O retrato de Florence Thompson, uma trabalhadora agrícola, com três crianças encolhidas ao redor relata uma dura realidade diante da riqueza de detalhes capturada pelo aguçado senso de composição da fotógrafa americana Dorothea Lange. Desde o olhar distante, o rosto cansado, preocupado e, ao mesmo tempo, belo de Thompson até as roupas desgastadas e os cabelos desgrenhados das crianças, tudo entrega a situação de pobreza em que estava a família. A imagem, chamada de Migrant Mother (“Mãe Migrante”), passou a ser símbolo da difícil situação dos trabalhadores rurais durante a Grande Depressão, nos Estados Unidos.
Lange tirou seis fotos, mas Migrant Mother ganhou rápida notoriedade, foi amplamente divulgada em jornais e revistas da época e tornou-se uma das mais conhecidas do século 20. Está entre as “100 fotografias: as imagens mais influentes de todos os tempos”, da revista Time.
Em 1936, depois do fim da colheita de beterraba, Thompson percorreu 670 quilômetros de Imperial Valley a Watsonville, na Califórnia, com o namorado e sete filhos, na esperança de encontrar trabalho. Por um acaso do destino, seu carro quebrou e foi rebocado até o acampamento de catadores de ervilhas de Nipomo. Seu namorado foi com os dois meninos mais velhos até a cidade mais próxima para reparar o carro, e Florence permaneceu no acampamento, onde encontrou Dorothea Lange. Florence permitiu que Lange fotografasse sua família depois de ser convencida de que isso poderia ajudar a situação dos trabalhadores pobres. “Ela sempre quis uma vida melhor”, disse sua filha mais tarde.
Dorothea Lange estava em missão pelo programa do governo americano Farm Security Administration (FSA), criado durante a Grande Depressão para fornecer ajuda aos agricultores pobres. Os fotógrafos da FSA documentaram as condições que os americanos enfrentaram durante a recessão econômica. Lange concentrou-se nos trabalhadores agrícolas desempregados e deslocados do oeste e do sudoeste dos Estados Unidos.
Migrant Mother ajudou Lange a ganhar fama, uma bolsa Guggenheim e um lugar permanente no cânone dos fotógrafos americanos. Thompson, por sua vez, não lucrou nada com a foto.
Florence Thompson sofreu um derrame em 1983. Seus filhos, incapazes de pagar o hospital, usaram sua identidade como “Mãe Migrante” para arrecadar US$ 15 mil em doações. O dinheiro ajudou apenas a custear os gastos médicos. Ela morreu logo depois.
Alguns anos antes, um repórter havia perguntado a Thompson sobre a vida que ela levava com a família. Ela falou claramente, sem sentimentalismo: “Nós simplesmente existimos. De qualquer forma, nós vivemos. Sobrevivemos, digamos assim”.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Linda foto, que fala por si! Como diz o ditado: uma foto fala mais que mil palavras! Esse é um exemplo!
Interessante.
Daniela você expande nosso conhecimento através da arte. Muito obrigado. Muito obrigado a revista oeste
Interessante a matéria sobre imagem da semana. Sou Fotógrafa e há um mundo de lindas histórias retratadas e imortalizadas pela fotografia. Parabéns.
É a mesma história de sempre: o fotógrafo fica famoso e o fotografado continua na miséria.