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Em 1923, a placa “Hollywoodland” foi construída em Hollywood Hills para divulgar um conjunto habitacional. Uma estrada rudimentar foi criada para levar os materiais até o local da construção | Foto: Reprodução
Edição 235

Imagem da Semana: Hollywoodland

Depois de décadas de negligência e reparos temporários, o letreiro de Hollywood permanece como o maior ícone cultural do mundo

Daniela Giorno
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No dia 16 de setembro de 1932, a atriz galesa Peg Entwistle saltou da letra “H” do inigualável emblema de Hollywood, localizado na encosta do Beachwood Canyon, em Los Angeles. Naquela época, estava escrito “Hollywoodland”. Seu corpo rolou vários metros morro abaixo, e só foi encontrado dois dias depois. Desde então, ela ficou conhecida como a garota do letreiro de Hollywood.

A versão original da placa era iluminada, e cada uma das 13 letras, amarradas por uma intrincada estrutura de fios e andaimes, tinha aproximadamente 9 metros de largura por 13 metros de altura. O letreiro, claramente legível a quilômetros de distância, foi erguido em 1923 no Monte Lee, no aclive do Beachwood Canyon, nas Montanhas de Santa Monica, no Griffith Park, com vista para Hollywood e Los Angeles. 

A placa original “Hollywoodland”, situada no Monte Lee, no topo do Beachwood Canyon, nas Montanhas de Santa Monica | Foto: Wikimedia Commons

O outdoor foi financiado por um sindicato composto de Eli Clark, general Moses Sherman, Tracy Shoults, Sydney Woodruff e Harry Chandler, editor do Los Angeles Times. A ideia inicial era divulgar um loteamento residencial de luxo próximo ao local. O nome do empreendimento era “Hollywoodland”. Custou US$ 21 mil na época (o equivalente hoje a US$ 300 mil) e exigia muita manutenção. A instalação deveria durar apenas 18 meses, mas, com o crescente reconhecimento, acabou ficando de pé até os dias de hoje, mesmo passando por inúmeras adversidades.

Em 19 de setembro de 1936, por exemplo, o segundo “O” desabou em uma tempestade de vento. Nos anos seguintes, o empreendimento perdeu a iluminação e acabou se deteriorando diante das dificuldades econômicas impostas pela Segunda Guerra Mundial. Na década de 1940, passou a ser propriedade municipal, e a sua demolição chegou a ser cogitada, mas os moradores protestaram. Em 1944, a letra “H” caiu e ficou no chão por quase seis anos. Apenas em 1949 o letreiro foi reformado, teve a palavra “land” eliminada, e ganhou o atual formato. No dia 26 de setembro, o prefeito Fletcher Bowron e John Kingsley subiram a trilha da montanha para a cerimônia de reinauguração. Com isso, o sinal no alto do Monte Lee assumiu um novo papel: emblema da cidade e referência da indústria do entretenimento.

A saga de negligência e reparação do letreiro de Hollywood continuou até 1973 | Foto: Reprodução

Já na década de 1960, Hollywood sofreu um êxodo em massa de residentes e empresas para o subúrbio Vale de São Fernando. No vazio deixado por essa fuga cívica e empresarial, a cidade foi invadida por casas de massagens, programas pornográficos, livrarias e teatros para adultos, e outros locais decadentes. A criminalidade disparou, e as glamurosas avenidas caíram no abandono. O emblema seguiu como um reflexo flagrante da cidade em declínio e dilapidada. O vento, a chuva e o sol deformaram e enferrujaram as faces de chapa metálica, enquanto a estrutura de madeira apodreceu e foi tomada por cupins. O letreiro estava prestes a desmoronar.

Também em setembro, agora de 1973, foi firmado um contrato com a empresa Neon Products para fazer uma espécie de “facelift” nas letras – ou seja, pouco ou nenhum reparo estrutural foi incluído no escopo do trabalho. Apenas deram um acabamento com três camadas de tinta brilhante, e as placas ressurgiram aparentemente novas. No dia 14 de setembro, foi realizado um evento de gala para celebrar a restauração. A estrela do cinema mudo Gloria Swanson foi chamada para ligar o interruptor dos holofotes instalados temporariamente para iluminar o sinal durante a cerimônia. Infelizmente, uma névoa espessa cobriu o cânion, um provável presságio dos dias sombrios que viriam.

Em 1978, Hugh Hefner organizou uma festa na Mansão Playboy para arrecadar fundos para reconstruir o letreiro de Hollywood | Foto: Reprodução

Uma poderosa tempestade de vento atingiu Los Angeles em fevereiro de 1978, causando danos, em graus variados, a todas as letras do emblema. O terceiro “O” foi o que mais sofreu estragos — vigas quebradas, metal retorcido e chapa metálica faltando. O “Y” desmoronou parcialmente. E todas as outras letras tinham pedaços de chapa faltando. Uma inspeção no local constatou que a situação era irreparável e que o letreiro precisaria ser completamente substituído.

Diante desse cenário, foi criada a campanha “Salve o Sinal”, com o objetivo de arrecadar US$ 250 mil para construir um novo e permanente emblema de Hollywood, com o mesmo design e tamanho do original. Hugh Hefner, fundador da revista Playboy, encabeçou a arrecadação de fundos para financiar o letreiro de Hollywood e organizou uma festa de gala em sua mansão. Conseguiu angariar doações para que cada letra fosse substituída por uma estrutura de aço mais durável, de 13,7 metros de altura, com fundações de concreto.

O antigo sinal foi removido no dia 8 de agosto de 1978 para dar início à construção de um novo em folha. Foi a primeira vez, em 55 anos, que Hollywood não avistava o sinal no alto do Monte Lee. A obra foi concluída em menos de três meses. A nova versão foi revelada em 11 de novembro de 1978, como o ponto alto de um especial de televisão ao vivo da CBS. Depois de décadas de negligência e meias medidas, o letreiro brilhou mais forte do que nunca. Desde então, permanece como o maior ícone cultural do mundo.

Em 1978, nove doações generosas no valor de US$ 27 mil para cada uma das letras tornaram possível a reconstrução do letreiro | Foto: Reprodução
Vista do letreiro de Hollywood, em Los Angeles (2019) | Foto: Emma Griffiths/Shutterstock

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

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