Grok é um brinquedo com a forma de um foguete gordinho, com grandes olhos. Ele é bem diferente de outros bonecos fofinhos: segundo descrição do Washington Post, ele é capaz de “manter conversas longas e totalmente interativas, permitindo que uma criança o veja quase como um colega ou amigo”.
É o primeiro brinquedo à base de inteligência artificial concebido para atender crianças acima de 3 anos. É apenas o pioneiro, pois aí vem uma onda de bonecos semelhantes.
O Grok é produzido por uma startup chamada Curio. Custa US$ 99, ou aproximadamente R$ 500. Por enquanto está sendo vendido em uma versão beta, disponível em 18 países. Ele só fala inglês, mas outras línguas serão disponibilizadas com o tempo. É basicamente um minicomputador com microfone e alto-falante. Além do Grok são vendidos seus “amiguinhos” Grem e Gabbo. Todos cumprem as mesmas funções.
O site da Curio dá uma ideia da atuação do Grok. A criança diz (em inglês), por exemplo: “Ei, Grok, vamos imaginar nossa própria criatura mágica?”. O Grok responde, com a voz típica dos desenhos animados para crianças pequenas: “Que tal uma criatura com as asas de borboleta, cauda de pavão e a natureza gentil de um cervo? Que nome você daria?”.
Nos exemplos de perguntas apresentados pela empresa — “Hey, Grok, vamos imaginar que somos viajantes no tempo?”, “Por que alguns animais hibernam?” “Como eu posso desenhar um gatinho?” —, a resposta do brinquedo termina com outra pergunta. O objetivo é colocar a cabeça da criança para funcionar num diálogo ativo.
A voz do Grok
A vozinha aguda de Grok pertence à cantora e compositora canadense Claire Elise Boucher, mais conhecida como Grimes. Você provavelmente nunca ouviu falar dela, mas a artista é mãe de três dos dez filhos com nome esquisito de Elon Musk: X Æ A-XII Musk, Exa Dark Sideræl Musk, e Tau Techno Mechanicus. Grimes e Elon estão numa batalha jurídica pela custódia dos três filhos, e o caso Grok parece fazer parte da guerra conjugal. Ela é investidora da Curio e virou sua porta-voz. Há uma zona de conflito entre Grimes e Elon Musk que está sendo tratada com ponderação.
Afinal, “Grok” é também é o nome de um programa de inteligência artificial “anti-woke” desenvolvido pela equipe de Musk, por enquanto disponível apenas para assinantes da rede X, ex-Twitter. O chamado xAI Grok pretende dar as respostas aos usuários “sem injetar qualquer preconceito” das patrulhas de correção política. Grimes passou à frente de Musk ao batizar seu boneco com o mesmo nome. Ao que tudo indica, temos uma sutil briga conjugal espirrando para o mundo dos negócios bilionários. Por enquanto o conflito está sendo tocado com muita diplomacia.
A tecnologia envolvendo inteligência artificial não é mais uma questão para um futuro próximo. É de agora, urgente, imediata. Quem não souber lidar com a IA vai ficar definitivamente para trás
Brinquedo sem tela
Qual é a importância do boneco Grok? O “influenciador” Jeetendr Sehdev não economizou elogios em artigo para a revista Forbes: “Grok não é só um bichinho de pelúcia, ele é o disruptor definitivo do tempo de tela, numa rebelião contra a overdose digital que zumbifica nossas crianças. Crianças com menos de 8 anos gastam em média 2 horas e 19 minutos por dia grudadas nas telas, mais do que o dobro do limite recomendado, de 1 hora. Grok não é só um brinquedo, é um grito de guerra que brada: ‘Chega de telas! Vamos brincar no mundo real!’”.
Esse diferencial é realmente importante. A criança não precisa parar o que está fazendo — desenhar, escrever, ler, brincar com outras crianças — para se comunicar com o Grok. Ela conversa com o brinquedo enquanto faz qualquer outra coisa.
Enciclopédia que fala
Quando você entrega um brinquedo que se comunica com seu filho pequeno, claro que uma das preocupações é a segurança. Pensando nisso, a empresa criou um aplicativo de acompanhamento para ser instalado nos celulares dos pais. Todos os diálogos da criança com o Grok são registrados, transcritos e enviados aos adultos.
Os pais ainda poderão filtrar algumas palavras que não deverão ser citadas nos diálogos. No entanto, algumas ideias poderão ser reforçadas. O presidente e chefe de produção da Curio, Sam Eaton, deu um exemplo ao Washington Post: “Talvez sua família seja vegetariana ou religiosa e você queira influenciar [a conversação nesses tópicos]. Ou talvez seu filho tenha certos interesses, como dinossauros, e você queira colocar o tópico nas conversas. Eu acho que é realmente importante deixar claro aos pais que eles terão total controle sobre isso e que nós não estamos escondendo nada”. Os pais vão estabelecer inclusive o horário em que Grok vai ‘dormir’”.
A Curio garante que o boneco não sabe nada sobre “questões políticas, violência ou sexo. Grok é programado especificamente para rejeitar esse tipo de assunto”. Misha Sallee, um dos fundadores da Curio, garantiu ao jornal britânico The Times que “a partir do fato de que [o Grok] não guarda memória, ele não se torna um amigo. É mais uma enciclopédia que pode falar”.
É só o começo
O Grok é apenas o pioneiro de uma onda de grande potencial. Reportagem do jornal The Times mostra que o mercado de smart toys (“brinquedos inteligentes”) cresceu 18%, indo de cerca de US$ 12 bilhões em 2022 para quase US$ 14 bilhões em 2023, segundo cálculo do instituto Contrive Datum Insights. A projeção do mercado para 2030 é de aproximadamente US$ 37 bilhões.
A Curio é uma empresa típica da nova ecologia de negócios — Localizada em São Francisco, tem apenas quatro funcionários fixos e terceiriza a produção. Ela já está aceitando encomendas da versão beta do Grok, mas as primeiras entregas deverão acontecer no primeiro semestre de 2024. A versão definitiva para o grande público vai demorar ainda mais. A própria empresa admite que está numa fase de experiência.
O perigo do bonequinho
A especialista em relações humanas/tecnologia Banu Kellner vê um perigo em brinquedos como o Grok: “Crianças podem formar relacionamentos profundos com objetos inanimados, como um ursinho de pelúcia”, declarou ao site Decrypt. “E agora você tem esses instrumentos que entregam exatamente o que a criança quer — porque a inteligência artificial vai funcionar muito bem para descobrir o que você quer.”
O perigo é que a criança fique tão apegada ao Grok que não se interesse por relacionamentos humanos. A conversa do bonequinho provavelmente será mais interessante do que a de qualquer amiguinho. Daí a necessidade de limitar seu uso.
Bonecos assassinos
“Nós estamos procurando as famílias pioneiras que desejam seguir essa jornada com a gente”, disse o fundador Misha Sallee. “Se você está assustado, talvez seja melhor esperar um pouco.”
Existe motivo para se assustar? Afinal, toda a discussão sobre a inteligência artificial apareceu no Brasil com a marca do medo e a lembrança dos robôs de olhos vermelhos do filme — de ficção — O Exterminador do Futuro.
Nesse caso, a paranoia com o Grok tem dois modelos como inspiração. Um é o Chucky, da série Brinquedo Assassino, o pioneiro, criado em 1988. Mas é preciso lembrar que, na sua versão original, Chucky era apenas um boneco com algumas frases gravadas que se repetiam aleatoriamente. O que o transformou num assassino foi o fato de ter incorporado o espírito maligno de um bandido.
Mais recentemente, Chucky perdeu o trono para M3GAN (sigla de “Model 3 Generative ANdroid”), de 2022. Esta, sim, uma boneca que funciona à base de inteligência artificial e que se torna completamente maluca. O sucesso foi grande, e a M3GAN 2.0 já está anunciada para o ano que vem.
De volta à realidade
A tecnologia envolvendo inteligência artificial não é mais uma questão para um futuro próximo. É de agora, urgente, imediata. Quem não souber lidar com a IA vai ficar definitivamente para trás.
Um brinquedo como o Grok, como a própria fabricante reconhece, ainda está em fase de desenvolvimento, e seu comportamento precisa ser vigiado. Mas é preciso ver o outro lado.
Uma criança de 3 anos que entra em contato com o boneco aprende naturalmente o princípio básico da IA. Já cresce com esse poderoso instrumento que, obrigatoriamente, mesmo que seus pais não queiram, vai entrar na sua vida.
Um exemplo: bebês de hoje podem ser monitorados pelo Cappella, um aplicativo que organiza os horários e interpreta as mensagens ocultas no choro da criança. Antes mesmo de aprender a falar, esses bebês já estão usando a inteligência artificial.
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É próprio para essa nova geração Woke.
Terceirização, para empresa que produz o brinquedo e seus “parceiros” da política de privacidade, da educação direcionada dos seus filhos.
Quando “acordarem” já terão perdido os filhos.
Fim da família e amigos de verdade de carne e osso.
Se bem que essa geração woke acho que quer isso mesmo.
Tem uma professora do estado do Rio Grande do Norte que já inventou um bonequinho IA pra ensinar às criancinhas a mentir e roubar, o nome dele é Woke Gópi
*Revista Oeste – Edição 204* *Parabéns e não abandonem o Brasil* DAGO ícone do jornalismo brasileiro.