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Foto: Shutterstock
Edição 220

O agro pisou no freio

As maiores preocupações do agro brasileiro no momento são a insegurança jurídica, provocada por decisões dos tribunais superiores, e o aumento da carga tributária

Carlo Cauti
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O agronegócio brasileiro está com o freio puxado, preocupado com os rumos do país. Produtores rurais de Goiás e empresas que atuam no setor agrícola, reunidos no Encontro Regional de Agricultura Sustentável (Erass), relataram a Oeste que a situação no campo está cada vez mais difícil.

“Os investimentos minguaram. Desde novembro de 2022, após as eleições, o fechamento de contratos está muito mais lento. Ninguém quer colocar dinheiro na mesa sem saber o que vai acontecer no futuro”, explica um empresário do setor de construção em propriedades rurais.

Hostilidade ideológica e crescimento por força de inércia

O sentimento mais comum entre os produtores é o desânimo. “O resultado eleitoral de 2022 abateu psicologicamente muita gente que atua no agro”, diz um produtor de milho goiano. “E ainda hoje não há clima para investir.”

O governo Lula é considerado “ideologicamente hostil” ao agronegócio. E por isso ninguém quer colocar mais dinheiro na mesa.

Questionados sobre como o setor continua crescendo em dois dígitos, mesmo no primeiro trimestre de 2024, se confirmando como o motor do produto interno bruto (PIB) brasileiro, os agricultores foram unânimes: “É ainda o resultado do que foi feito em anos anteriores”.

“O agro poderia crescer muito mais”, afirma o produtor rural. “Se no ano passado os produtores tivessem investido como previsto antes das eleições, hoje o agro decolaria. Mas estamos com ritmos muito mais lentos.”

Agricultor brasileiro em um campo de milho | Foto: Shutterstock
Recuperações judiciais nas alturas

A situação financeira das empresas do agro também desperta preocupação. “A inadimplência de nossos clientes aumentou 50%. As empresas começam a ter sérios problemas de caixa”, disse um empresário do setor de sementes.

O número de recuperações judiciais de fazendas está aumentando rapidamente. Somente na região de Rio Verde, coração do agro de Goiás, há pelo menos 37 propriedades que entraram em pré-falência nos últimos meses.

A alta nos preços dos insumos agrícolas, a baixa nas cotações de grãos, carnes e outros alimentos, junto com as taxas de juros elevadas, estão provocando sérias dificuldades para os produtores.

Insegurança jurídica e carga tributária preocupam mais do que MST

As maiores preocupações do agro brasileiro no momento são a insegurança jurídica, provocada por decisões dos tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF), e o aumento da carga tributária, que o governo Lula está promovendo para aumentar a arrecadação.

A recente medida provisória (MP) que limita o uso de PIS/Cofins — na tentativa de financiar a desoneração da folha de pagamentos — foi uma verdadeira bomba no agro brasileiro. E ganhou o apelido de “MP do Fim do Mundo”.

O risco para o agro é tão grave que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a devolução da MP.

“Essas medidas extemporâneas nos preocupam mais do que o perigo de invasões do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra]. Contra os invasores temos como nos defender. Contra o que vem de Brasília, não”, diz um produtor de soja de Mato Grosso.

Senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado Federal, e senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, no plenário do Senado Federal, durante sessão deliberativa ordinária (5/6/2024) | Foto: Jonas Pereira/Agência Senado
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Desembarque da China

O primeiro navio gigante da montadora chinesa BYD atracou em um porto brasileiro. A embarcação, chamada Explorer Nº 1 BYD, transportou 5.459 veículos, entre elétricos e híbridos, para abastecer o mercado nacional.

As imagens do “porta-carros” causaram forte impressão por seu porte. Foi sua primeira viagem em continente americano. A movimentação de veículos desembarcados no Porto do Suape foi a maior já registrada.

Preocupação das montadoras

Com o desembarque dos carros chineses, concretizam-se os temores expressados por outras montadoras que atuam no Brasil — a BYD vai produzir apenas uma mínima parte de seus carros no Brasil, e importar até meio milhão de veículos por ano produzidos na China.

A fábrica de Camaçari (BA), adquirida em 2023 pela BYD, só vai entrar em produção entre o final deste ano e 2025. A produção inicial deveria ser de 150 mil veículos por ano.

Nos cinco primeiros meses de 2024, a BYD já emplacou mais de 25,5 mil automóveis, alta de 43% em comparação aos emplacamentos realizados em 2023 (17,9 mil).

Em abril, a empresa se tornou a nona montadora a emplacar mais carros no Brasil, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Navio Explorer Nº 1 BYD | Foto: Divulgação/BYD
Concorrência desleal

Os produtores chineses são acusados de receber recursos do governo de Pequim, e por isso estariam realizando dumping com produtores de outros países.

O governo chinês negou a acusação. Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, a competividade dos carros elétricos chineses “é o resultado dos efeitos combinados das vantagens comparativas e das leis de mercado”.

A opinião do resto do mundo, todavia, é outra. Os Estados Unidos já aplicaram impostos alfandegários de 100% sobre os carros elétricos chineses. A União Europeia vai aplicar impostos entre 25% e 30%. No Brasil, a partir de julho, os impostos dos elétricos vão para 18%; e dos híbridos, para 25%.

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Embraer de vento em popa

A Embraer não para de receber encomendas internacionais. A companhia aérea estatal do México, Mexicana de Aviación, encomendou 20 jatos da Embraer modelo E2. As entregas começarão no segundo trimestre de 2025.

O andamento das ações da fabricante brasileira é um retrato dos resultados positivos acumulados nos últimos meses. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), os papéis ordinários da Embraer se valorizaram quase 90% nos últimos 12 meses.

Protótipo do E2, da Embraer, taxiando após exibição aérea (14/7/2016) | Foto: Wikimedia Commons
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Aposta contra o Brasil

O mercado acredita que o real vai perder ainda mais força em relação ao dólar. E está apostando pesado contra a moeda brasileira.

Segundo os dados divulgados pela B3, a posição comprada em dólar contra o real via derivativos por investidores estrangeiros bateu máxima histórica nesta semana, atingindo US$ 73,5 bilhões.

O Banco Safra, por sua vez, cortou as previsões para o Ibovespa até o final de 2024, passando de 152 mil pontos para 145 mil. Hoje o Ibovespa está na casa dos 122 mil pontos. Desde o começo do ano, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo perdeu cerca de 8%, conquistando o título de pior bolsa do mundo.

Leia também “O problema é fiscal”

7 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Os primeiros projetos de carros elétricos datam do fim do século XIX.
    Nos últimos 100 anos já foram realizadas umas 3 ou 4 tentativas de produção em série desta tecnologia.
    No Brasil a GURGEL produziu modelos movidos a baterias sem a tecnologia existente nos dias atuais.
    O petróleo é poluente? Sem dúvida mas hoje muito menos do que há 30 anos.
    As baterias de lítio é a solução? Ninguém pode afirmar com consistência.
    A mineração do lítio consome enormes quantidades de água o que poderá ser prejudicial em um futuro próximo.
    Quais as tratativas que serão dispensadas ao descarte destas baterias?
    A China já possui enormes “cemitérios” de carros elétricos descartados, oferecendo riscos como incêndios, vetor para doenças provocadas por acúmulo de animais peçonhentos e outros danos.
    Com a palavra os “especialistas” em ecologia. Greta, Di Caprio, beneficiários da Lei Rouanet, etc.

  2. MB
    MB

    Leitura do que acontece é importante, mas o fundamental é saber por que?

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Essa BYD deve ter esquema com a ditadura chinesa. Não tem quem me convença do contrário.

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esses tribunais superiores têm que ir para o lixo e olhe olhe nem todo lixo. Eles dão mais valor ao uso de maconha e ao homossexualismo do a constituição. Isso é bando de vagabundo

  5. Célio Antônio Carvalho
    Célio Antônio Carvalho

    Muito boa a reportagem meu caro Carlo Cauri
    Infelizmente a situação é de preocupação no setor agropecuário brasileiro.
    A insegurança generalizada, as incertezas e um governo declaradamente contrário ao Agro. Que ameaça, que sabota, que importa alimentos sem necessidade. Nós sabemos o porquê e para que servem essas atitudes, já são bastante conhecidas.
    Na indústria automobilística também a situação é difícil. Os Carros estão muito caros, incompatíveis com o poder aquisitivo do povo. Os impostos e taxas são descabíveis, insuportáveis. Ter um carro hoje não é para que quer.

    1. Célio Antônio Carvalho
      Célio Antônio Carvalho

      Cauti***

    2. Célio Antônio Carvalho
      Célio Antônio Carvalho

      quem***

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