O bom jornalismo busca esclarecer, informar com precisão, surpreender, descrever com clareza nuances variadas de questões complexas, apresentar de modo interessante temas aparentemente aborrecidos, porém relevantes. Na jornada cotidiana, o bom jornalismo muitas vezes também oferece uma experiência não propriamente deleitante: o choque de realidade. Há ocasiões em que esse caminho não é apenas oportuno e sensato. É tão somente inevitável. E eis que temos, na capa desta Edição 21 da Revista Oeste, a reportagem do jornalista J. R. Guzzo que avalia quanto a sociedade brasileira pode esperar da chamada “agenda liberal”. Quais são as reais possibilidades de que o Brasil venha a seguir o trilho do liberalismo, com um Estado menos interventor e um governo que não infernize a vida do pagador de impostos e do empreendedor? O país precisa encarar sem desfaçatez essa questão. Diz Guzzo: “Só têm voz, representação política e capacidade de influir os grupos que se organizam na defesa do próprio bem-estar. Jamais faltará no Brasil quem faça leis em favor de juízes, procuradores, professores da universidade pública e demais habitantes do bioma estatal”.
Boa parte desses grupos conta com especial deferência por parte do STF, notadamente do libertador-mor da Corte, ministro Gilmar Mendes, como demonstra a analista política Ana Paula Henkel. Ao contar a tentativa de explicar a amigos norte-americanos o que se passa na mais alta instância do Judiciário brasileiro, Ana Paula narra momentos de hilariante bizarrice.
A operação que Gilmar e alguns de seus colegas tanto se esforçam para conter é radiografada na matéria da editora Branca Nunes e do repórter Artur Piva. Felizmente, é improvável que a Lava Jato venha a ser freada, apesar do bombardeio ao qual tem sido submetida. De todo modo, convém manter a vigilância.
Outro choque de realidade nos proporciona a reportagem da editora Paula Leal. Paula trata de um assunto praticamente interditado na imprensa tradicional, a ocupação das vias públicas por moradores de rua. Na cidade de São Paulo, a região central está tomada por milhares de sem-teto, enquanto a prefeitura recorre ao discurso politicamente correto na tentativa de justificar a própria inépcia. É verdade: trata-se de um problema para o qual não há soluções simples e que envolve, em certos casos, pessoas vulneráveis. Ao mesmo tempo, permitir a ocupação desregrada de espaços públicos e eximir-se de responsabilidades não produzirá os resultados esperados pelos moradores da capital paulista.
Confrontar-se com a realidade dos dados é o que propõe o colunista e escritor Guilherme Fiuza. Fiuza fez um diligente cruzamento de dados e, com consistência, pergunta: “Quantas mortes atribuídas à covid-19 foram realmente causadas pelo coronavírus?”. Atenção: não se trata aqui de negacionismo. Fiuza não tenta minimizar a pandemia. Apenas chama a atenção para os números. Quando se comparam os óbitos resultantes de pneumonia, infarto, septicemia, AVC e outras doenças no período entre 16 de março e 10 de agosto de 2020 versus 2019, há uma diferença, para menos, de cerca de 70 mil mortes. São doenças que, historicamente, matam mais ou menos a mesma quantidade de pessoas todo ano. As autoridades precisam esclarecer esses números porque políticas públicas têm de ser estabelecidas com base em estatísticas checadas e não em percepções e narrativas.
A narrativa segundo a qual o apoio de Marilena Chauí a Guilherme Boulos é capaz de conferir um verniz filosófico à chapa do Psol que concorrerá à prefeitura paulistana desaba em dois parágrafos do artigo de Augusto Nunes. “Marilena enxerga num estuprador do direito de propriedade o prefeito que dará um jeito numa das mais complicadas metrópoles do mundo. Uma visão apavorante.”
No campo das percepções, não são infundadas aquelas que apontam um aplicativo bobo como uma das encrencas centrais na guerra fria entre Estados Unidos e China. Com toda a limpidez característica de seus textos, Dagomir Marquezi explica como o infantil TikTok se tornou peça-chave no xadrez liberdade X ditadura. E o cientista político Bruno Garschagen comenta outros aspectos desse conflito que acaba impactando o mundo inteiro.
Num momento em que o Ocidente deveria empenhar-se no fortalecimento de seus valores e tradições, os jovens ativistas e a intelligentsia que comanda as universidades procuram “desconstruir” nossa civilização. Dois artigos ocupam-se da análise do fenômeno: “O Ocidente em guerra com seu passado”, do sociólogo Frank Furedi, e “As universidades e as mentes aprisionadas”, de Joanna Williams, da Spiked.
Boa leitura.
Os Editores.
Fiz a coisa certa! Passei a assinar a Revista Oeste. Pode até ser uma questão de identidade intelectual, mas é também um oásis nesse deserto de hipocrisias e tendenciosidades jornalísticas. Precisa, objetiva e confiável. Parabéns!
Não há nenhuma palavra sobre as investigaçóes do “rachid” da ALERJ envolvendo a familia Bolsobaro? Não tem nenhum jornalista nessa revista que acompanha o caso?
Vai lá na Crusoé que você encontra matéria de sobra a respeito.
Esquerdopata relinchando…
Obrigado por vocês existirem . Começo agradecendo , porque de fato , só sobrou a revista OESTE para nós ” the people ” podermos fazer nossa terapia de grupo politica . Sozinho não se consegue facilmente fazer avanços de ideias e ações no sentido de melhorarmos como nação . As noticias por vocês relatadas e comentadas são de uma clareza que expõe a verdade de forma soberana e clara , assim como é a realidade . O inacreditável é observar o resto da mídia totalmente
dissociada da realidade , até agora . Sabemos o que queremos , um país melhor e mais justo sem delírios esquerdopatas . Repito , não me deixem só , por favor .
Gosto muito da Revista Oeste e já indiquei a assinatura para muitos familiares e amigos.
Eu apenas gostaria de uma forma mais prática de acesso.
Vocês chegaram a pensar no desenvolvimento de um aplicativo que possa nos manter conectados continuamente como assinantes, revendo notificações de reportagens e de novas edições da revista?
Acho que seria mais prático do que os e-mails ou ter que acompanhar o site da revista diariamente.
Obrigada.
Tá aí uma bela ideia. Uma versão em PDF também ajudaria bastante. Clicar na edição da semana e baixar a versão completa.
Independentemente da concorrência, é lamentável a censura a revista Crusoé. Outro ponto interessante, pra mim em particular: quando eu era jovem a nossa turma quando queria dizer que um professor era ruim a gente dizia que que ele tinha alergia ao giz… Agora, nos deparamos com o Presidente do STF que tem alergia aos processos (ácaros). Quem sabe, algum cartunista faça uma piada com essa comédia.