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Lula, Camilo Santana, ministro da Educação, e Manuel Palacios, presidente do Inep, no primeiro dia do Enem 2023 | Fotos: Luis Fortes/MEC
Edição 190

Enem se trumbica

A prova que é para avaliar estudantes do ensino médio no fundo revela o que são os tais professores independentes

Alexandre Garcia
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Abundância de preconceito, vitimismo, pregação política e ideológica de uma só corrente, de um só lado, e ausência de diversidade de ideias. Foi o que senti ao ler a primeira prova deste ano a que foram submetidos alunos do ensino médio. Os textos que escolheram para sugerir a múltipla escolha estão todos engajados naquilo que um conhecido jornalista do PCdoB qualificou de “esquerdismo anacrônico”.

Mais do que isso, fiquei assustado com a falta de clareza na prova do Enem, principalmente depois que o ministro da Educação justificou que o Ministério não tem responsabilidade pela elaboração das questões, pois foram feitas por “professores independentes”. Por isso estou assustado. Eu lecionei português no ensino médio por quatro anos e linguagem em faculdade de jornalismo por outros quatro anos. Pelas amostras que vi, eu teria sérias dificuldades em responder à múltipla escolha, por não conseguir entender o que fora proposto e o que realmente estava sendo perguntado. Nem Caetano Veloso, o autor das duas músicas sobre as quais pediam pontos comuns, foi capaz de responder sobre sua própria obra; ficou indeciso entre as opções de respostas que eram oferecidas. Nem simples nem clara a avaliação do Enem.

O tema da redação é um modelo disso: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Cruzes! O que seria isso?

Deputados e senadores aprovaram convite para o ministro da Educação, Camilo Santana, falar sobre sua responsabilidade na comissão de Educação da Câmara e na Comissão de Agricultura do Senado. A bancada do agro protestou contra a indução político-ideológica com que a agricultura foi tratada. A militância política exposta na prova é Paulo Freire posto em prática. Não preciso entrar no conteúdo dos textos escolhidos nem das respostas sugeridas para me assustar com o futuro. Se professores elaboraram essa prova, é porque eles estão se expressando, nas salas de aula, da mesma forma enrolada. E fazendo a mesma pregação. Espero que sejam apenas burocratas que trabalham fora da sala de aula. Mas, se não, fico imaginando como comunicam suas ideias aos alunos, com tanta falta de clareza, de simplicidade, com frases gigantescas, enroladas, obscuras. Neurônios caóticos. A prova que é para avaliar estudantes do ensino médio no fundo revela o que são os tais professores independentes. 

A militância política exposta na prova é Paulo Freire posto em prática | Foto: Instituto Paulo Freire

O tema da redação é um modelo disso: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Cruzes! O que seria isso? Lendo o trabalho exaustivo de muitos intérpretes, concluí que o tema seria “escreva sobre a profissional que também é dona de casa”. Pobre do aluno do curso médio que precisou descobrir o que esses “professores independentes” queriam. Os melhores exegetas e filólogos ainda não conseguiram traduzir “pragatização de seres humanos e não humanos”, que está no texto usado para propor uma das questões. Tem até mensagem de racismo numa questão sobre tecnologia. A proposta está numa charge em que um índio recomenda a um extraterrestre, diante da chegada de um astronauta “branco”: “Não confie nesse pessoal”. Em geral, o palavrório usado parece coisa de inculto querendo exibir erudição.

Winston Churchill, quando tenente de cavalaria na Índia, em 1898, formulou a receita para escrever bem e se comunicar: “Das palavras, as mais simples; das mais simples, as menores”. Suponho que discípulos de Paulo Freire nunca leram Churchill, embora ele tenha se aliado a Stalin para derrotar Hitler. Mais tarde, no Brasil, Chacrinha avisava nos auditórios: “Quem não se comunica se trumbica!”. Enfim, este Enem serve para se conhecer a que as novas gerações estão submetidas. Querem catequizar os jovens com ideias prontas, em lugar de estimular a curiosidade, a dúvida, o estudo, a pesquisa. Mas não sabem ensinar a pensar nem a se comunicar.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita à sede do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) | Foto: José Cruz/Agência Brasil

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21 comentários
  1. Julio Fressa
    Julio Fressa

    Grande artigo! Mas, Alexandre, estamos a todo vapor executando o projeto de Gramsci, “corroer as instituições por dentro”. Sabe que pesquisei Paulo Freire e, depois de ler uns 10 artigos sobre ele, ainda não entendi o que ele dizia?

  2. Marilia de Oliveira Afonso
    Marilia de Oliveira Afonso

    ABSURDO ! O ENEM virou um questionário estimulante à militância! Não discute conhecimentos, mas tratados Leninistas marxistas! Bravo Fiúza, uma voz no fim do túnel.

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    A educação nunca foi prioridade neste país.
    A manutenção do abismo intelectual do povo é muito utilizado por países dito progressistas.

  4. Sos
    Sos

    É a cara dos comunistas. Burrice!

  5. Marcelo Tavares de Souza
    Marcelo Tavares de Souza

    Horrível! Minha filha chegou em casa horrorizada com as questões do ENEM/2023: – Tava um saco, disse ela!
    Como sou ex-aluno de Universidade Federal e conhecedor da obtusa metodologia do nosso ensino superior público, a preparei para “sobreviver” ao inevitável! É um sistema educacional fadado a perpetuação do enviesamento ideológico e do analfabetismo funcional; uma estratégia de poder da esquerda.

  6. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Um comboio de parasitas fantasiados de professores. Não tem como dá certo essa mistura.

  7. Maurício Zanardes Pereira
    Maurício Zanardes Pereira

    Socorro Batman, estão emburrecendo o Brasil!!
    Que me perdoem os burros!

  8. Helder Gouveia
    Helder Gouveia

    Sempre fico intrigado com o bando de “papagaios de pirata” que aparecem atrás do mafioso que, após condenado, foi reconduzido à presidência do BRASIL pelo golpe do stf e ste.

    Do que esses papagaios estão a rir?

    Parece-me que, hoje, tudo têm que ser rediscutido pelas famílias e sociedade para recondução do país democratização e salvá-lo da ameaça de destruição de NAÇÃO como a conhecemos.
    Essa ameaça torna-se mais real diante a omissão e indiferença de parcela da população, bem como, do parlamento que deveria exercer suas prerrogativas em defesa da constituição e povo BRASILEIRO, em vez de, apropriar-se do país em proveito próprio.

  9. Udibel José da Costa
    Udibel José da Costa

    Meus amigos a coisa não é mais embaixo e sim mais em cima ou acima.
    Os poderes estão irmanados entre si, só pensam em si, só na permanência do poder a qualquer custo. Um poder executivo não faz nada sozinho, ele precisa dos outros poderes e vice e versa, mas e o povo? Bem!!!!!, poderia responder enchendo uma página, mas é necessário?

  10. Adriano Paulino Dias
    Adriano Paulino Dias

    Eu sou professor em Língua Portuguesa na EM João Bastos na cidade capixaba de Barra de São Francisco ES. Nunca vi tanto conteúdo inútil em uma, digo “prova”, do Enem.
    Mas talvez vocês não atinaram ainda por algo que, sorrateiramente vem, assim como um fermento invisível, aumentando a massa analfabeta funcional qual alastra a nação.
    Faço alusão à BNCC. O Enem já é reflexo desse veneno que desde às dose

    1. Adriano Paulino Dias
      Adriano Paulino Dias

      Continuando: … Doses em gotas , vêm matando o intelecto de uma geração.
      Peço aos nobres desta revista que façam uma matéria sobre a BNCC que, atrelada às maluquices de Paulo Freire, presta um ótimo desserviço à educação.

      1. Ricardo Contieri
        Ricardo Contieri

        Perfeito! Estamos a beira da demência mental coletiva…

  11. Ricardo Contieri
    Ricardo Contieri

    Alguém sabe onde está a lista dos nomes desses Pseudos-Professores independentes? No Brasil de hoje temos de selecionar os profissionais, sempre em duas opções, exemplo: Médicos e Médicos de Verdade, Engenheiros e Engenheiros de Verdade, Jornalistas e Jornalistas de Verdade, etc…

  12. Olívia Mattos
    Olívia Mattos

    Parabéns Alexandre Garcia! Maravilhoso seu artigo

  13. MNJM
    MNJM

    O PT é um fracasso em todos os segmentos: Cultura, Segurança Pública, Saúde , Economia …. etc, a única coisa que faz com maestria é a CORRUPÇÃO.

  14. José Tadeu de Araujo
    José Tadeu de Araujo

    Na realidade, a prova foi uma sessão de tortura. Esses tais professores independentes são como os “especialistas” que a maioria dos jornalistas gostam de citar. São como cabeça de bacalhau: devem existir mas ninguém viu.

  15. André Marco Navarro Bustos
    André Marco Navarro Bustos

    O que se pode esperar de um país que é governado por uma pessoa que sempre abominou os estudos???

  16. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    O Brasil já não tem mais jeito. Está sendo governado por pessoas que já foram contaminadas pela ideologia que agora enfiam nas próprias provas para avaliar “conhecimento” de uma nova geração. Na verdade estão avaliando o grau de dano cerebral que já conseguiram causar. A geração dos que hoje governam o país, não me refiro ao chefe supremo, mas aos milhares de burocratas que fazem rodar a máquina pública, é a primeira de umas três gerações perdidas e irrecuperáveis. Daqui, vamos para pior. Por isso, o Brasil já acabou. Foi-se, sem nunca ter sido. Pobre povo.

  17. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    É o pensamento da esquerda, deixar todos “emburrecidos” para perpetua no poder.

  18. FERNANDO
    FERNANDO

    Simples, o exame foi elaborado por gente pequena e medíocre, que têm como referência uma ideologia que não deu certo em nehum lugar no mundo, e que só aqui insistem nesse fracasso de ensino.

  19. Ana Cláudia Chaves da Silva
    Ana Cláudia Chaves da Silva

    Vexame atrás de vexame. Governo desqualificado, incompetente. A educação no Brasil, que já não era boa, agora vai ladeira abaixo.

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