Num levantamento feito em janeiro, cerca de 40% dos posts no X (antigo Twitter) no Brasil tratavam de esportes. Outros 20% tinham como tema o Big Brother Brasil, programa da Rede Globo em sua 24ª temporada. Mais de 15% se concentravam em música. Entretenimento, filmes, séries e notícias sobre celebridades também figuravam entre os temas mais comentados. Já as postagens sobre política representavam menos de 10%. Tudo indica que de lá para cá esses números não mudaram. Alheio a essas informações muito didáticas, o ministro Alexandre de Moraes decidiu arbitrariamente silenciar os mais de 20 milhões de brasileiros que usam a plataforma.
Como observa J.R. Guzzo no artigo de capa desta edição, a atitude de Moraes “tem a ver unicamente com a aplicação de censura em massa, como só se faz na Rússia, China, Venezuela e outras das piores ditaduras do mundo”. Para Guzzo, “a expulsão do X do Brasil é o pior ataque já cometido contra a liberdade de expressão em toda a história da República”.
O artigo 220 da Constituição brasileira garante que a manifestação do pensamento, a liberdade de expressão e o direito à informação não podem sofrer qualquer tipo de restrição. Na prática, isso deixou de valer para todos. Faz cinco anos que quem critica Moraes ou outro destaque do STF é imediatamente tachado de bolsonarista. “Em consequência, se vê desprovido de seus direitos civis, a começar pela liberdade de expressão e pela liberdade de votar em quem quiser”, constata Guzzo.
Há pouco tempo, tal atitude seria considerada absurda pelo próprio Alexandre de Moraes. É o que mostra nesta edição a “entrevista” feita por Augusto Nunes com a versão 2018 de Moraes. Vale a pena rever o que pensava o ministro recém-chegado ao Supremo Tribunal Federal. Entre outras surpresas, o leitor descobre que, para o modelo antigo, “o direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias. Vale também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam”.
Moraes não foi o único integrante da Corte a mudar de rumo nos últimos anos. A reportagem de Silvio Navarro reproduz falas de Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, entre outros, que, se fossem mantidas até este 2024, certamente teriam garantido a sobrevivência da Operação Lava Jato, impedido a ressurreição da censura e preservado o equilíbrio entre os três Poderes.
Numa colisão frontal com o que dizia em 2018, o Moraes de 2024 ordenou a expulsão do X de meio mundo. Foram punidos, por exemplo, os senadores Marcos do Val e Alan Rick, o deputado Nikolas Ferreira, o youtuber Monark, além de Mariana Eustáquio e Sandra Maria Pedro, filha e mulher do jornalista Oswaldo Eustáquio, e Paola Silva, mulher do ex-deputado Daniel Silveira. Tais revelações vieram à tona graças ao perfil Alexandre Files, criado por Elon Musk no X. Os detalhes das descobertas, ignoradas por boa parte da velha mídia, estão na reportagem de Cristyan Costa.
Em momentos críticos, a imprensa frequentemente é obrigada a escolher entre a verdade e a mentira, a luz e a sombra. Assim foi na Alemanha de 1937 e no Brasil de 1968. É assim neste 2024. Oeste tem a convicção de que está do lado certo da história — e nele continuará, custe o que custar. É o que os leitores verão nesta e em todas as próximas edições.
Boa leitura.
Branca Nunes,
Diretora de Redação
Vocês escolheram a verdade. Tenho orgulho de ser assinante da Oeste.
Olha a que ponto chegamos!
Nem nós, leitores, poderíamos esperar outra coisa.
Outros países do também censuraram o X, como Austrália e países da Europa, mas o OESTE só pega os exemplos que lhe convém, para tentar enquadrar numa ditadura.
Não acho que o bloqueio do X seja o mais correto, mas acredito que o que foi pedido para eles bloquearem não representa liberdade de expressão, mas sim afronta às leis do Brasil.
Além do mais, deixar de usar uma rede social abre um tempo para viver a vida real!
Ou seja, vamos bloquear todas as redes para focarmos na vida real?
Mundo surreal, acorda pra tomar gagau