Desde 29 de abril, os gaúchos sofrem com os efeitos da tragédia que assola o Rio Grande do Sul. Até agora, as enchentes deixaram mais de 160 mortos, 800 feridos e 65 desaparecidos. Quase 600 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, e mais de 60 mil buscaram refúgio em abrigos públicos. Bairros inteiros de 469 municípios ficaram submersos.
Não bastasse o flagelo ambiental, os gaúchos lidam também com a escalada da violência na região. Em meio à catástrofe, facções criminosas infiltraram-se em abrigos, confiscaram doações e coagiram os desalojados a ficarem em silêncio diante dos crimes.
A ascensão da criminalidade no Rio Grande do Sul ocorre sobretudo em virtude do abandono do Estado. Inerte, o governador Eduardo Leite (PSDB) assistiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva impor uma “autoridade federal” na região: o ministro Paulo Pimenta, que pretende governar os gaúchos a partir de 2027.
A indolência do tucano diante da tragédia é oposta à sua hiperatividade durante a pandemia de covid-19. Na ocasião, Eduardo Leite determinou várias restrições às liberdades da população, como a proibição da venda de produtos considerados “não essenciais” nos supermercados. Ao chegarem aos estabelecimentos, os clientes encontravam corredores fechados e prateleiras cobertas com lonas. Cinco anos depois, os gaúchos foram castigados não pela intervenção demasiada do Estado, mas por sua ausência.
“Há venda de drogas, mas o que mais nos incomoda são os desvios de doações”, diz uma mulher abrigada em um dos alojamentos no município de Canoas. “Para nós só chega refugo.” A região foi uma das mais atingidas pelos temporais.
O abrigo de Canoas precisou ser dividido em dois prédios, em decorrência da chegada de duas organizações criminosas que não convivem entre si. É o que explica o delegado Luis Firmino, da Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PC-RS). A tensão entre os grupos parece ter diminuído, mas seu poder de domínio, não.
“Muitos dos locais atingidos pelas enchentes, inclusive em Canoas, são bairros que têm uma atuação e concentração grande de faccionados, como o Matias Velho”, disse o delegado. “Quase todos os moradores tiveram de sair, e, consequentemente, os faccionados também. Há, infelizmente, relatos de abusos, furtos e de criminosos que buscam fazer dentro dos abrigos o autogerenciamento feito nas comunidades.”
O Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de organizações criminosas do país, com 15 grupos identificados
Para se ter ideia, bandidos passaram a usar barcos para navegar em áreas inóspitas e começaram a assaltar as casas abandonadas. Em resposta, os cidadãos decidiram portar facas e armas para proteger a vizinhança. Oeste esteve em Porto Alegre e em Canoas na semana passada e ouviu dezenas de relatos de moradores, que confirmaram a reação dos civis. Em virtude do aumento da criminalidade, a maioria dos resgates de vítimas também ocorre com a presença de cidadãos armados.
Na mesma linha, os donos dos estabelecimentos que se transformaram em abrigos começaram a contratar seguranças privados para inibir a ação dos criminosos. Nesses locais, não há denúncias de roubos, saques nem abusos sexuais.
Os agentes do caos
Segundo dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) de 2023, o Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de organizações criminosas do país, com 15 grupos identificados. Em seguida estão Bahia (14) e Minas Gerais (13).
A maior parte dos grupos criminosos gaúchos atua em bairros, distritos e áreas da região metropolitana. Só duas organizações são consideradas do tipo “regional”, com atuações em outros Estados e que colaboram para o crescimento dos índices de violência nacional: “Os Manos”, facção criada em 1980 e que atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; e “Bala na Cara”, grupo mais recente e que segue em expansão, presente em território gaúcho e catarinense.
De acordo com Rodrigo Azevedo, sociólogo, professor na Escola de Direito da PUC-RS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esses grupos estão se adaptando e “atuando nesse novo contexto”.
“São milhares de desabrigados, e muitos deles moradores de baixa renda”, observou o sociólogo, ao comentar as consequências da tragédia no Rio Grande do Sul. “Nesse contexto, esses grupos criminosos e suas ramificações, que ficam nos locais mais prejudicados, buscam recuperar seus prejuízos.”
A inépcia do governo Lula
Mesmo com relatos de abusos sexuais, furtos, tomadas de abrigos pelo crime organizado e inúmeros saques em casas e estabelecimentos comerciais, 100 militares da Força Nacional de Segurança Pública chegaram ao Rio Grande do Sul apenas no dia 6 de maio, quase uma semana depois do início da catástrofe. A liberação dos agentes pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, só ocorreu em 3 de maio.
Segundo Luiz Mário Guerra, procurador do Estado de Pernambuco e sócio do Urbano Vitalino Advogados, as facções atuam nas brechas deixadas pelo Estado — seja na falha de fiscalização, seja na falta de repressão aos criminosos.
“As facções constituem um poder paralelo e passam a oferecer aos cidadãos o que o Estado deixou de oferecer. O Estado precisa se reapropriar desses espaços e serviços o mais rápido possível”, afirmou Guerra. “Se não for retomado, será uma oportunidade de ampliação para as organizações criminosas. Posteriormente, o Estado vai encarar uma dificuldade gigantesca para retomar esses locais.”
Para Rodrigo Azevedo, é preciso evitar consequências piores, como foi visto em New Orleans, nos Estados Unidos, depois da devastação do furacão Katrina. “Houve um aumento dos índices de criminalidade no médio e no longo prazo”, disse. “Precisamos aprender com essas experiências para implementar as melhores políticas públicas.”
À mercê da bandidagem
Uma das abrigadas em Canoas relatou a Oeste a atuação de uma organização criminosa no alojamento em Canoas. “Eles são uma gangue”, resumiu. “Os itens de doações chegam, e eles se reúnem num canto para fazer a separação. Depois, dividem o ‘resto’, o que não serve para eles, e dão para a gente dividir. Sobram só roupas muito velhas e calçados surrados.”
A mulher afirma que os abrigados precisam da liberação dos criminosos para usufruírem dos donativos. “Eles determinam quando as pessoas podem ir ali pegar as doações que sobram”, relatou. “Isso vale para itens de uso pessoal. Papel higiênico eles dão aos pedaços, e, mesmo tendo rolos inteiros, dizem que não podem dar. Que é ‘determinação da polícia’. Mas sabemos que não é. É muito triste estar vivendo toda essa situação.”
A tragédia climática e a catástrofe política
No município de Lajeado, um casal de comerciantes amargou a perda de R$ 2 milhões em uma de suas cinco lojas, localizada em Arroio do Meio. O estabelecimento não foi tomado pelas águas das chuvas, mas pela criminalidade.
Marinez Alves da Silva, de 41 anos, e o marido, Dailor Cristiano Hauenstein, de 48, ouviram pela rádio o saque a um dos comércios de Arroio do Meio. “Uma das lojas ficou a salvo e outra foi inundada”, conta Marinez. “Pensamos que, pelo menos nesta terceira enchente, teríamos por onde recomeçar. Mas foi quando escutamos pela rádio sobre o saque da única loja do centro que não foi tomada pela água. Era a nossa.”
Marinez relata que tentou ligar ininterruptamente por dois dias seguidos para a polícia, mas estava sem comunicação. “Desesperada, fui à rádio local e até à polícia, para implorar por ajuda.”
Ao todo, Marinez e Dailor perderam R$ 6 milhões com a tragédia. Isso porque as demais lojas, em Arroio do Meio, Lajeado, Cruzeiro do Sul e Estrela, foram completamente inundadas.
“Graças a Deus, não perdi ninguém da minha família”, comemorou Marinez. “Mas, de certo modo, é como se fosse. São 17 anos que eu e meu marido criamos nosso comércio, e ele é como um filho. Nutrimos, nos privamos de viajar para investir e demos todo nosso suor e tempo para vê-lo crescer. Encontrar tudo inundado, invadido e saqueado destrói nosso coração.”
A família abriu uma “vaquinha” para receber ajuda e reconstruir o comércio, voltado para a venda de alimentos, talheres, vidros, copos, pratos, panelas, potes, roupas de cama, mesa e banho, além de móveis de plástico para jardim e áreas externas.
Marinez e Dailor simbolizam a população do Rio Grande do Sul neste momento: abandonados à própria sorte, lutam para sobreviver à tragédia das chuvas e à catástrofe política germinada no Palácio Piratini e no Palácio do Planalto.
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O POVO PELO POVO!!!
Incrível como a esquerda é pífia, covarde, lacradora, e só se presta a holofotes e discursos.
Nem falo do partido das trevas, que este é sobejamente conhecido.
Estou falando da outra esquerda, a rósea, do moribundo PSDB,
p ersonificada em demagogos tíbios, fracos e dissimulados, em tipos sonsos como esse Leite, em gosmas como João doria, Alckmin, José Serra, Bruno covas e outros tantas figuras completamente inúteis.
Em situações de catástrofe, a prática de saques é algo tão repugnante e tão grave que em muitos países fica autorizado atirar contra qualquer meliante que esteja praticando esse crime abominável. No entanto, o governo federal privilegia os criminosos e trabalha com todas as energias, não para defender as vítimas mas para libertar os criminosos.
O Ministro da Justiça comemorou a liberação de 50 porcento dos presos em flagrante delito nas audiências de custódia! O CNJ enviou recomendação para os Juízes do RS não decretarem prisão preventiva! o Judiciário do RS entendeu discriminação separar os presos em regime semiaberto das demais pessoas ! Acho que está tragédia reforça que criminoso não é vítima da sociedade, todos sofrem com este desastre, a maioria das pessoas é solidária e respeita o direito do próximo, menos criminoso que é tutelado como vítima pelo Ministro da Justiça, parte do Judiciário!
Que tristeza ver a inépcia do poder público e o sofrimento do povo nas mãos dos bandidos! Parabéns Sarah pelo artigo!
Estarrecedora a situação. Está de parabéns a repórter.
A relação de tantas facções criminosas do RS, acredito que esteja umbilicalmente ligada ao fato do estado ser o maior campo da esquerda no sul do país.
De “governos” preocupados com linguagem neutra, direitos de minorias sexuais, quilombolas, mst, Hammes, paradas gay, carnaval, soltar todos tipos de bandidos, criminalizar e impedir a atuação das polícias, o que se pode esperar? NADA QUE PRESTE! Em tempo de murici , cada um cuida de si!
Um Brasil governado por corruptos e ladroes nao poderia ter uma resposta diferente. FAÇAM O “”L”” E CONTINUEM ACEITANDO CALADOS E OMISSOS AS URNAS DA FRAUDE SEM VOTO IMPRESSO E AUDITAVEL.
Inacreditável, aonde chega a maldade dessa gente. Realmente, Eduardo Leite entregou o governo ao ineficaz e incompetente Paulo Pimenta, de bandeja.
Esses bandidos que estão no poder só se preocupam em roubar e se perpetuar no poder
Parabéns pelo trabalho e artigos esclarecedores de Tauany e Sarah.A imprensa independente prestou um serviço ético, digno e competente, a velha imprensa é apenas o lixo e mentiras de sempre.