O leitor que abriu o site do jornal O Globo na última terça-feira, 30, encontrou, em destaque na homepage, um artigo que dizia: “Hoje me encanto pelo atleta que quase conseguiu chegar lá, mas não deu”. Logo abaixo, uma reportagem no portal dizia: “Canal de TV da França elege uniforme brasileiro um dos mais bonitos das Olimpíadas”. No mesmo horário, o portal UOL destacava que a DJ francesa Barbara Butch, descrita no texto como “ativista feminista, antigordofobia e lésbica”, disse ter sofrido cyberbullying depois de ridicularizar a Santa Ceia — foi um gesto que “escandalizou a extrema direita”, dizia a primeira linha da reportagem. Ou ainda uma sequência de fotos na primeira página da Folha de S.Paulo com o título: “De partir o coração — os choros mais comoventes até agora”. São só algumas das dezenas de exemplos diários de como a imprensa brasileira, embora não seja um fenômeno nacional, assiste aos Jogos Olímpicos de Paris.
O império da agenda woke — ou progressista, ou de esquerda, entre outras definições modernas — na Olimpíada foi tratado na última edição de Oeste, no artigo “Wokeimpíada”. O desenrolar da competição, contudo, revelou outro sinal dos tempos: junto dessa agenda, ganhou corpo uma reverência implacável a quem termina as provas nas últimas posições, simplesmente porque o desempenho não foi tão bom quanto o dos rivais. Em suma, o pódio, a busca pela melhor medalha a qualquer custo, não atrai mais tanto os holofotes como as narrativas de sofrimento. O lema do “importante é chegar lá” acabou alçado a tal ponto que vencer se tornou um mero detalhe — desde que o atleta não seja simpatizante da “extrema direita” e encampe alguma bandeira da cartilha politicamente correta — LGBT, racismo estrutural, ambientalismo fervoroso, sobrepeso na balança ou reclamação do “genocídio israelense” na Faixa de Gaza.
“Aos 50 anos, vejo outras Olimpíadas”, escreveu Leo Aversa, colunista do jornal O Globo. “Ainda admiro os [Usain] Bolts, as [Simone] Biles, os [Michael] Phelps. Respeito quem ultrapassa limites, quem chega à perfeição, mas acho que essa elite não é a minha praia.”
É evidente que ao longo de 30 edições, desde 1896, na Grécia, as Olimpíadas foram marcadas por histórias de superação — inclusive, cruzando duas guerras entre nações. Há centenas de batalhas épicas contra o relógio, vitórias ante oponentes tecnicamente melhores e atletas que desafiaram lesões ou os limites do próprio corpo nas pistas e nas quadras. Na França, contudo, o mundo acompanha uma espécie de meritocracia invertida, o “coitadismo” que move a crítica: aquele quinto lugar na primeira fase classificatória que vale o ouro moral. Ou como festejou um comentarista numa prova seletiva de velocidade, diante do mau resultado de um brasileiro: “Não tem problema, ele já conquistou o recorde sul-americano”. Ou seja, o atleta foi melhor do que os vizinhos paraguaios, bolivianos, peruanos e afins, que enviaram delegações muito menores para Paris ou nem sequer têm tradição nas modalidades.
Um exemplo totalmente reverso do que pregam os colunistas hoje em dia foi o do triatleta Miguel Hidalgo, de 24 anos. Ele chegou em décimo lugar. Ao ser questionado pela imprensa, eufórica para parabenizá-lo sobre o desempenho, respondeu: “Foi uma porcaria”.
“Ninguém lembra do quarto em diante”, disse Hidalgo, deixando os jornalistas brasileiros incrédulos. “Sei que, para mim, [o décimo lugar] não muda nada na minha vida; mudaria alguma coisa na minha vida se tivesse sido medalhista. Dou razão para o brasileiro. Um país que teve ídolos como Ayrton Senna, Guga, Pelé está acostumado a ganhar; eu que vença da próxima vez.”
No mesmo dia, Ana Sátila foi entrevistada depois de errar na etapa final da canoagem (C1). Ela esbarrou num dos obstáculos. Ao ser entrevistada, mostrou-se decepcionada com a performance: “Ainda estou raciocinando”, lamentou. “Vou ter que analisar muita coisa, estava sonhando com a medalha, mas errei muito na final”. A TV Globo, no entanto, não resistiu e escreveu com letras maiúsculas na rede X: “VOCÊ NOS ENCHEU DE ORGULHO, ANAAAAA! VOCÊ NUNCA ERROU!”
Nesta semana, a Nike entrou para a lista da patrulha progressista nas redes sociais por causa de um vídeo batizado “Vencer não é para qualquer um” — que inclui boa parte de atletas aceitos pelo clube dos canceladores.
Prioridades do mundo woke
Mais um ponto: tornou-se comum encontrar nos portais da mídia tradicional reportagens e artigos sobre a presença feminina nas competições. Contudo, o desempenho tem sido deixado em segundo plano para destacar campanhas pela igualdade de gênero e o fim do machismo.
“A forma como a imprensa retrata o esporte feminino também tem sido mais respeitosa e profissional, e comentários sexistas têm sido menos tolerados”, escreveu a colunista da Folha Marina Izidro. “Reportagens sobre as ‘musas dos Jogos’, por exemplo, são mais raras. Ouvir mulheres narrando partidas de futebol é normal e ninguém se surpreende. O número de operadores de câmera mulheres cresceu muito, inclusive nos Jogos Olímpicos. E há outras diferenças, às vezes sutis, mas muito importantes.”
No caso dos uniformes da delegação brasileira, a história foi similar. Os comentaristas nas redações avaliaram que era necessário defender as peças. Acharam até uma emissora francesa, a CNews, destacando “a aparência sustentável” dos jeans e chinelos brasileiros. Ficou evidente que a feiura não era o mais importante no desfile de abertura do evento — mas, sim, a exaltação do trabalho de bordadeiras do Rio Grande do Norte, motivo pelo qual a governadora Fátima Bezerra, do PT, levou sua comitiva para a capital francesa — com o patrocínio dos pagadores de impostos brasileiros.
Como tudo na Vila Olímpica precisa seguir a cartilha woke, houve problema até com a comida. Algumas delegações, como Alemanha e Inglaterra, se queixaram da falta de proteína animal, principalmente carne bovina e de frango, que é consumida em grande quantidade por atletas, mas entra na mira dos ativistas veganos. A Inglaterra, por exemplo, desistiu do bufê parisiense e teve de contratar uma empresa.
A desculpa preferencial de quem volta de um evento mundial com as mãos vazias é a falta de recursos para treinar. Na ressaca olímpica, tanto o poder público quanto a iniciativa privada se tornam os vilões dos resultados.
No caso brasileiro, nesta edição, 241 dos 276 competidores (em 39 modalidades) receberam dinheiro da chamada Bolsa Atleta durante a preparação. O montante investido foi de R$ 1,7 bilhão desde 2005. Em média, para os profissionais, a bolsa é de R$ 3,4 mil, mas pode chegar a R$ 16 mil com bônus por pódio — aqueles que têm índice entre os 20 melhores da sua modalidade. Além do Ministério do Esporte, parte do financiamento aos atletas sai da arrecadação de loterias, dos patrocínios estatais e da Lei de Incentivo ao Esporte. Neste ano, esse bolo chegou a R$ 3 bilhões.
O apresentador da TV Globo Marcos Mion gravou um vídeo nas redes sociais no qual começa com a frase: “Está me partindo o coração ver os nossos atletas olímpicos pedindo desculpas por não terem ganhado medalha, por terem perdido. Queridos atletas, parem, por favor!”. No meio da fala, que seguia a mesma direção dos colegas, porém, ele cometeu um pecado para a militância de esquerda. Mion criticou a falta de apoio do governo ao esporte. Disse que cada atleta recebia R$ 2 mil de ajuda estatal, o que seria insuficiente para alavancar altas performances. Foi imediatamente acusado de fake news contra Lula. Ele foi pressionado a pedir desculpas para escapar do cancelamento pelos próprios colegas.
Encontrar informações sobre financiamento esportivo ou textos históricos sobre grandes recordes olímpicos em portais de notícias do mundo todo, entretanto, é muito mais difícil hoje em dia do que reportagens sobre a vida íntima dos profissionais. Por exemplo: O Globo fez uma reportagem na quarta-feira, 31, intitulada “Paris-2024 — atletas olímpicos entram no OnlyFans [plataforma de conteúdo adulto] para conseguir renda extra e até financiar carreira no esporte”. Eram imagens do time masculino de salto ornamental e nado sincronizado britânico e de um remador da Nova Zelândia, com informações do jornal The Telegraph. Outra dizia: “Entenda o plano do aplicativo de relacionamento gay para proteger atletas”.
Para quem se espantou com a mais bizarra cerimônia de abertura olímpica, uma visita aos portais de notícias ou simplesmente uma TV ligada, com narradores e comentaristas ao microfone, ajudam a explicar Paris 2024. Esqueçam aqueles quadros de medalhas girando a todo tempo, os placares etc. A mídia estava lá para ver algo completamente diferente.
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Nesse mundo em q vivemos até o mérito , antes motivo de tanto orgulho, está sendo depreciado. Se não é para se destacar, para buscar a melhor performance , que fiquemos em casa curtindo a mediocridade .
Essa midia recheada de incompetentes recalcados só sabe enaltecer a mediocridade. Deve ser inveja
Nem assisti… tá muito chato esse planeta!
Deprimente e deprimida. Obrigada Silvio pelo texto.
SINAIS DO APOCALIPSE !!! NÃO DÁ PARA ADJETIVAR DE FORMA DIFERENTE, TAMANHA CANALHICE NUMA SÓ OLIMPÍADA !!! POR TAL MOTIVO DECIDÍ IGNORA-LA !!!
Como parei de assistir Rede Globo, não estou acompanhando, e nem me faz falta.
Ainda mais com o narrador principal Luis Roberto. O picareta que, quando o SBT venceu a disputa para transmitir a Copa América, ele fez um teatrinho por conta da pandemia. Na cabeça dele, só a Rede Globo pode transmitir.
É esse tipo de gente que não merece audiência.
O mundo, OCIDENTAL. passa por uma decadência moral e ética. Enquanto a China e a Rússia procuram preservar os valores conservadores das suas sociedades, tudo bem que seja de uma forma em que a liberdade dos indivíduos sejam limitadas, o mundo livre está entrando em um declínio moral e ético, marchando para a sua destruição. O islamismo, as drogas e a falta de respeito com os valores seculares morais e éticos levarão. COM CERTEZA, a destruição da dita sociedade livre. Enquanto isso a China assiste a essa destruição de camarote.
Olimpíadas da França, esta mais para Fake News.
Ótimo artigo. Parabéns. Quem em sã consciência ainda dá audiência para esse lixo da velha imprensa?
Está muito difícil ouvir os narradores da Globo, um pior que o outro!!!
Estranho, acabo de assistir Brasil e França, futebol feminino, esqueceram de avisar à arbitragem, 16 minutos de acréscimo com mais dois escancarados…parece que a França, anfitriã, leva a sério o ditado: “faça o que eu digo e não o que faço”.
O bom é que as pessoas estão realmente cansando dessa agenda woke.
Já comprei o meu tênis da Nike. Pior Olimpíada de todos os tempos. Um lixo.
Vou comprar um tênis da Nike.
Os Jogos Olímpicos são competições de proporcionam com estreitamento de relações entre os países e seus melhores atletas são premiados por suas conquistas.
Acompanho os jogos desde 1972 – Munique – quando tivemos a primeira TV em P&B em casa e lembro do sangrento massacre terrorista promovido contra os atletas de Israel.
Também ainda guardo na lembrança as imagens de 1984 – Los Angeles – da chegada da Maratona Feminina quando a atleta suíça Gabriela Andersen cruzou a linha de chegada exausta pelo esforço físico e o público presente ao estádio a aplaudia de pé.
A Paris de outrora não existe mais e a olimpíada de 2024 entregou sua hegemonia a um grupo que deseja impor sua vontade a toda a humanidade sem se importar com nossos valores e crenças.