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Foto: Montagem Revista Oeste/Midjourney
Edição 223

Milionários em fuga do Brasil

Entre 2013 e 2023, o Brasil foi o segundo país do mundo que mais perdeu donos de grandes patrimônios

Carlo Cauti
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Os milionários (em dólares) brasileiros continuam saindo do país. Segundo um estudo da consultoria especializada Henley & Partners, cerca de 800 brasileiros com um patrimônio de ao menos US$ 1 milhão vão deixar o país neste ano.

Um número que equivale a cerca de 1% do total dos milionários brasileiros, que somam cerca de 82 mil pessoas. Desses, 210 têm um patrimônio de ao menos de US$ 100 milhões e 25 são bilionários.

Ranking para não comemorar

O Brasil é o sexto país do mundo que registra o maior êxodo de milionários, ficando atrás apenas de China, Reino Unido, Índia, Coreia do Sul e Rússia. Entre 2013 e 2023, o Brasil foi o segundo país do mundo que mais perdeu milionários.

Os destinos favoritos deles são Estados Unidos e Portugal.

Desde 2022, ano da vitória eleitoral de Lula, mais de 10 mil milionários brasileiros entregaram a declaração de saída definitiva para a Receita Federal.

O Brasil é o sexto país do mundo que registra o maior êxodo de milionários | Foto: Shutterstock
Medo do futuro determina a fuga

Segundo o diretor-presidente de um family office de São Paulo voltado para auxiliar milionários que queiram sair do Brasil, há um aumento de interesse para transferir pelo menos o patrimônio para fora do território nacional. (Family office são escritórios especializados em gerenciar o patrimônio de famílias ricas, auxiliando-as em como e onde investir)

“A razão mais comum que leva brasileiros a enviar seus recursos para o exterior é o medo do futuro econômico do país”, disse o gestor. “Seguido por temor pela própria segurança, aumento dos impostos e desvalorização cambial. Um combo que estamos vivenciando nestes meses.”

Segundo esse diretor, o câmbio está se tornando o estopim mais imediato. “O dólar não vai voltar nunca mais ao nível pré-pandemia”, disse. “Esquecemos isso. O patamar-base para o câmbio do dólar é R$ 5,50. No ano que vem será R$ 6 e alguma coisa. E depois R$ 7. E assim por diante. Então quem pode está dolarizando seu patrimônio para evitar pelo menos esse risco”.

Os dados corroboram essa percepção, com o fluxo financeiro registrando recordes negativos nos primeiros cinco meses do ano. Segundo dados do Banco Central do Brasil (BC), mais de US$ 28 bilhões já saíram do país entre janeiro e maio de 2024.

A razão mais comum que leva brasileiros a enviar seus recursos ao exterior é o medo do futuro econômico do país | Ilustração: Shutterstock
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Operação Desinformação

Segundo fontes do mercado financeiro, os boatos que circularam na Faria Lima na semana passada sobre uma possível nomeação de Guido Mantega, André Lara Resende, Luiz Awazu ou Aloizio Mercadante para o comando do Banco Central (BC) teriam sido plantados pelo próprio governo Lula.

“Foi uma grande manobra de desinformação e manipulação”, disse uma fonte da coluna. “Quiseram assustar o mercado com dois nomes intragáveis para deixar o de Gabriel Galípolo mais palatável.”

Segundo um gestor de fundos de investimento, depois do susto, o mercado começou a raciocinar. E percebeu que a oposição aos nomes indicados seria tamanha que, mesmo se o presidente quisesse, eles não se sustentariam.

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Nego, porém penso nisso

Gabriel Galípolo, atualmente diretor de política monetária do Banco Central, é considerado o sucessor natural de Roberto Campos Neto no comando da instituição.

Lula se reuniu com Galípolo na última terça-feira, 25, no Palácio do Planalto, para discutir a mudança da meta de inflação. O encontro, que contou com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi considerado pelo mercado como um sinal claro do futuro comando do BC.

O protocolo previa a presença de Campos Neto na reunião com o presidente da República. Mas, por causa dos repetidos ataques públicos que Lula fez ao economista, acusado de ser “bolsonarista”, o representante do BC foi Galípolo.

Poucas horas depois da reunião, Lula declarou que Galípolo é um “companheiro altamente preparado”, um “menino de ouro” e que “tem todas as condições para ser o presidente do BC”. Mas o presidente garantiu: “Nunca falei com ele sobre isso”.

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Juros vão cair na marra

A previsão dos investidores ouvidos pela coluna é que em 2025 os juros caiam para um patamar muito inferior ao atual. “Podem cair gradualmente ou de forma galopante”, explica o gestor de outro family office. “Acredito que será a segunda hipótese, considerando as pressões que vêm do Planalto”.

Independentemente do nome que Lula escolherá, o mercado está se preparando para um “Tombini 2”. Ou seja, juros cortados na marra sem pensar nos efeitos inflacionários ou sobre o câmbio. “Já vimos esse filme no governo Dilma. E, pelo que vimos até agora com Lula, não deverá ser diferente”, disse o gestor.

A previsão dos investidores é que em 2025 os juros caiam para um patamar muito inferior ao atual | Foto: Shutterstock
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Dólar já queimou a largada

O câmbio já está antecipando essa mudança na gestão da política monetária brasileira, disparando para R$ 5,54, o maior nível desde 2021, em plena pandemia de covid-19. Mas as declarações de Lula ao longo da semana pioraram essa tendência de alta.

Em entrevista concedida na última quarta-feira, 26, Lula demonstrou resistência a realizar cortes de gastos, dizendo preferir um ajuste fiscal por meio do aumento de impostos. Uma escolha criticada pelos economistas e pelo mercado financeiro.

“O mercado precisa de confiança. E, quando o presidente solta uma declaração como essa, a confiança vai embora”, disse um gestor da Faria Lima. “Mesmo que os dados macroeconômicos do Brasil não sejam tão ruins assim”.

Lula disse que a dívida pública brasileira é baixa em comparação com a de outros países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Dívida do Brasil não é dívida, é troco, de tão pequena que é se comparada à de outros países”, declarou Lula em outro evento na última quinta-feira.

Todavia, o Brasil é o país emergente com a segunda maior dívida pública do mundo, abaixo do Egito. O que espanta os investidores internacionais. Os quais, não por acaso, nos últimos leilões estão demandando taxas maiores para comprar títulos da dívida pública brasileira.

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Menos, Ibovespa

Mais um banco internacional cortou as suas previsões sobre como o Ibovespa terminará o ano. Segundo o J.P. Morgan, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deverá encerrar 2024 em 135 mil pontos, ante 142 mil pontos previstos anteriormente.

Nas últimas semanas, outros grandes bancos, brasileiros e internacionais, também tinham revisado para baixo suas projeções para o Ibovespa.

No começo de junho, o Banco Safra cortou de 152,5 mil para 145 mil pontos. No final de maio, tinha sido o Santander, que passou de 160 mil para 145 mil. Mas já no final de 2023 o Goldman Sachs tinha sido ainda mais drástico, prevendo que o principal índice da Bolsa brasileira encerrará o ano em patamar inferior ao que fechou em 2023, passando de aproximadamente 132 pontos para 122 mil pontos.

Segundo o J.P. Morgan, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deverá encerrar 2024 em 135 mil pontos, ante 142 mil pontos previstos anteriormente | Foto: Shutterstock
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Sabesp menos disputada

A disputa para controlar a Sabesp ficou menos concorrida. A gigante do saneamento Aegea desistiu de apresentar proposta. A Equatorial deverá se tornar a grande vencedora do leilão, previsto para esta sexta-feira, 28.

Segundo fontes ligadas à operação, a empresa teria ficado insatisfeita com a cláusula que impede o maior investidor de aumentar sua participação na Sabesp, a chamada “poison pill”, ou “pílula de veneno”, em português.

O modelo de leilão foi desenhado pelo governo do Estado de São Paulo para evitar que a Sabesp seja controlada por apenas uma empresa.

A mesma cláusula deixou de fora outro potencial interessado: o empresário Nelson Tanure. Até algumas semanas atrás, havia rumores de que o acionista da Light, Oi e Gafisa pudesse entrar no certame, apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entretanto, ele decidiu se retirar por considerar o negócio demasiadamente arriscado.

Leia também “A Faria Lima está com medo”

1 comentário
  1. José Luiz Moraes Passos
    José Luiz Moraes Passos

    Isso acontece quando se coloca quadrilhas para “administrar” um país. Bolsonaro era a honestidade, decência, sensatez e patriotismo no comando. Com a bandidada (stflixo, luladrão, congressolixo,etc) temos roubalheira, imundice e destruição da nação.

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