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Jair Bolsonaro leva facada durante ato de campanha eleitoral presidencial (6/9/2018) | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Edição 226

Ódio é amor

A diversidade de opiniões e de informações dá ao cidadão a oportunidade de buscar a verdade, sem ter que se limitar à narrativa única do monopólio

Alexandre Garcia
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Os que, por sua natureza ideológica, adoram um regime totalitário, aproveitaram o atentado contra Trump para pregar a censura nas redes sociais. Seriam elas, segundo essa gente, que disseminam o ódio. Lula disse, na TV Record, que é preciso regulamentar as redes, “porque têm lucro com a disseminação do ódio”. E que é preciso regulamentá-las para resguardar a democracia e a diversidade que, segundo ele, estão correndo risco.

Ora, é exatamente o inverso, desembaralhando as palavras do presidente: as redes sociais deram voz a cada cidadão. A voz das pessoas só alcançava uns poucos metros. Agora ganhou palanque digital e pode chegar a qualquer lugar do mundo. Como o povo é a origem do poder numa democracia, a origem do poder foi turbinada pelas redes sociais. Logo, as redes sociais, ao contrário do que diz Lula, ampliam, fortalecem a democracia e só oferecem risco para os tiranos. Quanto ao risco para a diversidade, também é preciso desembaralhar. Na verdade o risco é do monopólio, dono da informação, portanto dono dos fatos, podendo apresentá-los como desejar que sejam vistos. Assim, a diversidade de opiniões e de informações dá ao cidadão a oportunidade de buscar a verdade, sem ter que se limitar à narrativa única do monopólio.

Naquele fim de tarde de sábado em que chegou a notícia do atentado contra Trump, postei no X: “Adélio americano”. Isso resumia tudo. Candidato forte com adversário fraco, para tirá-lo do rumo à Presidência, só matando. Thomas Crooks e Adélio Bispo; fuzil e faca; Biden e Haddad; Trump e Bolsonaro. O tiro não matou, mas feriu, e o sangue lubrifica as engrenagens da vitória. Gerou a foto icônica, como a de Iwo Jima, com o mesmo simbolismo da bandeira americana. No momento em que vi a foto, também minutos depois do atentado, intuí que seria o mote eleitoral. No 6 de setembro de 2018, a percepção do resultado que viria após a facada é a mesma depois dos tiros na Pensilvânia. Postando para Trump, Bolsonaro resumiu: “Nos vemos na posse”.

Usam muito a palavra “diversidade”, mas não suportam a diversidade de ideias. Na verdade, basta um passeio pelas redes para perceber como odeiam a liberdade de expressão

Os agressores entraram para a história e, ao contrário do que pretendiam, turbinaram os mitos. John Wilkes Booth, com Lincoln; Leon Czolgosz, com McKinley; Lee Harvey Oswald, com Kennedy; John Hinckley, com Reagan; Adélio Bispo, com Bolsonaro; e agora esse Thomas Crooks, com Trump. Assim como o indecifrado Adélio ajudou Bolsonaro, o jovem Crooks antecipa o resultado eleitoral de outubro nos Estados Unidos. Entre os alvos americanos, apenas Kennedy era do Partido Democrata; os demais, republicanos. Agora buscam explicações para tantos erros e omissões do Serviço Secreto que protege autoridades.

A violência — e a justificativa para atos de violência jurídica, inconstitucionais e ilegais — tem uma origem, registrada no editorial publicado no dia seguinte, do Wall Street Journal, endossando as palavras do ex-procurador-geral dos Estados Unidos William Barr: “Os democratas têm que parar com essa conversa grosseiramente irresponsável sobre Trump ser uma ameaça existencial à democracia — ele não é”. Aqui, inventou-se a narrativa de Bolsonaro golpista, ameaça à democracia. Aí, justificam-se atos que — esses, sim — ameaçam as liberdades, o devido processo legal e o Estado Democrático de Direito.

Thomas Matthew Crooks, responsável pelo ataque ao ex-presidente Donald Trump | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Thomas Matthew Crooks, responsável pelo ataque ao ex-presidente Donald Trump | Foto: Reprodução/Redes Sociais

O ódio é semeado primeiro nas mentes, nas escolas, nas artes, na propaganda disfarçada de noticiário. Depois as mentes armam as mãos, com faca ou fuzil — ou mesmo com paus e pedras, que também matam. Quem primeiro me alertou para isso foi o então secretário de Imprensa de Geisel, o porta-voz Rubem Ludwig. E naqueles anos 1970 não havia redes sociais, nem sequer celular. Já se usavam filmes, professores, artistas, jornais, revistas, TV, rádio. Em 1949, George Orwell já percebia isso, baseado no regime soviético, e contava o resultado no 1984.

Hoje acusam o mundo digital, que ampliou a voz de quem tem celular. Tentam calar essa voz porque, assim como querem partido único, também querem uma só voz — a do partido ou da mídia domesticada. Usam muito a palavra “diversidade”, mas não suportam a diversidade de ideias. Na verdade, basta um passeio pelas redes para perceber como odeiam a liberdade de expressão. Alguns são diretos, querendo extirpar, matar, prender, calar, esmagar. Outros, querendo ser espertos, ingenuamente usam o amor como disfarce. Eles atualizam a ficção profética de Orwell no seu 1984. No livro, o Ministério da Verdade estabelece que “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”. Os marqueteiros atuais do “Grande Irmão” acrescentaram “Ódio é Amor”, mensagem enganosa embutida todos os dias em todos os meios, até povoar cabeças jovens como a de Tom Crooks, antes que as mãos se armassem. Depois, ele subiu naquele telhado desocupado pelo Serviço Secreto, de onde tinha ampla vista da cabeça de Trump.

Possível atirador de comício de Trump é morto nos EUA | Foto: Reprodução/X
Donald Trump é retirado do palco pelo Serviço Secreto dos EUA, logo após tentativa de assassinato | Foto: Reprodução/X

Leia também “O morcego e o mosquito”

12 comentários
  1. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Excelente, só um ponto: Lee Oswald não foi o verdadeiro assassino de Kennedy, houve uma conspiração, o que está parecendo com o caso atual também.

  2. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Excelente, só um ponto: Lee Oswald não foi o verdadeiro assassino de Kennedy, houve uma conspiração, o que está parecendo com o caso atual também.

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Adélio Bispo, inclusive, até hoje protegido por ”agentes secretos”.

    1. Vitor Hugo Stepansky
      Vitor Hugo Stepansky

      A investigação do atentado contra Bolsonaro até hoje desafia a nossa inteligência. O jatinho, o escritório de advocacia, o deputado que forjou o álibi da visita a Câmara ( seria Jean Willis) nunca teve o nome divulgado. Apagando rastros.
      Mataram Gregório Fortunato ( atentado contra o Lacerda) pouco antes dele ser libertado. Deixaram o Jack Ruby entrar armado dentro de uma delegacia e assassinar Lee Oswald matador do John Kennedy. Aguardemos os próximos acontecimentos….Smell shit…

  4. Brian
    Brian

    Os comunistas precisam da censura para serem ditadores.

  5. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente artigo. Parabéns. Aprendendo com o mestre Alexandre Garcia.

  6. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    República Popular Democrática da Coreia do Norte. Zé Dirceu disse, “A facada foi um erro do Partido”. Casse-se este maldito Partido antes que ele cace todos os adversários, como Maduro

  7. André Luiz Nascimento Santos
    André Luiz Nascimento Santos

    Artigo primoroso. Retrato atual e fiel do Brasil de 2024. Deveria ser leitura obrigatória nas Faculdades de Direito, Jornalismo, Sociologia, Filosofia, para repor a verdade que a Esquerdalha insiste em sepultar.A censura é a mão da Ditadura que quer subtrair do povo brasileiro o direito à liberdade de expressão. Parabéns, Alexandre Garcia. A verdade e a democracia vencerão.

  8. Marbov
    Marbov

    Alexandre o Grande jornalista !. Na época da ditadura militar, existia o Pasquim com as sátiras e os textos dissimulados de críticas ao regime que era publicado semanalmente na imprensa tradicional e controlada.
    Hoje vemos com a mesma naturalidade a imaginação popular dando asas aos “memes” para fazer a mesma crítica ao governo e sorrateiramente fugir da bizarra proteção persecutória da democracia institucionalizada.

  9. Lucy Pimenta de Lima
    Lucy Pimenta de Lima

    Bravo! Bravo! Bravo! Grande mestre Alexandre Garcia.

  10. MNJM
    MNJM

    Mestre Garcia, a histórica se repetiu porém a mão de Deus mais uma vez atuou.
    Os tiranos querem nos calar de qq maneira, esperamos que os nossos representantes eleitos, defendam o nosso direito a liberdade de expressão assegurada na CF.

    1. Alcione Magalhães Ferreira
      Alcione Magalhães Ferreira

      “Telhado desocupado pelo Serviço Secreto”,só um mestre mesmo…

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