Um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em janeiro foi usado para gerar uma onda midiática de alarmismo sobre resíduos de plástico na água vendida em garrafas. Os resultados se baseiam em um sistema desenvolvido por pesquisadores da Universidade Columbia e da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, que utiliza uma “plataforma de imagem de espalhamento Raman estimulada hiperespectral (SRS) com um algoritmo automatizado de identificação de plástico que permite a análise de micronanoplásticos”. Parece impressionante e de fato é, pois conta com um tanque especial, laser e técnicas de computação avançadas.
A principal contribuição do estudo para a ciência não foi, na verdade, chegar a uma estimativa sobre a quantidade de plástico nas garrafas d’água, e sim desenvolver uma técnica capaz de detectar nanoplásticos. Nanoplásticos, como o próprio nome sugere, são bem menores que os já minúsculos microplásticos. Microplásticos podem ter apenas 1 mícron de tamanho, o equivalente a 1/83 da espessura de um fio de cabelo.
As partículas de menor tamanho que os pesquisadores detectaram mediam 100 nanômetros. Isso significa que agora conseguimos detectar pedaços de plástico tão pequenos que 10 milhões equivaleriam a um pedaço de microplástico que é uma fração da espessura de um fio de cabelo.
Assim como um telescópio mais potente vai descobrir mais planetas, ou um microscópio mais sofisticado consegue revelar que existem mais bactérias em uma placa de Petri do que conhecíamos anteriormente, essa impressionante habilidade nova de enxergar pedaços infinitesimais de plástico também significa que os cientistas descobriram uma quantidade aparentemente infinita de plástico.
Quase todos os meios de comunicação bombardearam os americanos sedentos com manchetes como “Cientistas encontram cerca de 250 mil partículas invisíveis de nanoplástico em 1 litro de água engarrafada” (Associated Press) e “As garrafas d’água contêm centenas de milhares de fragmentos de plástico potencialmente perigosos: estudo” (The Hill), como se o número 240 mil fosse diretamente significativo para os leitores.
A quantidade de pedaços de plástico, em comparação com o volume de plástico, é irrelevante para o perigo (se é que existe algum perigo), mas o objetivo era transmitir o pavor causado por todos os minúsculos fragmentos de toxidade liberados em nosso corpo consumidor de água. É como fingir que está trazendo informações sobre o risco de câncer colorretal causado pela carne vermelha e revelar que consumimos mais de 30 mil gramas de carne por ano, em vez de 30 quilos. O número de unidades discretas em qualquer escala arbitrária não é o que importa para o risco à nossa saúde, mas, sim, o peso total.
Sejamos claros, o artigo do PNAS não apenas converteu unidades de microplástico em unidades de nanoplástico. As técnicas permitiram a detecção de uma quantidade maior de plástico na água, mas as implicações disso foram exageradas pela mídia da maneira mais alarmante possível. A manchete do Washington Post mencionava “entre cem e mil vezes mais plástico”. O subtítulo desse artigo afirma: “Um novo estudo revela que os ‘nanoplásticos’ são ainda mais comuns do que microplásticos nas garrafas d’água”. O artigo informa que “as pessoas estão ingerindo centenas de milhares de pedaços microscópicos de plástico toda vez que bebem 1 litro de água engarrafada, demonstraram os cientistas — uma revelação que poderia ter profundas implicações para a saúde humana”.
Ênfase em “poderia”. Não existem bons estudos sobre os efeitos dessas partículas. A maioria dos veículos de comunicação que cobriram a descoberta do nanoplástico revela que nunca houve um efeito documentado na saúde causado pelas partículas, mas ainda assim não resistiram a tratar a descoberta com o máximo de alarmismo.
Todas as pessoas respiram — como acontece desde o início dos tempos — nanopartículas. Elas estão na pele, nas folhas e nas cinzas em decomposição. Claro, o plástico é diferente, e é com isso que os estudos atuais estão acertadamente preocupados. Sabemos que as garrafas d’água contêm pequenos pedaços de plástico, os oceanos contêm pequenos pedaços de plástico, e a água da torneira contém pequenos pedaços de plástico.
O que não sabemos é como esse plástico pode, ou não, nos afetar. O pânico que a mídia sensacionalista tem propagado é prematuro e, em muitos casos, antitético ao verdadeiro processo de investigação científica. Uma manchete como “Mais de 240 mil nanoplásticos que causam câncer encontrados nas garrafas d’água”, da Earth.com, não é apenas quantitativamente ilegível, é uma afirmação que não se baseia em nenhuma prova de efeito carcinogênico. Da mesma forma, um artigo recente na The New Yorker intitulado “Como os plásticos estão nos envenenando” é intrigante, trouxe informações que eu desconhecia sobre nanoplásticos e nurdles, e despertou meu interesse em pesquisas futuras, mas o que ele não fez foi apresentar qualquer prova de que os plásticos estão nos envenenando.
O peso total de nanoplásticos encontrados em uma garrafa de água era o equivalente ao peso de uma única moeda de 1 centavo no volume de duas piscinas olímpicas
Os próprios cientistas por trás do estudo afirmaram ter reduzido pessoalmente o consumo de água vendida em garrafas. Wei Min, da Columbia, afirmou ter diminuído pela metade o consumo de água engarrafada.
Pela metade? Duvido que os pesquisadores de câncer de pulmão tenham reduzido pela metade seu consumo de cigarros. Será que a reação de Herbert Needleman, que provou os efeitos do chumbo no desenvolvimento infantil, foi pintar as paredes do quarto do filho com apenas uma demão de tinta contendo chumbo, em vez de duas? Os químicos do nanoplástico estão demonstrando a devida cautela, mas o fato de continuarem consumindo alguma quantidade de água em garrafas refuta as afirmações alarmistas associadas ao trabalho deles.
Um exemplo da perspectiva correta apareceu em um artigo da Associated Press que cita Denise Hardesty, oceanógrafa do governo australiano que estuda resíduos plásticos. Ela descobriu que o peso total de nanoplásticos encontrados em uma garrafa de água era o “equivalente ao peso de uma única moeda de 1 centavo no volume de duas piscinas olímpicas”.
Certa vez eu engoli uma moeda de 1 centavo. E sobrevivi. Todos nós engolimos muita água — em garrafa, da torneira e talvez até de piscinas. Toda essa água vai conter pedaços infinitesimalmente pequenos de plástico, que a ciência agora é capaz de detectar e calcular. Os números associados a esses pequenos pedaços de plástico serão bastante grandes. As conclusões que devemos tirar desses números gigantescos não são exatamente nulas, mas são muitas ordens de grandeza menos significativas do que o pânico da mídia sobre os nanoplásticos em que estamos nadando.
Mike Pesca é apresentador do The Gist, um podcast diário de notícias e análises.
Leia também “Crianças e smartphones: mantenha a calma”
Perfeito
O meio termo neste assunto é o ideal. Nem subestimar a causa que é relevante, nem causar alvoroço desmedido.
Esses nanos plasticos Marina a rainha do meio-ambiente não conseguiu enxergar mas enxergou os nanomísseis no Amazonas
Esse conluio dos pseudo “jornalistas ” e pseudo “cientistas“ a serviço da agenda globalista.