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Nicolás Maduro transformou a Venezuela em um cenário de filme de terror | Ilustração: Revista Oeste/Gerada por IA
Edição 230

A repressão na Venezuela se inspira em filmes de terror

O regime de Maduro está transmitindo vídeos preocupantes de repressão à dissidência, com clipes de Jogos Mortais e trilha sonora de A Hora do Pesadelo

César Báez
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Nicolás Maduro reivindicou a vitória na corrida presidencial na Venezuela mais uma vez, mas os recibos de contagem de votos coletados e publicados on-line pela oposição revelam um resultado muito diferente. Em resposta, seu regime iniciou uma repressão brutal contra a dissidência em todo o país.

Como parte da “Operación Tun Tun” (“Operação Toc-Toc”), o regime está apresentando sua cruzada contra a dissidência nas mídias sociais e no canal de televisão nacional. Os vídeos em geral começam com a filmagem de um manifestante, seguida da trilha sonora de A Hora do Pesadelo e de cenas de policiais fortemente armados prendendo o indivíduo. Segundo relatos, os detidos foram submetidos a tortura, tratamento cruel e uso de drogas para extração de falsas confissões.

O chefe da Divisão de Assuntos Especiais da Direção-Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), Alexander Granko Arteaga, publicava rotineiramente esses vídeos, muitas vezes com trechos do filme de terror Jogos Mortais, até que sua conta no Instagram foi retirada do ar. Maduro chegou a zombar da situação na TV cantando: “Toc-Toc, quem é? Povo pacífico. Não seja um bebê chorão, você vai para Tocorón”, referindo-se a uma prisão venezuelana.

Os venezuelanos que ousam se manifestar enfrentam perseguição imediata. María Oropeza, ativista libertária do grupo Ladies of Liberty Alliance (Lola) e coordenadora de campanha da oposição, foi vítima da Operação Toc-Toc. “No mesmo dia em que publicou um vídeo se queixando da perseguição do governo, a própria María se tornou mais uma vítima”, disse Ana Rizo, ativista da Lola no Canadá.

María Oropeza, chefe de campanha da oposição, foi presa na terça-feira passada, 6 de agosto | Foto: Reprodução/Instagram

Em 6 de agosto, Oropeza divulgou um vídeo condenando a Operação Toc-Toc como “uma caça às bruxas conduzida por um regime que perdeu as eleições”. Depois disso, no mesmo dia, ela fez uma transmissão ao vivo de homens armados cercando sua casa e tentando forçar a entrada. Uma policial, identificada como Daisy Zambrano, instruiu a ativista a sair “para conversar”, mas Oropeza se recusou e pediu para ver um mandado. Momentos depois, os policiais forçaram a entrada com um pé de cabra e a retiraram de sua propriedade.

O governo anunciou mais de 2 mil prisões em menos de uma semana, e os alvos foram tanto manifestantes de rua da oposição quanto indivíduos encontrados com mensagens de apoio à oposição no celular

2 mil prisões em menos de uma semana

“É angustiante ver alguém que você conhece ser vítima de uma situação como essa”, diz Rizo. Depois de mais de 48 horas sem nenhuma informação sobre o paradeiro de Oropeza, o regime divulgou um vídeo da DGCIM entrando na casa de Oropeza, tirando-a de um avião em um local não revelado e colocando-a à força em um veículo blindado.

A mãe de María, Flor Oropeza, afirmou que os policiais negaram qualquer informação sobre o paradeiro da filha.

O governo anunciou mais de 2 mil prisões em menos de uma semana, e os alvos foram tanto manifestantes de rua da oposição quanto indivíduos encontrados com mensagens de apoio à oposição no celular. O Foro Penal, organização que presta assistência jurídica às vítimas da perseguição política na Venezuela, confirmou 1.263 detenções, incluindo de 114 menores de idade. E a Provea, uma organização de direitos humanos, registrou mais de 24 mortes nos protestos pós-eleições. Assim como María Oropeza, muitas vítimas continuam desaparecidas.

Apesar da repressão extrema, a oposição venezuelana continua a exigir que Maduro reconheça os verdadeiros resultados da eleição de 28 de julho.


César Báez é produtor da Reason.

Leia também “A agonia venezuelana”

3 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Aqui nas terras tupiniquins o Sacro Santo Imperador Alexandrus I, o Calvo, já está muito próximo do ditador venezuelano.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    O Brasil tem situação semelhante, no momento.

  3. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Aprendamos com a Venezuela. Para que não se repita aqui o que acontece lá.

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