Hoje é segunda-feira, são 21h15, e a pancadaria está rolando solta na maioria dos grupos de WhatsApp. O tema é o mesmo em todos eles: a eleição para a prefeitura de São Paulo. O motivo da briga é que alguns enxergam salvação onde outros enxergam charlatanismo e marketing multinível. A questão é complicada pelo fato de que existem pessoas inteligentes, experientes e razoáveis nos dois lados do debate. Amigos queridos estão se enfrentando.
Todos pedem minha opinião. Tentarei apresentá-la aqui, procurando me ater aos fatos e analisando os diversos aspectos com justiça e equilíbrio.
Sei que fracassarei.
É possível examinar a disputa eleitoral em São Paulo sob dois pontos de vista distintos. O primeiro é considerando-a como uma situação eleitoral local, que diz respeito apenas a São Paulo. A segunda forma é considerando o contexto maior da política nacional e o momento especial — especial em um sentido negativo — que o Brasil atravessa.
Algumas pessoas preocupadas com a questão nacional afirmam que a disputa abriu uma divisão na direita. Há quem enxergue até um desafio à liderança de Jair Bolsonaro.
Eu discordo. Vejo a eleição paulistana como uma questão estritamente local. Em várias oportunidades expus minha opinião de que esta eleição pode repetir a situação ocorrida nas eleições municipais do Rio em 2020. Naquele ano, Jair Bolsonaro apoiou Marcelo Crivella como candidato a prefeito. Crivella não foi considerado um legítimo político de direita, muito menos um bolsonarista. Por isso, muitos eleitores de direita não votaram nele, e Eduardo Paes foi eleito prefeito. Vale repetir: bolsonaristas não votaram no candidato indicado por Bolsonaro.
O que aconteceu em 2020 com Crivella pode, eventualmente, acontecer com Ricardo Nunes em 2024. Eu sei que não é isso o que muitos ativistas de direita gostariam que eu dissesse. Lamento.
É importante perceber o que isso significa: não se trata de contestação da liderança de Jair Bolsonaro. Na verdade, é uma demonstração de que o eleitor de direita é consciente. Ao contrário do que dizem alguns críticos, que muitas vezes chamam a direita de “gado”, a maioria dos eleitores conservadores e liberais tem plena capacidade de distinguir entre um político legitimamente de direita e um “direitista” hesitante e de conveniência.
A candidatura de Nunes foi determinada pelo partido, apesar da existência de candidatos mais identificados com a direita, como Ricardo Salles. Mas não basta uma decisão partidária para determinar o voto de uma grande massa de eleitores que passou os últimos anos sendo instruída no ideário da direita.
Além disso, aconteceu um fato novo.
De repente, do nada, surgiu na disputa um candidato aparentemente mais identificado com a direita do que Nunes. Percebam que eu disse “aparentemente”. Mas aparências são importantes em uma eleição. Vejam o que diz o estrategista político David Horowitz, no livro The Art of Political War and Other Radical Pursuits (p. 14):
“O símbolo mais importante é o candidato. É preciso perguntar: o candidato, na sua própria pessoa, inspira medo ou esperança? Os eleitores querem saber: o candidato é alguém que se importa com pessoas como eu? Será que eu gostaria de sentar ao lado dele em um jantar?”
Na guerra política, especialmente no combate eleitoral para posições de muito poder, o estilo pessoal é tão importante quanto as propostas políticas. O estilo pessoal é tão importante quanto a estratégia.
Os exemplos são muitos. John Kennedy, que era “um parlamentar relativamente inexperiente e um senador medíocre”, segundo Horowitz, ganhou a eleição para presidente simplesmente citando problemas e repetindo a frase “podemos fazer melhor do que isso”. Como isso foi possível? Horowitz explica: ele conseguiu isso, em parte, porque era bonito, espirituoso, jovem e charmoso — e não era um radical. Malcolm Gladwell, em seu livro Blink: The Power of Thinking Without Thinking (Back Bay Books, 2005, p. 73), conta a história de Warren Harding, um político americano que “não era particularmente inteligente” e que demonstrou desempenho medíocre nos cargos que ocupou, mas foi eleito presidente dos Estados Unidos da América principalmente porque tinha — veja só — porte e estilo presidenciais.
Obama ganhou a eleição repetindo “yes, we can”.
“Ninguém ganha uma batalha política apresentando-se como uma pessoa difícil, chata, ressentida e superior”, diz Horowitz (p. 14). Uma boa tática é se apresentar da forma oposta. “É preciso convencer as pessoas de que você se importa com elas, antes que elas se importem com o que você tem a dizer.”
É absolutamente essencial focar a sua mensagem e repeti-la sempre que possível. Um candidato que tem muitas mensagens não tem nenhuma
Quando o candidato falar, tudo o que ele tem a dizer deve caber em uma única frase curta. “Seja qual for a sua mensagem, ela deve ser transmitida em voz alta e de forma clara. Sua mensagem deve ser simples e curta — uma frase de efeito é sempre a melhor opção” (p. 14). Ela deve ser repetida sempre que possível. Ela deve aparecer na televisão, nas entrevistas no rádio e nas redes sociais.
Os apoiadores, que já conhecem o candidato, terão um papel importante nas batalhas políticas. A mensagem para eles é importante, mas não vai decidir as eleições. Quem decidirá as eleições será um público que não conhece o candidato ainda. É preciso descobrir esse público, e fazer com que ele receba uma mensagem que o convença a dar seu apoio.
“Com esse público”, explica Horowitz (p. 15), “você nunca terá tempo suficiente para debates reais ou para análises longas. As imagens — símbolos e frases de efeito — vão prevalecer. Por isso, é absolutamente essencial focar a sua mensagem e repeti-la sempre que possível”. Um candidato que tem muitas mensagens não tem nenhuma..
O que Horowitz tem a dizer não é o que muitos candidatos estão preparados para ouvir, especialmente candidatos liberais ou conservadores. Muitos desses candidatos acreditam que a pureza de suas intenções e sua determinação genuína em usar a política como meio de melhorar a vida de todos é tudo de que eles precisam. Candidatos com esse perfil tendem a demonstrar preconceito contra estratégias eleitorais, que eles consideram uma forma de populismo. Para esses candidatos, o combate eleitoral faz parte da famigerada política profissional, que eles juraram combater.
Nada mais distante da verdade. Saul Alinsky, o grande estrategista da esquerda americana, em seu livro Regras para Radicais, cita Alexander Hamilton para dizer que “poder é a habilidade de fazer algo”. Sem conquistar o poder, um candidato não consegue fazer nada. E o poder se conquista nas batalhas políticas.
Nessas batalhas, diz Horowitz (p. 16), “símbolos e frases de efeito determinam os votos”. Nenhum eleitor de verdade tem tempo, disposição ou vocação para se debruçar sobre os detalhes das plataformas e dos planos de todos os candidatos para escolher em quem votar. Os símbolos e frases de efeito penetram no inconsciente, antes que os eleitores consigam raciocinar — e é disso que eles se lembram. São essas impressões rápidas e fortes que permanecem, e que definem o candidato. Vale a pena destacar o que diz Horowitz (p. 16):
“Palavras e frases curtas, cuidadosamente escolhidas, são mais importantes do que parágrafos, discursos, programas partidários e manifestos. As imagens que você projeta como candidato são percebidas como a sua essência.”
A disputa pela prefeitura de São Paulo não é um debate abstrato sobre soluções idílicas que transformarão a maior cidade do Brasil em um Shangri-La. A eleição paulistana é uma disputa dura pelo controle da cidade mais rica do país, com todos os riscos e recompensas associadas. Principalmente recompensas.
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Candidatos, sejam quais forem vivem de promessas e os eleitores de esperança.
O grande problema brasileiro é que em pleno século XXI ainda temos o voto de cabresto.
Nossa “república” com R”R minúsculo mesmo ainda não foi proclamada, apenas anunciada e com seus quase 135 anos ainda procura o caminho a seguir, mas para isso precisamos de candidatos e eleitores melhor preparados e sem a mão grande do STF/TSE.
Espero que os paulistanos se unam para o principal objetivo, impedir a vitória do vagabundo chamado Guilherme Boulos.
Existe uma diferença entre EUA e Brasil antes da quinta revolução industrial. Ela tá mais hoje e da última eleição de Obama. O mais relevante agora é saber que o TSE o STF não tem nenhuma confiança para garantir eleição, todas são fraudadas. A eleição só é limpa como é na França. Estou tocando só no escrutínio
Parabéns Mota, belo Artigo. Você tem razão com relação a frase de efeito: O Lula ganhou a eleição em 2022 prometendo apenas cerveja e picanha.
Concordo com o comentario do Robson e acrescentaria: …e no Nunes.
Espero que os eleitores paulistas escolham o melhor candidato. Se não votarem no Boulos já fizeram um bom trabalho.