O antissemitismo aumentou no Reino Unido desde o ataque do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro do ano passado. No dia 29 de janeiro, um homem empunhando uma faca ameaçou os funcionários do supermercado kosher Kay’s na Hamilton Road, distrito de Golders Green, em Londres. Ele teria entrado na loja e exigido saber a posição da equipe sobre “Israel e Palestina”.
Felizmente, a equipe da loja teve a coragem de forçá-lo a sair, usando carrinhos e vassouras para mantê-lo à distância, até que ele fosse preso. Como mostra um vídeo de parte do confronto, é possível ouvir os funcionários gritando “yesh lo sakin” (“ele tem uma faca”, em hebraico). De acordo com a polícia, “um homem de 34 anos foi preso por suspeita de posse de arma branca, danos criminais e desordem pública com agravante racial”.
Tragicamente, não foi um incidente isolado. Algumas semanas antes, três israelenses — dois homens e uma mulher — foram atacados na Leicester Square, em Londres, depois que os agressores ouviram o grupo falando hebraico. Os dois homens sofreram ferimentos na cabeça.
Também em Londres, no mês passado, um grupo de homens mascarados invadiu um evento beneficente judaico para adolescentes rebeldes. Os homens tentaram invadir o escritório da instituição em Hendon, norte de Londres, mas foram contidos pela polícia. Eles também foram filmados insultando transeuntes judeus. Aparentemente, o grupo ficou sabendo que um soldado israelense falaria com os meninos (a palestra era sobre como superar a adversidade e evitar drogas).
As estatísticas do Reino Unido sobre antissemitismo apresentam um quadro sombrio. Dados do Community Security Trust (CST), uma instituição beneficente que protege judeus britânicos, mostram um aumento de 524% nos incidentes antissemitas entre 7 de outubro e meados de dezembro do ano passado.
Se a oposição a Israel leva alguém a atacar ou incitar ataques contra judeus, essa “oposição a Israel” é apenas antissemitismo rebatizado
Incidentes antisemitas aumentam 961% no Brasil
Essa tendência não se restringe à Inglaterra. Nos Estados Unidos, a Anti-Defamation League (ADL) relatou um aumento de 337% nos incidentes antissemitas entre 7 de outubro e 11 de dezembro. A ADL também coletou dados sobre incidentes antissemitas nas semanas seguintes ao ataque do Hamas em vários países do mundo todo. Eles mostram um aumento de 738% na Austrália, 300% na Áustria, 961% no Brasil, 1.000% na França, 320% na Alemanha e 818% na Holanda. As estatísticas foram calculadas em períodos diferentes, mas todas mostram uma acentuada tendência crescente.
Ainda mais alarmante é o fato de que esse aumento do ódio antissemita vem de uma base relativamente alta. Na Inglaterra, o número de incidentes de antissemitismo está em trajetória ascendente desde pelo menos a última década, pontuado por picos acentuados sempre que o conflito envolvendo Israel e Palestina eclode.
As estatísticas americanas mostram um padrão semelhante. De acordo com a ADL, o número de incidentes antissemitas aumentou de 751 em 2013 para 3.697 em 2022.
Algumas pessoas sem dúvida vão tentar argumentar que o problema não é antissemitismo, mas o fato de que as pessoas estão frustradas com Israel ou manifestando oposição ao sionismo. Mas isso não se sustenta. Se a oposição a Israel leva alguém a atacar ou incitar ataques contra judeus, essa “oposição a Israel” é apenas antissemitismo rebatizado.
Onde está o limite?
Há uma linha clara entre a crítica a Israel e o antissemitismo. Se alguém grita “Palestina Livre” em um protesto, isso não é por si só antissemita. Segurar um cartaz com a mesma mensagem, também não. Debater o conflito Israel-Palestina, independentemente do lado em que diferentes indivíduos estejam, também não é racista.
Mas pintar “Palestina Livre” em uma área de Londres com uma grande comunidade judaica é sem dúvida antissemita. Atacar um menino judeu numa escola em Londres na tentativa de forçá-lo a gritar “Palestina Livre” é antissemita. Gritar “judeus de merda” para londrinos que levantam cartazes sobre reféns israelenses em Gaza é claramente antissemita. E, para não deixar dúvidas, entrar em um supermercado judeu empunhando uma faca e exigindo discutir Israel e Palestina é definitivamente antissemitismo.
Quem se recusa a reconhecer que o antissemitismo se tornou um problema sério, na melhor das hipóteses, perdeu a bússola moral. Na pior das hipóteses, ele próprio pode ser parte do problema.
Daniel Ben-Ami é jornalista e escritor. Ele administra o site Radicalism of Fools, que se dedica a repensar o antissemitismo, e está no Twitter/X: @danielbenami
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E ainda tem um Molusco Presidente falando ASNEIRAS…
A impressão que tenho é que estamos retrocedendo a galopes largos na evolução como civilização. Deveríamos ter aprendido com todos os erros e hoje, munidos de tamanho conhecimento e tecnologia, fazer a vida melhor para todos, independente da raça, religião, orientação sexual, se come carne ou não e por aí vai. Temo que a história se repita mas agora de uma maneira mais destruidora do que foi a aproximadamente 80 anos atrás.
Creio que estamos involuindo. Temos nos tornado pessoas piores, com toda certeza. Por onde anda a tolerância , a vontade de viver em paz e respeitando as diferenças e o contraditório ?
Infelizmente estamos involuindo. Com toda certeza estamos nos tornando pessoas bem piores…
Mundo triste este em q vivemos. Quem consegue esquecer ou fingir q nunca ouviu falar dos horrores da Segunda guerra é alguém q insiste em viver alienado.
O aumento do antissemitismo é mais um dos frutos da crise moral que vem assolando o planeta. E se alguém pensar que isto não o atinge por não ser judeu, atenção, pois qualquer tipo de preconceito na verdade é uma arma que se volta contra todos, apenas mudando de alvo em sua sanha ensandecida.