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Pastor Silas Malafaia | Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação
Edição 209

Silas Malafaia, pastor: ‘Alexandre de Moraes trouxe de volta o crime de opinião’

O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo comentou desde as acusações de homofobia até os surtos de autoritarismo do Supremo Tribunal Federal

Branca Nunes
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Num momento histórico em que opinião pode dar cadeia, políticos temem exercer seus direitos constitucionais, a liberdade de expressão é censurada e o medo parece epidêmico, o pastor Silas Malafaia faz parte do diminuto grupo de brasileiros que dizem o que pensam. Na manifestação a favor da restauração democrática ocorrida em 25 de fevereiro na Avenida Paulista, ele não se limitou ao papel de principal organizador. Também foi o mais contundente e audacioso dos oradores. 

“Fiz uma retrospectiva histórica dos fatos para mostrar que existem hoje no Brasil dois pesos e duas medidas”, diz Malafaia. “Quando é a esquerda, é manifestação. Quando é a direita, é ato antidemocrático.”

Filho de pastor, sobrinho de pastor, pai e tio de pastores, ele integra a segunda geração de uma família que reúne mais de 300 evangélicos. Apesar da intimidade com a Bíblia, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo garante que jamais ampara nas escrituras seus pronunciamentos políticos. “A única coisa que falo no final ou no começo das minhas falas é ‘Deus abençoe você, sua família, Deus abençoe o Brasil’, mas isso porque eu realmente creio”, diz. “Não uso um discurso espiritual, religioso, quando estou no debate político. E é por isso que eles ficam loucos. Quem quer me combater tem de agir no campo das ideias.”

Apesar da proximidade com a política, prefere atuar nos bastidores. “Sou muito mais importante influenciando do que sendo”, acredita. “Mas ajudo a eleger um monte de deputados.”

Nesta entrevista, Malafaia comenta desde acusações de homofobia até o apoio a Lula em eleições anteriores, passando pelo 8 de janeiro, pelas próximas eleições municipais e pelos surtos de autoritarismo do Supremo Tribunal Federal. “Não tenho medo de ser preso”, garante. “Existe um vídeo meu gravado, que está nas mãos de algumas pessoas. Se me prenderem, o vídeo será divulgado. E isso não é brincadeira.”

O pastor Silas Malafaia faz parte do diminuto grupo de brasileiros que dizem o que pensam | Foto: Marcos Corrêa/PR

Confira os principais trechos da entrevista.

O discurso do senhor na Avenida Paulista durante a manifestação pela democracia foi considerado bastante contundente. O senhor tem medo?

Nunca tive medo de questionar o Supremo Tribunal Federal ou o governo. Em 2021, quando Alexandre de Moraes começou a se intrometer no Executivo, passei a chamá-lo de “Ditador da Toga”. O medo é o maior sinal de que estamos vivendo uma ditadura do Judiciário. Mas não do Judiciário como um todo, porque isso é uma ofensa à instituição. De um membro do Judiciário. Como as pessoas podem ter medo de falar numa democracia? Isso não existe. Alexandre de Moraes trouxe de volta o crime de opinião. Isso é coisa de ditador, de regime de exceção. A esquerda sempre falou “fora, FHC”, “fora, Collor”, “fora, Temer”, “fora, STF”, “fora, Bolsonaro”, e não tinha nenhum problema. Daí a Globo inventa, junto com a esquerda, a narrativa dos atos antidemocráticos. Inventaram isso para colocar medo nas pessoas. O que eu fiz na Avenida Paulista foi citar a cronologia dos fatos para mostrar os dois pesos e as duas medidas: quando a esquerda depreda, quando a esquerda fala, é considerado manifestação. Quando é o outro lado, chamam de ato antidemocrático. Nós estamos vivendo uma pseudodemocracia. 

O senhor tem receio de ser preso?

Não tenho medo de ser preso. Existe um vídeo meu gravado, que está nas mãos de algumas pessoas. Se me prenderem, o vídeo será divulgado. E isso não é brincadeira. Eu estou preparado. Pensam que vão me prender por crime de opinião? Não vão. E outra: vão me prender por quê? Sempre amparo minhas opiniões em artigos da Constituição. Depois do meu discurso na Paulista, disseram que eu era corajoso. Não sou corajoso. Numa democracia, tenho o direito de falar. Você pensa que foi bonito o povo não levar faixa no dia da manifestação? Eu que sugeri isso para Bolsonaro. E por quê? Porque, se alguém levantasse uma faixa com frases como “Abaixo o STF” ou “Militares na rua”, iriam dizer que era ato antidemocrático. Agora me diga em qual nação democrática você precisa pedir para o povo não levar faixas às ruas para expressarem suas opiniões? Estamos vivendo o crime de opinião.

“Nunca tive medo de questionar o Supremo Tribunal Federal ou o governo” | Foto: Antonio Augusto/SCO/STF
O TSE acaba de criar o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia. Teoricamente, ele servirá para impedir a proliferação de fake news nas redes sociais. O senhor considera esse novo órgão necessário?

O que eles querem fazer precisa ser chamado de censura. É uma vergonha, um absurdo. Que Poder Judiciário é esse que pode decidir o que pode ou não ser dito? Que conversa é essa? Isso é tratar os cidadãos como imbecis e idiotas. É um preconceito contra os mais pobres. Eles pensam que o povo é burro, é idiota, não tem capacidade para decidir o que é certo ou errado. Então quem tem essa capacidade? A Anatel? O TSE? Hoje, se alguém solta uma fake news, rapidamente aparece alguém dizendo que aquilo é mentira. A imprensa tem esse papel de esclarecer o que é ou não verdade, não o governo. Muito menos esse centro ou o Tribunal Superior Eleitoral, que virou um partido político e apoia um dos lados. Como disse Jorge Pontual, correspondente internacional da Globo, numa nação livre, autoridades não determinam o que é fake news ou não. É o povo que diz, as pessoas que aceitam ou não. 

Como o senhor acha que serão as próximas eleições municipais? Haverá interferência do TSE?

Com a mudança da presidência do TSE, que vai acontecer antes das eleições, acho que a coisa muda um pouco. Nas últimas eleições presidenciais, Alexandre de Moraes, ao arrepio da lei eleitoral, recebeu todo o poder para censurar as redes ou quem ele quisesse. Mas acredito que o próximo presidente não entrará nesse jogo. Embora eles estejam tentando deixar uma camisa de força para a próxima gestão, isso pode ser derrubado.

Por que o senhor acha que nenhum ministro tem coragem de contestar as decisões de Alexandre de Moraes?

Lamento que Luís Roberto Barroso e, principalmente, Alexandre de Moraes estejam levando o STF ao fundo do poço da opinião pública brasileira. E isso acontece também porque os outros ministros não se posicionam, não confrontam. Então eles fazem o que querem, falam o que querem. Viraram artistas midiáticos. Em que Suprema Corte de nações democráticas os ministros são midiáticos? Em qualquer país sério eles são discretíssimos. E por quê? Para não serem parciais, porque uma palavra, uma frase, pode ter conotação de parcialidade. Eles precisam ser terrivelmente imparciais, porque a Justiça precisa ser cega. A daqui tem olhos — e bem vivos. E quero deixar claro: todas as vezes que eu falar de Justiça, não estou falando do Poder Judiciário como um todo. Estou falando do ativismo do STF.

“Lamento que Luís Roberto Barroso e, principalmente, Alexandre de Moraes estejam levando o STF ao fundo do poço da opinião pública brasileira” | Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF
Como parar esse ativismo?

Primeiro: o supremo poder de uma nação é o povo. O poder emana do povo. Em 2013, por causa de 20 centavos na passagem do transporte público, o povo foi para a rua. Sem ninguém liderar, pararam as cidades. Só quem pode parar isso que está acontecendo hoje é o povo. E não é quebrando nada, basta pressionar. Parece que estou vendo o presidente do Senado ligar para o presidente do STF dizendo: “Dá um jeito aí, amigo. É melhor vocês retrocederem, ou vou ter que abrir processo de impeachment contra vocês. O povo está aqui na minha porta”. Quando o povo não aguentar mais ver tanta injustiça e maldade e for para a rua, o Senado — porque ele depende do voto — rapidinho se coça e vai pressionar o STF. Fora disso, só Deus, o supremo poder do universo. 

“A partir de 2018, com a chegada de Bolsonaro ao poder, começou uma perseguição implacável só vista na época da ditadura militar. A Globo passou quatro anos dizendo que Bolsonaro iria dar um golpe”

O senhor apoiou Lula em 1989 e 2002. De lá para cá, o que mudou?

Em 1989, apoiei Leonel Brizola. Como o Brizola não foi para o segundo turno, apoiei o Lula. No que eu acreditava: esse cara veio do Nordeste, sabe o que é pobreza, vem de baixo, acho que ele pode ajudar o país. Fui inclusive o representante evangélico no Conselhão de Lula. Mas comecei a ver a diferença entre o discurso e a prática e me demiti desse conselho. Isso mostra que tenho opinião e sei analisar fatos. Apoiei Lula também em 2002, mais de 20 anos atrás. Em 2006 não apoiei ninguém. Em 2010, apoiei José Serra, porque não havia opção. Em 2014, Aécio, porque também não havia opção. Sou coerente com meus princípios. Minhas crenças e meus valores são inegociáveis.

“Quando apoiei o Lula, no que eu acreditava: ‘Esse cara veio do Nordeste, sabe o que é pobreza, vem de baixo, acho que ele pode ajudar o país'” | Foto: Reprodução/Redes Sociais
O senhor já foi acusado algumas vezes de homofobia. O senhor é homofóbico?

Separo o ativismo gay dos homossexuais. O primeiro é ideológico. Rotular alguém é a maneira mais covarde de não ir ao debate: “Ele é homofóbico”. Pronto, acabou, não preciso debater com ele. O que é homofobia? Uma aversão à pessoa, uma vontade que se tem de bater, de maltratar, até de matar. Não desejo nada disso. Tenho uma editora na qual trabalham vários homossexuais. Nunca demiti ninguém por causa disso. Agora, ideologicamente é outra história. Por acaso aqueles que discordam das nossas crenças são chamados de evangelicofóbicos? Isso é conversa de quem não tem argumento. Sou homofóbico por quê? Já maltratei algum homossexual na minha igreja? Já xinguei? Jamais. Discuto com eles no campo das ideias. 

O senhor acompanha a política brasileira de perto há vários anos. O que mudou nesse tempo todo?

Com 10 anos de idade meu pai me ensinou a ler jornal. Ele dizia: “Nunca acredite na manchete, é no miolo ou no final que está a verdade”. Hoje tenho 65 anos. Ou seja, faz 55 que acompanho a política brasileira. O que verifico? Tivemos o período da ditadura militar — e não venha dizer para mim que não é ditadura, porque, quando a imprensa é censurada, quando se prendem pessoas por opinião, é ditadura. Depois tivemos a abertura política e, em seguida, um tempo em que vivemos a completa liberdade de opinião. A esquerda fazia manifestação, travava avenidas, invadiram o Congresso, tentaram invadir o STF. E sabe como eles foram chamados? De manifestantes. Era um período em que ninguém tinha medo de emitir opinião, cada um falava o que queria. O José Dirceu disse que era preciso tirar poder do STF e ninguém fez nada. O Wadih Damus falou que o STF tinha que ser fechado e ninguém fez nada. O PSDB de Alexandre de Moraes questionou o resultado das eleições, pediu investigações, e eles jamais foram chamados de golpistas. A partir de 2018, com a chegada de Bolsonaro ao poder, começou uma perseguição implacável só vista na época da ditadura militar. A Globo passou quatro anos dizendo que Bolsonaro iria dar um golpe. 

Depois das manifestações de 25 de fevereiro deste ano, o senhor criticou Romeu Zema, governador de Minas Gerais, e o senador Ronaldo Caiado. Quem seria a melhor opção para disputar a Presidência caso as eleições fossem hoje? 

Bolsonaro não sendo candidato, a primeira opção é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Disparado. A segunda, Michelle Bolsonaro. Quando foi que Romeu Zema ou Ronaldo Caiado criticaram essa perseguição a Bolsonaro? Nunca. Eles só estão de olho no poder. Quando comecei a minha fala na Avenida Paulista, Zema, Caiado e Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, desceram da parte alta do trio. Por quê? Estavam com medo da minha fala? Fizeram isso para não se comprometerem com o que eu ia falar. Isso é coisa de covarde. Eles não têm nada a ver com Bolsonaro. Estão querendo se aproveitar para ver se sobra algum espólio. Mas não vão conseguir. O povo não é burro.

O governador Tarcísio de Freitas defendeu a Operação Verão, realizada pela Polícia Militar
“Caso as eleições fossem hoje, com Bolsonaro não sendo candidato, a primeira opção é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Disparado” | Foto: Marco Galvão/Alesp

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5 comentários
  1. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Estamos vivendo uma ditadura de bandidos ladrões comunistas terroristas genocidas e analfabetos

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Parabéns Silas Malafaia, pela disposição em lutar pelo bem do país. Sobre o STF, temos que visar a mudança completa no senado em 2026.

  3. Luiz Alberto Almeida
    Luiz Alberto Almeida

    Bela entrevista, gosto do Silas pelo menos p mim ele passa sinceramente e coerência…

  4. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Silas, não concordo que você despreze e chame de covardes excelentes apoiadores de Bolsonaro e seguramente da DIREITA, Romeu Zema e Caiado. Realmente minha primeira opção caso Bolsonaro continuar inelegível até lá é Tarcisio de Freitas, mas se ele desejar ser reeleito por São Paulo, as opções Zema ou Caiado são excelentes.

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Concordo.

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