Lá se vai o “novo dia” de Keir Starmer para a Grã-Bretanha. Ele parece mais propenso a nos levar de volta à Idade das Trevas. De acordo com relatos, o primeiro-ministro está pensando em adotar uma definição de “islamofobia” que poderá levar à censura de pessoas que disserem algo contundente demais sobre o Islã — ou seja, que cometerem o pecado da blasfêmia, fizerem uma declaração obscena sobre o Profeta ou seus seguidores. Um mês atrás, Starmer se mudou para o endereço do primeiro-ministro britânico, em Downing Street, falando sobre o “raiar do sol da esperança”, e agora ameaça cobrir a Grã-Bretanha com a nuvem negra da censura medieval.
O Telegraph diz que Starmer e Angela Rayner, sua vice, estão avaliando um “leque de opiniões” sobre a possibilidade de estabelecer uma definição assustadoramente ampla de “islamofobia”. Elaborada pelo Grupo Parlamentar Suprapartidário sobre os Muçulmanos Britânicos há alguns anos, ela diz que “a islamofobia tem suas raízes no racismo e é um tipo de racismo que tem como alvo expressões de muçulmanidade ou percepção de muçulmanidade”. Expressões de muçulmanidade? Como a burca, por exemplo? Ou o próprio Alcorão? Ou a crença islâmica sincera de que a apostasia é um dos piores crimes que um muçulmano pode cometer? Se você “atacasse” essas “expressões de muçulmanidade” — com críticas, zombaria, talvez até sátiras — poderia ser considerado “racista”?
Eu não me importaria se o governo adotasse uma definição de preconceito antimuçulmano que poderíamos descrever como “perseguição ou violência contra muçulmanos”. Mas demonizar o discurso que tem como alvo expressões de muçulmanidade é algo totalmente diferente. É assustador. E propõe implicitamente não apenas a proteção das pessoas — com que todos concordamos —, mas também a proteção das ideias contra a ridicularização. A proteção das “expressões” religiosas — de forma literal — contra uma zombaria supostamente perigosa. Os muçulmanos merecem segurança, claro. Mas a muçulmanidade? Nem tanto. Nenhuma crença, nenhum deus, profeta, moda ou livro deve ser protegido contra discussões, ou mesmo contra o desdém.
As 74 chibatadas e o puxão de orelha
Se os trabalhistas de fato adotarem essa definição de “islamofobia”, isso não vai ter valor legal. Não seria contra a lei — pelo menos, ainda não — zombar de “expressões de muçulmanidade” (ou seja, ideias islâmicas). Quem cometer blasfêmia contra Maomé não será levado para a Trafalgar Square para ser atacado com frutas podres. Mas as organizações de todo o país — da polícia ao Judiciário, de universidades a empresas privadas — seriam incentivadas a adotar e agir de acordo com essa definição. E as consequências disso seriam terríveis. Boa sorte se disser que “o niqab é muito sexista” ou que “o Alcorão é uma bobagem” no refeitório de um local de trabalho que tenha aderido ao ditame de que se irritar com “expressões de muçulmanidade” é uma espécie de racismo.
Não precisamos nem esperar que o governo trabalhista imponha essa definição para ver como a obsessão pela islamofobia pode ser prejudicial à liberdade. Há anos existe uma restrição informal contra a blasfêmia anti-islâmica na Inglaterra. Pessoas foram demitidas, banidas e até mesmo perseguidas pelo suposto pecado de revirar os olhos diante de “expressões de muçulmanidade”. Quem se esquece do avô que foi demitido da Asda por compartilhar em seu perfil do Facebook uma esquete de Billy Connolly que zombava do Islã? Ou do condutor de trem que foi demitido por comemorar o fim do lockdown e a reabertura dos bares com as palavras “thank fuck” (algo como “obrigado, porra”) porque com certeza nenhum de nós quer viver em um “califado muçulmano sem álcool”? Ou de quando o ginasta Louis Smith foi suspenso por dois meses depois que veio à tona um vídeo em que ele está bêbado e “parece estar zombando do Islã”? Fora, blasfemo!
Então já existe uma situação em que você pode ser censurado — de forma severa — por zombar do Islã. No Irã, você leva 74 chibatadas por insultar Alá; na Grã-Bretanha, leva um puxão de orelha e talvez perca o emprego. Mas, do ponto de vista moral, isso equivale à mesma coisa: punição por blasfêmia.
Também houve atos de censura mais sinistros. No ano passado, um estudante de 14 anos de Wakefield foi suspenso da escola por “arranhar” levemente um exemplar do Alcorão. Os policiais, em um arremedo vergonhoso da polícia moral do Irã, iniciaram uma investigação sobre esse suposto “incidente de ódio”. Ora, vamos facilitar: incidente de blasfêmia. A mãe do menino foi pressionada a fazer um lamentável pedido de desculpas público. Foi um espetáculo grotesco: uma mãe implorando misericórdia para seu filho supostamente ímpio, como algo saído do Afeganistão.
Temos também o caso do professor da escola Batley Grammar que foi perseguido por uma multidão fundamentalista e teve que se esconder. A transgressão? Ele mostrou para os alunos uma imagem de Maomé durante uma discussão em sala de aula sobre blasfêmia e liberdade de expressão. Foi em 2021. Ele continua escondido em 2024, de tão ferozes que foram os insultos e as ameaças de morte que recebeu por “ofender” o Profeta. É abominável que os trabalhistas estejam considerando implantar uma definição ainda mais rigorosa de “islamofobia” nesse clima. Isso inflamaria o fanatismo. Encorajaria os fundamentalistas. E faria com que mais pessoas fossem levadas para as sombras por multidões indignadas com sua “blasfêmia”. O governo vai colocar em risco a liberdade e até mesmo a vida de seus cidadãos se adotar esse decreto contra o discurso anti-islâmico.
A censura é a parteira da instabilidade
A crença mais estúpida das autoridades é que a solução para as tensões sociais é a censura. Os tumultos do começo de agosto, que incluíram atos flagrantes de fanatismo anti-muçulmano, parecem ter convencido algumas autoridades de que são necessárias regras mais firmes contra a “islamofobia” imediatamente. A classe ativista está pressionando o governo para “tipificar claramente” o conceito de islamofobia para combater o “crescente preconceito contra os muçulmanos”. Essa insensatez é incalculável. Mais censura à blasfêmia anti-Islã não traria paz a um país em frangalhos. Faria o oposto. Isso aprofundaria as trincheiras da guerra cultural e inflamaria ainda mais a desordem social.
Ao comunicar a determinados setores da sociedade que seu sistema de crenças é tão perfeito que nenhum pobre mortal ou gentalha pode ridicularizá-lo, a censura promove a arrogância, a intolerância e o conflito
A lei de blasfêmia do Partido Trabalhista, introduzida pela porta dos fundos, teria efeitos devastadores. Primeiro, fortaleceria os fanáticos islâmicos. Seria uma licença para sua intolerância. E diria que eles têm razão em se sentir prejudicados por críticas à sua religião e que têm o direito de buscar a punição de quem fez a crítica. Isso daria peso oficial ao seu desejo retrógrado de acabar com toda profanação anti-Islã. E, em segundo lugar, geraria um ressentimento entre muitos não muçulmanos. Se não quiser ser conhecido como “dois pesos, duas medidas”, Starmer precisa ter muito cuidado para não criar uma situação em que uma pessoa pode dizer o que quiser sobre Cristo e a Bíblia, mas vai sofrer um exílio violento da vida cotidiana se falar mal de Alá ou do Alcorão. A guerra das elites contra a “islamofobia” na verdade piora o fanatismo antimuçulmano, fazendo com que alguns se perguntem por que o modo de vida dos muçulmanos é mais protegido contra ofensas do que o “nosso modo de vida”.
A censura é a parteira da instabilidade e até mesmo da violência. Ao comunicar a determinados setores da sociedade que seu sistema de crenças é tão perfeito que nenhum pobre mortal ou gentalha pode ridicularizá-lo, ela promove a arrogância, a intolerância e o conflito. Privilegia os sentimentos de alguns em detrimento das liberdades de outros, e não existe receita mais clara para a discórdia social do que essa. Se queremos levar a sério o enfrentamento da crise de integração, deveríamos promover a liberdade, não a intolerância. Deveríamos dizer que todo mundo no Reino Unido é livre para acreditar no que quiser, e todos os outros são livres para dizer que essas crenças são bobagem. Esse é o estilo britânico. Liberdade para todos. A liberdade de credo e a liberdade de discordância. Nenhum tratamento especial para ninguém. Isso tem nome: igualdade.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, A Heretic’s Manifesto: Essays on the Unsayable, foi publicado em 2023. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
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Estou meio ansiosa para asssitir o califado britânico convivendo com as pautas woke. Já vou preparar a pipoca
Não me admiro se daqui a pouco o Reino Unido virar um reino muçulmano. Quem tem pena do coitado, acaba no lugar dele.
Essa esquerdalha quer enfiar tudo que reforça a censura de goela abaixo no povo. Esse radicalismo muçulmano tem que ser extirpado da terra. Eles querem impor ao mundo o radicalismo deles. Quero mais que eles vão para os quintos dos infernos.
O berço da liberdade social tendo que se explicar, se defender. Que época!
Liberdade sim, mas sem limites? O direito de cada um não se detém diante do direito do outro? No campo das ofensas pessoais ninguém discorda que não é dado a alguém se referir à mãe alheia de forma ofensiva, pelo menos se o “alheio” for o próprio! Por que então deve ser diferente quando se trata da religião, da cultura ou de quaisquer outros valores alheios? Deve nestes casos valer a lei de reciprocidade, ou seja, trato os outros bem só se eles me tratarem bem? Todo exagero é danoso, considerar ofensa uma simples opinião, mesmo crítica, é tão danoso quanto achar que uma ofensa real e intencional deve ser aceita em nome da liberdade de expressão.
Não podemos dar um “status” especial ao Islã. Claro que pode ser criticado, respeitando seus praticantes NA MESMA MEDIDA em que eles nos respeitarem.
Não podemos dar um “status” especial ao Islã. Claro que pode ser criticado, respeitando seus praticantes NA MESMA MEDIDA em que eles nos respeitarem.
Não podemos dar um “status” especial ao Islã. Claro que pode ser criticado, respeitando seus praticantes NA MESMA MEDIDA em que eles nos respeitarem.