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Foto: Shutterstock
Edição 204

Quem tem medo do Grok?

Ex-namorada de Elon Musk lança o primeiro brinquedo com inteligência artificial para crianças pequenas

Dagomir Marquezi
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Grok é um brinquedo com a forma de um foguete gordinho, com grandes olhos. Ele é bem diferente de outros bonecos fofinhos: segundo descrição do Washington Post, ele é capaz de “manter conversas longas e totalmente interativas, permitindo que uma criança o veja quase como um colega ou amigo”.

É o primeiro brinquedo à base de inteligência artificial concebido para atender crianças acima de 3 anos. É apenas o pioneiro, pois aí vem uma onda de bonecos semelhantes. 

O Grok é produzido por uma startup chamada Curio. Custa US$ 99, ou aproximadamente R$ 500. Por enquanto está sendo vendido em uma versão beta, disponível em 18 países. Ele só fala inglês, mas outras línguas serão disponibilizadas com o tempo. É basicamente um minicomputador com microfone e alto-falante. Além do Grok são vendidos seus “amiguinhos” Grem e Gabbo. Todos cumprem as mesmas funções.

Grem, Grok e Gabbo, brinquedos da marca Curio à base de inteligência artificial | Foto: Divulgação/Curio

O site da Curio dá uma ideia da atuação do Grok. A criança diz (em inglês), por exemplo: “Ei, Grok, vamos imaginar nossa própria criatura mágica?”. O Grok responde, com a voz típica dos desenhos animados para crianças pequenas: “Que tal uma criatura com as asas de borboleta, cauda de pavão e a natureza gentil de um cervo? Que nome você daria?”.

Nos exemplos de perguntas apresentados pela empresa — “Hey, Grok, vamos imaginar que somos viajantes no tempo?”, “Por que alguns animais hibernam?” “Como eu posso desenhar um gatinho?” —, a resposta do brinquedo termina com outra pergunta. O objetivo é colocar a cabeça da criança para funcionar num diálogo ativo.

A voz do Grok 

A vozinha aguda de Grok pertence à cantora e compositora canadense Claire Elise Boucher, mais conhecida como Grimes. Você provavelmente nunca ouviu falar dela, mas a artista é mãe de três dos dez filhos com nome esquisito de Elon Musk: X Æ A-XII Musk, Exa Dark Sideræl Musk, e Tau Techno Mechanicus. Grimes e Elon estão numa batalha jurídica pela custódia dos três filhos, e o caso Grok parece fazer parte da guerra conjugal. Ela é investidora da Curio e virou sua porta-voz. Há uma zona de conflito entre Grimes e Elon Musk que está sendo tratada com ponderação.

Afinal, “Grok” é também é o nome de um programa de inteligência artificial “anti-woke” desenvolvido pela equipe de Musk, por enquanto disponível apenas para assinantes da rede X, ex-Twitter. O chamado xAI Grok pretende dar as respostas aos usuários “sem injetar qualquer preconceito” das patrulhas de correção política. Grimes passou à frente de Musk ao batizar seu boneco com o mesmo nome. Ao que tudo indica, temos uma sutil briga conjugal espirrando para o mundo dos negócios bilionários. Por enquanto o conflito está sendo tocado com muita diplomacia.

A tecnologia envolvendo inteligência artificial não é mais uma questão para um futuro próximo. É de agora, urgente, imediata. Quem não souber lidar com a IA vai ficar definitivamente para trás

Brinquedo sem tela

Qual é a importância do boneco Grok? O “influenciador” Jeetendr Sehdev não economizou elogios em artigo para a revista Forbes: “Grok não é só um bichinho de pelúcia, ele é o disruptor definitivo do tempo de tela, numa rebelião contra a overdose digital que zumbifica nossas crianças. Crianças com menos de 8 anos gastam em média 2 horas e 19 minutos por dia grudadas nas telas, mais do que o dobro do limite recomendado, de 1 hora. Grok não é só um brinquedo, é um grito de guerra que brada: ‘Chega de telas! Vamos brincar no mundo real!’”.

Esse diferencial é realmente importante. A criança não precisa parar o que está fazendo — desenhar, escrever, ler, brincar com outras crianças — para se comunicar com o Grok. Ela conversa com o brinquedo enquanto faz qualquer outra coisa.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Enciclopédia que fala

Quando você entrega um brinquedo que se comunica com seu filho pequeno, claro que uma das preocupações é a segurança. Pensando nisso, a empresa criou um aplicativo de acompanhamento para ser instalado nos celulares dos pais. Todos os diálogos da criança com o Grok são registrados, transcritos e enviados aos adultos. 

Os pais ainda poderão filtrar algumas palavras que não deverão ser citadas nos diálogos. No entanto, algumas ideias poderão ser reforçadas. O presidente e chefe de produção da Curio, Sam Eaton, deu um exemplo ao Washington Post: “Talvez sua família seja vegetariana ou religiosa e você queira influenciar [a conversação nesses tópicos]. Ou talvez seu filho tenha certos interesses, como dinossauros, e você queira colocar o tópico nas conversas. Eu acho que é realmente importante deixar claro aos pais que eles terão total controle sobre isso e que nós não estamos escondendo nada”. Os pais vão estabelecer inclusive o horário em que Grok vai ‘dormir’”.

A Curio garante que o boneco não sabe nada sobre “questões políticas, violência ou sexo. Grok é programado especificamente para rejeitar esse tipo de assunto”. Misha Sallee, um dos fundadores da Curio, garantiu ao jornal britânico The Times que “a partir do fato de que [o Grok] não guarda memória, ele não se torna um amigo. É mais uma enciclopédia que pode falar”.

É só o começo

O Grok é apenas o pioneiro de uma onda de grande potencial. Reportagem do jornal The Times mostra que o mercado de smart toys (“brinquedos inteligentes”) cresceu 18%, indo de cerca de US$ 12 bilhões em 2022 para quase US$ 14 bilhões em 2023, segundo cálculo do instituto Contrive Datum Insights. A projeção do mercado para 2030 é de aproximadamente US$ 37 bilhões.

A Curio é uma empresa típica da nova ecologia de negócios — Localizada em São Francisco, tem apenas quatro funcionários fixos e terceiriza a produção. Ela já está aceitando encomendas da versão beta do Grok, mas as primeiras entregas deverão acontecer no primeiro semestre de 2024. A versão definitiva para o grande público vai demorar ainda mais. A própria empresa admite que está numa fase de experiência.

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O perigo do bonequinho

A especialista em relações humanas/tecnologia Banu Kellner vê um perigo em brinquedos como o Grok: “Crianças podem formar relacionamentos profundos com objetos inanimados, como um ursinho de pelúcia”, declarou ao site Decrypt. “E agora você tem esses instrumentos que entregam exatamente o que a criança quer — porque a inteligência artificial vai funcionar muito bem para descobrir o que você quer.”

O perigo é que a criança fique tão apegada ao Grok que não se interesse por relacionamentos humanos. A conversa do bonequinho provavelmente será mais interessante do que a de qualquer amiguinho. Daí a necessidade de limitar seu uso. 

Bonecos assassinos

“Nós estamos procurando as famílias pioneiras que desejam seguir essa jornada com a gente”, disse o fundador Misha Sallee. “Se você está assustado, talvez seja melhor esperar um pouco.”

Existe motivo para se assustar? Afinal, toda a discussão sobre a inteligência artificial apareceu no Brasil com a marca do medo e a lembrança dos robôs de olhos vermelhos do filme — de ficção — O Exterminador do Futuro.

Nesse caso, a paranoia com o Grok tem dois modelos como inspiração. Um é o Chucky, da série Brinquedo Assassino, o pioneiro, criado em 1988. Mas é preciso lembrar que, na sua versão original, Chucky era apenas um boneco com algumas frases gravadas que se repetiam aleatoriamente. O que o transformou num assassino foi o fato de ter incorporado o espírito maligno de um bandido.

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Mais recentemente, Chucky perdeu o trono para M3GAN (sigla de “Model 3 Generative ANdroid”), de 2022. Esta, sim, uma boneca que funciona à base de inteligência artificial e que se torna completamente maluca. O sucesso foi grande, e a M3GAN 2.0 já está anunciada para o ano que vem.

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De volta à realidade

A tecnologia envolvendo inteligência artificial não é mais uma questão para um futuro próximo. É de agora, urgente, imediata. Quem não souber lidar com a IA vai ficar definitivamente para trás. 

Um brinquedo como o Grok, como a própria fabricante reconhece, ainda está em fase de desenvolvimento, e seu comportamento precisa ser vigiado. Mas é preciso ver o outro lado. 

Uma criança de 3 anos que entra em contato com o boneco aprende naturalmente o princípio básico da IA. Já cresce com esse poderoso instrumento que, obrigatoriamente, mesmo que seus pais não queiram, vai entrar na sua vida.

Um exemplo: bebês de hoje podem ser monitorados pelo Cappella, um aplicativo que organiza os horários e interpreta as mensagens ocultas no choro da criança. Antes mesmo de aprender a falar, esses bebês já estão usando a inteligência artificial.


@dagomir
dagomirmarquezi.com

Leia também “A política de encarceramento de Bukele vence as eleições”

3 comentários
  1. Fernando S
    Fernando S

    É próprio para essa nova geração Woke.
    Terceirização, para empresa que produz o brinquedo e seus “parceiros” da política de privacidade, da educação direcionada dos seus filhos.
    Quando “acordarem” já terão perdido os filhos.
    Fim da família e amigos de verdade de carne e osso.
    Se bem que essa geração woke acho que quer isso mesmo.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Tem uma professora do estado do Rio Grande do Norte que já inventou um bonequinho IA pra ensinar às criancinhas a mentir e roubar, o nome dele é Woke Gópi

  3. Joao Pita Canettieri
    Joao Pita Canettieri

    *Revista Oeste – Edição 204* *Parabéns e não abandonem o Brasil* DAGO ícone do jornalismo brasileiro.

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