A comparação feita pelo presidente Lula entre a guerra de Israel em Gaza e o Holocausto nazista dos judeus foi intelectualmente preguiçosa e moralmente obtusa. Não se sabe ao certo se ele acredita no que afirmou: as crenças dos políticos costumam ser mais uma questão do que consideram ser interessante no momento do que uma convicção profunda. Pessoalmente, presumo que ele não acredite de fato no que declarou, porque, se acreditasse, com certeza teria sido sua obrigação romper todos os laços com Israel. Suponho que ele tenha dito isso apenas para cair nas graças, por um momento, de boa parte da intelectualidade esquerdista do mundo e, talvez, para sentir por um instante o calor delicioso da superioridade moral, como o que vem com o primeiro copo de cachaça. Particularmente, ele não tinha nada a perder com esse rompante.
Tornou-se lugar-comum no mundo todo dizer que a reação de Israel ao que o Hamas fez em outubro do ano passado foi “desproporcional”. A proporcionalidade em questões políticas é algo difícil de avaliar, uma vez que ela é inerentemente inexata e exige conhecimento do futuro e do passado; mas vamos fazer um pequeno experimento.
Vamos imaginar que a Argentina tivesse um governo cujo objetivo declarado, por muito tempo, fosse “varrer o Brasil do mapa”. Vamos supor também que certo dia ela enviasse pessoas para o outro lado da fronteira para matar 26.948 brasileiros a sangue frio e fazer outros 5.867 de reféns (vou omitir o estupro desse experimento). Utilizei os tamanhos relativos das populações brasileira e israelense nos meus cálculos, o tipo de proporcionalidade que é fácil de estimar, partindo do pressuposto de que os números normalmente aceitos para as populações são precisos.
Qual seria uma reação “proporcional” do Brasil a esses eventos? Eu diria que o Brasil teria o direito, e até mesmo o dever, de derrubar, se pudesse, o governo argentino por trás dos ataques. Acho que isso é óbvio, e seria óbvio mesmo que a Argentina tivesse algum motivo para reclamar do Brasil.
Mas o presidente está longe de ser a única pessoa que, preguiçosa ou maliciosamente, equipara a condução da guerra atual com o Holocausto. Na verdade, há pouquíssimas comparações legítimas do Holocausto com qualquer coisa — graças a Deus. O genocídio armênio e o que aconteceu em Ruanda podem ser razoavelmente comparados a ele, e talvez o que aconteceu no Camboja sob Pol Pot. Alguns dizem que o Holomodor ucraniano, a fome causada pelo terror de Stalin na Ucrânia, foi semelhante, mas isso é controverso.
Infelizmente, o que é conhecido hoje como reductio ad Hitlerum é comum no discurso intelectual e político de muitos países. Basta passar o pincel hitleriano para silenciar ou constranger seus oponentes. Diferenças de contexto e diferenças de escala não importam. Um passo no suposto terreno pantanoso hitleriano, e você mesmo se torna um monstro da moral.
A liberdade de não se manifestar
O presidente Putin usa o suposto nazismo da Ucrânia como justificativa para sua invasão. Ele afirma que a Ucrânia tem muitos simpatizantes nazistas organizados, esquecendo que seu próprio país tem muito mais nazistas e que o líder da Ucrânia na verdade é judeu, o que não é a primeira característica que se procura em um regime nazista. (Para ser justo com o Putin, ele próprio não parece ser antissemita, algo que não deve ser considerado natural entre a população russa). Curiosamente, porém, em sua recente entrevista para Tucker Carlson, o apologista americano da Rússia, ele pareceu culpar os poloneses por terem provocado os nazistas a invadir a Polônia, o que, claro, foi exatamente o que os nazistas afirmaram como pretexto para a invasão. Na verdade, Putin estava repetindo a propaganda nazista, justificando assim, de modo implícito, a invasão soviética quase simultânea da Polônia.
Não é incomum que os antinazistas e antifascistas enxerguem o nazismo e o fascismo em todos os lugares, menos em si mesmos. Seus métodos, suas formas de pensar e até mesmo a maneira como se vestem podem ser os mesmos, mas eles nunca reconhecem a semelhança.
A polícia não fez nada contra a multidão antifascista porque temia que, se fizesse, seria acusada de fascista
Não faz muito tempo, em Londres, eu estava indo a um jantar quando passei por uma manifestação antifascista do lado de fora de um salão público no qual uma palestrante que os antifascistas desaprovavam (não que ela fosse fascista) estava discursando em um evento. Eu não disse nada ao passar, mas de repente, atrás de mim, ouvi alguém exclamar: “Fascista!”.
Virei para dar uma olhada nessa pessoa terrível, o fascista, procurando alguém com rosto e expressão brutais, vestido de preto, mas só vi manifestantes que correspondiam, mesmo que pouco, a essa descrição. Então percebi que eu era o fascista porque estava usando um paletó de tweed e uma gravata. Qualquer pessoa vestida com essas roupas só pode ser fascista!
Em outra ocasião, um grupo de antifascistas impediu uma palestrante de falar em um festival literário; sua palestra viria depois da minha. A polícia afirmou que não poderia garantir sua segurança e aconselhou que ela fosse embora, o que aconteceu. Os antifascistas, vestindo preto e, em sua maioria, mascarados, gritaram sem parar; e alguns deles tentaram invadir o prédio. Acho que, se eles tivessem entrado e chegado até a palestrante, sua vida e, com certeza, sua segurança poderiam correr perigo.
A polícia não fez nada contra a multidão antifascista porque temia que, se fizesse, seria acusada de fascista. Esse foi um ótimo exemplo da percepção da realidade espelhada que muitas pessoas, inclusive o presidente Lula, parecem ter. Assim, um país que se defende (bem ou mal, não estou qualificado para dizer) de um movimento abertamente genocida, um dos poucos no mundo, é acusado de genocídio. Um sátiro dificilmente conseguiria inventar isso e, se conseguisse, não seria engraçado.
Obviamente, sou a favor da liberdade de expressão. Mas o presidente Lula não foi questionado, não havia necessidade de ele dizer absolutamente nada. Às vezes, a liberdade de não se expressar é mais preciosa do que a liberdade de expressão.
Theodore Dalrymple é pseudônimo do psiquiatra britânico Anthony Daniels. É autor de mais de 30 livros sobre os mais diversos temas. Entre seus clássicos (publicados no Brasil pela editora É Realizações) estão A Vida na Sarjeta, Nossa Cultura… Ou o que Restou Dela e A Faca Entrou. É um nome de destaque global do pensamento conservador contemporâneo. Colabora com frequência para reconhecidos veículos de imprensa, como The New Criterion, The Spectator e City Journal.
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Fascismo, Nazismo, Comunismo, só muda os nomes mas o objetivo dos três são os mesmos, dominação através da opressão sem nenhuma compaixão. O Lula é esses três sistemas, mais o terrorismo
Muito boa a comparação do que seria Brasil x Argentino, pelo parâmetro Israel x Hamas.
Lula acredita que ainda está fazendo discursos em cima de carros de som na porta de fábricas do ABC nos anos 1970.
É uma mente doentia a serviço do nada.
Bem interessante, é feita uma autópsia das narrativas da esquerda, que continua como os mesmos métodos e narrativas de sempre!
Acuse-os do que você é !
Condene-os pelo que você faz !
Deixar o povo morrer de dengue?
Se fosse com Bolsonaro, com certeza, o rebanho esquizofrênico diria :
-Negacionista !
-Genocida !
-Impeachment !
Alexandre de Moraes daria 48 horas para o presidente explicar POR QUÊ NÃO COMPROU AINDA AS VACINAS ?
Mas para nosso pesar, não é Bolsonaro !