Presente no país há mais de três décadas, a dengue é uma velha conhecida da população brasileira. Durante a transição da primavera para o verão, os casos da doença aumentam por causa das chuvas e do clima quente. E o governo federal, já sabendo que a alta dos casos ocorre nessa época, costuma investir em campanhas e mecanismos de prevenção e combate ao mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
Pelo menos é assim que deveria ser. O Brasil nunca registrou uma epidemia de dengue tão dramática quanto a que se instalou desde o início de 2024. Em apenas três meses, mais de 3,5 milhões de pessoas foram afetadas pela doença e mais de 1,5 mil perderam a vida, superando os números registrados em 2023. E as estatísticas ainda podem aumentar, visto que mais de 2 mil óbitos ainda estão sob investigação. Os dados estão disponíveis no Painel de Monitoramento de Arboviroses, mantido pelo Ministério da Saúde, e foram atualizados pela última vez em 18 de abril.
No país, existem quatro tipos de dengue, que vão do DENV1 ao DENV4. Os tipos que mais circularam durante o verão foram o DENV2 e o DENV3, o que levou ao aumento dos casos. Ao longo do ano passado, o ministério recebeu vários alertas sobre o risco de epidemia no início de 2024. Em 2023, a maioria dos países da América do Sul — incluindo o Brasil — registrou aumento de casos devido às alterações climáticas causadas pelo El Niño.
Mesmo sabendo dessa possibilidade, em dezembro o Ministério da Saúde se restringiu a anunciar medidas como a liberação de R$ 111,5 milhões para Estados e municípios, um repasse de R$ 144,4 milhões para ações de vigilância no país e o lançamento de uma campanha para a TV aberta e as redes sociais.
Para monitorar os casos em tempo real, foi “implantada” a Sala Nacional de Arboviroses (SNA). Apesar de a medida ter sido anunciada pelo governo Lula como uma novidade, a sala de monitoramento existe desde o governo de Jair Bolsonaro. Ela foi inaugurada em maio de 2022, quando o Ministério da Saúde ainda estava sob a gestão do médico cardiologista Marcelo Queiroga.
Enquanto a epidemia avançava, o ministério continuava alocando recursos. Em 14 de fevereiro, anunciou um repasse de R$ 1,5 bilhão para ações de enfrentamento, seguido por outro de R$ 300 milhões em 20 de março para a compra de soros e medicamentos necessários para o tratamento da dengue.
Muito dinheiro, números desastrosos
As quantias, no entanto, não foram vistas por parte das unidades federativas. Segundo uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada em 18 de março, do R$ 1,5 bilhão anunciado pelo governo em fevereiro, foram liberados apenas R$ 60 milhões.
Isso porque, para receber os fundos de emergência, os Estados e municípios precisam decretar emergência em saúde e elaborar um plano de ação com informações sobre a situação epidemiológica e a capacidade da rede de saúde. Na época da publicação da reportagem da Folha, a pasta havia distribuído recursos para cinco Estados e mais de 180 municípios. As solicitações dos governos estaduais de São Paulo, Espírito Santo e Amapá estavam sob análise.
Os frequentes anúncios de repasses e investimentos em campanhas fizeram com que a maioria da população ficasse confusa com o aumento do número de casos. Afinal, as grandes quantias que supostamente foram liberadas e os números desastrosos da epidemia não coincidem. Os esforços do governo para manter uma “boa imagem” não conseguiram tirar os holofotes de uma das tramas mais controversas da novela da dengue, atualmente protagonizada pela socióloga Nísia Trindade: a campanha fracassada de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em março de 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o imunizante Qdenga, desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda. O produto teve 80% de eficácia nos estudos e foi disponibilizado na iniciativa privada pouco tempo depois da liberação. O ministério esnobou a vacina japonesa sob a alegação de que estava esperando a vacina do Instituto Butantan para “garantir a fabricação nacional e evitar a tragédia da pandemia de covid-19”.
O Butantan estuda a vacina contra a dengue há mais de 15 anos, e seu imunizante de dose única (diferente da vacina japonesa, que precisa de duas doses), desenvolvido com vírus vivo atenuado, teve eficácia de 79,6%. O produto ainda não está disponível. A Qdenga só foi implementada no SUS depois que a própria Takeda entrou, em 28 de julho de 2023, com o pedido na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec). A solicitação costuma ser feita pelo Ministério da Saúde.
“A vacina não é ‘instrumento mágico’”
A incorporação do imunizante ocorreu em 21 de dezembro de 2023. O Ministério da Saúde comprou 5 milhões de unidades — o que atende apenas 0,5% da população, visto que a vacina é aplicada em duas doses. Quando questionada sobre a quantidade adquirida, a ministra Nísia disse que estava contando com “doações” para expandir a vacinação e iniciou os episódios de negação sobre a magnitude da epidemia no Brasil.
Em 17 de janeiro, durante uma palestra em Davos, na Suíça, a ministra afirmou que “a vacina é um instrumento importantíssimo, mas não é único”. Quase um mês depois, em 7 de fevereiro, Nísia fez sua declaração mais emblemática: “A vacina não é ‘instrumento mágico’”. Ela também afirmou que não havia sentido em declarar uma emergência nacional. O Brasil já havia batido a marca de mais de 345 mil casos da doença.
Dos 5 milhões de vacinas, menos de 700 mil foram aplicadas até o momento. Um dos lotes comprados pelo governo vence em 30 de abril. Para evitar o desperdício, foi iniciada uma estratégia de “redistribuição” para cidades que não foram incluídas no esquema inicial. Durante uma sessão no Senado em 16 de abril, a ministra atribuiu a baixa adesão da campanha ao “negacionismo” às vacinas, que segundo Nísia nasceu no governo Bolsonaro.
Em entrevista a Oeste, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, afirmou que as declarações de Nísia contribuíram para o baixo índice de vacinação contra a dengue. “Como não havia doses suficientes para toda a população, o governo relativizou a importância da vacina”, disse. “A ministra alegou várias vezes que as vacinas não resolvem a epidemia de dengue, e a população começou a achar que a vacina não tem papel no enfrentamento.”
“O discurso da esquerda na epidemia de dengue escancarou o verdadeiro discurso anti-vaxx, o verdadeiro negacionismo, que acabou sendo atribuído à nossa gestão”, observou Queiroga. “Nosso governo nunca foi contra as vacinas, e sim contra forçar as pessoas a se vacinarem”
Ele também explicou que as ações de prevenção são feitas em conjunto com os Estados e municípios. Porém, com o corte de investimentos feito pelo governo Lula, a consequência foi o aumento de casos. A gestão petista investiu 61% menos do que o governo Bolsonaro em campanhas de conscientização contra a dengue.
Para Queiroga, o Ministério da Saúde concentrou seus esforços em pautas irrelevantes ou vistas como “batidas” pela população brasileira — como o suposto negacionismo do governo Bolsonaro, aborto e a covid-19 — e ignorou a urgência das arboviroses.
A secretária no Instagram
Em 2023, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) fez uma série de alertas chamando a atenção do governo brasileiro para o aumento dos casos de dengue. E deixou claro que poderia se agravar no ano seguinte caso as medidas necessárias não fossem tomadas.
O Ministério da Saúde estava ciente. Em novembro, a pasta emitiu a Nota Informativa nº 30/2023, assinada por Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), alertando para a “possibilidade de uma epidemia de proporções maiores que as registradas na série histórica do país”.
Apesar do risco iminente de aumento dos casos, Ethel Maciel decidiu tirar férias em janeiro e passou o mês em viagem ao exterior. Em 1º de janeiro, ela publicou fotos no Instagram onde aparecia participando de cerimônias hindus e budistas. Depois de o fato ser divulgado no jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério da Saúde alegou que, durante o período em que esteve ausente, a epidemiologista foi “devidamente substituída” pela doutora Angélica Miranda, diretora de Programa da SVSA.
Sobre a secretária, Queiroga afirmou que a “conduta itinerante” de Ethel já era conhecida nos bastidores e foi um dos fatores determinantes para que ela não fosse confirmada como reitora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em 2020.
‘Presidengue’ Lula
O médico infectologista Francisco Cardoso atribui o atual índice de reprovação de Lula à inabilidade do ministério em controlar a dengue. A Oeste, ele classificou Nísia Trindade como “omissa”.
“A ministra Nísia não é médica, não entende do assunto, mas ela tem uma equipe técnica para deixá-la ciente dos problemas”, afirmou. “Ela simplesmente ignorou. Por isso, Lula até ganhou o apelido de ‘Presidengue’. Por quê? Porque não houve uma estratégia forte para enfrentar a epidemia. Junto da crise econômica, a omissão da Nísia é a maior responsável pela queda da popularidade de Lula”
Cardoso estima que o governo poderia ter formado um estoque de aproximadamente 20 milhões a 25 milhões de doses caso tivesse se mobilizado quando a Qdenga foi aprovada. Ele enfatizou que, além da aquisição, também seria necessário promover a conscientização sobre o uso da vacina, que não é adequada para todos.
Assim como a vacina do Butantan, a Qdenga foi desenvolvida com vírus atenuado e não é recomendada para pacientes com imunodepressão ou que estejam sob tratamento que afete o sistema imunológico. Deve ser evitada também por pessoas que têm alergia aos componentes, mulheres grávidas e lactantes. O infectologista observou que, em razão da concentração da campanha de vacinação em pessoas de 10 a 14 anos de idade, o imunizante pode ter sido aplicado erroneamente em adolescentes grávidas.
O médico também condenou a postura do governo Lula de culpar a população pelo aumento dos casos. “Falaram muito da responsabilidade da população, mas o Brasil é um país onde a maioria das cidades não tem saneamento básico decente, e isso é culpa do governo”, acrescentou. “Alguns cidadãos contribuem para a proliferação do mosquito, mas uma pessoa comum não pode entrar em um terreno abandonado para fazer uma fiscalização. O governo pode, mas não faz.”
O desinteresse petista
Apesar dos repasses anunciados e do Dia D de combate à dengue, em fevereiro, o Ministério da Saúde não especifica detalhes sobre as medidas de combate que foram financiadas. Em uma nota de fevereiro, a pasta alega que adquiriu 400 mil quilos de larvicida e 12,6 mil quilos de adulticida, e que os insumos já estão com os Estados. Mas não cita a aquisição e o envio de inseticidas para a nebulização espacial, o “fumacê”. A nebulização espacial já foi classificada por Ethel Maciel como uma forma “não ideal” de controle, pois combate o mosquito adulto e “indica que a estratégia de prevenção não foi suficiente”.
Além disso, em 17 de abril, uma reportagem do Estadão mostrou que, mesmo com os alertas feitos no ano passado, a pasta reduziu a contratação de agentes comunitários de endemias (ACEs). São os responsáveis pela execução das ações de enfrentamento, como a operação dos carros de fumacê, a elaboração de relatórios sobre a circulação do mosquito e a aplicação de larvicidas. Em 2022, sob a gestão Bolsonaro, foram contratados 4.313 novos agentes. Já em todo o ano de 2023, apenas 822 agentes.
A situação pode piorar
Para Cardoso, caso o governo Lula não comece a preparar o país para a próxima temporada de dengue, a situação em 2025 pode ser ainda pior. “Atualmente, não há muito o que fazer sobre a epidemia”, explicou. “Daqui para a frente, os números da dengue vão começar a despencar, e vamos entrar no período subendêmico. Agora o governo deve cuidar dos enfermos e preparar o orçamento para ações de vigilância, de saneamento nos bairros, campanhas de conscientização, e investir na estocagem e distribuição de repelentes, um item importante que não é tão acessível para a população.”
Recentemente, Nísia Trindade anunciou que a oferta de vacinas será ampliada em 2025, o que Cardoso classificou como “impossível”. Para o médico, a menos que a vacina do Butantan comece a ser produzida em breve, a Takeda não será capaz de fornecer mais de 400 milhões de doses em um ano, quantidade necessária para imunizar 80% da população brasileira. Isso se deve à falta de investimento na produção em massa de vacinas contra a dengue. Bem diferente do que aconteceu com a covid-19.
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Em uma gestão sem rumo os resultados nunca serão diferentes.
Militantes incompetentes ocupando postos de relevância na administração pública só irá gerar resultados catastróficos.
E viva os ptralhas. Um bando de lixo e parasitas.
Nísia Trindade tem cara e fala de boa moça, mas é uma verdadeira mala sem alça. Para essa turma, o termo não é vacina, mas sim va$ina, com $ sifrão.
O desgoverno dos PTralhas está matando as pessoas por incompetência.
Esse Lula essa Nisia são dois inúteis, além de ladrões comunistas e esse STF e TSE tem que ser desmanchados e colocar gente decente e preparada como Ludmila
Somente um incompetente sem a mínima qualificação para ocupar o posto chave no país colocaria como gestora responsável pelo Ministério da Saúde uma socióloga que inclusive já teve problemas salvo engano na gestão da Fiocruz……Lula por favor Gestão da Saúde deve ser feita por alguém qualificado na área técnica com embasamento acadêmico paralelo, em Administração pelo menos….explico: para ser o gesto é preciso que seja alguém formado em Medicina, Farmácia, Química etc e também conhecedor de normas administrativas…ufa.