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Edição 21

As universidades e as mentes aprisionadas

Novo relatório comprova: a ideia de que existe censura nas universidades não é um mito da direita

Joanna Williams, da Spiked
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A censura no câmpus, de acordo com alguns, é apenas um mito da direita. Reivindicações de petições, protestos e boicotes à liberdade de expressão de estudantes são simplesmente um pânico moral. Nessa fantasia, a liberdade de expressão está viva e em uma universidade perto de você. Pode ser o caso, admitem esses acadêmicos e comentaristas, que a historiadora Selina Todd, de Oxford, precise ser acompanhada por um guarda de segurança nas palestras. Pode ser verdade, eles reconhecem a contragosto, que a professora de direito Rosa Freedman, da Universidade de Reading, teve a porta de seu escritório coberta de xixi. Mas esses exemplos estão fora de proporção, argumentam e, além disso, foram mal interpretados — fazer ameaças de morte e urinar nas portas são na verdade formas de liberdade de expressão, não tentativas de encerrar o debate. Ufa!

Um novo relatório do Policy Exchange ataca os negacionistas da censura. A Academic Freedom no Reino Unido vai além de uma contagem direta de petições e convites rescindidos. Em vez disso,  explora uma cultura de câmpus moldada por “amplo apoio à discriminação por motivos políticos na publicação, contratação e promoção”. Uma pesquisa encomendada pelos autores do relatório mostra que “apenas 54% dos acadêmicos disseram que se sentiriam confortáveis sentados ao lado de um conhecido apoiador do Brexit no almoço”. Apenas 37% se sentiriam confortáveis sentados ao lado de alguém que, em relação aos direitos dos transgêneros, defende pontos de vista feministas críticos de gênero. “Isso é importante, eles nos dizem, porque um clima de intolerância política ameaça a liberdade acadêmica e provavelmente resulta em autocensura”, aponta o relatório.

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Muitas vezes, aqueles que argumentam que não há crise de liberdade de expressão no câmpus veem as ameaças à liberdade acadêmica de maneira estritamente formal. De acordo com essa visão, a menos que os coordenadores das universidades — ou, melhor ainda, os ministros do governo — evitem especificamente que as palestras continuem ou os artigos sejam publicados, tudo está bem. O último relatório do Policy Exchange é útil porque mostra que as ameaças à liberdade de expressão não vêm devidamente sinalizadas. Mais frequentemente, emanam de um contexto cultural mais amplo do câmpus e envolvem a autocensura dos indivíduos, em vez de correr o risco de se tornarem alvo de petições públicas.

Professores com compromisso acadêmico foram substituídos por uma geração de docentes que se vê como instrumento para a promoção da “justiça social”

Infelizmente, os negacionistas da crise não veem nada de errado com a cultura do câmpus como ela é atualmente. Para eles, acreditar que o sexo não é atribuído no nascimento, que a Grã-Bretanha é melhor na União Europeia, que o aquecimento global é a maior ameaça que o planeta enfrenta e que o racismo estrutural é endêmico, tudo isso é simplesmente bom senso. Esses não são tópicos para debate político, mas valores que todas as pessoas decentes têm. Às vezes, esses valores são formalmente articulados em declarações de igualdade e diversidade ou esclarecidos por meio de workshops de inclusão obrigatória. Porém, com mais frequência, a suposição de uma visão moral compartilhada fica clara por meio de piadas, comentários no intervalo para o café, cartazes pregados nas portas e petições que circulam entre os funcionários. Questione essa decência de senso comum e — como indica o relatório do Policy Exchange — não são apenas os convites para almoço que acabam, mas também as promoções, publicações e oportunidades de financiamento.

A censura do câmpus não é um mito de direita, mas, da mesma maneira, a conformidade ideológica não é uma conspiração de esquerda. Ao longo de um período de muitas décadas, professores com uma compreensão particular do que significava ser um acadêmico — com dedicação à busca do conhecimento e um compromisso com o rigor intelectual e a objetividade — foram substituídos por uma geração mais jovem que vê a erudição como mais explicitamente vinculada ao compromisso com a justiça social. Eles são mais propensos a ver acenos de objetividade como, na melhor das hipóteses, hipócritas e, na pior, uma pretensão perigosa. A justiça social exige o recrutamento de grupos historicamente sub-representados ao escolher novos funcionários e alunos, resultando em câmpus que parecem diversos, mas são cada vez mais ideologicamente homogêneos. Os alunos que se encaixam tendem a ser aqueles que compartilham as preocupações políticas e intelectuais de seus professores. Então se tornam a próxima geração de acadêmicos. Ao mesmo tempo, aqueles que não se enquadram frequentemente optam por sair completamente da academia.

Quem nunca teve uma visão que desafia o consenso não vê problema com a “liberdade de expressão” nas universidades

O domínio de um grupo de pessoas de pensamento semelhante não se restringe às universidades. A mesma visão progressista do mundo, reproduzida por mentes aprisionadas, agora é compartilhada por aqueles que dirigem a BBC, ramos do serviço público, muitas ONGs e instituições de caridade, altos escalões da polícia, agências de publicidade e empresas de mídia social. Isso, por sua vez, dá peso à percepção de que os valores da elite não são políticos, mas simplesmente moralmente corretos. Por essa razão, aqueles que nunca tiveram uma visão que de alguma forma desafia o consenso não veem problema com a liberdade de expressão nas universidades. Jo Grady, secretária-geral da University and College Union, foi rápida em descartar as conclusões do relatório do Policy Exchange: “A ideia de que a liberdade acadêmica está ameaçada é um mito”.

O Policy Exchange deve ser elogiado por levantar o problema das ameaças atuais à liberdade de expressão, que muitas vezes são experimentadas individual e subjetivamente. Uma questão muito mais difícil é como mudar a cultura no câmpus. O Policy Exchange propõe que um diretor nacional para a liberdade acadêmica seja nomeado pelo secretário de Estado da Educação e estabelecido dentro do Office for Students (órgão regulador da educação superior no Reino Unido).

Fazer valer a liberdade acadêmica é tentador, ainda que se corra o risco de emprestar justificativa moral para aqueles que reivindicam perseguição. Pouco é feito para contestar o clima no câmpus. Almoços forçados da equipe não farão com que os colegas gostem uns dos outros ou mesmo farão com que deem opiniões opostas a uma audiência justa. Piadas, petições e cartazes poderiam ser proibidos, mas isso restringiria, e não aumentaria, a liberdade de expressão. Crucialmente, as universidades fazem parte — não estão separadas — da sociedade. Precisamos defender a liberdade de expressão em todos os lugares e desafiar o domínio que uma elite inabalável exerce sobre todas as nossas instituições. Mais do que novas nomeações políticas, isso requer atos individuais de coragem. Em vez de nos autocensurarmos ou lamentarmos a autocensura, a responsabilidade deve recair sobre todos nós para dizer o que pensamos.

Leia também o artigo “O Ocidente em guerra com seu passado”, de Frank Furedi


Joanna Williams é diretora do Freedom, Democracy and Victimhood Project do think tank inglês Civitas.

11 comentários
  1. Nara Rosangela Rodrigues
    Nara Rosangela Rodrigues

    Muito bom!

  2. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Lamentável.

  3. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    As universidade foram criadas há séculos pela Direita e hoje estão nas mãos dos sem-terra acadêmicos.

  4. Juliano Ferreira Faria
    Juliano Ferreira Faria

    Bela análise!

  5. Iranildo Nascimento Da Costa
    Iranildo Nascimento Da Costa

    Ótimos comentários ao excelente artigo! Hoje temos acesso a um acervo literário, que nos permite embasar mui bem nossas percepções e opiniões. É o início de um processo, lento, mas frutífero!

  6. PAULO GOUVEA
    PAULO GOUVEA

    A vida acadêmica de hoje se resume ao assédio ideológico que corrompe a inteligência e, consequentemente, qualquer tipo de debate saudável ou reflexão controversa. Criaram uma legião de mentes patológicas, obececadas em patrulhar indivíduos.

  7. Ana Lúcia Kazan
    Ana Lúcia Kazan

    Há censura em todos os ambientes agora: mesmo em família, se alguém pensa diferente do que é tido como “óbvio”, ou seja, basicamente, a dominância dos pensamentos de esquerda “politicamente corretos”, pode perder até os relacionamentos familiares. É preciso mesmo ter muita coragem para manifestar o que se pensa, e estar preparado para a enxurrada de “ohs” e “ahs”. Artigos como esse ajudam e precisam estar sempre à mão para nos dar coragem e viver o mundo conforme o entendemos.

    1. Eric Kuhne
      Eric Kuhne

      Verdade, Ana Lúcia. Infelizmente, hoje nem os filhos querem ouvir as opiniões dos pais, se forem diferentes das que acreditam ser o certo (o malfadado “politicamente correto”, a tolerância a tudo e a todos, a inclusão e justiça social até para quem não faz por merecer, etc). A opção é evitar discussões, e conversar só sobre amenidades.

  8. Silas Veloso
    Silas Veloso

    A autocensura é o veneno mais letal

    1. Augusto Caparica
      Augusto Caparica

      As universidades ,sobretudo as brasileiras, foram aparelhadas com ideologia esquerdopata. Não se produz ciencia nem tecnologia. A indústria das teses de doutorado produz subcultura inútil para o país em nome do progressismo. As novas gerações já chegam contaminadas . Pobre Brasil.

    2. Claudia Aguiar de Siqueira
      Claudia Aguiar de Siqueira

      Lá como cá.

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