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Deputado Lucas Redecker (PSDB-RS) | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Edição 228

‘Lula compromete a imagem internacional do Brasil’

Lucas Redecker, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, diz que o Brasil se alinha a ‘regimes autoritários’ ao não condenar as eleições na Venezuela

Rute Moraes
Rute Moraes
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva “compromete a imagem internacional do Brasil” ao classificar o processo eleitoral na Venezuela como “normal” e “tranquilo”. A afirmação é do deputado federal Lucas Redecker (PSDB-RS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) da Câmara.

Para o parlamentar de 43 anos, as declarações do petista endossam outras várias sinalizações de apoio feitas por Lula ao regime chavista. Aliado histórico do ditador, Lula recebeu Maduro, em 2023, com honrarias de chefe de Estado no Palácio do Planalto, em Brasília. 

“Depois de relativizar a democracia venezuelana, receber Maduro em Brasília com honras de Estado e de avalizar o seu regime, estimulando-o a construir a sua própria narrativa, o presidente Lula compromete a imagem internacional do Brasil”, avaliou Redecker em entrevista a Oeste. “Não podemos nos associar a regimes autoritários e descomprometidos com o respeito aos valores democráticos e aos direitos humanos. Nada justifica esse apoio do presidente Lula a Maduro.”

Segundo os opositores do regime chavista, Edmundo González, principal candidato contra Maduro, venceu o pleito, com quase 70% dos votos. A comunidade internacional não aceitou o resultado da eleição em virtude da falta de transparência. A diplomacia brasileira, embora tenha exigido a divulgação das atas eleitorais, “saudou” a “jornada eleitoral” venezuelana. 

Lucas Redecker, deputado federal (PSDB-RS) e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) da Câmara | Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Em entrevista nesta semana, Lula condicionou o reconhecimento do pleito à apresentação das atas — boletins que registram os votos de cada urna —, mas disse que a eleição “não tem nada de anormal”. Além disso, o petista sugeriu à oposição que questionasse o resultado eleitoral na Justiça — num país em que o poder judiciário está completamente aparelhado.  

Maduro chegou a expulsar o corpo diplomático da Argentina, do Chile, da Costa Rica, do Panamá, do Peru, da República Dominicana e do Uruguai. Tais países não reconheceram a sua reeleição. “Estamos nos isolando regional e internacionalmente por causa dessa insistência em defender o indefensável”, continuou o presidente da Creden.

Na avaliação do deputado, como maior país da América Latina, o Brasil tem a responsabilidade de trabalhar pela integração da Venezuela sem cunho ideológico. “No entanto, o que vemos é o alinhamento do Brasil com regimes autoritários onde não há liberdades”, afirmou.

A Oeste, o parlamentar avaliou a posição da diplomacia brasileira sobre o pleito venezuelano, falou sobre a possibilidade de convocar Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, à Creden e explicou o motivo de o colegiado não ter sido observador da eleição do país vizinho. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.

Países como Estados Unidos, Chile e Argentina não reconhecem o resultado da eleição na Venezuela, mas o Brasil ainda aguarda a entrega das atas eleitorais. O que isso diz sobre a diplomacia brasileira?

As atas respondem, de forma inequívoca, se houve ou não lisura nesse processo. No entanto, passadas mais de 48 horas do pleito, elas não foram apresentadas, e as justificativas do regime são pouco críveis. O Centro Carter, por exemplo, único órgão autorizado pelo regime para observar as eleições, produziu um informe robusto elencando as fraudes cometidas antes, durante e após as eleições. A OEA também se pronunciou de forma contundente, assim como diferentes atores que comprovaram in loco as irregularidades. Esses elementos deveriam ser suficientes para que o Brasil adotasse uma postura diferente, e o excesso de cautela pode ser extremamente prejudicial ao país. O Brasil, por meio da sua liderança natural, tem a responsabilidade de romper com esses regimes que buscam, apenas e exclusivamente, perpetuar-se no poder à custa da miséria do seu povo.

Apesar de o Itamaraty tentar adotar um tom mais neutro, o presidente Lula disse achar “normal” e “tranquilo” o processo eleitoral venezuelano. Como o senhor avalia essa declaração do presidente?

É mais uma declaração lamentável do presidente da República. Depois de relativizar a democracia venezuelana, de receber Maduro em Brasília com honrarias de chefe de Estado e de avalizar o seu regime, estimulando-o a construir a sua própria narrativa, o presidente Lula compromete a imagem internacional do Brasil. Não podemos nos associar a regimes autoritários e descomprometidos com o respeito aos valores democráticos e aos direitos humanos. Nada justifica esse apoio do presidente Lula a Maduro. Estamos nos isolando regional e internacionalmente por causa dessa insistência em defender o indefensável.

Por que a posição do Brasil sobre a eleição na Venezuela é importante?

Temos uma fronteira de quase 2,2 mil quilômetros com a Venezuela, de onde partiram, desde 2016, quase 5 milhões de pessoas fugindo da fome, da miséria, da corrupção e das perseguições. Nós lidamos com o problema diariamente, uma vez que o fluxo de migrantes venezuelanos continua na casa dos 300 por dia. Ao tomar posse, o presidente Lula afirmou que “o Brasil voltou”, em alusão à suposta nova política externa que seria implementada. No entanto, o que vemos é o alinhamento do Brasil com regimes onde não há liberdades. Como maior nação da região, temos a responsabilidade de trabalhar por sua integração, mas essa integração não pode ser de cunho ideológico, mas objetiva, visando o bem-estar da nossa gente. O Brasil seleciona, por questões partidárias e ideológicas, com quem se relacionar, mas temos 17 mil quilômetros de fronteiras com dez países.

Nicolás Maduro e Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião bilateral em Kingstown, em São Vicente e Granadinas (1º/3/2024) | Foto: Ricardo Stuckert/PR
Alguns parlamentares já falam em convocar o ministro Mauro Vieira. No retorno do recesso parlamentar, o que a Creden pode fazer com relação ao tema?

Haverá pedidos que colocaremos em pauta, e o plenário decidirá pela aprovação ou não. No meu entendimento, é importante a presença do ministro Mauro Vieira e do ex-embaixador Celso Amorim. Com certeza, esse tema estará em pauta na Creden.

“A nota do PT vai na contramão do que o governo difunde, pois rompe com qualquer suposta neutralidade. O PT não apenas apoia, como atua para que o regime de Maduro se perpetue no poder”

A Creden iria ser observadora da eleição na Venezuela? O que houve?

Trabalhamos para que uma missão de deputados fosse à Venezuela para observar as eleições, mas o regime ignorou os nossos apelos, apesar do convite que recebemos da oposição. Sem garantias de que seríamos autorizados a ingressar no país e sem qualquer outro respaldo, a missão acabou não se materializando. Posteriormente, as nossas preocupações se confirmaram. Várias comitivas foram impedidas de entrar no país, incluindo deputados europeus e um grupo de ex-presidentes de países da América Latina. Apenas aqueles que se identificam com o regime foram autorizados a entrar.

A nota do PT reconhecendo a reeleição de Maduro complica o presidente Lula?

A nota do PT vai na contramão do que o governo difunde, pois rompe com qualquer suposta neutralidade. O PT não apenas apoia, como atua para que o regime de Maduro se perpetue no poder. A questão é: o Brasil segue a linha da política exterior defendida pelo PT? Ou o PT, como partido majoritário no poder, segue a linha da política externa defendida pelo governo?

O senhor acredita que Nicolás Maduro vai disponibilizar as atas eleitorais do pleito?

Pela própria lei venezuelana, ele deveria ter feito isso 48 horas após as eleições de domingo, 28. O que vemos são denúncias de perseguições àqueles que firmaram as atas nas mesas de votação e um atraso injustificável. Se o resultado apurado é condizente com o que foi anunciado, que essas atas sejam prontamente disponibilizadas, como exigem as leis venezuelanas. O que vários países cobram é o cumprimento das regras internas previstas para as eleições e absolutamente necessárias para que haja o devido reconhecimento internacional do pleito.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

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3 comentários
  1. Antônio de Padua de Oliveira
    Antônio de Padua de Oliveira

    P.T. PARTIDO DO TRAMBIQUE, DA TRAMÓIA DA TIRANIA E DAS TREVAS.

  2. Carlos
    Carlos

    Nao sei por que tanta surpresa. Lula deixou claro que seria assim, se fosse eleito. Tudo conforme alertado. Segue o jogo.

  3. elvio zanini
    elvio zanini

    Ditado Milenar : Me diga com quem Andas ! Dirte-ei quem És!

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