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Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública
Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Jamile Ferraris/MJSP
Edição 210

A fuga de Mossoró explica o Brasil

Mesmo com um aparato gigantesco de equipamentos e policiais, governo Lula não consegue capturar dois fugitivos que expõem a negligência da segurança pública no Brasil

Rute Moraes
Rute Moraes
Silvio Navarro
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Há 45 dias, o governo Luiz Inácio Lula da Silva convive com um vexame na área de segurança pública: dois detentos de alta periculosidade escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Foi a primeira vez na história do país que criminosos fugiram de uma unidade de segurança máxima. Desde então, o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) não consegue capturá-los.

Os criminosos são Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, e Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos. São velhos conhecidos do sistema prisional, tratados pelos apelidos de “Querubim” e “Tatu”, respectivamente. A dupla integra o Comando Vermelho, presente em 13 Estados, a segunda maior facção do país, depois do Primeiro Comando da Capital (PCC). Os dois têm condenações que vão de 74 a 81 anos por tráfico de drogas, assalto, organização criminosa e homicídio.

Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte | Foto: Depen/Divulgação

A notícia de que a dupla havia escapado correu o país logo após o feriado de Carnaval. Foi aí que Lewandowski entrou em cena com pompa e circunstância. Inicialmente, disse que os festejos deixam a guarda do presídio “mais relaxada”. A declaração pegou muito mal.

O ministro viajou para o Rio Grande do Norte e disse que coordenaria de perto a operação de captura. Reuniu uma tropa com 600 homens — cem deles agentes de inteligência — e cães farejadores enviados de outras partes do país, um comboio com 20 carros da Força Nacional de Segurança, drones e helicópteros. O custo estimado só com as diárias dos oficiais é de R$ 1,2 milhão, mas a operação deve chegar ao triplo do valor. O governo, contudo, não tem nenhuma pista de onde eles estão.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Na madrugada do dia 14 de fevereiro, Tatu e Querubim (que tem uma suástica tatuada na mão) fizeram um buraco no teto da cela, ao redor de uma luminária, e escalaram pelas tubulações de água e ventilação, como num filme de Hollywood da década de 1990. Depois, acessaram o pátio de banho de sol e encontraram um alicate para cortar o alambrado — há uma obra em andamento no local. Segundo os investigadores, a maioria das 160 câmeras de segurança não funcionou. As poucas imagens captadas não têm nitidez por causa da escuridão nos corredores — todos os equipamentos parecem precários. A ausência deles nas celas só foi notada depois de duas horas e meia.

Inicialmente, as buscas se concentraram num raio de 15 quilômetros da penitenciária. Há indícios de que a dupla percorreu, depois da saída, 38 quilômetros até Baraúna, que tem 28 mil habitantes no pequeno Estado potiguar. Eles dormiram em propriedades rurais e fizeram uma família refém. Segundo relatos, um deles está mancando e se locomove com dificuldade.

Um dos relatos foi feito pelo mecânico Ronaildo Fernandes. Ele contou que os bandidos passaram oito dias num galpão abandonado. Mas quando a polícia obteve a pista já era tarde.

Outro ponto que atrapalhou a captura foi que as diferentes tropas usam frequências de radiocomunicadores distintas: Polícias Federal, Rodoviária, Militar, Força Nacional e Guarda Municipal. Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo relatou que há uma “guerra de vaidades” entre os agentes.

Outro ponto que atrapalhou a captura foi que as diferentes tropas usam frequências de radiocomunicadores distintas: Polícias Federal, Rodoviária, Militar, Força Nacional e Guarda Municipal | Foto: Jamile Ferraris/MJSP

Neste mês, um drone conseguiu captar movimentação, mas caiu durante o voo. Apesar do fiasco, Lewandowski considerou a operação exitosa, pois há indícios de que os fugitivos continuam no perímetro da pequena Baraúna. O ministro disse que tem enfrentado muitas dificuldades: cavernas, mata fechada, presença de animais (que detectam zonas de calor) e, recentemente, período de chuvas.

O governo decidiu tomar medidas em todas as unidades federais depois das fugas em Mossoró: instalação de barras de ferro atrás das luminárias e nas tubulações de água e ar, novas muralhas e troca das cercas e do monitoramento de vídeo.

“Toda essa operação, as duas fugas, as duas idas do ministro ao Estado, tudo o que foi colocado, todo o efetivo, 600 homens, cão farejador, helicópteros, drones com medição térmica. Tudo isso para procurar dois elementos que não conhecem o terreno e que não sabem como é o terreno por onde fugiram. Foi o espetáculo da segurança pública. Gasta-se muito com pouca eficiência.”
(Styvenson Valentim, senador)

Negligência ou participação?

As linhas de investigação parecem desencontradas, mas há todos os indícios de que, além de se beneficiarem do mau estado dos presídios, os criminosos do Comando Vermelho tiveram a fuga facilitada — e provavelmente estão recebendo apoio do lado de fora. A Polícia Federal prendeu sete pessoas no Rio Grande do Norte e no Ceará, suspeitas de ajudá-los.

O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, Alberto Fraga (PL-DF), encontrou-se com Lewandowski no início deste mês e disse ter combinado uma visita do ministro a uma audiência pública no colegiado. O deputado classificou a demora na captura dos criminosos como “lamentável”.

“É inadmissível ter fuga em presídio federal de segurança máxima”, disse. “Tenho certeza absoluta de que houve, nessa fuga, negligência, omissão ou participação. O ministro da Justiça e Segurança Pública precisa apresentar os culpados, mostrar quem permitiu a fuga.”

Ex-policial militar do Rio Grande do Norte e atual senador pelo Estado, Styvenson Valentim (Podemos) classificou o resultado das buscas pelos criminosos como uma “amostra da pirotecnia que é a segurança pública” no Estado.

“No ano passado, no mesmo período, o Rio Grande do Norte já estava pegando fogo”, afirmou. “As facções criminosas estavam dominando o território. O Rio Grande do Norte é um dos Estados brasileiros que têm esse domínio das facções criminosas.”

Fátima Bezerra (ao centro), governadora do Rio Grande do Norte, e Ricardo Lewandowski (ao seu lado), ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Jamile Ferraris/MJSP

De fato, o senador toca num ponto crucial. A crise na segurança pública do Estado, comandado pela petista Fátima Bezerra, é antiga. No ano passado, o próprio Ministério da Justiça reconheceu situação de emergência. Na ocasião, Flávio Dino editou três portarias para reforçar o combate à onda de criminalidade por lá — foram transferidos R$ 19 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública. Uma onda de ataques contra o comércio, bancos e ônibus impôs toque de recolher em várias cidades norte-rio-grandenses.

O motivo da crise de violência foi o duelo entre facções rivais pelo comando do tráfico de drogas. Além do Comando Vermelho, houve crescimento do Sindicato do Crime, dissidente do PCC.

“As facções criminosas colocaram o Estado de joelhos”, afirmou Valentim. “Não houve efetiva prisão de ninguém. Prenderam 200 pessoas e ninguém permanece preso até hoje. Queimaram prédios públicos. Isso é só um reflexo do que acontece no Brasil todo.”

O senador Styvenson Valentim está certo: a fuga espetacular de Mossoró e desfaçatez com que age o crime organizado desde o ano passado ajudam a explicar o Brasil.

Leia também “O naufrágio de Lula”

11 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    A “eleição” do descondenado foi festejada nos presídios.
    Esse fato explica muita coisa sobre segurança pública.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Quero ver até quando o povo potiguar vai continuar votando nesta quadrilha do PT.

  3. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Esse desgoverno trouxe a insegurança para o brasileiro.

  4. Jonas Ferreira do Nascimento
    Jonas Ferreira do Nascimento

    Levandouisque como ministro da Segurança Pública lembra cão que cai de caminhão de mudança: totalmente perdido. Aliás, como todo esquerdista em postos de comando!

  5. Mauro C F Balbino
    Mauro C F Balbino

    Falta esclarecer sobre o contrato de manutenção das câmeras que em sua maioria não funcionam, o custo de R$200M per annum, e, ainda, a titularidade verdadeira já que o contratado nem sequer sabia que seu nome estava sendo usado.

  6. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Esse governo favorece o narcotráfico e devolve bens a criminosos,quem favorece e facilitou a fuga de dois narcotraficantes dentro de presídio de segurança máxima?a explicação é fácil.

  7. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Teve um dia desses que Fátima Bezerra se escondeu numa unidade do exército com medo das facções. Eles estavam cobrando o que ela prometeu em campanha. Isso é fundo de poço para qualquer governo. Qualquer país do mundo ou qualquer unidade da federação brasileira, basta querer, que combate o crime com tranquilidade, agora, se o pior criminoso é o próprio Estado, aí é impossível combater o crime

  8. Marisa Milen
    Marisa Milen

    Inacreditável, tanto dinheiro gasto, tantas tratativas e se esqueceram totalmente que é só falar com o Ministro Dino que ele pode fazê-los voltar para a penitenciária rapidinho. Simples assim, o nosso digníssimo ministro contataria o pessoal do PCC e ponto final o “problemão” estaria resolvido. Afinal, ele possui passe livre com o PCC em todos os aspectos. Visita cordial da rainha do tráfego, visitas a comunidade da maré.

  9. Luiz Fernando Kehl
    Luiz Fernando Kehl

    Só capturam políticos e Bolsonaro

  10. Oswaldo Galvão Carvalho
    Oswaldo Galvão Carvalho

    verdadeiro Show de incompentência.
    só sabem soltar e não sabem prender e quando procuram não acham.
    show dos horrores.
    show de incapacidade.

  11. Oswaldo Galvão Carvalho
    Oswaldo Galvão Carvalho

    NEGLIGÊNCIA HABITUAL
    INCAPACIDADE OPERACIONAL
    DESLEIXO MONUMENTAL
    INCOMPETÊNCIA DE GOVERNAR
    PARCEIROS DA COISA ERRADA
    é so escolhar …. que cabe qualquer constatação pura.

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