deveria ser lido nas escolas!

  2. Nilson Abrao Porto
    Nilson Abrao Porto

    Parabéns pelo artigo, estou e vou refletir muito sobre o tema.

  3. Luciano do espírito santo
    Luciano do espírito santo

    Eu penso que ter uma cadeira nas universidades para estudo de economia focado no marxismo é o mesmo que ensinar métodos nazistas em organização politica e social. Esta praga que não deu certo em lugar nenhum e que é culpada por massacres piores que o genocidio de judeus na alemanha nazista deveria ser proibida e banida como foi o nazismo, e não ficar alienando nossos jovens com ideias ultrapassadas e extremistas.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    As universidades públicas brasileiras precisam ser reformuladas. O fomento da esquerda a elas, em detrimento das escolas primárias, geraram esta casta de parasitas como ”profissionais do estudo”

  5. Barbara nogueira porto felicio
    Barbara nogueira porto felicio

    Muito bom Motta.

  6. Idílio Mariani Júnior
    Idílio Mariani Júnior

    O que me assombra, é a capacidade de não enxergar, não acreditar no que está escancarado, ou até mesmo negar os fatos e isso nos leva a eleição de um “descondenado” mesmo tendo sido preso a mais alta cúpula deste partido e do poder empresarial. Na Argentina, o ministro da economia deixou uma inflação de 130% ao ano, se candidata a presidente e sai em primeiro lugar no primeiro turno das eleições. O que é isso? Uma alienação total de um povo bem educado e considerado culto, diferente do nosso? É contra toda a lógica do povo escolher algo melhor para si e para os seus. Manipulação de massas que dá certo? Um quarto poder de fato, a mídia que consegue manipular as massas? Lamentável, lá e cá!

  7. Sergio Julio Tamarossi
    Sergio Julio Tamarossi

    Ótimo artigo. Parabéns!

  8. CARLOS ALBERTO DE MORAES
    CARLOS ALBERTO DE MORAES

    Excelentente artigo que alerta o Brasil, ao ver diversas manifestações pro Hamas.
    Quem são essas pessoas? Onde trabalham? Onde estudam?
    Isso é um trabalho que tem que ser feito para evitar o pior.

  9. Ic Filho
    Ic Filho

    O artigo é excelente… Lamentável apenas as limitações de divulgação parcial estabelecidas pela Revista Oeste

  10. Ronaldo Rodrigues Rosa
    Ronaldo Rodrigues Rosa

    Essa foi a melhor de todas as explicações históricas sobre o combate ao terror. É impossível combater o terror se o próprio Estado abriga em seus órgãos ideólogos do terror, que fomentam e promovem o terror de forma escancarada.

  11. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Artigo excelente,claro,objetivo e preciso. Estou alarmada de observar na Europa e em alguns países da América Latina e EUA, manifestações a favor do terror . Não tem ideia com o que estão apoiando.

  12. Agnaldo Toniato
    Agnaldo Toniato

    Sensacional a reflexão e reviver fatos esquecidos.
    A única sensação e que eles evoluíram, antes do terror compraram e corromperam o judiciário, trocaram a mafia pelos narcodolares. Talvez algum país sul-americano se enquadre nesse cenário…

  13. ELIAS
    ELIAS

    Como sempre, Roberto Motta é preciso e didático. Mas vejo um ingrediente a mais no terrorismo praticado pelo Hamas: o fundamentalismo religioso no qual se incutem desde a infância a ideia de extermínio dos infiéis, entendidos como tais, todos os não muçulmanos. A inadmissibilidade à existência do estado de Israel soma-se a esse caldo maligno. Portanto, a meu ver, o caso do terror no Oriente Médio não têm origem no marxismo, mas é antes fruto de leituras e interpretações transversas do Corão.

  14. Maki K
    Maki K

    Parabéns pelo breve porém um resumo de importância. Japão tmb teve o seu grupo terrorista Exército Vermelho que esteve ativo com sequestros de aviões, atentados em aeroportos, reféns no exterior na década de 70 que era associando ao PLO. A suposta líder Shigeko Fusanobu esteve presa ao longo destes anos mas foi solta recentemente e ainda tem, se não me engano, 9 membros que estão sendo procurados pela policia japonesa e Interpol.

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