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Polícia americana mata o atirador que tentou assassinar Donald Trump | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Edição 226

A alegria grotesca da mídia woke com o atentado contra Trump

Jornalistas de esquerda ultrapassaram todos os limites morais ao tratar de uma tentativa de assassinato

Brendan O'Neill, da Spiked
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Imagine ser tirado do ar porque seus chefes estão preocupados que você possa se vangloriar de uma tentativa de assassinato. Ao que parece, esse foi o destino dos especialistas do programa de entrevistas Morning Joe, da MSNBC. O programa foi tirado do ar após a tentativa de assassinato de Donald Trump, supostamente por medo de que um convidado pudesse fazer um comentário “impróprio” sobre o tiroteio. A informação é da CNN, que relata que a MSNBC suspendeu seu programa mais conhecido, apesar dos recentes eventos “sísmicos”, como uma medida preventiva contra a possibilidade de alguém entre “mais de duas dúzias de convidados” dizer algo insano sobre a violência cometida contra Trump.

Se for verdade — não temos motivos para duvidar, uma vez que a mídia esquerdista tem tido muitas conversas “impróprias” sobre a tentativa de assassinato de Trump —, é assustadoramente revelador. É impressionante que uma das principais emissoras liberais dos Estados Unidos, pelo jeito, não possa confiar que seus próprios apresentadores mantenham um tom sóbrio e decente depois da tentativa de assassinato de um ex-presidente. Isso aponta para algo mais do que o problema do “sensacionalismo jornalístico”, em que as pessoas dizem coisas ultrajantes para ganhar mais cliques e influência. E mostra algo pior do que o “Transtorno de Desequilíbrio Político” de Trump. Não, a situação mostra que as elites woke estão totalmente descoladas das normas da política democrática e que estão adentrando um mundo alternativo de injúrias e vingança.

Não sei de você, mas se fosse impedido de fazer meu trabalho por um dia, supostamente por causa da preocupação de que eu pudesse minimizar, zombar ou justificar a tentativa de assassinato de um ser humano, eu faria uma séria reflexão sobre mim mesmo. Se os chefões da MSNBC de fato ficaram tensos com o Morning Joe, sabemos muito bem que tipo de comentário “impróprio” eles temiam. Eles devem ter ficado preocupados com a possibilidade de alguém dizer que “Trump alimentou a violência que se voltou contra ele”. Ou que o problema de fato depois do atentado são os “eleitores fanáticos” de Trump, que estão mais convencidos do que nunca de seu “apelo messiânico”. Ou que a sobrevivência de Trump a um tiroteio pode, infelizmente, aumentar “seu apelo com o eleitorado negro”. Ou que “nada justifica uma tentativa de assassinato, mas” — mas — “será que Trump teve alguma responsabilidade na mudança das regras do jogo?”. Eles podem ter ficado com medo de que seus liberais dissessem esse tipo de coisa porque os liberais de outros lugares disseram exatamente essas coisas.

Foto: Shutterstock
Atrocidade contra a democracia

A cobertura da mídia esquerdista sobre a tentativa de assassinato de um político foi pavorosa. Aconteceram manchetes loucas e imediatas, como “O Serviço Secreto tira Trump do palco depois que ele cai em um comício”, da CNN. O que o fez cair? Uma rajada de vento? Talvez tenha sido uma “tentativa de assassinato quase pacífica”, como disseram todos os sábios do X. “Trump foi escoltado para fora do palco durante um comício depois que barulhos altos soaram na multidão”, noticiou a Associated Press. Será que foram fogos de artifício? Um toque de celular irritante? Entendo que os veículos que dão notícias urgentes precisam divulgar as coisas rápido, mas as imagens do rosto ensanguentado de Trump já estavam circulando enquanto essas pessoas falavam sobre “queda” e “barulho”. Não conseguiram nem dizer “possível tiroteio”?

Depois, houve a discussão sobre o impulso eleitoral que Trump poderia ter com o fato de ter sido baleado. A Forbes publicou uma das colunas mais malucas que já li. “Será que sobreviver a um tiroteio será o próximo apelo de Donald Trump com os eleitores negros?”, ela perguntou. A coluna foi escrita por Shaun Harper, um “pesquisador de diversidade, equidade e inclusão”. Ele temia que “levar um tiro” pudesse melhorar a situação de Trump entre os afro-americanos, uma vez que “muitos negros (não todos) já passaram por isso”. É difícil saber o que é pior: a implicação quase racista de que os negros americanos vão pensar “ele foi baleado, eu também fui” e correr para votar nele, ou se concentrar menos no mal da violência política do que em seus supostos benefícios. Se a sua reação a uma tentativa de assassinato for “que droga, a vítima vai tirar proveito disso”, é possível que você tenha perdido a bússola moral.

David Frum entrou em pânico no Atlantic e disse que Trump “vai explorar o crime feroz de um atirador” para obter ganhos eleitorais. O Irish Times publicou uma denúncia superficial da tentativa de assassinato de Trump — “idiota e errado”: bom saber. Mas em seguida disse “vamos ver como ele explora isso”. “Esse evento pode muito bem ajudar o ex-presidente a ganhar a Casa Branca em novembro”, emendou. Acho que às vezes lemos comentários como esse sem perceber sua frieza, sua pós-moralidade. Em termos simples: se a sua principal preocupação após a tentativa de assassinato de um candidato à Presidência em quem dezenas de milhões de pessoas estão ansiosas para votar é pensar “ah, não, isso pode ajudá-lo”, em vez de “ah, não, isso é uma atrocidade contra a democracia”, você claramente permitiu que seu pavor em relação a Trump destruísse sua bússola moral.

Ilustração: Shutterstock
Comparando um assassino com sua caça

O pior de tudo foi a insinuação da mídia liberal e, às vezes, a insistência total de que Trump provocou a tentativa de assassinato contra si mesmo. “Trump alimentou a violência que se voltou contra ele”, disse o Irish Times. “É possível condenar a violência política e, ainda assim, buscar suas causas subjacentes”, afirmou o jornal. Imagine se alguém dissesse isso depois do assassinato de JFK. Ou do assassinato de Jo Cox. O fato de o jornal de referência da Irlanda parecer pensar que pode haver “causas subjacentes” para o ataque violento de um homem perverso não apenas a um indivíduo, mas ao próprio processo democrático, é uma prova do quanto a burguesia ocidental se contagiou pelo “Transtorno de Desequilíbrio Político” de Trump.

Ao não condenarem claramente esse ato de selvageria, eles sinalizam que, às vezes, a selvageria é aceitável

“Nada justifica uma tentativa de assassinato — mas Trump teve um papel na mudança das regras de combate?” Esta pergunta foi feita pela Sky News. Esse “mas” será a primeira prova em um futuro julgamento da loucura das elites da mídia. Trump se tornou “uma vítima da violência que ele fez tanto para legitimar”, argumentou Fintan O’Toole. E agora seus “devotos fanáticos” vão ficar ainda mais convencidos de seu “apelo messiânico”. Vale perguntar o que passa pela cabeça dos arrogantes escribas da imprensa do establishment para fazê-los zombar dos “devotos” de Trump apenas alguns dias depois de um deles ser morto e dois ficarem gravemente feridos por causa de um assassino perverso e imprudente.

Para mim, nada captura melhor a ruptura irreversível entre a mídia e a moralidade básica do que a comparação que Frum fez entre Trump e o homem que tentou matá-lo. O “atirador de Trump, em seus extremos opostos da trajetória de uma bala, estão, no entanto, unidos como inimigos comuns da lei e da democracia”, escreveu ele. Isso passa do limite. Falar de um assassino e seu alvo na mesma linha, comparar um assassino com sua caça, não enxergar o tamanho do abismo entre um homem que tentou matar um candidato eleitoral e um homem que está concorrendo a uma eleição… isso é mais que uma hipérbole, mais que uma provocação. É uma inversão moral de proporções orwellianas, em que a noite se torna dia, o preto se torna branco, e o atirador é igual ao homem em quem ele atirou.

Thomas Matthew Crooks, responsável pelo ataque ao ex-presidente Donald Trump | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Thomas Matthew Crooks, responsável pelo ataque ao ex-presidente Donald Trump | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Selvageria aceitável

As consequências do atentado contra Trump nos deram uma imagem sombria da decadência moral de nossos governantes culturais. Desde a discreta alegria com a tentativa de assassinato de Trump até a preocupação de que isso ajude a levá-lo de volta à Casa Branca, eles continuamente colocam seus próprios medos partidaristas mesquinhos acima da clareza moral que o momento exige. Minha pergunta é: se eles conseguem ser tão indiferentes em relação a esse ato de violência, com que outras atrocidades vão ficar tranquilos? Que outro terror eles poderiam justificar, desculpar, alegar que tem “causas subjacentes”? Que nível de assassinato eles estariam dispostos a tolerar para restaurar o que consideram ser seu governo legítimo? Ao não condenarem claramente esse ato de selvageria, eles sinalizam que, às vezes, a selvageria é aceitável. Não é apenas Trump que precisa se preocupar com o fato de que tantas figuras em nossa elite cultural parecem tão insensíveis à brutalidade.


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, A Heretic’s Manifesto: Essays on the Unsayable, foi publicado em 2023. Brendan está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “Glastonbury expôs a virtude fake da elite”

5 comentários
  1. Antonio Luiz Menegassi
    Antonio Luiz Menegassi

    Faltou citar na reportagem os comentários obscenos de nossa imprensa tupiniquim

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Em todo canto do mundo existem ”jornalistas” sem noção.

  3. Ivan Sérgio de Paula lima
    Ivan Sérgio de Paula lima

    Esquerda progressista criminosa!

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Depois que inventaram essa cultura de viado o certo é o errado e o errado é o certo

  5. André Luiz Nascimento Santos
    André Luiz Nascimento Santos

    Essa Imoralidade não é exclusiva da imprensa americana. Infelizmente ela se encontra enraizada na nossa imprensa tupiniquim, reflexo dos tempos apocalípticos semeados pela Esquerda criminosa.

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