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Foto: Marko Aliaksandr/Shutterstock
Edição 190

Adolf Hitler ficaria orgulhoso

Depois do ataque terrorista do Hamas a Israel, regimes totalitários lançam um dilúvio de fake news

Dagomir Marquezi
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Se Adolf Hitler estivesse vivo hoje teria 134 anos. Com essa idade, encontraria certa dificuldade para beber as cervejas que costumava tomar entre um comício e outro em Munique. Mas, se o tirano saboreasse hoje uma caneca espumante de pilsen na frente da TV, ficaria orgulhoso. Afinal, suas piores ideias registradas em 1925 no livro Mein Kampf estão sendo colocadas em prática quase um século depois.

Seu conceito de “solução final” — acabar com todos os judeus do mundo — está sendo implementado sem constrangimento. O velhíssimo Adolf estaria sorrindo na poltrona observando passeatas ao redor do mundo exigindo o fim do Estado de Israel. Entre um gole e outro, ele veria as ruas ocupadas por turbas violentas espancando judeus e marcando suas casas com Estrelas de Davi. E lembraria com nostalgia dos seus “bons” tempos.

Hitler não poderia disfarçar um toque de inveja. Seus soldados na Segunda Guerra seguiam aquela aborrecida disciplina de aprisionar os judeus, classificá-los um por um, colocá-los num trem de carga, levá-los a um campo de concentração e fazer fila para as câmaras de gás. Campos de concentração como Auschwitz e Treblinka foram ocultos do resto do mundo até praticamente a rendição alemã. Havia nos nazistas um sutil reconhecimento de que aquilo que estavam fazendo era condenável.

Os rapazes drogados do Hamas não fizeram essa cerimônia toda no 7 de outubro. Invadiram fazendas e residências, mataram quem estava na frente, incluindo bebês, e gravaram tudo para exibir com orgulho ao resto do mundo. Em 1938, as forças de Hitler (SS, SA e Juventude Hitlerista) saíram pelas cidades alemãs quebrando vidraças de estabelecimentos que pertenciam à “raça inferior”, no que ficou conhecido como a “noite dos cristais”. Em 2023, turbas de antissemitas espalham violência pelas ruas de Londres — a cidade que Adolf Hitler jamais conseguiu conquistar.

A Alemanha felizmente mudou muito desde os tempos do nazismo. Isso fica explícito na declaração do vice-chanceler Robert Habeck sobre o ressurgimento do antissemitismo nas ruas do país.

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O jornalista de aluguel

Hoje pode parecer loucura essa histeria genocida unindo militantes gays e radicais islâmicos (que, aliás, costumam jogar gays do alto de prédios). Os espetáculos de truculência racista dos camisas-pardas hitleristas da década de 1930 também pareciam loucura para o resto do mundo. Loucura plantada e cultivada todos os dias pelos meios de comunicação da época — especialmente rádios, jornais e gigantescos comícios. O segredo estava na manipulação.

Agora temos o que os nazistas não tinham: as redes sociais, praticamente incontroláveis. Dependendo da orientação ideológica (e da pobreza de espírito), uma pessoa pode acreditar em qualquer coisa que leia ou veja no X, no Instagram, no Facebook etc. 

A atriz (e veterana militante petista) Letícia Sabatella, por exemplo, divulgou o seguinte texto na sua conta do ex-Twitter: “Uma onda de novos depoimentos de testemunhas oculares indica que Israel matou muitos de seus cidadãos no dia 7 de outubro com tanques e mísseis Hellfire, depois exibiu seus corpos como prova da selvageria do Hamas”. Sabatella foi mais concisa no Instagram: “A maior parte dos civis israelenses mortos no ataque terrorista do Hamas em 7/10/23 foi abatida por soldados israelenses”. 

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) notificou a Meta (dona do Instagram) pelo evidente e irresponsável crime de propagar fake news. Sabatella reproduziu uma “notícia” divulgada por um jornalista chamado Max Blumenthal. Pelo sobrenome, é judeu. Mas hoje Blumenthal se dedica a praticar uma abjeta fábrica de fake news e difamação antijudaica e pró-Hamas para seus 526 mil seguidores no X. Ele já contribuiu com a imprensa séria, mas hoje trabalha para outro tipo de patrões.

Max Blumenthal colabora com o conhecido site anti-Israel Al Jazeera, com sede no Catar (um dos governos mais envolvidos com o Hamas). Seu site The Grayzone é linha auxiliar de propaganda de ditaduras como a síria e a venezuelana. Ele trabalha para as agências Sputnik e RT, canais diretamente ligados ao regime de Vladimir Putin. Colabora também com a Press TV, do regime iraniano, e com a CGTN, do Partido Comunista Chinês. 

Imagem de bombardeios na Faixa de Gaza | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
‘Dilúvio de propaganda e desinformação online’

Max Blumenthal está muito longe de ser uma exceção. Artigo de Steven Lee Myers e Sheera Frenkel para o New York Times revela que “o Irã, a Rússia e, em menor grau, a China têm utilizado os meios de comunicação estatais e as maiores plataformas de redes sociais do mundo para apoiar o Hamas e minar Israel, ao mesmo tempo que denigrem o principal aliado de Israel, os Estados Unidos”.

A indústria de mentiras se estende a grupos extremistas ligados ao Irã, com base no Líbano. Síria e Iraque também se juntaram à guerra online, além de organizações terroristas, como a Al-Qaeda e Estado Islâmico. São esses os aliados da luta “anti-imperialista” que a esquerda, inclusive a brasileira, está abraçando com paixão. O clima de vale-tudo já está dando frutos: no último dia 8, a Polícia Federal prendeu dois brasileiros ligados ao Hezbollah que planejavam realizar atentados contra alvos judeus no país.

O artigo do New York Times dá uma ideia do tamanho do bombardeio de fake news: “O dilúvio de propaganda e desinformação online é maior do que qualquer coisa vista antes, de acordo com responsáveis governamentais e investigadores independentes — um reflexo da divisão geopolítica mundial. ‘Está sendo visto por milhões, centenas de milhões de pessoas em todo o mundo’, disse Rafi Mendelsohn, vice-presidente da Cyabra, uma empresa de inteligência de mídia social em Tel Aviv, ‘e está impactando a guerra de uma forma que provavelmente é tão eficaz como qualquer outra tática’. Cyabra documentou pelo menos 40 mil bots (ou contas não autênticas) on-line desde que o Hamas atacou Israel a partir de Gaza, em 7 de outubro”.

Qual é a razão para esse esforço internacional? A Rússia quer desviar a atenção do mundo do atoleiro em que se meteu na Ucrânia. A China está em guerra (fria) com os Estados Unidos. E os aiatolás iranianos não querem perder a “colônia” que implantaram em Gaza através do Hamas. Como outras ditaduras da região, o Irã não admite a existência de um país livre e democrático como Israel no Oriente Médio.

O menino de seis dedos

Um dos símbolos desse esgoto de fake news é a suposta foto de uma criança palestina nos escombros de sua casa, ao lado da sua mãe morta, fazendo um gesto simbólico para a câmera. Uma olhada mais detalhada na imagem mostra que o garotinho tem seis dedos. Ele não existe, nem sua mãe. A “foto” é uma imagem criada por inteligência artificial. 

As pessoas que engolem esse tipo de fraude acreditaram também quando a agência russa RT denunciou o bombardeio de um hospital palestino no dia 17 de outubro por um míssil israelense. E aceitaram a “informação” da agência (também russa) Sputnik de que a bomba que caiu no hospital foi fornecida pelos Estados Unidos. A inteligência israelense provou horas depois da explosão que o míssil tinha partido de uma milícia ligada ao Hamas. 

Contas no Telegram que defendiam a Rússia na invasão da Ucrânia mudaram imediatamente de foco no dia do ataque, e passaram a falar exclusivamente da “agressão israelense” contra os palestinos. Não foi à toa que turbas de antissemitas foram caçar judeus no aeroporto no Daguestão, no sul da Rússia. Os demônios estão à solta.

Solo fértil

A barragem de fake news aparentemente já havia sido planejada para ser lançada junto com o próprio ataque de 7 de outubro. Ainda segundo a matéria do New York Times, “num único dia após o início do conflito, cerca de uma em cada quatro contas no Facebook, Instagram, TikTok e postagens X sobre o conflito pareciam ser falsas, descobriu a Cyabra. Nas 24 horas após a explosão no Hospital Al-Ahli Arab, mais de uma em cada três contas que postaram sobre o assunto no X” também espalharam as fake news.

Até o dia 6 de outubro de 2023, o terrorismo era condenado pela parte civilizada do mundo, e o antissemitismo era um sentimento a ser escondido. Hoje, as portas do inferno foram abertas

Nos dias 18 e 19 de outubro, uma campanha coordenada de grupos islâmicos terroristas a serviço do Irã provocou uma onda de repostagens capaz de atingir 10 milhões de pessoas. Israel, que não estava preparado para o ataque de 7 de outubro, foi pego de surpresa por essa onda de propaganda e desinformação. Segundo o New York Times, “a guerra aumentou as preocupações em Washington e outras capitais ocidentais de que uma aliança de governos autoritários tenha conseguido fomentar sentimentos iliberais e antidemocráticos, especialmente na África, América do Sul e outras partes do mundo onde as acusações de colonialismo ou domínio americano ou ocidental encontram solo fértil”.

Solo fértil como a cabeça de Letícia Sabatella. Mas ela se arrependeu. Em “nota oficial”, a atriz se desculpou com a comunidade judaica. “Fui enganada por uma informação falsa, por uma fake news, e assumo o erro de ter compartilhado e reproduzido.” E garantiu que usa sua voz para “falar da construção de uma sociedade mais justa, com mais informação, amor e equilíbrio”.

Foi um gesto louvável de Letícia. Mas muita coisa já mudou no mundo. Até o dia 6 de outubro de 2023, o terrorismo era condenado pela parte civilizada do mundo, e o antissemitismo era um sentimento a ser escondido. Hoje, as portas do inferno foram abertas. Vai ser difícil fechá-las de novo.

Foto: Shutterstock

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10 comentários
  1. Adair Nogueira Filho
    Adair Nogueira Filho

    Grande Dagomir, na visão kardecista o Espírito criado por Deus é eterno. Chico Xavier disse que há “penitenciárias espirituais” em nosso sistema solar e que Hitler foi sentenciado a dez séculos de prisão solitária em Plutão, não há guardas, mas, cercas magnéticas o impedem de sair. Poucos o podem ver, mas, apenas para o auxiliar a evoluir. A sentença pode se estender se ele não provar o arrependimento que lhe permitirá voltar para o processo evolutivo. Deverá então reencarnar em um mundo primitivo e recomeçar sua marcha para a Luz, destino de todos os seres humanos, trilhada com mais ou menos agruras. Dagomir, que Deus o abençoe e proteja. Um grande abraço.

  2. Odilon Soares Teixeira da Silveira
    Odilon Soares Teixeira da Silveira

    Texto brilhante do Dagô;;;

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Dagomir tem excelentes textos sobre o contexto do mundo

  4. Marcos Antonio
    Marcos Antonio

    A Rússia não quer só tirar o foco da Ucrânia, Putin está seguindo a cartilha de Khrushchev, fomentar o ódio aos judeus e aos Estados Unidos em todo Oriente Médio e na própria Mídia Ocidental, a qual, desde 1960 fora inundados por agentes recrutados pela KGB, onde Putin fez sua carreira de espião. Por outro lado Rússia, China e Irã, quere impedir os Acordos de Abraão, que projeta uma “Rota da Seda” via: Índia, EAU, Arábia Saudita, Jordânia e Israel. Projeto que inclui gasodutos, oleodutos, vias férreas e Transporte Marítimo a partir de Bombaim, Índia. E há muito mais neste xadrez Geopolítico.

  5. Edilson MOREIRA DE SOUSA
    Edilson MOREIRA DE SOUSA

    Letícia Sabatela só se desculpou por uma razão: houve um possível cancelamento dela, e um possível boicote a uma peça teatral que ela vai lançar. É uma esquerdista super míope.

    1. Renato Perim
      Renato Perim

      Perfeito, Edilson, se não fosse o risco de cancelamento ela não iria se desculpar bost@ nenhuma. É uma canalha da pior espécie. Nojenta. Discordo apenas da miopia dela. É falta de vergonha só.

  6. MB
    MB

    A divulgação da publicação falsa, feira pela atriz foi muito maior e mais impactante do que suas ‘desculpas’.

  7. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    Vamos crer que a providência de Deus, pois ele está vendo tudo isso, e só nos resta rezar para que tudo seja resolvido.

  8. ROBERTO MIGUEL
    ROBERTO MIGUEL

    militantes gays e assassinos de judeus juntos não é novidade Dagomir, as abjetas SA nazistas eram comandadas por um gay assumido como grande parte de seus comandados, eram tolerados por Hitler como esses gays hoje pelo terroristas, mas lembre-se que quando Hitler não precisou mais do serviço sujo das SA caçou e condenou todos os Gays a morte ou campos de reabilitação.

  9. Emilio Sani
    Emilio Sani

    Espero que a artista aprenda com o estúpido ‘erro’, e entenda que é apenas uma vítima (por ter cabeça oca) da lavagem cerebral que sofrem ao serem promovidos a ‘ famosos’ (em geral por serem belas) pela globolixo (nem sei se ainda trabalha lá, mas isso é irrelevante

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