A trajetória da ginasta Rebeca Andrade, de 25 anos, é repleta de momentos em que é possível observar um salto para uma nova etapa. Desde a infância humilde até a transformação em celebridade do esporte. O ponto alto, até agora, ocorreu na Olimpíada de Tóquio 2020, quando ela se tornou a primeira atleta brasileira a conquistar duas medalhas em uma mesma edição dos Jogos: ouro no salto e prata no individual geral.
Nascida em Guarulhos (SP), em 8 de maio de 1999, desde menina Rebeca contou com o apoio da mãe, Rosa, que trabalhava como empregada doméstica. Agora, conforme disse a Oeste, a mãe confia em novas conquistas da filha.
“Rebeca fez uma ótima preparação, tem tudo para voltar a nos orgulhar”, afirmou Rosa, que ainda não sabe se estará em Paris para os Jogos. “Estou na expectativa de poder ir, só aguardo confirmação.”
O irmão mais velho, Emerson, também foi fundamental em sua vida. Ele a levava, muitas vezes a pé, por mais de 6 quilômetros, para o Ginásio Bonifácio Cardoso, do outro lado da cidade, para treinar. A atleta tem outros sete irmãos, três deles por parte de mãe.
No seu bairro, com menos de 4 anos, adorava dar “estrelas” e se arriscar subindo em árvores. Indicada pela tia, Cida, que trabalhava no ginásio como cozinheira, ela fez um teste aos 5 anos para se integrar a um projeto social de formação de novos ginastas. E nunca mais deixou o esporte. Desde os primeiros anos, era na ginástica que ela mais expressava sua alegria.
Seus momentos de indisciplina ocorriam quando a professora, durante o treino, a flagrava no tablado, saltando e dançando ao lado das meninas mais velhas. Não demorou para sua técnica, Mônica Barroso dos Anjos, indicá-la para treinar em Curitiba, em 2010. De lá Rebeca foi para o Flamengo, clube que defende até hoje, e para a seleção brasileira, onde se consagrou.
Rebeca pode ser considerada a maior estrela da delegação brasileira que disputará os Jogos de Paris. Ela entra como favorita ao pódio no salto, solo e individual geral, além de ter boa chance de conquistar medalha na apresentação por equipes e nas barras assimétricas.
A fama depois das medalhas, com participações em comerciais e pedidos de entrevista, em nada abalou seu estilo simples e o apego à mãe, a quem sempre considerou sua maior referência.
Neste ciclo olímpico, Rebeca treina com as companheiras, da mesma maneira que no início da carreira. E, com 1,55 metro de altura, está em plena forma, numa rotina marcada por glórias mas também por treinos exaustivos e lesões. Depois de Tóquio 2020, ela se tornou, entre outros, bicampeã mundial no salto (2021 e 2023) e campeã mundial individual geral (2022).
A concentração para os próximos Jogos se iniciou no Centro de Treinamento no Rio de Janeiro. E, desde o último dia 7, Rebeca está em Troyes, na França, para a aclimatação com a seleção. A Olimpíada terá início em 26 de julho, e as competições de ginástica começam no dia seguinte.
A polêmica sobre o vazamento de um vídeo com supostas imagens do seu novo salto parece não tê-la abalado. A assessoria de Rebeca disse que ela não faz comentários a respeito e que está focada na Olimpíada. Caso ela conquiste mais quatro medalhas em Paris, será a maior atleta do país em Olimpíadas entre todos os esportes, masculino e feminino, de todos os tempos.
Em entrevista a Oeste a ginasta confirmou que seu maior objetivo agora é continuar fazendo história. Mais do que os títulos, isso significa terminar cada competição com a consciência do dever cumprido.
Como é para você manter o foco depois de ter atingido grandes resultados na última Olimpíada?
Tenho trabalhado muito nessa preparação para a Olimpíada. Não fico pensando no que passou, preciso estar focada e concentrada nos meus objetivos em Paris. Ter conquistado as medalhas em Tóquio foi maravilhoso, foi um momento muito especial na minha vida, mas é outro ciclo, outra história, e estou fazendo o meu máximo para chegar bem e fazer uma boa competição nos Jogos.
“O sucesso vem de muito trabalho, muita dedicação, que não é só minha. Para eu chegar a uma competição, a um Mundial, à Olimpíada, e conquistar uma medalha, teve o trabalho e a dedicação de muita gente”
Quais são seus objetivos na Olimpíada de Paris 2024?
Fazer o meu melhor. É nisso que penso todos os dias. Todas nós estamos treinando duro e nos dedicando muito para representar bem o Brasil em Paris.
Até que ponto ajuda, em cada nova competição, você pensar nela como se fosse a primeira, deixando de lado um pouco toda a pressão pelos resultados já conquistados anteriormente?
Não penso que é a primeira. Mas cada competição é única. Não posso controlar os resultados, não posso prometer medalhas, só posso falar sobre o que está ao meu alcance, que é treinar duro e buscar fazer o melhor possível dentro das competições. Sempre vou dar o meu melhor, fazer o meu melhor, é nisso que penso todos os dias.
Quais foram as vantagens e as desvantagens que surgiram em sua vida depois da fama obtida na última Olimpíada?
Não acho que houve desvantagem. Os resultados em Tóquio fizeram com que eu fosse mais conhecida, ficasse mais próxima do público, dos fãs. Sinto que os resultados ajudaram também a modalidade e fico muito feliz por isso. Quando eu era pequena, tinha a Daiane (dos Santos) como um espelho, num momento em que o esporte vivia um grande momento. Hoje fico feliz em fazer parte desse momento junto com as meninas, com a Flávia Saraiva, a Lorrane Oliveira, a Jade Barbosa, em poder inspirar tanta gente e ajudar o meu esporte.
A que você atribui o seu sucesso, depois de superar dificuldades financeiras na luta pela realização profissional?
O sucesso vem de muito trabalho, muita dedicação, que não é só minha. Para eu chegar a uma competição, a um Mundial, à Olimpíada, e conquistar uma medalha, teve o trabalho e a dedicação de muita gente. Cada um desses profissionais se doa muito, contribui em sua área, com seu conhecimento e em cada conquista. Ninguém vence sozinho. Tenho uma rede de apoio muito forte, muitos profissionais que estão ao meu lado no dia a dia, trabalho que às vezes não é visto ou notado, mas é o que torna possível eu chegar em condições de vencer competições importantes.
Como você define a verdadeira realização pessoal e profissional?
Acho que tem muito a ver com a felicidade, com o seu bem-estar, com estar satisfeito e motivado para viver cada dia, fazer sempre o seu melhor com dedicação e alegria. Sou muito grata a tudo que tem acontecido, grata a quem está ao meu lado, trabalhando comigo, me ajudando, convivendo comigo e comemorando cada objetivo que alcançamos em conjunto. Realização tem a ver com satisfação, não apenas com conquistas ou títulos, mas em você saber que está fazendo o bem e sempre o seu melhor.
O que mudou em você no relacionamento com sua mãe e com as pessoas próximas depois de Tóquio 2020?
Nada. Minha família, minha mãe, meus irmãos são o meu porto seguro e, sempre que podemos, estamos juntos. No fim de semana do dia 22 de junho, eles vieram para o Rio para o Troféu Brasil, e foi maravilhoso encontrá-los antes da viagem para Paris.
Como você descreve sua trajetória e quais são seus planos para o futuro?
Sou muito grata por tudo que aconteceu na minha vida. Tudo tem uma razão e um propósito, e sempre procuro aprender com cada situação. Hoje meu plano de futuro está todo nos Jogos Olímpicos, que são o objetivo principal deste ciclo e onde eu queria estar. Estou treinando muito, todas nós estamos, e quero chegar muito bem preparada a Paris.
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Ótima entrevista. Parabéns. Encorajadora e inspiradora.