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Edição 23

A América em chamas

O objetivo da turba violenta é claro: eliminar o que não pode criar, mudar a realidade escolhida nas urnas. A história mostra que rupturas bruscas não funcionam

Ana Paula Henkel
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Após os violentos protestos por algumas grandes cidades de todo o país motivados pela morte de George Floyd, os Estados Unidos agora encaram uma segunda onda de muita quebradeira e violência depois que um vídeo viralizou no domingo mostrando um policial atirando em Jacob Blake, um homem negro morador de Kenosha, no Estado de Wisconsin. No vídeo, Blake se afasta dos policiais com armas em punho enquanto outras pessoas gritam ao fundo.

Na quarta-feira, o Departamento de Justiça de Wisconsin disse que a polícia de Kenosha foi chamada à casa de Blake depois que uma mulher ligou e disse que o namorado dela estava no local, onde ele não poderia estar devido a uma ordem de restrição. Blake fora acusado de agressão sexual de terceiro grau e conduta desordeira. Seus crimes tiveram agravamento de pena porque estavam ligados a violência doméstica.

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Os policiais foram alertados sobre a existência de um mandado de prisão contra o rapaz e, assim que chegaram ao local, tentaram usar uma arma de choque para imobilizar Blake, que resistiu à prisão. Mas a arma não funcionou. Ele então ignorou todos os comandos dos policiais, deu a volta em seu carro, abriu a porta do motorista e se abaixou para pegar algo. Foi quando um policial atirou em suas costas. Blake permanece internado num hospital.

É difícil dizer do que se trata a atual violência revolucionária nas grandes cidades

Imediatamente protestos violentos tomaram conta da cidade. Em pouco tempo, pequenas lojas e grandes estabelecimentos comerciais estavam em chamas. Rapidamente, membros do movimento negro marxista Black Lives Matter apareceram em vários bairros. Espalharam terror e medo, queimando prédios e destruindo carros. A polícia não enfrentou, mais uma vez, apenas manifestantes raivosos, mas coquetéis molotov, armas, tacos de beisebol, tijolos e pedaços de concreto.

Kenosha agora se junta a um grupo de cidades administradas por democratas que ardem em chamas há semanas, ou até meses. Os poucos movimentos pacíficos que se iniciam por justas pautas tornam-se violentos protestos em pouco tempo. E à polícia, cada dia mais acuada por administrações que sucumbiram aos movimentos sociais da esquerda radical, não é dada a autorização para que se faça cumprir a lei. Protestos em cidades como Portland, Seattle e Nova York, que se iniciaram após a morte de George Floyd, há mais de dois meses, ainda estão longe de ser contidos.

Mas o que querem esses movimentos? É difícil dizer do que se trata a atual violência revolucionária. Até agora, centenas de policiais foram feridos, dezenas de pessoas foram mortas e bilhões de dólares em propriedades viraram cinzas — literalmente.

Para o professor, escritor e historiador Victor Davis Hanson, é importante notar que os manifestantes têm poucas demandas fora do corte no orçamento policial (“defund de police”), mas este “não é o real propósito deles”.

Hanson, que é membro do Hoover Institution em Stanford, na Califórnia, diz que os democratas veem nesses manifestantes sua melhor chance de tirar o presidente Donald Trump da Casa Branca depois de várias tentativas frustradas durante três anos e meio. Na avaliação do historiador, os ativistas violentos estão essencialmente dizendo aos democratas que vão proporcionar anarquia, caos e tornar a vida ainda mais miserável para o norte-americano médio que ainda está lidando com o coronavírus e o lockdown. Hanson acrescenta que, para os democratas, isso poderia aumentar as chances de vitória de Joe Biden, como uma mensagem aos eleitores que “podemos fazer tudo desaparecer se você votar em nós”.

O discurso de Trump sobre o avanço do caos caso os democratas vençam em novembro está repercutindo

Para o norte-americano médio, tudo parece surreal e distante da realidade. Aqueles que apoiaram o Reinado do Terror jacobino queriam violência, não uma república constitucional para substituir a monarquia francesa. Os bolcheviques não estavam interessados em substituir o czar russo por um primeiro-ministro eleito. Mao Tsé-Tung não odiava apenas os senhores da guerra, proprietários de terras ou nacionalistas. Ele desejava a recriação de milhões de chineses à própria imagem narcisista, mas para isso precisava matar outros milhões.

Richard Nixon foi eleito presidente em 1968, um ano tumultuado que testemunhou o assassinato de Martin Luther King Jr., ativista negro pelos direitos civis. Protestos violentos aconteciam em várias grandes cidades. Nixon abraçou o discurso de Law and Order, e cidades até então democratas, como Chicago, votaram nos republicanos por algum tempo. Revoluções culturais são incoerentes e niilistas e novas pesquisas já começam a apontar uma pequena vantagem de Donald Trump em cidades que normalmente votam com os democratas.

O atual discurso de Trump e do Partido Republicano sobre o avanço do caos caso os democratas vençam em novembro está repercutindo. Em Kenosha, onde o presidente venceu por menos de 250 votos em 2016, aqueles que já o apoiavam disseram em entrevistas que os eventos dos últimos dias simplesmente reforçaram sua convicção de que ele é o homem certo para o trabalho. Para alguns eleitores que estavam menos seguros de sua escolha, a desordem e a incapacidade dos líderes eleitos de cessar os protestos violentos estão empurrando-os para os republicanos.

Alguns democratas continuam nervosos em condenar os saques e a violência, já que muitos disseram que entendiam a raiva por trás disso e têm o apoio de movimentos como o Black Lives Matter. Apenas há três dias, o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, pediu que a violência cessasse depois de ver que seus números em Estados importantes como Wisconsin começaram a cair.

O objetivo da turba violenta é claro: eliminar o que não pode criar, mudar a realidade escolhida nas urnas. A história, no entanto, nos mostra que rupturas bruscas não funcionam. Derrubar estátuas para eliminar o que não se consegue compreender nunca funcionou. Os ativistas incendiários podem produzir certo pânico. Ao mesmo tempo, expõem a obviedade de que a marca do anarquista não é movida pela lógica, mas pela inveja. Tomar o poder e mantê-lo a todo custo para usá-lo contra supostos inimigos é algo impossível para os jacobinos — do passado ou do presente — em tempos de paz nas ruas ou nas urnas.

Leia também o artigo “A voz e a fúria das ruas”, de Selma Santa Cruz

 

14 comentários
  1. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Essa luta eterna de preto x branco é usada politicamente.Ja cansou minha gente, já esgotou, não usem a cor das pessoas para eleições públicas, façam bons programas de governo.

  2. Jose Manuel Lima
    Jose Manuel Lima

    Excelente análise , Ana ! Se no País com a maior Democracia do mundo, estamos vendo isso.
    E preocupante para nos brasileiros, ver nosso País , caminhando no mesmo rumo. “” É o que a Bussola nos indica “”

  3. Rodrigo Dardeau Vieira
    Rodrigo Dardeau Vieira

    Muito boa análise. Só faria um reparo: essas pessoas não são “ativistas violentos”, nem “manifestantes, mas terroristas. Vamos passar a chamá-los pelos seu verdadeiro nome.

    1. Marcelo Gurgel
      Marcelo Gurgel

      Parabéns, ótimo artigo.

  4. Priscilla Barbosa Nascimento De Andrade
    Priscilla Barbosa Nascimento De Andrade

    Ana, vc escreve muito bem! É muito gratificante e enriquecedor poder ter acesso a conteúdos verdadeiros e de qualidade do que de fato vem acontecendo nos EUA.

  5. Oswaldo Silva
    Oswaldo Silva

    Perfeita analise Ana Paula.
    Parabéns!

  6. Mariângela Danemberg
    Mariângela Danemberg

    Brilhante Ana Paula.!

  7. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    O racismo deve ser combatido, mas de outras formas não violentas. Eu não sei, porque ainda ninguém me explicou: as grandes empresas (de brancos) financiam com bilhões atletas negros em diversas modalidades. Se houvesse racismo não haveria este tipo de financiamento, não é? Isto parece aquela estatística sobre morte de negros na Bahia (onde a população negra é maioria). Negros matando negros, policiais negros matando negros, negros estupradores… Claro que onde tem mais negros, existem muitos criminosos negros. Como em outras regiões e países onde existe uma maioria branca: branco policial mata bandido branco, branco estuprador (olha os padres e pastores)… Este problema deve ser solucionado com outras políticas.

  8. Teotonio Correia
    Teotonio Correia

    Análise esclarecedora, perfeita

  9. Érico Borowsky
    Érico Borowsky

    Até na maior democracia do mundo
    essa esquerda radical e retrógrada
    espalha terror !

  10. Marilea Do Amaral Menezes
    Marilea Do Amaral Menezes

    Torcendo muito p/que Trump vença essas eleições!!! E que o feitiço volte-se p/o feiticeiro!!!!! Esses esquerdopatas são iguais no mundo inteiro! Conseguem destruir tudo pela frente!!! Que os americanos não votem nessa canoa furada dos democratas!!!

  11. José Antonio Braz Sola
    José Antonio Braz Sola

    Tomara que essas novas pesquisas estejam certas e os americanos votem certo, reelegendo Donald Trump.
    A análise da Ana Paula é, como sempre, muito criteriosa e de acordo com a realidade. Até por isso acho que suas previsões serão confirmadas, com a vitória de Trump.
    Parabéns pela excelente análise !

    1. Teresa Guzzo
      Teresa Guzzo

      Ana Paula,excelente reflexão como sempre.Noticias reais do que ocorre nos EUA.A briga constante de esquerda x direita, que também ocorre no Brasil.Se eu morasse nos EUA votaria sem dúvida em Trump, único que pode manter a esquerda nefasta longe e manter o equilíbrio mundial.Parabens pelo artigo.

  12. Silvio Tadeu De Avila
    Silvio Tadeu De Avila

    Ana, o que eles querem é por fogo no mundo, para, das cinzas, implantar o comunismo. É só ler o “Decálogo” de Lenin, está tudo lá. Triste é que minorias inscientes sejam massa de manobra dos engendradores do terror. E o que ocorre no Brasil é uma amostra do movimento mundial. Qualquer faísca pode detonar uma catástrofe, ou seja, uma guerra de cunho político, cultural, ou religioso, ou, “tudo junto misturado”.

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