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O consenso climático criou um poderoso ecossistema de relações e interesses corporativos, financeiros e políticos que trabalha para cobrar um preço cada vez maior de quem discorda dele. A indústria climática é global, lucrativa, politicamente correta e absolutamente intolerante.
Você duvida? Então experimente sugerir que há outras explicações para fenômenos meteorológicos extremos. Tente dizer que, em inúmeros casos, a agenda “climática” é usada com finalidades espúrias. Mostre que as consequências de algumas medidas de descarbonização são piores que qualquer aquecimento. Faça qualquer uma dessas coisas e você será atacado, difamado e cancelado.
A interdição do debate, a brutalidade usada contra dissidentes e a rápida transformação de ideias mal formuladas e histeria inconsequente em legislação draconiana fazem do consenso climático um movimento antidemocrático que prejudica o desenvolvimento humano e flerta perigosamente com o autoritarismo obscurantista.
Esse flerte atrai os personagens mais improváveis: na sexta-feira, 5 de maio de 2023, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu aos cidadãos do seu país que se preparassem para tempos de “emergência climática”. Maduro afirmou:
“O capitalismo destruiu o planeta, o capitalismo destruiu o equilíbrio ecológico (…) agora vêm as chuvas fortes, as secas, o calor, o frio enorme, tudo extremo, a temperatura extrema, estamos em tempos de emergência climática, e os venezuelanos têm que se preparar para isso.”
Os venezuelanos podem morrer de fome, de tortura ou apodrecer em uma prisão da polícia política. Mas não precisam se preocupar com as mudanças climáticas: seu Grande Líder Iluminado já está preparado.
A fúria do Eyjafjallajökull
Desafiar o consenso das mudanças climáticas e duvidar de previsões apocalípticas, feitas por profetas que se beneficiam do medo que disseminam, não significa desconsiderar a importância do meio ambiente ou negar o impacto negativo que a atividade humana pode ter.
É evidente que a humanidade, em várias épocas e lugares, ultrapassou os limites de resistência de ecossistemas. Sociedades entraram em colapso por essa razão. Na época da Revolução Industrial, havia dias em que a mistura da neblina com a fumaça das chaminés de carvão tornava impossível enxergar e respirar nas ruas de Londres. O desaparecimento da população da Ilha de Páscoa como resultado do catastrófico corte de árvores é uma história bem documentada (John Keegan, Uma História da Guerra, Companhia das Letras, 2006, p. 48).
Mas esses problemas não justificam a arrogante hipótese antropocêntrica de que a interferência humana seja capaz de operar mudanças sistêmicas, irreversíveis e catastróficas em escala planetária, e de que isso esteja acontecendo agora.
Os recursos à disposição do homem não têm comparação com as forças tectônicas e astronômicas que moldaram o planeta. Um pequeno exemplo: em abril de 2010, o vulcão Eyjafjallajökull entrou em erupção na Islândia, despejando uma quantidade tão grande de cinzas na atmosfera que 20 países europeus precisaram cancelar os voos. A erupção lançou 150 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera por dia. Isso é equivalente às emissões diárias de um país europeu de tamanho médio. Outro exemplo: a erupção do vulcão do Monte Santa Helena, que aconteceu nos Estados Unidos em 1980, emitiu aproximadamente 10 milhões de toneladas de CO₂ em apenas nove horas.
A atividade vulcânica parece ser a explicação de um dos fenômenos mais intrigantes — e desconhecidos — quando se trata de clima: o surgimento de uma pequena era do gelo na Europa medieval. Essa “mudança climática” começou no início do século 14 e durou centenas de anos. As temperaturas médias foram reduzidas em até 2 graus Celsius, uma mudança dramática.
Vivos graças ao efeito estufa
Como diz a revista The New Yorker, com ironia:
“A Pequena Idade do Gelo é um exemplo de como frequentemente encontramos consenso completo em torno de todos os aspectos das alterações climáticas.
Estou brincando.
Sabemos com certeza que a Terra ficou mais fria: a evidência pode ser encontrada através de uma variedade de técnicas de avaliação de temperaturas históricas, como o estudo de núcleos de gelo e anéis de árvores. Existem também extensos relatos escritos sobre o frio na forma de cartas e diários, sermões, registros de viticultores, e assim por diante.
O resfriamento ocorreu em fases, com uma queda inicial começando por volta de 1300, e um início de frio mais acentuado e abrupto começando em 1570 e durando cerca de 110 anos […] O consenso sobre a ocorrência do esfriamento, no entanto, não é acompanhado por um consenso equivalente sobre sua causa.”
Há quem argumente que esse esfriamento foi, até certo ponto, causado pelo homem. Prestem atenção na ironia do que sugere a New Yorker:
“Tantas pessoas morreram de doenças nas Américas após a chegada de Colombo — 56 milhões, de acordo com a última pesquisa da Quaternary Science Reviews — e tantas áreas de terras desmatadas e cultivadas foram abandonadas e, portanto, tiveram a chance de se reflorestar, que os níveis de CO₂ foram reduzidos e a temperatura do planeta baixou.”
Ora, quer dizer então que reduzir demais o nível de CO₂ na atmosfera pode ser um problema? Claro que pode: é exatamente o “efeito estufa” que permite a existência de vida na Terra. Se o calor do Sol se perdesse de volta no espaço, nosso planeta seria uma rocha fria e vazia.
Mas ninguém jamais te explicou isso, certo?
A verdadeira questão
Há 66 milhões de anos, um asteroide com 10 quilômetros de diâmetro — batizado pelos cientistas de Chicxulub — atingiu o Golfo do México. Foi um evento imprevisível e contra o qual ainda inexiste defesa.
A perturbação ecológica resultante do impacto foi a principal causa da extinção em massa do Período Cretáceo-Terciário, um evento que eliminou 75% das espécies vegetais e animais da Terra, incluindo os dinossauros.
Impactos como esse não podem ser previstos com a antecedência necessária para que alguma providência efetiva seja tomada — e nem existe tecnologia para isso. A qualquer momento um impacto como o de Chicxulub pode ocorrer, e significará a extinção da civilização e da humanidade. Nem por isso entramos em desespero e decidimos que é inútil viver.
Se o homem não tem o poder de destruir o planeta, e se o próprio planeta está sujeito a forças que não conseguimos controlar, ainda assim é necessário lidar com as consequências da atividade humana sobre a natureza. Mas a questão não é a possibilidade de destruição do planeta — isso é tarefa impossível, por mais que alguns países e sociedades tenham tentado.
A questão é a destruição do nosso futuro.
A insignificância dos humanos
“A crise ambiental moderna diz respeito ao ser humano, e não à natureza”, explica o procurador Agripino Santos Filho (Pandemia Ambiental: a humanidade permanecerá?, Núria Fabris Editora, 2023, p. 56). “O problema não é ‘salvar a Natureza’, mas, sim, como garantir a perpetuação da espécie humana.”
Continua ele:
“A natureza nunca esteve minimamente ameaçada pela insignificante espécie humana, apenas uma de dezenas de centenas de milhares de espécies animais que já surgiram e se foram ao longo dos bilhões de anos de história natural terrestre. Analisando apenas o ecossistema terrestre, constata-se que todo o potencial destrutivo do Homo sapiens sapiens é nada quando colocado em escala geológica. E, se ampliarmos a análise para outros planetas, sistemas de planetas, galáxias, nebulosas e o universo, a espécie humana se torna menos que um grão de areia em uma extensa praia de estrelas.
A criatividade humana pode muito, mas, ao fim do dia, a natureza seguirá seu rumo inexorável, com ou sem a nossa permanência. Os problemas ecológicos colocam em risco a humanidade, e não a natureza. A crise ambiental moderna é equivocadamente retratada por vezes como um homicídio. A humanidade estaria matando a natureza e deve ser impedida de fazê-lo, tanto na perspectiva moral, quanto jurídica.
O coronavírus Sars-Cov-2 retirou momentaneamente o véu da arrogância que nos impede de ver o óbvio: somos insignificantes perante a natureza. Podemos causar um estrago razoável, extinguir espécies, alterar paisagens, mas a natureza seguirá por outros meios. Com a humanidade ou sem ela.”
Os radicais biocêntricos concluíram que a humanidade é uma praga, uma ameaça à natureza perfeita. Essa praga precisa ser urgentemente combatida
Mas a sobrevivência da humanidade não é a preocupação central do ativismo ambiental moderno, cada vez mais radical, que Agripino Santos filho chama de biocêntrico. Para esses radicais, a natureza tem um valor intrínseco, independente do homem, e os elementos naturais — animais, plantas e ecossistemas — possuem uma estatura moral idêntica à dos seres humanos. Essa é a visão de mundo que hoje domina as ideias e propostas apresentadas sob o manto sagrado da sustentabilidade.
Essa forma de pensar conquistou hegemonia nas discussões sobre meio ambiente em escolas e universidades, na mídia e, cada vez mais, na criação de políticas públicas. Nossas crianças e jovens estão sendo educados para acreditar que o ser humano é apenas mais um elemento natural, compartilhando exatamente a mesma dignidade das coisas inanimadas e dos animais. De acordo com essa visão, a vida de uma baleia tem o mesmo valor que a vida de um bebê.
Os ecorradicais neomarxistas
Os radicais biocêntricos concluíram que a humanidade é uma praga, uma ameaça à natureza perfeita. Essa praga precisa ser urgentemente combatida através de um severo controle populacional, ou pelo retorno a uma economia de subsistência na qual se produza apenas o estritamente necessário para a sobrevivência de uma pequena fração da humanidade — o resto vai ser “controlado” através da fome. Pode parecer difícil de acreditar, mas é exatamente essa a proposta de muitas entidades e ativistas ambientais, mal disfarçada em discursos recheados de neologismos e ideologia.
Essa visão ecorradical, disseminada como dogma e ecoada pela mídia sem qualquer crítica, representa grave ameaça. Despida de sua máscara pseudocientífica e da camuflagem politicamente correta, o que está sendo dito é que o melhor cenário para o Planeta Terra é a extinção da humanidade. Ativistas radicais já definiram a redução de áreas cultivadas e o abate de rebanhos como metas.
O extremismo desse pensamento atraiu os neomarxistas de plantão, que passaram a ver na “questão ambiental” um instrumento eficaz de implantação de sua agenda de substituição do modelo liberal capitalista. O resultado, como diz Agripino (p. 68), é que “o discurso ambiental foi sequestrado por uma ideia que pretende o seu oposto: a destruição do modelo de civilização ocidental instituído por séculos de experiências e tradições de diversos povos, substituindo-o por um sistema de controle autoritário e centralizado”.
A velha fraude com uma nova cor
A pauta ambiental foi transformada em instrumento revolucionário, da mesma forma que aconteceu com a defesa de minorias e dos direitos das mulheres. A história não registra nenhum país socialista onde esses direitos tenham sido respeitados e nos quais o meio ambiente tenha sido preservado. Nunca existiu um “Marx ecológico”.
Mas a realidade é irrelevante. Como explicou David Horowitz (Take No Prisoners: The Battle Plan for Defeating the Left, Regnery Publishing, 2014, p. 46), “a questão nunca é a questão, a questão é sempre o poder”. Ou, como explicou Agripino Santos Filho (p. 105), “os políticos de esquerda, órfãos de uma meta narrativa capaz de mobilizar as massas após o fracasso da experiência soviética, sequestraram a pauta ambiental”:
“A maior parte do discurso ambientalista tem viés de esquerda, conduzido por ativistas, individualmente ou organizados em grupos não governamentais, de forma maniqueísta, impulsionado por campanhas e slogans com impacto midiático, mas sem apresentar propostas factíveis para conciliar a existência e o progresso humano com os limites dos ecossistemas.
Esse discurso não é apenas inútil, mas contribui para o agravamento do problema, na medida em que afastou o pensamento conservador, o único capaz de apresentar soluções úteis para os problemas ecológicos reais, que existem fora de narrativas ideológicas de esquerda.
A proposta é que os socialistas sigam as linhas gerais do conceito marxista de crise econômica, considerando os problemas ambientais uma decorrência do modo de produção capitalista, de modo que a crise ambiental seria um reflexo das crises cíclicas do capital. Contudo, o ecossocialismo compartilha o mesmo destino do materialismo histórico: o fracasso.”
O movimento ambientalista radical se tornou essencialmente um movimento ideológico, um “ecossocialismo” que defende um projeto de poder globalista e coletivista para o qual a questão ambiental é apenas um instrumento útil.
O ecossocialismo é apenas uma versão esverdeada da fraude marxista, embalada em um alarmismo que a torna mais palatável aos distraídos.
E a maioria das pessoas está distraída.
Leia também “Nunca lhe prometi a Floresta Amazônica — Parte 1”
Motta, o mundo era muito melhor quando não existia eco chato.
Muito bom, Roberto Motta.
ROBEERTO MOTA , excelente analise realmente estamos nesta situação
Excelente artigo. Parabéns. Motta, você está coberto de razão. Lamentavelmente, a grande maioria das pessoas está muito distraída em relação ao terrorismo ambiental.
O homem não deve se preocupar com coisas relacionadas ao cosmo, ele não depende do homem, a terra pertence ao cosmo dentro da galáxia e do sistema solar. O sol é quem define o clima, suas variáveis são cíclicas do sistema. O que o homem tem que se preocupar é em viver num ambiente limpo, longe da poluição e isso só acontece com o desenvolvimento