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Congresso Nacional, em Brasília | Foto: Wikimedia Commons
Edição 219

Carta ao Leitor — Edição 219

A absolvição de culpados pelo STF e a vitória da liberdade de expressão no Congresso estão entre os destaques desta edição

Redação Oeste
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Num ranking que mede a percepção da corrupção em 180 países, o Brasil ocupa uma vergonhosa 104ª posição, ao lado da Argélia e da Sérvia — e bem abaixo da média entre outras paragens das Américas e da Europa. Publicado pela ONG Transparência Internacional desde 1995, o IPC, como é chamado, baseia-se no “grau em que a corrupção é percebida entre os funcionários públicos e políticos” e é considerado um indicador bastante confiável. Paradoxalmente, um dos países mais corruptos do planeta não tem mais um único condenado de colarinho branco entre sua população carcerária.

Durante dez anos, os brasileiros justificaram a suspeita de que o país é habitado por profissionais da esperança. Nesse período, a Operação Lava Jato contabilizou quase 300 condenações, fechou 400 acordos de colaboração premiada e recuperou R$ 25 bilhões desviados dos cofres públicos. “As batidas da PF na porta, às 6 da manhã, eram rotineiras em endereços onde até então dormiam em berço esplêndido os que se julgavam condenados à perpétua impunidade”, afirma Cristyan Costa na reportagem publicada nesta edição.

Há duas semanas, Dias Toffoli tentou apressar o final infeliz da operação agonizante. Sem contestar o conteúdo da colaboração premiada assinada pela Odebrecht no auge da Lava Jato, afirmou que a empreiteira foi vítima de um conluio e anulou as provas que incriminam Marcelo Odebrecht. Identificado como “amigo do amigo do meu pai” pelo departamento de propinas da empresa, o ministro do STF honrou o codinome. No mesmo dia, o Supremo mandou às favas outra condenação imposta a José Dirceu. 

“Somadas à suspeição do ex-juiz Sergio Moro e outras canetadas, as duas decisões mais recentes do STF tornaram o combate à corrupção praticamente impossível no Brasil”, afirma Cristyan. Além de Dirceu, Eduardo Cunha e Sérgio Cabral ameaçam voltar à cena do crime e tentar também a absolvição pelas urnas nas eleições de 2026.

A série de notícias ruins deu uma trégua nesta semana. Sem o número mínimo de parlamentares para fazer valer a sua vontade no Congresso, o governo federal sofreu duas derrotas acachapantes. Primeiro, foi mantido o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro a um projeto de lei que libera a censura nas redes sociais. Depois, foi confirmada a proibição das saidinhas para os presos em datas festivas.

“As únicas vitórias de Lula até agora foram em pautas econômicas, que custaram bilhões de reais em emendas e cargos cobiçados”, lembra Silvio Navarro, na reportagem de capa desta edição. Somados todos os votos, a base de apoio de Lula não chega a 150 congressistas.

A decisão causou comoção no consórcio de poder que reúne, além do governo federal e de ministros do STF — que já cogitam interferir mais uma vez nas decisões do Legislativo —, boa parte da imprensa velha. Esta resolveu atacar o que chamou de mais de 300 votos “a favor das fake news” que teriam sido dados por deputados de extrema direita, centro-direita e do chamado centrão. 

Para comemorar os 300 votos a favor da liberdade de expressão, que convalesce há anos no Brasil, vale destacar uma frase do filósofo britânico John Stuart Mill, que Rodrigo Constantino cita em seu artigo: “Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar essa única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade”.

Obs.: A segunda parte do artigo de Augusto Nunes será publicada na próxima semana.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação

Capa da Revista Oeste, edição 219, presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
5 comentários
  1. MB
    MB

    Ótima assinatura que eu fiz. Valeu. 👏👏🙌

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    O consórcio canalha do poder no oásis de Brasília pode tentar, mas não consegue cancelar a operação Lava Jato da mente da população honesta do Brasil.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse nível de percepção de corrupção não se sustenta, onde é que vai se buscar informações em ditaduras? E é levantamento de 1995. Aqui no Brasil a gente tá vendo hoje. Cleitinho tá descobrindo corrupção em tudo que é canto, quem sabia disso?

  4. Célio Antônio Carvalho
    Célio Antônio Carvalho

    Sim, perfeitamente horrível para um País, um Povo, ostentar índices de violência, de deseducação, de insegurança como no Brasil.
    Não é de hoje, mas no atual modelo que governa o País, a conivência e a participação em crimes de todo o tipo dificulta a situação de vida no dia dia.
    Não dá para crer numa estrutura polítco-administrativa-judiciária onde quem roubou, matou, extorquiu, mentiu e foi condenado e preso mas continua solto e até participando da vida administrativa normamalmente como se nada houvera.
    Eu tenho profunda indignação com essa situação e dó dos mais jovens que terão de arcar com essa dívida deixada por nós.
    É inaceitável. Triste.

  5. Vanderlei Zanetti
    Vanderlei Zanetti

    Pois é, se acreditarmos no “Índice de Criminalidade por Cidade 2024”, do mundo inteiro, publicado pelo banco de dados on-line da “NUMBEO”, o Brasil também decepciona, pois está pessimamente classificado. Dentre as 10 primeiras cidades com maior índice de criminalidade no mundo estão três cidades brasileiras. Rio de Janeiro em 7º lugar, Fortaleza em 9º lugar e Salvador em 10º lugar. Caracas está em primeiro lugar como a cidade do mundo com maior índice de criminalidade. Dentre as 100 primeiras cidades, o Brasil tem 10 cidades neste intervalo. Ou seja, 10% deste total. Resumo da ópera: Também ocupamos uma posição vergonhosa, neste quesito, considerando que criminalidade faz parte da segurança pública.

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