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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Fernando Frazão/Agência Brasil
Edição 224

O sal da picanha

Enquanto Lula fala, o dólar sobe, mas a culpa é dos jornalistas 'cretinos' que percebem como causa a boca presidencial

Alexandre Garcia
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Quando o presidente anunciou impostos mais altos “para as carnes chiques” — como disse na rádio em Salvador —, logo lembrei de Jânio Quadros proibindo biquíni e rinha de galo, depois de tomar algumas. Quando o vi, no dia anterior, afirmando que o MST não invade terra, porque quem tira terras do agro são os bancos, lembrei de Biden balbuciando coisas sem nexo. Enquanto Lula fala, o dólar sobe, mas a culpa é dos jornalistas “cretinos” que percebem como causa a boca presidencial. Fez até uma reunião para saber quem está por trás desse “absurdo”. Imagino seus interlocutores se olhando para saber quem vai pôr o guizo no pescoço do gato.

Desde que foi convencido a dar entrevistas todos os dias para ocupar lugar na mídia, o presidente Lula insiste em criticar a autonomia do Banco Central e, em especial, seu presidente, Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro. À medida que fala sobre contas públicas, juros e Banco Central, faz o dólar disparar. Contra a autonomia do Banco Central, Lula quer que o presidente seja indicado por ele. Aí o dólar vai a R$ 5,66, encarecendo tudo. No entanto, ressalva que tem que esperar com paciência o fim do mandato de Campos Neto, porque é lei do Congresso. Então por que fala, se vai esperar? Só se desgasta e prejudica a economia.

Tenho um carro alemão comprado da Senna Import, do tricampeão Ayrton. Quando comprei, o ministro da Fazenda era Pedro Malan, no governo FHC. Era abril de 1995, e o dólar estava a 0,84 centavos do recém-nascido real. Paguei R$ 64 mil. Hoje, o mesmo modelo custa R$ 1,2 milhão, pela tabela Fipe. E o dólar, depois da mais recente entrevista de Lula, foi a R$ 5,70. Como no preço dos automóveis, o valor do dólar afeta os demais preços num mundo globalizado. Erros simples de avaliação, cometidos por quem sempre teve a fama de intuitivo, revelam certo cansaço, neste ano e meio de terceiro mandato.

Lula não considerou o bom exemplo, e mantém o ministro Juscelino Filho, mesmo indiciado por corrupção pela Polícia Federal. Pega mal encarar um indiciamento por corrupção como algo com que pode conviver

Lula chegou a imitar Bolsonaro na crítica ao Supremo: “A Suprema Corte não tem que se meter em tudo”. Aliás, o falar excessivo atribuído a Bolsonaro parece estar sendo superado por Lula reclamando de mães que têm filhos demais, anunciando que não vai financiar os arrozeiros gaúchos que saíram de secas para enchente recordista e acusando o presidente do Banco Central de trabalhar para os banqueiros, mas sempre elogiando o MST que, por sua vez, critica Lula por frustrar as expectativas dos sem-terra. Na polêmica da droga, lavou as mãos como Pilatos. Eximiu-se de opinar, transferindo a decisão para a “ciência”, esquecendo que as famílias esperam a ação social e sanitária do Estado para evitar, tratar, reprimir e pegar o traficante — e diminuir a desgraça.

Até hoje o país lembra do presidente Itamar, que afastou o ministro Hargreaves até que ele demonstrasse inocência de uma suspeita, pois um ministro precisa estar acima de qualquer suspeita. Lula não considerou o bom exemplo, e mantém o ministro Juscelino Filho, mesmo indiciado por corrupção pela Polícia Federal. Pega mal encarar um indiciamento por corrupção como algo com que pode conviver. Quando perde no Congresso e derrubam seus vetos, culpa as lideranças, os ministros e agora os jornalistas e, provavelmente, seus marqueteiros. Mas inventou a importação de 1 milhão de toneladas de arroz, que resultou no fiasco do leilão do arroz com sorvete e arroz com queijo. Depois de mais desgaste com o agro, desistiu.

Em política externa não é diferente. Está perto de Maduro, de Cuba, de Ortega, do Irã, do Hamas, e longe de Israel, com quem temos contratos de defesa e tecnologia, e da Argentina, com quem temos vizinhança e parceria comercial importantíssima. Milei em Balneário Camboriú com Bolsonaro, mas não com Lula na reunião do Mercosul em Assunção. No “golpe” da Bolívia, Lula foi apressado e enganado pela fraude que Evo Morales não engoliu. Nos Estados Unidos, está cada vez mais palpável a volta de Trump, e o Brasil poderá ficar só com os amigos de Lula, já meio distanciado de Boric, do Chile, que recusou, em Brasília, a imposição de Maduro, e sem afinidade com os presidentes do Paraguai e do Uruguai. Enfim, o presidente do Brasil lembra Biden e Jânio, e agora oferece picanha salgada com imposto.

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12 comentários
  1. João Carlos Torrecillas
    João Carlos Torrecillas

    O atual presidente parece estar se vingando dos brasileiros que o julgaram e o condenaram à prisão por seus delitos de corrupção , o que o faz andar contra o bom senso. É pura teimosia de idoso envelhecido endemoniado.

  2. Antônio de Padua de Oliveira
    Antônio de Padua de Oliveira

    LULA, CALADO, É UM EXTRAORDINÁRIO E GENIAL POETA !!!

  3. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Alexandre, que tal entrevistar FHC para que ele se explique. Pensar que como ex tucano admirei essa figura que assiste a tudo isso calado. Esperando o que?

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Ele está acostumado com os “jornalistas” de coleira, a base de dinheiro público, como os pertencentes a Rede Globo. Quando surge jornalista de verdade, fora desta seita, ele chama de “cretino”.

  5. Maria Lucia Benevides de Schueler
    Maria Lucia Benevides de Schueler

    Excelente avaliação! Simples e clara .

  6. MNJM
    MNJM

    O governo do retrocesso, uma equipe desqualificada igual ao Presidente. O que esperar??

  7. RONALDO PEIXOTO DE MELLO
    RONALDO PEIXOTO DE MELLO

    O higiênicos colocaram este país numa fria. Vamos amargar um atraso de 10a.

  8. RONALDO PEIXOTO DE MELLO
    RONALDO PEIXOTO DE MELLO

    O higiênicos colocaram este país numa fria. Vamos amargar um atraso de 10a.

    1. Teresa Guzzo
      Teresa Guzzo

      Excelente texto mestre Alexandre Garcia. Enquanto Lula estiver no poder o povo nunca terá picanha nem qualquer benefício. A destruição econômica de nosso País está escancarada.Criticar Roberto Campos Neto, indicado pelo seu antecessor não leva a nada,está fazendo boa gestão em dias muito difíceis. Agora é fácil chamar jornalistas de “cretinos”,apenas por trazerem informação. E Haddad quando questionado de surpresa por jornalistas,só gagueja e diz que não possui a informação .Culpe a si mesmo por ter feito péssimas indicações ao seu imenso ministério.

  9. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Alguém nesse país bota fé nesse governo que está governando sem nenhuma credibilidade promovendo todo tipo de anacronismo e antagonismo num processo esdrúxulo sem cabimento algum, governando com o poder judiciário cometendo as maiores ilegalidades e irregularidades, um governo pautado pelo avesso, levando o país ao desfiladeiro

  10. Brian
    Brian

    É nisto que dá um analfabeto ladrão no executivo. Impossível dar certo.

  11. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Era uma vez um presidente que sabia que se falasse contra o mercado o dólar subiria. Como ele tinha comprado meses atrás o dólar a 5,20, ele pensou:vou falar mal do mercado e do BC e aí a moeda americana sobre e a gente aproveita e vende. Vou avisar minha companheirada do plano. Aí subiu o dólar e ele ganhou um dinheirão, mais que os fundos de investimento de risco nos paraísos fiscais. Com todo o time com a guaica cheia, voltou até a imprensa e disse com voz aveludada que tudo irá melhorar. Daqui alguns dias ele volta a carga, pois comprará novamente dólares em baixa para depois vender na alta impulsionada por ele. Ah, tem a briga com o BC com os juros altos, mas ele não acha alto os juros pagos pelo agro…

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