Com pouco mais de 18 meses no poder, o governo Lula 3 não dá trégua à fixação arrecadatória que o norteia desde a proclamação do resultado da eleição, em outubro de 2022. No início desta semana, no dia 15 de julho, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, voltou a defender o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para compensar a desoneração. Não é disco arranhado. É o governo Lula falando de novo em aumentar impostos para fechar a conta. Até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quase um aliado de primeira hora, é contra a ideia.
Em meio a tudo isso, há uma preocupação com a imagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, personagem principal da profusão de memes irônicos que tomou conta das redes sociais e da imprensa, em alusão à ineficiente política econômica do governo associada ao aumento de impostos sem a contrapartida de responsabilidade com os gastos.
O PT saiu em defesa do ministro, veículos e jornalistas do consórcio de mídia alinhado ao Palácio do Planalto tentaram minimizar a repercussão, mas quando uma política econômica cai na joça com tanta força é difícil mudar a opinião pública. Ainda mais se os fatos que deveriam desmentir a versão irônica das políticas adotadas na economia vão no sentido de justificar a piada e até o codinome do ministro. Um sonoro trocadilho de Haddad por “Taxxad” já alimenta o debate informal há tempos. A sequência era previsível e veio com a inspiração em nomes de filmes, séries e programas populares de TV para a comparação jocosa: “Taxando na chuva”, “Rombo, programado para taxar”, “O taxador do futuro”, “Corra que a taxa vem aí”, “Taxando o pobre adoidado”, “A taxa é nossa”, “Stallone Cobra imposto”, “Rombocop, o taxador sem futuro” e “Zé do Taxão” foram apenas alguns voltados paro o público adulto. Mas os memes também se preocuparam com a longevidade da brincadeira e a inclusão do público infantil com a criação da “Taxinha Pintadinha”, “Meu imposto favorito” e “Taxati Taxalá”.
Uma piada, um meme ou uma graça raramente vêm antes do fato. Seria contraproducente para a lógica do humor, que requer amplo conhecimento de algo para permitir a ironia com grande adesão e compreensão popular. A ridicularização da política de Haddad e de Lula foi baseada em fatos reais. E esses fatos, com os quais o governo realmente deveria se preocupar, não têm graça nenhuma para a vida do país e dos brasileiros.
Vejamos a situação da dívida pública, por exemplo. Os números são eloquentes: só nos primeiros 14 meses da gestão, o governo somou à dívida bruta mais de R$ 1 trilhão. Nos números mais recentes, dos 12 meses até maio, o déficit se manteve no mesmo patamar: R$ 1,06 trilhão. É gasto comparável ao da pandemia de covid-19, mas sem pandemia. Como justificar? A relação dívida/PIB é outro ponto de muita preocupação. No final de 2022, último ano do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil reduziu a dívida pública ao equivalente a 71,7% do PIB, depois de herdar 75,3% de Michel Temer, em 2018. Até aqui, sem justificável melhora da qualidade de vida brasileira, o governo Lula 3 continua aumentando os gastos. Com seu inequívoco estilo perdulário de ser, fez a relação entre a dívida pública e o produto interno bruto, medida inconteste de solvência de países em desenvolvimento, saltar para 76,8%, até agora. Os dados são do relatório do Banco Central e referentes a maio deste ano. A estimativa oficial do Ministério da Fazenda é que a dívida chegue a 79,1% do PIB, em 2027. Para analistas de mercado, se o gasto continuar descontrolado e a economia não reagir fortemente, pode chegar a 90,1% da relação dívida/PIB em 2028.
Perceba que o meme do “rombo” se justifica em números oficiais. A população enxerga isso com clareza. Faz piada porque ainda não se cobra imposto sobre gargalhada, mas sabe que o assunto é muito sério.
Recentemente, embora a equipe econômica tenha tentado mudar a narrativa ao apresentar um plano de corte nos gastos de R$ 25 bilhões e eventuais contingenciamentos, Lula é incorrigível. Na terça, dia 16, depois da insistência de aumento da CSLL de um ministro no dia anterior e uma calmaria de semanas porque falou menos sobre economia, jogou tudo fora em entrevista à TV Record. Aos jornalistas da emissora, o presidente disse que ainda precisa ser “convencido” a cortar despesas e que “não é obrigado” a cumprir metas fiscais, as mesmas metas que o seu governo colocou no arcabouço fiscal e que já havia afrouxado diante de gastos incontrolados. Ou seja, fez tudo ao contrário do que havia prometido o ministro Fernando Haddad, a quem coube passar pano uma vez mais e chamar as declarações de Lula, seu chefe, de “descontextualizadas”. Não foram, sabemos nós e os criadores de memes.
Fato é que essa realidade de bagunça e desorganização institucional atrasa o país. Lula 3 é um governo baseado em um presidente que não sai do palanque, não governa sob a realidade, vive de devaneios políticos e ideias empoeiradas e ineficientes do século passado e atropela sua equipe econômica, de aparente reduzido respeito interno, no pouco que ela tenta controlar as contas do país.
Embora a reforma tributária estivesse parada há décadas no Congresso com a necessidade de simplificar o pagamento de tributos a empresas e pessoas físicas, fazê-la neste momento, com um governo perdulário, tem-se revelado uma temeridade
Como reclamar dos memes de rombo fiscal e da sanha arrecadatória de impostos e taxas num governo que só faz aumentar os gastos para pagar uma conta que não fecha nunca?
Até aqui, acumulam-se a taxação das “blusinhas da Shein”, a volta da cobrança do DPVAT, a mudança pró-governo na composição do Carf (que decide contendas tributárias), a tentativa de reoneração da folha de pagamentos no tapetão do STF — depois de perder a votação no Congresso e que segue sem solução —, a emenda fura-teto aprovada ainda no final de 2022, além de várias outras medidas para fazer crescer a arrecadação porque Lula dizia que o orçamento de Bolsonaro era irreal. Na verdade, era responsável com o Brasil.
Até mesmo a reforma tributária, que ainda depende de regulamentação no Senado, promete ter a maior ou a segunda maior alíquota de IVA do mundo, entre 26,5% e 28%, se não se contiverem as exceções, os privilégios e o gasto crescente. E está sendo feita antes de uma reforma administrativa, que nos daria o custo total do Estado, que, no caso de Lula 3, só aumenta. Embora a reforma tributária estivesse parada há décadas no Congresso com a necessidade de simplificar o pagamento de tributos a empresas e pessoas físicas, fazê-la neste momento, com um governo perdulário, tem-se revelado uma temeridade.
Os memes que expõem ao ridículo a política econômica de Lula 3 e de sua equipe econômica, que o governo e seus aliados na mídia tentam desmerecer, não são o problema deste país, convenhamos. Na cultura brasileira, o humor oscila entre ser ferramenta de protesto crítico a anestésico diante das dores provocadas pelo lulopetismo.
Mas, se o governo olhar com alguma honestidade para o que tem feito e desfeito, corrigir o rumo caótico, não haverá motivos para críticas sérias ou bem-humoradas que tanto o incomodam. E, principalmente, não haverá necessidade de anestesia para nós, os brasileiros.
Confira a seguir outros memes publicados nas redes sociais (clique sobre cada foto para ampliar).
Leia também “Falsas premissas”
O Brasil é um prostíbulo sem rumo e sem direção.
As reformas mais importantes deste país são a política e a administrativa.
A política para colocar um freio nos assaltos aos cofres abastecidos pelo pagador de impostos além de benesses legais – foram os próprios políticos que aprovaram para si – porém imorais.
Senador com 80 assessores é uma aberração inaceitável.
A administrativa para dimensionar qual o tamanho ideal para o Estado. Quantos ministérios devemos ter? Qual o número de servidores públicos em cada área? Quais recursos serão designados a cada área. Quanto deve ser a produtividade em relação aos recursos investidos e por aí vai.
Os USA possui 15 secretarias – equivalente a ministério no Brasil – enquanto aqui temos 39 ministérios, a maioria dispensável e/ou ocupados por pessoas totalmente despreparadas.
Conclusão: um dos dois devem estar errados.
Ainda tiveram ”economistas” apoiando o Ladrão em 2022, fingindo não saber que viria um Haddad da vida como ministro da economia. Pilantras!
Como é bom ler e ouvir Piotto.
Sai o Paulo Guedes , e entra o fracassado do Fernando “Taxxad ” , não tem como dar certo…..
Artigo esclarecedor. Parabéns. Os caras fazem merda e depois reclamam dos memes. Só pode ser piada de mau gosto.